terça-feira, 31 de outubro de 2023

Considerações sobre a origem da Palestina

Yuri Fagundes


Abraão foi o pai de toda a nação hebraica. E Abraão foi apelidado de hebreu. 

De onde vem o nome hebreu? Há duas respostas possíveis. 

A primeira, é que um ancestral dele se chamava Heber. 

A outra é que “Ivrim”, no hebraico, significa “povo do outro lado do rio”. 

Como Abraão chegou na terra de Canaã partindo da Mesopotâmia, ele recebeu esse epíteto. 

Os filhos de “Ivrim”, apelido de Abraão, foram designados hebreus.

Jacó, neto de Abraão, teve doze filhos. 

Durante uma batalha espiritual, ele teve o seu nome acrescentado para “Israel”. 

“Ya’akov”, ou Jacó, significa “aquele que vai no calcanhar do outro”. 

O nome "Jacó" sofreu uma alteração semântica e passou a designar “enganador”, ainda que originalmente o nome tenha tido uma conotação positiva. 

Os doze filhos de Jacó também eram chamados de “doze filhos de Israel”. 

Quando eles saem do Egito e vão para a terra prometida, eles passam a ser chamados de “doze tribos de Israel” e “israelitas”. 

Quando chegou a época do cativeiro da Babilônia, os assírios haviam destruído dez tribos de Israel do norte. 

Só sobraram duas: a tribo de Judá e a minúscula tribo de Benjamim. 

Como a maioria das tribos desapareceram, todos os habitantes da região passaram a ser indistintamente denominados de judeus, da mesma maneira como eram chamados os habitantes de Judá.

Nos dias de hoje, após a criação do Estado de Israel em 1948, os habitantes daquela região são denominados “israelenses”, não “israelitas”, como eram chamados no tempo da Bíblia. 

Um ponto aparentemente polêmico: o palestino na verdade não é palestino. 

Um exame de DNA realizado junto à população palestina e foi descoberto que eles originalmente provieram da região da África Subsaariana. 

Eles chegaram na região da Ásia provavelmente levados como escravos pelos grupos ismaelitas que eram árabes. 

Assim, o palestino não é árabe e possui ancestralidade subsaariana. 

Os filisteus, que ocupavam a atual região da Faixa de Gaza, provieram da região do Mar Egeu. 

Entre 132 a 135 da era cristã, houve uma sublevação em Israel — a terceira revolta judaica contra o Império Romano — comandada por um líder chamado “bar Kochba”, ou Simão Barcoquebas. 

O imperador de Roma da época era Adriano. 

O imperador Adriano, em vingança contra os judeus, mudou o nome da região de “Aelia Capitolina” para “Síria-Palestina”. 

Através da latinização do nome “Filisteu”, historicamente os maiores inimigos dos judeus, surgiu então o nome “Philistine”, ou “Palestina”. 

Portanto, etimologicamente, o nome “Palestina” designa “terra dos filisteus”, ou simbolicamente, “terra dos inimigos dos judeus”. 

Todavia, o palestino não é filisteu. 

Esse nome “palestino” foi dado por Roma extrinsecamente para aquele grupo. 

Em suma, os palestinos não são árabes, não são filisteus, são originalmente provenientes da África Subsaariana e receberam o título artificial de “palestinos” dado pelo imperador romano Adriano. 

Quanto à cidade de Jerusalém, não há nenhuma menção dela no Alcorão. 

Quando Maomé começa a pregação do Islã, quem apoiou Maomé no início quando ele estava sendo perseguido em Meca foram os judeus, pela mesma proximidade da defesa do monoteísmo. 

No momento da fuga de Maomé de Meca para Medina em 622 — evento conhecido pelo nome de “Hégira”, há uma tradição islâmica que sustenta que a mula de Maomé é transportada pelo anjo Gabriel até a cidade de Jerusalém. 

Ali ele se encontra com três personagens: Isa (Jesus), Mussa (Moisés) e Ibrahim (Abraão), recebe as orações do islamismo, sobe ao paraíso e retorna.

A partir dessa tradição, Jerusalém se torna a terceira cidade sagrada dos muçulmanos: a primeira é Meca, a segunda, Medina, e a terceira, Jerusalém. 

Todavia, os muçulmanos só se apossarão de Jerusalém no ano de 690, quando chegam as primeiras milícias muçulmanas. 

Não se sabe ao certo quando exatamente os palestinos se convertem ao islamismo. 

Alguns historiadores sustentam que eles se converteram na época da Primeira Cruzada, que foi no século XII. 

No ano de 691-692, os muçulmanos constróem em Jerusalém o Domo da Rocha, aquela cúpula dourada, para demarcar o local em que Maomé sobe ao céu, e a Mesquita de Al-Aqsa (que significa “na esquina”, ou “à distância”) também para fins de demarcação.

quarta-feira, 25 de outubro de 2023

ALQUIMIA CRISTÃ - parte 4



DEUS FEZ-SE HOMEM PARA QUE O HOMEM SE TORNASSE DEUS 

A deificação do homem Por elas nos foram dadas as preciosas e grandíssimas promessas a fim de que assim vos tornásseis participantes da natureza divina depois de vos libertardes da corrupção que prevalece no mundo como resultado da concupiscência (2 Pd 1, 4) 

TORNAMO-NOS NO QUE SOMOS 

O homem é criado à imagem do Deus infinito. É chamado a ultrapassar os limites da criação e a tornar-se ele próprio infinito. Ser "à imagem" representa ao mesmo tempo um dom e um objectivo. O "à imagem" é uma potencialidade, um germe que nunca deixou de estar presente. Esta possibilidade de deificação diz respeito ao homem em todos as suas componentes, dos estratos somáticos e psíquicos mais superficiais até ao âmago do seu ser. 

O VERBO É FAZEDOR DE DEUSES 

O tema da deificação está presente em várias correntes filosóficas e religiosas da Antiguidade, em particular no orfismo, no platonismo, no estoicismo, e no hermetismo. Apoiando-se nas Escrituras1, o cristianismo definiu-o assim: Deus fez-se homem para que o homem se tornasse Deus. Encontramos pela primeira vez estas poderosas palavras em Ireneu2. No Ocidente, elas foram recuperadas por Santo Agostinho3. Orígenes qualifica o Verbo de fazedor de deuses4, o Verbo possibilitando àqueles que fora d'Ele são deuses (...) que se tornem deuses buscando junto de Deus aquilo com que se deificam...5. Para Clemente de Alexandria, o Logos tornou-se homem para que fosse um homem a ensinar como pode um homem tornar-se Deus6. Ele gratifica-nos com a herança paterna, realmente grande, divina e inadmissível, divinizando o homem por um ensinamento celeste1. O homem torna-se Deus, retoma Máximo, tanto quanto Deus se torna homem. Segundo Atanásio, O Verbo de Deus fez-se homem para que nos tornássemos deuses8, o próprio Verbo de Deus veio para que, sendo a imagem do Pai, pudesse recriar o homem segundo a imagem. Gregório Nazareno exprime-se de forma ainda mais radical: o Verbo fez-se homem por causa de ti, para que tu te tornes Deus por causa d'Ele9. Para Gregório de Niceia, Deus misturou-se com a natureza perecível, para que, graças à sua mistura com o divino, o nosso ser pudesse tornar-se divino.10 Cirilo de Alexandria apresenta a deificação como finalidade da Incarnação: o Verbo fez-se daquilo que nós somos para que nos tomemos participantes daquilo que Ele é.u Atanásio12, Gregório Nazianzeno13, Gregório de Niceia14, Basílio o Grande e muitos outros Padres da Igreja fizeram deste princípio um adágio comum da teologia. Os Padres e os teólogos da Igreja do Oriente15 repetilo-ão ao longo dos séculos, com mais insistência do que os da Igreja do Ocidente. Não deixaram de lembrar a essência mesma do cristianismo: uma descida de Deus até aos limites do nosso estado presente, até à morte. Mas esta descida de Deus abre aos homens uma via de ascensão, abre os horizontes ilimitados da união dos seres criados com a Divindade. Neste contexto, Gregório Palamas define a Igreja como uma "comunidade de deificação". 



A PEDAGOGIA DIVINA 

Deus confiou ao homem inúmeros pontos de referência na sua caminhada para a deificação. A primeira revelação Vários filósofos da Antiguidade, as velhas religiões de Mistérios, os construtores de catedrais, os alquimistas da Renascença e os teósofos cristãos insistiram neste ponto: o universo que nos rodeia é ele próprio uma Revelação. Deus estendeu à nossa volta o mundo dos corpos para que encontremos no sensível algo pelo qual possamos voltar para ele. O universo é uma imagem sensível de Deus para que toda a obra denote o seu autor. Num quadro de pintura, um perito reconhece o pintor pois o quadro exprime algo do seu criador. Também o mundo que percepcionamos revela o seu Criador pois a grandeza e a beleza das criaturas fazem, por analogia, contemplar seu Autor (Sb 13, 5). Cada coisa é então um sinal em que Deus se dá a conhecer a nós. Eis a carta do simbolismo medieval, em teologia, em filosofia e até na arte decorativa das catedrais. O universo teofânico de Scoto Erígeno, o liber creaturarum de Guilherme d'Auvergne e de Boaventura, o simbolismo dos Lapidados e dos Bestiários, sem esquecer o que orna os pórticos das nossas catedrais ou resplandece nos seus vitrais, são outras tantas testemunhas desta confiança cristã na translucidez dum universo, onde o mais pequeno dos seres é um indício da presença de Deus. Sendo as criaturas imitações de Deus, as suas propriedades fundamentais e as relações dessas propriedades entre elas ajudam-nos a conhecer as de Deus. Segundo Scoto Erígeno, todos os seres criados são luzes, e cada coisa, até a mais humilde, não é, no fundo, senão um círio onde flameja, ainda que fracamente, a luz divina. Composta por um enorme número de pequenas luzes, a criação é uma iluminação destinada a mostrar Deus. O universo cessaria se Deus deixasse de brilhar. Numa tese sobre a obra de Karl von Eckhartshausen, Antoine Faivre comenta esta revelação natural, recorrendo às personagens nascidas da pena do teósofo alemão: É olhando para as folhas duma flor que Aglais descobre a existência de Deus; os perfumes da primavera, as vagas que o vento faz nos campos de trigo convencem-no da Sua bondade. A natureza prova que Deus existe: tal é o título dum dos seus escritos, no qual ele descreve complacentemente os encantos da primavera e as carícias duma jovem esposa. Aliás, como entender Deus sem a natureza?... Eloas, "sacerdote da natureza", ensina ao seu discípulo Sophron que tudo o que nos rodeia é a manifestação de Deus, a letra viva do Seu esplendor, pela qual Ele se revela... Conhecer a natureza, segundo ensina Sophron, permite elevar-se por patamares até ao conhecimento do sobrenatural graças às marcas divinas, pois não há nada de invisível no espírito de Luz que não tenha uma sombra visível e palpável aqui em baixo.16 O Universo fala-nos de Deus. Deus conhece-se pelas suas obras, afirma o Evangelho de João. O mundo é um espelho no qual Deus se pode contemplar. O Invisível manifesta o seu Ser e o seu Poder no universo visível: Os céus cantam a glória de Deus, e o firmamento proclama a obra das suas mãos (SI 19, 2). E "a realidade invisível de Deus - o seu eterno poder e a sua divindade - tornaram-se visíveis desde a criação do mundo para aqueles que reflectem nas suas obras (Rm 1, 20). Orígenes compara os astros a caracteres de escrita e o céu à Bíblia. Através do estudo do Livro do Mundo, podemos aceder ao seu autor. Os três magos que não eram reis, como bons astrólogos, alcançaram o presépio apenas pela observação e, sobretudo, pela interpretação da estrela17. Eles ilustram a religião natural que se apoia nesta primeira Revelação. A segunda revelação Esta primeira Revelação é apenas uma introdução, uma preparação a duas outras Revelações. Deus escolheu um povo eleito no seio do qual suscitou profetas e mestres, e produziu acontecimentos milagrosos. Deu-lhe uma Lei escrita, vinda para apoiar os ensinamentos da criação. A terceira revelação Por fim, e isto é o mais importante, Deus fez-se homem afim de mostrar até onde Ele nos levaria... para que, tornado Filho do Homem, e partilhando a sua mortalidade, ele levasse os homens à sua perfeição de filhos de Deus e os fizesse participar da imortalidade divina...18. O Verto de Deus fez-se carne, e a carne fez-se Verbo, sem que nenhum dos dois abandonasse a sua íntima natureza19. A carne do Cristo, corpo do Verbo de Deus feito homem, constitui o ponto de contacto do homem com Deus. Em Cristo, o céu e a terra uniram-se. Na pessoa do Cristo, a pessoa humana existia integralmente, divinizada pela sua união com o Verbo de Deus. Por isso, a natureza humana assim assumida recebeu a plenitude da energia divina. Desde então, a possibilidade da sua deificação está assegurada para todos os seres humanos que para tal se esforçam. A origem dos homens a partir de Adão implicava um laço com as suas antigas raízes, entre as quais a mortalidade. 0 seu enxerto sobre uma nova árvore autoriza a sua regeneração. Falando claramente, o Cristo não veio para nos ajudar a melhor suportar o pesadelo desta existência, veio sim para nos permitir sair dela: Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é (1 Jo 3, 2). 

A SÍNTESE DE NlCOLAU CABASILAS 

Nicolau Cabasilas propõe uma síntese. O homem tem por fim renascer e ressuscitar: tal é, desde a idade apostólica, a lição dos Padres, da qual ele já discerne um resumo nos antigos mistérios. As energias contidas no corpo glorificado do Cristo são comunicadas aos seus iniciados e asseguram a sua deificação. Esta comunicação efectua-se, entre outros meios, pelos sacramentos, a que a tradição oriental chama de "Mistérios". São os pontos do espaço e do tempo onde a vida divina reencontra a vida humana e a transfigura; são celebrações e procedimentos pelos quais se realiza a deificação. O baptismo e o crisma restauram a semelhança no próprio acto, libertando a imagem cuja irradiação se torna perceptível nos santos e nas crianças. A eucaristia alimenta esta divinização.

(...)


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terça-feira, 24 de outubro de 2023

Sobre o livro A LEI - POR QUE AS IDEIAS DE ESQUERDA NÃO FUNCIONAM?


INTRODUÇÃO 

Eduardo Levy*

POR QUE AS IDEIAS DE ESQUERDA NÃO FUNCIONAM?

Que o tamanho reduzido desta obra não engane ninguém: parafraseando Churchill, nunca na história das ideias humanas tanto foi dito com tão poucas palavras. O livro que o leitor tem em mãos é um tesouro; concebido como um panfleto, e não como tratado científico, expõe e desenvolve, com clareza raras vezes igualada, ideias de filósofos menos acessíveis, como John Locke e Adam Smith. 

Mas não pense que A lei é uma peça de museu ou mera curiosidade histórica: publicado na França em 1850, o livro é tão importante e atual hoje quanto foi na época de sua publicação, pois, em grande medida, como os extensos comentários ao texto pretendem mostrar, os problemas de Bastiat são os nossos problemas e seus inimigos são os nossos inimigos. O argumento central do livro é bastante simples: os homens têm certos direitos naturais que precedem toda a legislação escrita. São eles a vida, a liberdade e a propriedade. Para proteger esses direitos, todo homem tem direito de se proteger de quem os ameaça, isto é, à legítima defesa. 

A lei, que aqui significa às vezes o Estado, às vezes a Constituição, é a organização coletiva do direito à legítima defesa; sua função, seus limites e sua legitimidade derivam do direito individual à legítima defesa. Em outras palavras, a única função da lei é fazer com que reine a justiça — na verdade, impedir que reine a injustiça. Qualquer outro uso que se dê à lei contradiz e impede o direito à legítima defesa, pois, necessariamente, ferirá a vida, a liberdade ou a propriedade.

Quando a lei extrapola essas funções, ocorre opressão ou espoliação legal. Embora “espoliação”, em bom português, signifique roubo, a palavra tem, tanto no português quanto no francês, um significado jurídico preciso, segundo o Houaiss, de: “ato de privar alguém de algo que lhe pertence ou a que tem direito por meio de fraude ou violência”, e é nesse sentido que Bastiat a emprega. 

Espoliação, ele explica, ocorre sempre que a lei tira de alguém o que lhe pertence para dar a outro a quem não pertence, agindo de modo tal que um cidadão, se agisse do mesmo modo, cometeria um crime. Quando a lei começa a ser usada como instrumento de espoliação, a atividade legislativa se torna uma disputa entre vários grupos para se apoderar dela e espoliar os outros. Nesse caso, a liberdade é ferida, a prosperidade é impedida e a estabilidade é impossível. 

No entanto, constata Bastiat, é precisamente isso que ocorre em toda a parte: a corrupção da lei, posta a serviço de todo tipo de cobiça. Esse é o fenômeno analisado no livro. Para Bastiat, a liberdade só é liberdade quando é negativa, isto é, quando é ausência de coerção e obstáculo; ela não dá nada propriamente, apenas impede que algo seja tirado de alguém. (Mais sobre a diferença entre liberdade negativa e positiva nos comentários ao texto.) 

Assim, naturalmente, Bastiat via a maior ameaça à liberdade no ente que detém o uso da força e, portanto, o poder de exercer coerção e impor obstáculos: o Estado. Por isso, volta-se contra todos aqueles que querem dar mais poder ao Estado: os intervencionistas, os planejadores, os protecionistas e os socialistas. 

Desde 1850, muita água rolou: os planejadores e os socialistas vieram a controlar metade do mundo, o que resultou não apenas em opressão e miséria, como previsto por Bastiat, mas também na morte de 100 milhões de pessoas, como pode ser visto com mais detalhes em O livro negro do comunismo (Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999). Os países que se tornaram ricos foram aqueles que mais apostaram na liberdade tal como descrita por Bastiat; índices baseados em critérios objetivos mostram correlação direta entre liberdade econômica e riqueza, progresso e justiça social (Como pode ser visto no Index of Economic Freedom [Índice de Liberdade Econômica], disponível em www.heritage.org/index/). 

Assim, este livro teve o melhor destino que um livro teórico pode ter: a prática provou que ele estava certo em um grau muito maior do que seu autor poderia imaginar. No entanto, a legislação em vigor hoje em países supostamente democráticos seria descrita por Bastiat como socialista, como um sistema de espoliação organizado e muito mais amplo do que poderia imaginar em seus piores pesadelos. Não é de se espantar, pois, que a política nesses países não passe de uma disputa entre diversos grupos de interesse para se apoderar da lei e espoliar em seu próprio favor: não existe mais o “bem comum”, apenas o bem dos grupos específicos. Além disso, quase todos esses países têm dívidas astronômicas, sistemas previdenciários insustentáveis no longo prazo e vivem a um passo do caos social. 

Examinem-se profundamente as causas de tal cenário e ficará provado que Bastiat estava certo. Com relação ao Brasil, ele estava mais certo ainda: o país ocupava a 122 a posição no Índice de Liberdade Econômica da Heritage Foundation em 2016, mais perto da Venezuela (176 a ) e da Coreia do Norte (178 a ) do que do Chile (7 a ). 

A posição não é inexplicável: nossa constituição garante mais “direitos” que quase qualquer outra no mundo; o Estado se mete em todos os aspectos da vida econômica e privada, desejando regular até mesmo o que o cidadão pode comer; abrir uma empresa exige enfrentar uma burocracia tão vasta que é tarefa quase impossível; mantê-la aberta então é ainda pior; nossa legislação trabalhista é tão restritiva que joga mais da metade dos trabalhadores para a informalidade, em um sistema de microempresas que nada mais é que uma forma de fugir dos encargos trabalhistas; nossa legislação tributária é tão complexa que nem os especialistas a dominam; nosso governo é dono de centenas de empresas e dispõe de mais cargos comissionados (23 941) que países com orçamento muito maior, como os eua (8 000) e a França (4 800). 

Embora o cenário venha piorando nos últimos anos, desde a formação do país sempre esteve impregnada na nossa cultura a ideia de que o Estado é a fonte de todos os bens e o responsável por todos os males, devendo controlar tudo, regularizar tudo, intrometer-se em tudo. Diante disso, não seria surpresa nenhuma para Bastiat, nem será para quem ler este livro, nossa extraordinária instabilidade política. Será que já não é hora de mudar de rumo e seguir um caminho simples, de eficácia amplamente comprovada, para a prosperidade e a justiça? 


BASTIAT E O LIBERALISMO CLÁSSICO 

Claude Frédéric Bastiat nasceu em 30 de junho de 1801, em Bayonne, França. Filho de um rico comerciante, foi criado por um tio, pois sua mãe morrera quando tinha sete anos e seu pai, quando tinha nove. Deixou a escola sem se formar aos dezessete anos para trabalhar na firma comercial do tio. Logo depois, descobriu o liberalismo clássico e começou a estudar economia. 

Publicou vários trabalhos em defesa do livre-comércio e lançou, em Paris, em 1846, Le Libre Échange, um jornal dedicado a essa causa. Em 1848, tornou-se deputado da Assembleia Constituinte, mas acabou renunciando em 1850 devido ao estado deteriorado de sua saúde. 

Morreu em 24 de dezembro de 1850, de tuberculose, em Roma, aos 49 anos. Um dos economistas mais influentes de todos os tempos, Bastiat deixou uma extensa obra dedicada à defesa da liberdade e à contestação de várias falácias econômicas, além de ter formulado ou aprofundado conceitos como o custo de oportunidade, a falácia da janela quebrada e a lei das consequências não intencionais. 

Embora Bastiat tenha feito contribuições originais ao liberalismo clássico em centenas de artigos e alguns livros, A lei é, antes de tudo, uma exposição e um resumo extremamente claro e didático, além de uma aplicação a diversos casos concretos das ideias de outros pensadores, notadamente John Locke e Adam Smith. Assim, este livro serve como uma excelente introdução ao liberalismo clássico, corrente político-econômica para a qual a liberdade individual é o valor político fundamental e o principal promotor da riqueza, da dignidade e do progresso. 

Desse modo, os liberais clássicos defendem o individualismo, a democracia representativa, os direitos civis, a propriedade privada e o mínimo de intervenção estatal possível na economia e na vida privada dos cidadãos. Para eles, cada pessoa, ao buscar satisfazer seus próprios interesses, contribuirá para a riqueza geral da sociedade, e as interações livres entre as pessoas no mercado são o melhor regulador possível da atividade econômica. 

Entre os herdeiros intelectuais mais proeminentes do liberalismo clássico estão a Escola Austríaca (que tem Ludwig von Mises e Friedrich Hayek entre seus representantes), a Escola de Chicago (da qual faz parte Milton Friedman) e os libertários ou anarcocapitalistas (que inclui Murray N. Rothbard). Embora haja diferenças substanciais entre eles, todos compartilham os mesmos princípios fundamentais. 

Aqui se deve fazer uma distinção importante: o termo “liberal” designa e designou historicamente muitas visões diferentes, às vezes, até opostas. Nos Estados Unidos, veio a significar algo muito diferente do que queremos dizer neste livro com “liberal” e do que isso significa na Inglaterra e no Brasil.

Originalmente, “liberal” é quem defende a economia de mercado, as liberdades individuais e o mínimo de intervenção estatal na economia e na vida privada. No entanto, nos Estados Unidos, passou a significar precisamente o oposto: pessoas que defendem uma presença forte do Estado tanto na economia quanto na vida privada, além de limitações à economia de mercado. Muitas vezes, em livros e artigos, o termo é traduzido de modo incorreto para o português como “liberal”, sem alterações, causando sérios mal-entendidos. 

Por isso, é preciso prestar atenção à linguagem: muitas vezes, “liberal” quer dizer “de esquerda”. Em consequência, alguns liberais passaram a se referir a si mesmos como conservadores, libertários ou anarcocapitalistas. Essas três palavras, no entanto, também têm significados próprios e podem designar visões muito diferentes do liberalismo. Estamos, aqui, em uma verdadeira Torre de Babel. 

Por fim, ainda que o liberalismo, por razões de que não convém tratar aqui, tenha péssima fama, a realidade não cessa de lhe dar razão: os países ricos e prósperos, onde há menos pobreza e melhor qualidade de vida para todos são aqueles onde vigora o capitalismo, em que a intervenção estatal é a menor possível e a liberdade individual é valorizada. 

O Índice de Liberdade Econômica da Fundação Heritage não deixa dúvidas quanto a esse ponto. A simples observação mostra que os países mais ricos do mundo são os mais liberais, assim como são países em franco desenvolvimento. Os chamados “Tigres Asiáticos” enriqueceram em pouco tempo ao aplicar o receituário liberal. O Chile é um dos países mais desenvolvidos da América Latina (43 o lugar em idh, enquanto o Brasil está no 75 o ) e é o único a aplicar o receituário liberal há décadas. 

Há exemplos negativos: a maior tentativa da história humana de planejar todos os aspectos da vida e da economia, a União Soviética, terminou em ineficiência, pobreza, opressão, morticínio e colapso. A tentativa de instaurar um “socialismo do século xxi” na Venezuela resultou em uma crise econômica e social de proporções inéditas. Os países que ainda mantêm regimes de inspiração socialista, como Cuba e Coreia do Norte, estão entre os mais pobres e opressores do mundo. É impossível, com tantos dados e exemplos práticos, negar as qualidades bastante superiores do liberalismo na promoção da riqueza, da dignidade e do bem-estar. A lei é o melhor caminho para começar a compreender isso. 

*Eduardo Levy, 27, é tradutor e professor de inglês. Estudou Filosofia e Letras na Universidade Federal de Minas Gerais além de artes liberais e literatura na Universidade de Wisconsin (EUA), mas com interesses e estudos em diversas outras áreas.



segunda-feira, 23 de outubro de 2023

A Ordem dos Terapeutas


Se você fizer uma pesquisa agora na internet sobre esta ordem e sua história, vai encontrar um tão grande número de mentiras, desinformação e distorções que provavelmente vão levá-lo a crer em todas as ligações absurdas que os ocultistas, neo-gnósticos, nova-eras, falsos teósofos, pseudo-rosacruzes, etc., fazem normalmente. A mais comum dessas contém dois absurdos estonteantes (para os estudiosos, é claro): primeiro diz que os terapeutas eram os essênios e logo em seguida contam outra mentira, que Jesus também teria sido um essênio. 

Vejamos apenas alguns pontos. Jesus andava em meio a multidões e pecadores da pior estirpe, os essênios, por seus próprios regulamentos teriam que manter distância disso tudo, não tocavam nem se deixavam tocar, Jesus tocava até em leprosos (algo expressamente proibido tanto pela simples judaica quanto pelo acréscimo essênio); os essênios usavam branco sempre, algo muito difícil naquela época, Jesus aceitou muitos presentes, roupas coloridas, inclusive vestes púrpura, considerado o máximo da luxúria romana; os essênios não aceitavam mulheres em sua comunidade (e provavelmente as considerava inferiores, claro, ao contrário do que dizem), Jesus tem discípulas, entre as quais três muito importantes (as três Marias) e logo após o evento mais importante do cristianismo, a ressurreição, ele aparece primeiro para estas mulheres, das quais nenhum tipo de judeu aceitava o testemunho (especialmente os essênios já que não aceitavam mulheres); os essênios se retiravam ao deserto o tempo todo e tinham o acetismo extremo como ideal de vida, não tomavam nenhuma bebida alcoólica, e faziam jejuns lingos o tempo todo, Jesus é levado ao deserto para ser tentando pelo diabo e sai dele após seu triunfo sobre satanás, não se submeteu a acetismo extremo senão por estes 40 dias e tomava vinho...

Só essas diferenças já mostram que as informações falsas "não batem" nem com os essênios nem com o Jesus verdadeiro. Mas poderíamos enumerar dezenas de diferenças. 

Outra confusão que gostam de fazer com a ordem dos terapeutas é que ela vem de antes do cristianismo e que era independente deste. No entanto, na ortodoxia não existem diversidades de ordens como no romanismo posterior. Apenar de algumas características próprias, todas as ordens primitivas eram simplesmente ordens cristãs, com um modo de vida ascética retirada comum, a diferença era entre as ordens cenobiticas (vida em comunidade como no ideal demonstrado em Atos) e vida solitária como monge heremita ou completamente recluso. 

A seguir vejamos uma introdução mais geral sobre a ordem dos terapeutas, para depois nos aprofundarmos em alguns detalhes.


 Terapeutas


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Os Terapeutas (em latimTherapeutae; palavra que significa, segundo Filão, "curandeiros" e, para o Pseudo-Dionísio, "servidores") e as Terapeutridas (em latimTherapeutridae; as seguidoras da Ordem) constituíam uma Ordem cenobítica do Cristianismo primitivo, que se conhece actualmente através dos escritos do escritor judeu helenizado Filão de Alexandria[1] que dela teve conhecimento pessoal no Lago Mareotis, perto de Alexandria, e que a caracteriza como vocacionada para a vida contemplativa, em contraste com a vida activa dos Essénios. Dedicavam-se a práticas ascéticas, à oraçãomeditação e leitura das escrituras, em regime de clausura, vivendo em celas individuais, onde passavam seis dias da semana, saindo apenas para as reuniões culturais de sábado. Comiam somente ao cair da noite e alguns ficavam de três a seis dias sem ingerir qualquer alimento.

Ao contrário dos Essênios, admitiam mulheres como membros regulares, que, como os homens, levavam uma vida de total castidade. O centro da liturgia era celebrado aos sábados, descrito por Filão de Alexandria da seguinte forma: depois da oração inicial, vestidos de túnicas brancas, instalavam-se à mesa, homens à direita, mulheres à esquerda, deitados sobre grosseiros leitos recobertos de simples esteiras. O chefe da comunidade, em meio a um silêncio total, fazia então o comentário de uma passagem das Escrituras, segundo o método alegórico. O presidente levantava-se e entoava um hino, sendo o refrão repetido em coro pelo resto do grupo. Servida por noviços, seguia-se a refeição, que constava de pão, 'alimento puríssimo', água e sal. Terminada a refeição, iniciava-se a 'vigília santa'. Homens e mulheres dividiam-se em dois grupos das mesas e punham-se a cantar, ora em uníssono, ora alternadamente, acompanhando os hinos com palmas e batidas de pés, recordando a passagens pelo Mar Morto. Passavam assim toda noite, até a oração da alvorada, que recitavam de mãos voltadas para o sol nascente. Em seguida, cada um se recolhia à sua cela.



Referências Toy, Crawford Howell; Siegfried, Carl; Lauterbach, Jacob Zallel. «PHILO JUDÆUS»Wikipedia

terça-feira, 10 de outubro de 2023

Utopiatas sociais...

Por Leszek Kolakowski.




Os escritores socialistas da primeira metade do século XIX podem ser classificados de várias maneiras. 


Podemos estabelecer uma oposição entre os reformistas e os conspiradores, os romancistas e os teóricos, os democratas e os defensores do despotismo revolucionário, e entre os líderes da classe trabalhadora e os filantropos. 


Por outro lado, a divisão entre aqueles cuja filosofia é baseada no materialismo do século XVIII e aqueles, tais como Weitling, Cabet e Lamennais, que invocam valores cristãos, não é uma diferença essencial. 


Em ambos os casos, a sua utopia se funda na premissa de que todos os seres humanos possuem a mesma dignidade em virtude da sua humanidade, e que, sejam quais forem as diferenças inatas entre os indivíduos, eles são idênticos no que concerne aos seus direitos e deveres. 


Essa concepção da natureza humana é tanto descritiva quanto normativa. 


Dela podemos deduzir do que o homem necessita, e o que tem direito a receber, para ser verdadeiramente um homem, mas sabemos por antecipação que a resposta será a mesma para todo indivíduo. 


A ideia de natureza humana pressupõe igualdade, quaisquer que se revelem as suas outras implicações.


A concepção da natureza humana é ao mesmo tempo uma descrição da vocação própria ao homem. Em toda a literatura utópica, pressupõe-se que os homens se destinam a viver num estado de igualdade e amor mútuo, e que a exploração, a opressão e o conflito de todos os tipos são contrários às determinações da natureza. 


Naturalmente se coloca a questão: como pode se dar, em tal caso, que os homens tenham vivido por séculos de uma maneira incongruente com o seu verdadeiro destino? Essa é a questão mais difícil de responder do ponto de vista utópico. 


Mesmo se supusermos que a alguém em algum momento tenha ocorrido conceber o sistema de propriedade privada, que de outro modo não teria sido instituído, como devemos explicar o fato de que a sua noção louca e, em última análise, inumana tenha sido adotada unanimemente? 


Se pusermos a culpa nos "desejos maus", como pode se dar o caso de que tais desejos tenham vindo a dominar a sociedade? 


Se é conforme à natureza do homem viver em amizade e igualdade com os seus companheiros, por que raramente ou nunca o encontramos a fazê-lo? 


Como pode uma maioria da humanidade "verdadeiramente" querer algo que, consoante a experiência, os homens não querem? 


Na visão utópica, a totalidade da história humana é uma calamidade monstruosa e, além disso, incompreensível. 


Para o cristianismo tradicional não há nenhum problema, em razão da doutrina do pecado original e da corrupção da humanidade como a sua fonte. 


Mas os utópicos deste período, mesmo quando se chamavam de cristãos, não acreditavam no pecado original; estavam assim privados desta explanação, e não tinham outra a oferecer. 


Queriam o bem, mas o mal lhes era inconcebível e inexplicável. 


Recorriam, sem exceção, à confusa ideia da natureza humana como algo já "dado" e não como uma simples norma arbitrária (pois nesse caso não haveria nenhuma razão para esperar que as pessoas se ajustassem a ela) — um tipo de realidade ou "essência", que estaria em estado de dormência em todos os indivíduos.


Pensando deste modo, os utopistas sentiram uma atração natural pela ideia do despotismo comunista. 


Se sabemos que a natureza humana é realizada pelo sistema comunista, não importa, quando se trata de estabelecer este sistema, que proporção da humanidade quer aceitá-lo. 


Jean-Jacques Pillot, no fim do seu panfleto “Ni chateaux ni chaumières” (1840), coloca a questão "E se as pessoas não quiserem isso?", e responde "E se os internos do Bicêtre [uma instituição para loucos] se recusarem a tomar banho?". 


Se as pessoas estão fora do seu juízo perfeito, devem ser curadas à força. 


Os utopistas não colocaram a questão adicional, que traz à mente o conto de Poe sobre o Professor Tarr e o Dr. Fether — como decidimos quem são os loucos e quem são os seus vigilantes? 


Será que um homem realmente tem o direito de alegar que todos estão marchando em descompasso com a exceção dele mesmo? 


Dizer que a humanidade deve decidir o seu próprio destino pode significar que a história deve ser deixada a cargo dos loucos, mas, se discordamos dos outros homens, devemos provar que nós mesmos somos os mentalmente sãos. 


Enquanto foi possível apelar para a vontade divina como a uma autoridade irrenunciável, a questão era bastante simples. 


Os utopistas fazem tal apelo quando lhes convém; mas, como sabemos, as Escrituras foram usadas por séculos para justificar a desigualdade e a ordem hierárquica da sociedade.


A mesma objeção poderia ser colocada para todos os utopistas, não apenas para os defensores do despotismo comunista, e, com efeito, foi colocada para Owen por Marx: quem deve educar os educadores? 


Na resposta a esta questão reside a principal diferença entre a utopia de Marx e aquelas de todos os seus predecessores, entre o herdeiro da fenomenologia hegeliana e os herdeiros do materialismo francês.

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