O anarco-conservadorismo não é uma corrente política ou filosófica consolidada e amplamente reconhecida, mas sim uma ideia ou termo usado para descrever uma junção de princípios que, à primeira vista, podem parecer contraditórios. Em essência, ele representa a síntese de duas posições distintas:
* Anarquismo: No sentido de anarcocapitalismo ou anarquismo de direita, que defende a abolição completa do Estado e a organização da sociedade por meio de instituições voluntárias, baseadas no livre mercado e na propriedade privada. A ideia central é a oposição a qualquer forma de coerção estatal.
* Conservadorismo: Neste contexto, o conservadorismo não se refere à defesa do estado, mas sim à valorização das tradições, da cultura, da religião, da família e de uma moralidade social herdada. É a crença de que essas instituições e valores, construídos historicamente, são fundamentais para a ordem e a coesão social.
A grande questão que o anarco-conservadorismo tenta resolver é como manter a ordem e os valores tradicionais em uma sociedade sem estado. Enquanto o conservadorismo tradicional geralmente vê o estado como um protetor necessário dessas tradições contra o caos, a barbárie e a anarquia, o anarco-conservadorismo argumenta que o próprio estado é o maior destruidor das instituições sociais e culturais.
O que seus Proponentes Dizem?
Como não existe um movimento formalmente organizado de anarco-conservadores, os proponentes são geralmente pensadores e intelectuais que buscam conciliar essas idéias. A principal figura associada a essa linha de pensamento é Hans-Hermann Hoppe, um economista da Escola Austríaca.
Os argumentos de Hoppe e de outros simpatizantes podem ser resumidos em alguns pontos:
* O Estado é a ameaça real às tradições: Eles argumentam que, ao longo da história, o Estado (seja monárquico, democrático ou socialista) tem sido o principal agente de mudanças sociais radicais. O Estado moderno, por exemplo, promove o assistencialismo, a engenharia social, a quebra da família tradicional e o relativismo moral por meio de suas políticas, impostos e regulações.
* Sociedade voluntária e hierarquias naturais: Em uma sociedade sem Estado, a ordem e os valores seriam mantidos por instituições privadas e comunitárias, como famílias, igrejas, comunidades e associações. Eles acreditam que as hierarquias e as normas sociais surgiriam de forma orgânica e voluntária, sem a necessidade de coerção estatal.
* Propriedade privada como base da ordem: A propriedade privada é vista como a base de toda a ordem social. O dono de uma propriedade, por exemplo, teria o direito de definir as regras de sua terra, proibindo comportamentos que considere imorais ou subversivos. Essa descentralização do poder permitiria que diferentes comunidades vivessem de acordo com seus próprios valores, criando uma sociedade pluralista de "ordens" sociais distintas.
A ideia de anarco-conservadorismo é frequentemente criticada, tanto por conservadores tradicionais (que veem a ausência de Estado como anarquia e desordem) quanto por anarquistas de esquerda (que o vêem como uma forma de impor um certo padrão social). No entanto, o debate em torno dessa ideia reflete a busca por uma solução para a tensão entre a liberdade individual e a ordem social.
Hans-Hermann Hoppe é o anarco-conservadorismo
Hoppe é um pensador anarcocapitalista que, por sua vez, desenvolveu a linha de pensamento conhecida como anarco-conservadorismo (também chamado de paleolibertarianismo por seu mentor, Murray Rothbard). A idéia central de Hoppe é a de que uma sociedade sem estado (anarquia) não precisa ser, necessariamente, uma sociedade permissiva e de costumes liberais no sentido social.
Ele une o anarcocapitalismo — que defende a abolição do Estado e a organização da sociedade por meio de contratos privados e do livre mercado — com certos valores e princípios conservadores. Para Hoppe, a lógica da propriedade privada, que é o pilar do anarcocapitalismo, também leva a uma sociedade que protege valores tradicionais.
Aqui estão alguns pontos-chave das ideias anarco-conservadoras de Hoppe:
1. A Ética Argumentativa e a Propriedade Privada
A base da filosofia de Hoppe é a ética da argumentação. Ele argumenta que qualquer pessoa que participa de um debate racional sobre ética, implicitamente, já aceita certos direitos de propriedade sobre seu corpo e sobre os recursos que usa para se comunicar. O Estado, ao taxar e regular a vida das pessoas, viola essa propriedade privada, sendo, portanto, uma instituição ilegítima.
Essa defesa intransigente da propriedade privada, para Hoppe, não se limita apenas aos bens materiais, mas também à liberdade de associação. Em uma sociedade anarcocapitalista, proprietários de terras teriam o direito de estabelecer regras para suas propriedades e excluir quem não as seguisse.
2. Monarquia vs. Democracia
Em sua obra mais famosa, "Democracia: O Deus que Falhou", Hoppe faz uma crítica contundente à democracia. Ele argumenta que a monarquia, apesar de seus problemas, era um sistema "menos pior" que a democracia.
* Monarquia: O monarca é dono do reino e tem um interesse a longo prazo em preservar e aumentar seu "capital", ou seja, o valor de seu território e de seus súditos. Ele tende a agir como um proprietário cuidadoso, evitando esgotar seus recursos.
* Democracia: O líder democrático é um "zelador" temporário do poder, eleito por um período curto. Seu interesse é maximizar o benefício a curto prazo para si e seus eleitores, o que resulta em mais impostos, mais dívidas e mais gasto público. A democracia, segundo Hoppe, leva a um declínio da responsabilidade individual e a um aumento constante do poder do Estado.
3. Propriedade Privada e Ordem Social
Para Hoppe, a ordem social em uma sociedade sem estado seria mantida pela propriedade privada e pela liberdade de associação. Em um sistema de anarquia, comunidades e proprietários poderiam criar suas próprias regras de conduta. Por exemplo, um proprietário de um condomínio poderia proibir o uso de drogas ou comportamentos que considerasse "vulgares" em sua propriedade, e quem quisesse viver ali teria que aceitar essas regras.
Isso leva à ideia de que a sociedade se organizaria em comunidades mais homogêneas e coesas, pois as pessoas tenderiam a se agrupar com aqueles que compartilham de seus mesmos valores e costumes. Hoppe defende que essa descentralização e a autonomia das comunidades são a forma de preservar a ordem social e os valores tradicionais, o que o aproxima do pensamento conservador.
Em resumo, o anarco-conservadorismo de Hoppe é uma tentativa de reconciliar a total liberdade econômica do anarcocapitalismo com uma visão socialmente conservadora, onde a proteção da propriedade privada é o mecanismo que possibilita a manutenção de uma ordem social baseada em valores tradicionais, em oposição à dissolução moral que ele associa à democracia e ao estado de bem-estar social.
Antonio. F. Gonzaga
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