domingo, 31 de julho de 2022

Anotações Importantes Sobre as Orações - Preâmbulos

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A prática é importante porque tudo que Deus criou tem desenvolvimento e desenvolvimento se obtém com exercício. Tido que Deus nos dá é em potencial para que seja desenvolvido. O apóstolo Paulo nos fala do exercício espiritual comparando às olimpíadas, à corrida e à carreira...

O mais agradável a Deus não é a gratidão é o buscá-lo, Deus se agrada com a gratidão, com a dependência (pedidos), mas principalmente arrependimento e intercessão, só que em primeiro lugar é com o buscar a Deus. Deus que ser conhecido. E você não pode amar o que não conhece.

Mesmo "sem fé" o exercício da oração conduz à fé.


Buscai primeiro o reino de Deus E sua justiça, são duas coisas, precisamos nos tornar semelhantes a Deus, tornarmos-vos justo, pois não há um justo sequer, só pode se tornar semelhante quem trabalha as potencialidades, se não não as possui ou é atrofiado. Como será justo? Todos querem ir para o reino de Deus, mas poucos querem cumprir a sua justiça.

O cristianismo é a busca do ser de se tornar novamente semelhante a Deus, nós somos apenas imagem (como uma foto tem a nossa imagem, mas não tem a nossa semelhança, não tem as qualidades e capacidades que temos), só potencialidades, não temos as virtudes cristãs, apenas potências, não temos capacidades, apenas possiblidade e potencialidade. Só através de Cristo essas sementes podem brotar, por isso orar. 

É necessário pedir, mas não só as necessidades básicas, mas o tornar-se semelhante a Deus, ele é Pai, portanto, já providencia o necessário básico. É preciso expressar nossa vontade sobre as coisas mais elevadas, ir além do básico, como um filho que pede algo que deseja ao Pai. 

As coisas básicas: é até perigoso pedir (somente o básico), pois pode cair na idolatria ou no egoísmo (idolatria de si mesmo, de sua suposta auto-suficiência no demais, idolatria das próprias coisas básicas, idolatria de uma humildade idealizada e irreal... e egoísmo, voltado às suas necessidades, voltado a subsistência, voltado ao medo de não satisfazer o eu nem nas coisas mais básicas). E é como se dissesse que Deus é um Pai negligente.

Os que dizem que não precisam pedir porque Deus já sabe tudo que necessitam são pessoas tão orgulhosas que nem a Deus se humilham, nem a Deus se baixam para pedir, estão por si sós entregues à sua própria prepotência e sua suposta auto-suficiência. 


Os salmos são repetições, o Pai nosso é repetição, Jesus ensinou a fazer, ele não disse "siga esse modelo", ele disse "orai assim"; salmodiai, está também escrito; improvisai orações não está escrito, orai como vier em vossa mente confusa não está escrito em lugar algum. As repetições inúteis são aquelas sem presença, mecânicas, ou sem intenção de estar realmente na presença de Deus, sem estar sequer consciente que Deus está ali, ou o que seria o pecado de invocar o nome de Deus em vão, ou a repetição inconsciente, hipnótica como um mantra, como faziam certos judeus na época (e alguns ainda o fazem).

O vício: é preciso uma confissão para saber a dimensão e a estrutura de espiritualidade que está faltando, o pai espiritual para orientar o tipo de oração para praticar, a atitude correta... Não basta conhecer ou reconhecer o pecado, é preciso conhecer a energia que o move e como usá-la da maneira correta, não aplicando-a em pecados, mas em ações corretas, atitudes e posições corretas. E o constante arrependimento...

A ortodoxia (a visão correta) começa na potencialidade, a semente não é a árvore, apenas em potencia, ainda não se realizou, mas tem a potência, o feto, a criança, o adolescente, são seres humanos, são fases, mas não estão adultos: é preciso amadurecer, para isso é preciso a prática.



Sobre o fim dos tempos não cabe a nós especular, nem ir além do que está revelado, cabe a nós estarmos preparados, vigilantes para que aquele dia não venha de improviso e estar com as lamparinas acesas e com óleo de reserva.

A lembrança de Deus é um dos exercícios da fé.




Continua...





terça-feira, 19 de julho de 2022

Inteligência ⎯ o que é? - por Olavo de Carvalho

 Do Livro Inteligência, Verdade e Certeza Introdução ao Seminário Permanente de Filosofia e Humanidades por Olavo de Carvalho RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ARTES  LIBERAIS 1995



1. Inteligência ⎯ o que é? 

ESTE CURSO começou em São Paulo em 1986, no Rio em 1987, e prossegue nas duas cidades até hoje. Sua idéia central é a formação da inteligência humana para que desempenhe da melhor maneira possível a função que lhe é própria. A inteligência, neste contexto, não quer dizer a habilidade de resolver problemas, a habilidade matemática, a imaginação visual, a aptidão musical ou qualquer outro tipo de habilidade em especial, mas, da maneira mais geral e abrangente, a capacidade de apreender a verdade. Quer dizer: quando pensamos algo, mas o nosso pensamento não capta propriamente o que é verdade, então o que está em ação não é propriamente a inteligência, no rigor do termo. O pensar e o inteligir são atividades completamente distintas.

 A prova disto é que muitas vezes você pensa, pensa, e não intelige nada do que pensou, e outras vezes intelige sem ter pensado. A inteligência é um órgão que só serve para isto: captar a verdade. Às vezes ela entra em operação através do pensamento, às vezes através da imaginação ou do sentimento, e às vezes entra diretamente, num ato intelectivo — ou, se preferir, intuitivo — instantâneo, no qual você capta alguma coisa sem uma preparação e sem uma forma representativa em especial que sirva de canal à intelecção.

Outras vezes existe uma longa preparação através do pensamento, da imaginação e da memória, e você não capta  coisíssima nenhuma: cumpridos os atos representativos, a intelecção a que se dirigiam falha por completo; dados os meios, a finalidade não se realiza. Basta esta distinção para percebermos o quanto é errônea a direção tomada pela atual teoria das “inteligências múltiplas”, que dissolve a noção mesma de inteligência numa coleção de habilidades — que vão desde o raciocínio matemático até a destreza física e o traquejo social —, sem notar que todas essas capacidades são meios e que a inteligência não é propriamente um meio, mas o ato mesmo, o resultado a que tendem esses meios e para o qual nenhum deles é, por si, uma condição suficiente.

A teoria das inteligências múltiplas surgiu como uma reação contra a teoria do QI, que por sua vez identificava a inteligência, exclusivamente, com a habilidade verbal, matemática e imaginativo-espacial. Mas é um caso típico de substituição de uma falsidade por outra. Sejam poucas ou muitas as habilidades com que se identifica a inteligência, o erro é o mesmo: confundir a inteligência com os instrumentos de que se serve. A maior parte das pessoas se conhece muito mal, mesmo nas coisas práticas e nos aspectos mais óbvios da vida. Quanto maior não seria sua dificuldade de captar a diferença sutil entre os atos representativos e a inteligência! Vendo sempre a inteligência atuar através do pensamento, da memória, da imaginação, do sentimento, confundem portanto o canal com aquilo que por ele passa, o veículo com o passageiro, e tomam por “inteligência” os meros atos mentais. 

Esse equívoco acabou sendo oficializado e legitimado pela educação. De modo geral, todas as formas de ensino visam a incrementar as habilidades em que a inteligência se apóia, como a memória, a imaginação, o raciocínio etc., e não a inteligência enquanto tal. O fato é que a entrada em cena dessas outras faculdades não acarreta necessariamente a da inteligência.

Quer dizer: podemos desenvolver muito o raciocínio verbal, ou a imaginação visual, sem que haja efetivamente uma inteligência agindo por trás deles. Aliás, se é através do raciocínio que às vezes inteligimos, também é através dele que nos enganamos. Ou, do mesmo modo, às vezes a imaginação nos leva à compreensão real de alguma coisa, mas às vezes nos leva para longe da verdade. De modo que o desenvolvimento destas faculdades, imaginação, memória, raciocínio etc., não implica necessariamente o da inteligência, também é verdade o vice-versa: que a inteligência é independente desses outros processos, que lhe servem de canais, instrumentos e ocasiões e nada mais. Mas o vice-versa não deve ser tomado em sentido rigoroso, pois uma inteligência resolutamente decidida a descobrir a verdade sobre alguma coisa acaba em geral encontrando os canais mentais pelos quais chegar ao seu objetivo, ou seja, ela desenvolve as “faculdades” de que necessita.

Se definimos a inteligência como a capacidade humana de captar o que é verdade, também entendemos que o essencial do ser humano, aquilo que o diferencia dos animais, não é o pensamento, não é a razão, nem uma imaginação ou memória excepcionalmente desenvolvidas, embora tudo isto haja efetivamente no ser humano. Pois pensar, um macaco também pensa: ele completa um silogismo e até encadeia silogismos num raciocínio relativamente perfeito. Imaginação, até um gato tem: os gatos sonham.

Então, se formos por este caminho, não encontraremos a diferença específica humana, aquilo que nos torna homens em vez de bichos. O que nos torna humanos é o fato de que tudo aquilo que imaginamos, raciocinamos, recordamos, somos capazes de vê-lo como um conjunto e, com relação a este conjunto, podemos dizer um sim ou um não, podemos dizer: “É verdadeiro”, ou: “É falso”. Somos capazes de julgar a veracidade ou falsidade de tudo aquilo que a nossa própria mente vai conhecendo ou produzindo, e isto não há animal que possa fazer.