— Leszek Kolakowski
Em 1903, apareceu "Problemas do idealismo", uma coleção de ensaios, muitos deles de autores que haviam sido marxistas até recentemente, mas que condenavam o marxismo e o materialismo pelo seu niilismo moral, desprezo à personalidade, determinismo e a busca fanática de valores sociais independentemente dos indivíduos que compunham a sociedade; eles também atacavam o marxismo por sua adoração não-crítica ao progresso e pelo sacrifício do presente ao futuro.
Nenhum sistema ético, alegava Berdiaev, poderia ser baseado numa visão de mundo materialista, visto que a ética pressupunha a distinção kantiana entre o que é e o que deve ser.
As normas morais não podem ser deduzidas da experiência, e as ciências experimentais são portanto inúteis para a ética.
Para que essas normas sejam válidas deve haver um mundo inteligível no qual elas têm o seu ser, um mundo que não é o da experiência, e a sua validade também pressupõe a natureza livre e numenal do homem.
A consciência moral postula assim a liberdade, a existência de Deus, e a imortalidade da alma.
O positivismo e o utilitarismo não podem fornecer ao homem critérios absolutos de valor.
Bulgakov atacou o materialismo e o positivismo com fundamento no fato de que eram incapazes de solucionar enigmas metafísicos, viam o mundo e a existência humana como o produto do acaso, negavam a existência da liberdade e não ofereciam nenhum critério de valor moral.
O mundo e a presença do homem nele eram inteligíveis somente à luz da fé na harmonia divina, e o comprometimento social não poderia ser baseado em nada além de um sentido do dever religioso.
É somente quando os nossos atos recebem significado em razão da sua relação com a divindade que podemos falar da verdadeira auto-realização e da integração da personalidade, que é o valor humano supremo.
A TEORIA DO MATERIALISMO HISTÓRICO CARECE DE FUNDAMENTOS EPISTEMOLÓGICOS OU MORAIS
Leszek KolakowskiO historicismo de Hegel havia desempenhado um papel importante na origem do marxismo, ao fornecer uma base para a visão evolucionista da história.
Graças a Darwin e Spencer, contudo, a teoria da evolução universal tinha agora melhores fundamentos na biologia e não necessitava do auxílio da metafísica hegeliana.
O que havia de mais prejudicial na tradição hegeliana, por outro lado, era a rejeição da distinção entre "Sein" e "Sollen", o que é e o que deve ser.
No esquema de Hegel, a noção de "dever ser" aparecia "post festum", como uma tomada de consciência da impotência.
Marx havia seguido Hegel ao ignorar a distinção, mas sem ela não havia base para a ideia de socialismo.
Assim, a teoria do materialismo histórico não foi bem pensada e carecia de fundamentos epistemológicos ou morais.
A crítica feita a Kant por Marx e Engels era de pequena importância, visto que claramente não sabiam muito a respeito dele: o ataque de Engels ao conceito de "coisa em si" mostrou a sua compreensão completamente errônea do problema.
Se coubesse à teoria de Marx formar a consciência de um movimento social, ela deveria representar o socialismo como um objetivo pelo qual se deve lutar: mas o marxismo fracassou em validar o socialismo enquanto objetivo.
Em geral, a ideia de progresso envolvia avaliação, e não poderia haver nenhuma teoria do progresso a não ser de um ponto de vista teleológico.
Assim, a teoria moral de Kant era uma forma natural de completar o marxismo.
(Resumido por Yuri Fagundes)
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