O Templo da Rosa CruzTeophilus Schweighardt Constantiens, 1618.
cristianismo esotérico é a dimensão da tradição cristã que se ocupa do campo dos mistérios, da antiga sabedoria e de métodos de realização espiritual destinados àqueles com vocação para aprofundar sua fé. Historicamente, esta dimensão esotérica ortodoxa, que não se afastou dos princípios e diretrizes fundamentais da tradição cristã, manifestou-se em confrarias como a dos Cavaleiros Templários (séculos XII a XIV), dos "Amigos de Deus" (Der Gottesfreund, séculos XIV a XVI) e Fedeli D'Amore (séculos XIII a XV).
Trata-se de um segmento minoritário, uma vez que não se dirige às massas nem faz proselitismo, e não é estruturado em igrejas, apesar de a maioria dessas correntes possuírem cerimônias e rituais particulares, além daqueles que compartilham com a tradição cristã em geral. A esta dimensão esotérica do Cristianismo pertencem escolas como as citadas acima, que foram lideradas, respectivamente, pelas carismáticas figuras de São Bernardo de Claraval (Templários), Mestre Eckhart (Der Gottesfreund) e Dante Alighieri (Fedeli D'Amore).

As bases da doutrina esotérica cristã se diferenciam segundo as escolas e correntes. Segundo a escola contemporânea da filosofia perene de René Guénon e Frithjof Schuon, os fundamentos teóricos do esoterismo cristão estão nos próprios ensinamentos de Jesus, como expressos especialmente no Sermão da Montanha e no Evangelho de São João. Outras correntes mais afastadas da religião advogam conceitos como reencarnação e evolucionismo, que são heterodoxos em relação à doutrina tradicional.

Quando se fala de esoterismo cristão, pode tratar-se de três coisas. Em primeiro lugar, segundo Schuon, pode ser a gnose cristã, baseada na pessoa, nos ensinamento e dons do Cristo, beneficiando-se ocasionalmente de conceitos platônicos. Esta gnose crística se manifestou em particular, apesar de que de maneira desigual, em escritos como os de Clemente de AlexandriaOrígenesDionísio, o Areopagita , Scotus Erigena e Mestre Eckhart.[1]
"Em segundo lugar, pode se tratar do esoterismo greco-latino incorporado ao cristianismo: pensamos aqui acima de tudo no Hermetismo e nas iniciações de ofício. Este esoterismo cosmológico ou alquímico cristianizado era essencialmente vocacional, dado que nem uma ciência, nem uma arte podem ser impostas a todo mundo."[2]
"Em terceiro lugar, e mesmo antes de tudo, e deixando de lado toda consideração histórica ou literária, podemos e devemos entender por 'esoterismo cristão' a verdade pura e simples – verdade metafísica e espiritual – na medida em que ela é expressada ou manifestada mediante os dogmas, rituais e outras formas do cristianismo. Este esoterismo é a totalidade dos símbolos cristãos na medida em que eles expressam ou manifestam a pura metafísica e a espiritualidade una e universal." (Schuon)
Assim como as demais vertentes cristãs, considera-se a Bíblia e, especialmente os Evangelhos como fontes de autoridade dos mistérios de Deus. Algumas correntes mais heterodoxas consideram a Bíblia não como "palavra de Deus", nem deve ser interpretada literalmente, ou considerá-la à prova de erros. Outras escrituras que não foram incluídas na Bíblia também são consideradas, entre as quais os evangelhos apócrifos. Cristo é considerado o Logos, o "Verbo de Deus", o intermediário entre Deus e os homens, como o líder da humanidade e governante do Universo, sendo omnipresente como Deus, e por isso tendo uma centelha dentro de cada forma vivente (o chamado "Cristo Interior").
Algumas correntes, como os Fedeli d'Amore, organização esotérica cristã liderada por Dante Alighieri na Idade Média, sustentaram as teses tradicionais cristãs acerca dos mundos post-mortem, como as três moradas do Paraíso, do Purgatório e do Inferno. Outras tendências advogam que se trata de "símbolos", ou, pelo menos, que não sejam eternos. Cada pessoa paga por aquilo que praticou, na exata proporção. 
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Conversão

Não há proselitismo religioso dentro do cristianismo esotérico. Os membros das escolas cristãs esotéricas, tal como os membros das outras vertentes religiosas esotéricas, entendem que todas as religiões são provenientes de Deus, que as teria apresentado conforme as necessidades espirituais e o nível de evolução de cada povo. Alguns sustentem que o cristianismo é a religião preparada para os mais avançados da humanidade, na escala de evolução espiritual; outros argumentam que isso é um etnocentrismo sem qualquer fundamento. Também não existem impedimentos àqueles que desejarem se converter, desde que a conversão seja por livre e espontânea vontade. Não há juramentos especiais e os convertidos podem livremente manter contato com suas religiões de origem.


Notas históricas 
O cristianismo esotérico remonta às palavras e ações de Jesus Cristo quando habitou entre os homens, na Palestina do século I. Do ponto de vista histórico, se expressou pelos escritos e exemplos de vida de sábios como João, o Evangelista, Orígenes, Clemente de Alexandria, Dionísio, o Areopagita e Mestre Eckhart, entre outros. Manifestou-se também em escolas exemplares como a dos Templários, dos Fedeli d'Amore, dos "Amigos de Deus" (Gottensfreund, liderados por Eckhart na Alemanha e na Suíça medievais). Outros creem atribuir suas origens aos essénios. Eles são descritos como um terceiro grupo que existiu para além dos outros dois mencionados no Novo Testamento, os hipócritas fariseus e os materialistas saduceus. Os essénios não são mencionados no Novo Testamento e evitavam qualquer referência a si próprios e aos seus métodos de estudo e de adoração. Jesus, de acordo com algumas tradições cristãs esotéricas, foi um elevado iniciado educado pelos essénios, até aos trinta anos de idade, e alcançou um estado muito elevado de desenvolvimento espiritual. É possível que a sua educação haja sido conduzida entre os essénios nazarenos de Monte Carmelo, uma comunidade na zona da Galileia.
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Uma crucificação rosacruz
Os ensinamentos ocultos Cristãos referem que a maior fonte viva da tradição Cristã esotérica, no decorrer do desenvolvimento da civilização ocidental, teve início no século XIV com a constituição de uma irmandade secreta de homens santos designada por Ordem Rosa-cruz, que se expôs a si mesma pela primeira vez na profunda obra esotérica Fama Fraternitatis R.C. Esta Ordem abriu a Iniciação nos Mistérios, naquele tempo e nos séculos que se seguiram, aos indivíduos com maior preparação e mérito, qualidades alcançadas por esforço dos próprios. Por volta dessa época começa também a idade da Alquimia, expressando o conhecimentos oculto através de escritos herméticos, do tipo criptográfico, para evitar a perseguição e o mau uso dos ensinamentos sagrados por parte do homem. Nos seus Manifestos do início o século XVII, a Ordem Rosa-cruz menciona "nós reconhecemo-nos verdadeiramente e sinceramente professar Cristo (…) viciamo-nos na verdadeira Filosofia, levamos uma vida Cristã" (in Confessio Fraternitatis, 1615) e estabelece o tempo e o modo como viria a apresentar publicamente ao mundo o seu conhecimento, num esforço para trazer uma "Reforma da Humanidade" através de uma mais avançada fase da religião cristã. (...)
A teosofia cristã clássica, que precede a Sociedade Teosófica e o martinismo, inclui alquimistas conhecidos, através dos seus escritos, como estando ligados ao movimento rosa-cruz. Entre os cristãos teosofistas encontramos homens letrados como Valentin Weigel, Heinrich Kunrath, Johann Arndt, Johann Georg Gitchel, Jakob BöehmeGottfried Arnold, Jan Baptist van Helmont, Robert Fludd, John Pordage, Jane Leade, e Pierre Poiret.
Mais tarde, é especialmente reconhecido Emanuel Swedenborg porque uma igreja seguiu os seus ensinamentos desde 1787: a New Church e a Swedenborgian Church of North America. Martines de Pasqually, Louis-Claude de Saint-Martin e Jean-Baptiste Willermoz são três das mais influentes figuras do martinismo, que data do início do século XVII e continua a existir até aos dias de hoje.
Outras perspectivas modernas sobre o cristianismo esotérico incluem a Ordem Hermética da Aurora Dourada e suas principais ramificações, os Builders of the Adytum, a Society of the Inner Light e os Servants of the Light. Paul Foster Case, W. E. Butler, Dion Fortune e Gareth Knight em particular, são autoridades desses ramos que contribuíram para a literatura dedicada a um cristianismo esotérico. Alguns dos modernos neo-templários e neo-essénios são também dignos de nota.

Fundamentos bíblicos

O Caminho ("Ego sum Via, Veritas et Vita"):
  • Jesus respondeu-lhe: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém pode ir até ao Pai senão por mim. (João 14:6)
O Conhecimento Esotérico (vide Parábola do Semeador):
  • Respondendo, disse-lhes: «A vós é dado a conhecer os mistérios do Reino do Céu, mas a eles não lhes é dado. (Mateus 13:11)
  • Disse-lhes: «A vós foi dado a conhecer os mistérios do Reino de Deus; mas aos outros fala-se-lhes em parábolas, a fim de que, vendo, não vejam e, ouvindo, não entendam.» (Lucas 8:10)
A Vivência Mística (o coração):
  • Jesus disse, então, aos discípulos: «Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. (Mateus 16:24)
  • Depois, dirigindo-se a todos, disse: «Se alguém quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz, dia após dia, e siga-me. (Lucas 9:23)
O Estudo Oculto (a mente - vide Venham a mim as criancinhas):
  • e disse: «Em Verdade vos digo: Se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino do Céu. (Mateus 18:3)
  • Em verdade vos digo: quem não receber o Reino de Deus como um pequenino, não entrará nele.» (Marcos 10:15)

Escritos do século XX

  • "Quando se fala de esoterismo cristão, pode tratar-se de três coisas: em primeiro lugar, pode ser a gnose cristã, baseada na pessoa, nos ensinamento e dons do Cristo, beneficiando-se ocasionalmente de conceitos platônicos. Esta gnose crística se manifestou em particular, apesar de que de maneira desigual, em escritos como os de Clemente de Alexandria, Orígenes, Dionísio o Areopagita , Scotus Erigena, Mestre Eckhart, Nicolau de Cusa, Jakob Böhme e Angelus Silesius.
Em segundo lugar, pode se tratar do esoterismo greco-latino incorporado ao cristianismo: pensamos aqui acima de tudo no hermetismo e nas iniciações de ofício. Este esoterismo cosmológico ou alquímico cristianizado era essencialmente vocacional, dado que nem uma ciência, nem uma arte podem ser impostas a todo mundo.
Em terceiro lugar, e antes de tudo, e deixando de lado toda consideração histórica ou literária, podemos e devemos entender por “esoterismo cristão” a verdade pura e simples – verdade metafísica e espiritual – na medida em que ela é expressada ou manifestada mediante os dogmas, rituais e outras formas do cristianismo." (Frithjof Schuon: O Esoterismo como Princípio e como Caminho, pp. 29-30)
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Ensaios na actualidade