quarta-feira, 24 de abril de 2024

A ORDEM DOS TERAPEUTAS 5

Podemos fazer girar a roda outra vez, porque não há somente os filósofos antigos e os terapeutas de Alexandria; há também esse momento na história no qual, através da pessoa do Cristo, algo do Ser se revela. Novamente, vamos encontrar o quaterno:

Terceira Quaternal

 

Aqui entramos no que é chamado de Comunidade Joanista, que também é uma escola de sabedoria. O que aconteceu em torno de São João, na ilha de Patmos e em Éfeso, foi a revelação do Eu Sou em um corpo, a presença do Ser em uma forma humana, a presença do Infinito no finito, a presença do Eterno no tempo.

A consciência toma corpo para que o corpo tome consciência. A luz se torna matéria para que a matéria retorne à luz. Há esse movimento que, na teologia, é chamado de Kenosis – a descida da luz na matéria; mas há também esse movimento denominado de Teosis, o retorno à luz, o retorno a Deus.

Nesse caso, a vida bem aventurada é deixar existir em nós o ser bem aventurado, o eu sou bem aventurado, eu sou a vida, eu sou o vivente. Deixar que a vida exista mais em nós. Eu sou a luz – são tantas mensagens de Yeshua que estão no interior do seu eu humano.  Ele deixa, a partir do seu eu humano, falar o eu sou divino. Eu sou a liberdade, a verdade, a vigilância, a atenção que liberta. Não identificar-se com o que conhecemos de nós e do outro é a abertura ao infinito, a abertura dos nossos limites.

Somos limitados, mas não estamos fechados em nossos limites. Trata-se de abrir o nosso ego, de abrir o nosso pequeno eu para a presença do Eu Sou, que é livre em mim, que é também o Eu Sou do amor. Deixar existir em nós aquele que ama. Às vezes é preciso saber que aquele que ama em nós, ama aquilo que nós não amamos com o pequeno ego.

Não é o eu que perdoa; é o Self que é capaz de perdoar situações que são imperdoáveis e que não podemos perdoar por meio do nosso próprio poder. Trata-se de se abrir a esse poder do Eu Sou, esse que em mim é mais amoroso, mais inteligente que eu e que pode compreender. É aquele que compreende tudo, perdoa tudo, como afirmava Platão.

Não se deve opor o conhecimento ao coração. O perdão é uma questão de inteligência, mas é também uma questão de saúde. Se houver em nós rancores, a vida não pode mais circular; o rancor ou não perdão é um veneno para o nosso corpo. Perdoar não é algo que é bom somente para o outro a quem perdoamos; sobretudo, é bom para nós mesmos. Então, a energia da vida pode circular e nos tornamos mais livres. O Eu Sou que está em nós nos quer livres com relação às nossas memórias, ao nosso passado. O Eu Sou, que está em nós, nos quer capazes de amar, até mesmo aquilo que não nos agrada. Trata-se de transformar certas situações e fazer delas uma ocasião de transcendência, de ultrapassar a nós mesmos, porque nos realizamos e nos completamos ao nos ultrapassarmos. Eis o que a Comunidade Joanista, ou Evangelista, vai tentar realizar.

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(Extraído do texto de Jean-Yves Leloup: Uma Vasta e Ancestral Herança)

Continua...

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