segunda-feira, 18 de agosto de 2025

A CORRESPONDÊNCIA DA CONTROVÉRSIA PREDESTINÁRIA ENTRE O CATOLICISMO E O PROTESTANTISMO


Yuri Fagundes









https://casadoespiritosanto8.blogspot.com/2025/04/controversia-predestinaria-entre-o.html?m=1


O impasse entre os jesuítas, representados por Roberto Belarmino, e os dominicanos, representados por Domingo Báñez, no contexto católico da Contrarreforma, tem notáveis paralelos com a posterior controvérsia entre calvinistas e arminianos no protestantismo. 

Ambas as disputas giram em torno do desafio teológico de conciliar a soberania divina com a liberdade e responsabilidade humanas na salvação. 

Embora desenvolvidas em contextos distintos, as duas controvérsias refletem preocupações comuns sobre predestinação, graça e livre-arbítrio.

Semelhanças Fundamentais

1. Predestinação e Graça

Dominicanos e Calvinistas: 

Tanto os dominicanos quanto os calvinistas enfatizam a soberania absoluta de Deus no processo de salvação. 

Para os dominicanos, isso é expresso na doutrina da praemotio physica (ou “moção física”), enquanto os calvinistas defendem a predestinação incondicional e a graça irresistível. 

Em ambos os casos, Deus é visto como aquele que determina infalivelmente os eleitos à salvação, sem depender da cooperação humana.

Jesuítas e Arminianos: 

Os jesuítas, especialmente na visão molinista de Roberto Belarmino, e os arminianos defendem a importância da liberdade humana na salvação. 

Ambas as tradições rejeitam a ideia de uma predestinação absoluta que exclua a cooperação do livre-arbítrio. 

A teoria da ciência média (jesuítas) e a doutrina da eleição condicional (arminianos) sustentam que Deus, em Sua onisciência, prevê as respostas livres do ser humano à graça.

2. Livre-Arbítrio e Responsabilidade Humana

Tanto os dominicanos quanto os calvinistas tendem a ver a liberdade humana de forma compatibilista, ou seja, a liberdade é definida como agir de acordo com a própria natureza, mas sob a determinação divina.

Os jesuítas e os arminianos, por outro lado, insistem em uma visão libertariana do livre-arbítrio, em que as escolhas humanas, embora dependentes da graça, não são predeterminadas por Deus. 

Isso preserva a responsabilidade moral do indivíduo.

3. Conflitos Teológicos

Os debates entre jesuítas e dominicanos culminaram na Congregação de Auxilia (1597–1607), assim como as divergências entre calvinistas e arminianos levaram ao Sínodo de Dort (1618–1619). 

Nos dois casos, os embates teológicos tentaram definir posições ortodoxas sobre a relação entre graça e livre-arbítrio.

Diferenças Contextuais

1. Ponto de Partida Doutrinário

O debate entre jesuítas e dominicanos surgiu dentro de um contexto católico, buscando responder tanto às heresias reformistas quanto a questões internas da teologia escolástica.

A controvérsia entre calvinistas e arminianos ocorreu no âmbito do protestantismo reformado, lidando com as implicações da doutrina calvinista original e respondendo ao que os arminianos consideravam uma visão exagerada da soberania divina.

2. Autoridade Eclesiástica

No caso católico, a autoridade do papa mediou o conflito, sem uma decisão definitiva. 

Isso permitiu a coexistência das posições dominicana e jesuítica.

No contexto protestante, o Sínodo de Dort condenou oficialmente o arminianismo como heresia, consolidando a ortodoxia calvinista nos países baixos reformados.

Correspondências Substantivas

1. Ciência Média e Eleição Condicional

A doutrina molinista da ciência média corresponde à visão arminiana de que Deus antecipa as escolhas livres dos seres humanos e predestina com base nesse conhecimento. 

Ambas procuram preservar a liberdade humana sem negar a soberania divina.

2. Graça Irresistível e Praemotio Physica

A noção dominicana de que Deus move eficazmente a vontade humana sem violar sua liberdade é paralela à doutrina calvinista da graça irresistível, que sustenta que os eleitos não podem resistir à ação da graça divina.

3. Preocupação com a Justiça Divina

Em ambas as controvérsias, as posições que enfatizam o livre-arbítrio (jesuítas e arminianos) buscam proteger a ideia de que Deus não seria injusto ao condenar seres humanos que não tiveram uma oportunidade real de escolher o bem.

Conclusão


Os debates entre jesuítas e dominicanos, bem como entre calvinistas e arminianos, revelam uma tensão teológica central no cristianismo: como harmonizar a soberania de Deus com a liberdade humana? 

Embora tenham surgido em tradições e momentos históricos diferentes, essas controvérsias refletem um desafio comum que continua a influenciar a teologia cristã.

Por favor, compartilhe em suas redes e junte-se ao grupo de estudos. Entre em contato através do Telegram 79988335718 ou WhatsApp  79991316067.


domingo, 17 de agosto de 2025

A SERVIDÃO À VERDADE


— Søren Kierkegaard

Cristo foi crucificado porque não queria se envolver com a multidão (embora se dirigisse a todos).

Ele não queria formar um partido, um grupo de interesse, um movimento de massa, mas queria ser o que era: a verdade que se relaciona com o indivíduo

Portanto, todo aquele que genuinamente serve à verdade é, por isso mesmo, um mártir.

Conquistar uma multidão não é arte; para isso, basta mentira, tolice e um pouco de conhecimento das paixões humanas.

Mas nenhuma testemunha da verdade ousa se envolver com a multidão.





sexta-feira, 15 de agosto de 2025

O NOVO HOMEM - cap. 2

 


2

Um segredo ao mesmo tempo imenso e terrível foi comunicado no homem de vontade, n.o 146, pag. 217. Esse segredo é que o coração do homem é a única passagem por onde a serpente venenosa eleva sua cabeça ambiciosa, e por onde seus olhos gozam de alguma luz elementar, porque sua prisão está bem abaixo da nossa.

Aqui ousamos comunicar um outro segredo não menos profundo, porém mais consolador, mais encorajador, e que serve para nos ensinar a respeitar uns aos outros, tanto no que diz respeito a santidade de nossa origem como ao caráter sublime da obra que devemos e podemos realizar sobre a terra.

Heis o segredo:

O amigo fiel que nos acompanha aqui embaixo, em nossa miséria, está como aprisionado conosco na região elementar, e embora goze sua vida espiritual, não pode gozar sua Luz Divina, as alegrias divinas, a Vida Divina a não ser pelo coração desse mesmo homem que foi escolhido como o intermediário universal do bem e do mal. (...)

É por isso que Jesus Cristo diz, em Mateus, 18,10: Não desprezeis um só destes pequeninos, pois vos declaro que os seus anjos nos céus vêem incessantemente a face de meu Pai, que está nos céus. Eles vêem a face de Deus porque as crianças que os acompanham têm o coração puro, e é o coração puro dessas crianças que serve de órgão a esses anjos, uma vez que não estão no céu, onde está o Pai. Mas, reciprocamente, o coração do homem só é puro quando fiel à voz de seu anjo; isto é, em outras palavras, quando o homem volta a ser criança, de maneira que seu anjo tenha a liberdade de ver a face de Deus.

Também há grande significado nas palavras de Jesus Cristo, no mesmo capítulo, versículo 3: "Se vos não tornardes como meninos, não entrareis no reino dos céus". O anjo é a sabedoria, o coração do homem é o amor; o anjo é o recipiente da Luz Divina, o coração do homem é a sua voz e o modificador. Não podem ser trocados nem unidos, a não ser pelo nome do senhor, que é ao mesmo tempo o amor e a sabedoria que os liga na sua unidade. Nenhum casamento é comparável à esse; e nenhum adultério é comparável ao que altera um tal casamento; também é dito em Mateus, 19,6: "Não separe o homem o que Deus uniu".

Pode-se também encontrar esta grande verdade no sentido desta passagem; "Amar o teu próximo, como a ti mesmo, e o de outra passagem que nos ensina que aquele que se fizer menor será o maior. Tudo é vivo nessa tríplice aliança, tudo é espírito, tudo é Deus, tudo é a palavra: como o inimigo poderia acercar-se dela? Ó homem! se tu percebes o menor raio dessa alta luz, não perca um momento para cumprir todas as leis que ela te impõe, e para te tornares tão vivo, tão ativo, e tão puro como as duas correspondências entre as quais estás colocado; esse será o meio de apressar tua regeneração e de preparar adiantadamente um lugar de repouso, para o tempo vindouro. Tu és a lâmpada, o espírito é o ar, o calor e o fogo da Luz Divina estão contidos no óleo; o ar sopra sobre ti para te colocar em atividade e para que lhe transmita o calor doce evivificante, e a santa claridade desse óleo, que deve necessariamente passar por ti para alcançá-la.

Nessa operação, o homem se torna uma verdadeira luz no meio das trevas. Ele se torna essa verdadeira luz pelo simples fato de manifestar o princípio vivo de querer procurá-la e fazê-la passar pelo seu coração. Assim o homem pode regozijar-se muito, mas não pode glorificar-se enfim, o anjo está repleto de consolações e alegrias; e por meio das alegrias divinas que lhe proporcionamos, ele se liga e se aperfeiçoa mais a nós, (...)

Porque quando a Vida Divina passa por nós, atrai o espírito, e quando o espírito vem até nós, atrai a Vida Divina; Deus se espiritualiza e o espírito se diviniza, e nosso ser recebe essa alimentação, preparada pela sabedoria, que dispõe todas as suas ações para o bem dos seres; se viessem sozinhos a Divindade nos consumiria, e o espírito não nos nutriria suficientemente, pois embora não sejamos Deus, somos mais do que o espírito.

Essa lei que nos é traçada para operar nossa regeneração, indica claramente qual lei deveria acompanhar nosso destino primitivo, pois deveria ser ainda mais desenvolvida, sem contudo, mudar sua natureza, porque uma lei não muda, ainda que se restrinja ou se retire quando os seres se tornam absolutamente indignos de que continue atuando sobre eles; assim, se hoje devemos chegar o domínio até nosso anjo, outrora, tivemos o privilégio de levar o mesmo serviço a um maior que nosso anjo particular. Enfim, se hoje podemos fazer passar por nós alguns raios do sol divino, é porque, por nossa natureza original, temos o poder de fazer passar por nós a Divindade por inteiro, e, por conseqüência, só podemos nos considerar regenerados quando tivermos atingido esse objetivo grandioso, que é o termo final de nosso ser; (...) como teria feito primitivamente, se tivéssemos seguido seus desígnios.

Homem, fica sabendo como estás longe de teu fim, e vê se essa perspectiva te pode deixar crer que deves esmorecer na inação.

Gostaríamos de não ter a necessidade de sustentar todos esses grandes princípios através de demonstrações racionais da natureza espiritual do homem e da divindade de sua origem, sendo que essas provas estão em outros escritos; mas se as tivéssemos absorvido com bastante cuidado para eliminar todas as dúvidas, seria inútil querer nos seguir neste momento. Acreditamos, então que devemos nos deter um pouco nesses elementos, que são como as três pequenas preliminares dos conhecimentos reservados a nós; isso porque, temos que expor verdades de um outro tipo.

Do Livro O NOVO HOMEM de Louis Claude de Saint Martin

Para participar de nossos grupos de estudo, prática orientada e terapias, basta enviar uma mensagem para o WhatsApp 79991316067. Por favor, entre em contato para mais informações e para receber este livro completo e outros livros como este. Obrigado.


quinta-feira, 14 de agosto de 2025

SOBRE OS PENSAMENTOS DE MALÍCIA - Evágrio o Pôntico


  •  A Doutrina

  • 1. Natureza do Texto
  • Como muitos outros livros de Evágrio, em especial o Praktikos,
  • o Gnostikos, o Kephalaia Gnostica etc., o Tratado Sobre os
  • Pensamentos é formado por aquilo que Evágrio denomina kephalaia;
  • este termo figura no próprio título do tratado, em grande parte da
  • tradição manuscrita; o próprio Evágrio o emprega no presente tratado,
  • quando ele se refere ao kephalaion 17 (correspondente ao capítulo 24,
  • #4-5). Na falta de melhor, traduzimos kephalaion por “capítulo”, mas
  • este termo não deve ser tomado no sentido que lhe damos atualmente.
  • Diferentemente de uma obra moderna, os kephalaia não fazem parte
  • de um discurso contínuo; cada kephalaion é autônomo, formando um
  • todo em si mesmo e consagrado a um único objeto. Os kephalaia aqui
  • são de tamanho bastante variável: o mais longo (25) tem um
  • desenvolvimento de 56 linhas; os mais curtos (38-40; 42-43) têm
  • menos de dez linhas; o mais comum é terem de 15 a 30 linhas. Às vezes
  • diversos capítulos referentes a um mesmo tema seguem-se e parecem
  • agrupados; é o que acontece com os capítulos 27, 28 e 29 sobre os
  • sonhos e visões noturnos; uma fórmula de transição, no início do
  • capítulo 27, introduz o assunto. Mas, habitualmente, cada capítulo é
  • independente daqueles que o precedem ou seguem, o que é frisado
  • pela ausência – salvo raras exceções – de partículas de ligação no
  • início dos capítulos. Ao contrário, encontramos às vezes kephalaia
  • formados, em parte (26) ou inteiramente (31), de outros kephalaia
  • independentes reunidos aqui de modo mais ou menos artificial pelo
  • emprego de partículas de ligação.
  • Em outras obras formadas por kephalaia, estes, embora
  • independentes uns dos outros, vêm organizados segundo certos
  • temas, de tal forma que o conjunto pode apresentar algum
  • ordenamento das matérias. No presente Tratado não discernimos
  • servindo de introdução e de alguns capítulos curtos no final (38-40; 42-
  • 43), que fazem as vezes de conclusão, nenhum plano ou ordenamento
  • transparece no corpo do Tratado. Quanto à ordem dos capítulos e
  • mesmo à sua divisão, existem importantes divergências na tradição
  • manuscrita, e o texto apresentado aqui está baseado em algumas
  • opções. Esta desordem tem sua origem nas vicissitudes da tradição
  • manuscrita, bem como no próprio estado em que Evágrio legou o texto,
  • sem tê-lo revisado, ao que parece. Daí a necessidade que
  • encontramos, para a exposição da doutrina, em si mesma muito
  • coerente, de reagrupar alguns textos que estavam dispersos no corpo
  • do tratado.

 

  • 2. Síntese Doutrinal 

  • O Tratado Sobre os Pensamentos apresenta uma ligação
  • estreita com o Tratado Prático: este dirigia-se ao “prático” (praktikos)
  • e o ensinava como chegar, por meio da “prática” (praktiké), aos
  • umbrais da impassibilidade. O presente tratado está endereçado mais
  • especificamente àquele que, tendo franqueado o portal da
  • impassibilidade, tornou-se um “gnóstico” (gnostikos), alcançou a
  • ciência espiritual ou “gnose”, e intenta elevar-se, através dos
  • diferentes graus da contemplação, até a “oração pura” e a visão da luz
  • divina. Assim, para o gnóstico, a prática, ou seja, a luta pela
  • impassibilidade, deve prosseguir, pois a impassibilidade comporta
  • vários níveis e, para progredir na ciência, ele deve progredir na
  • impassibilidade, desde o início desta (ou “pequena impassibilidade”,
  • capítulo 15) até a “maior e primeira impassibilidade” (capítulo 10). Por
  • conseguinte, o combate contra os demônios e os pensamentos que
  • estes sugerem, que é a essência da prática, continua na vida gnóstica;
  • mas o gnóstico não tem que combater apenas os demônios que se
  • opõem à prática, atacando a “parte passional da alma”, mas também
  • aqueles que flagelam a parte racional e são adversários da
  • contemplação, conforme a distinção que é feita no capítulo 84 do
  • Tratado Prático. 
  • Esta distinção é retomada, em outros termos, no presente
  • tratado. No capítulo 18, Evágrio distingue entre os demônios que nos
  • atacam enquanto animais que somos e aqueles que nos atacam
  • enquanto homens, seres providos de razão. Estes últimos são os que
  • se agarram ao nosso intelecto, instrumento da ciência. Os primeiros
  • fazem agir contra a sua natureza as partes concupiscente e irascível,
  • cujo conjunto forma aquilo que o Praktikos denomina “a parte
  • passional da alma”, parte que temos em comum com os animais. Sobre
  • a parte concupiscente agem especialmente o demônio da gula que
  • sabe recorrer a truques para quebrar a abstinência já bem adquirida
  • pelo gnóstico (35) e, mais violento, o da fornicação que não hesita em
  • impor ao espírito daquele que já triunfou sobre seus maus
  • pensamentos a visão de cenas eróticas, chegando mesmo a atacar a
  • carne, fazendo-a ceder a um “abrasamento animal”; mas estas
  • tentações, assegura Evágrio, não duram muito, expulsas por meio de
  • uma prece intensa, da ascese e da contemplação (16). Bem mais
  • temíveis e duráveis são, para o gnóstico, aqueles que colocam em
  • ebulição sua parte irascível; dela provém aquele que é um dos
  • principais obstáculos à oração pura: “Se alguém quiser obter a oração
  • pura (...) que domine sua irascibilidade e vigie os pensamentos que ela
  • engendra, ou seja, aqueles que têm sua origem na suspeita, no ódio e
  • no rancor, que mais do que tudo cegam o intelecto...” (5, 16, 32). Como
  • no Gnostikos, (cap. 8), Evágrio repreende aqueles que “acendem sua
  • irascibilidade” processando seus irmãos sob o pretexto de que os bens
  • a que eles renunciaram devem ser distribuídos aos pobres (32); é a
  • prova de uma renúncia imperfeita (5).
  • Mas, sobretudo, os demônios contra os quais deve lutar o
  • gnóstico são aqueles que, atacando-o em sua condição de homem,
  • flagelam seu intelecto e se opõem ao progresso na via da
  • contemplação; estes demônios são principalmente os da vanglória e
  • do orgulho (18). Estão expostos à vanglória aqueles que adquiriram
  • “um começo de impassibilidade” (15); ela nasce das próprias práticas
  • ascéticas, das renúncias, das esmolas, do jejum, quando são
  • cumpridos com o desejo de dar espetáculo aos homens e disto tirar
  • alguma glória (3, 30); o demônio da vanglória aproveita-se do fracasso
  • dos outros demônios, depois do que ele lhes reabre as portas da alma
  • ____________________________
  • (14). O pensamento da vanglória é, dentre todos os pensamentos,
  • aquele que dispõe de mais matéria: “ele abarca quase toda a terra
  • habitada e abre a porta para todos os demônios” (14); é provavelmente
  • o demônio da vanglória que Evágrio chama de “vagabundo”, que se
  • aproxima dos irmãos sobretudo no início da aurora e “conduz o
  • intelecto de cidade em cidade, de aldeia em aldeia, de casa em casa,
  • aonde o monge faz muitos reencontros, caindo, seja sob o demônio da
  • fornicação, seja sob o da cólera ou o da tristeza (9). Os pensamentos
  • persistentes de vanglória entregam aos poucos a alma ao demônio
  • “que torna a alma insensível”, o qual faz com que ela não mais
  • considere o pecado como pecado, não creia mais no castigo nem no
  • julgamento eternos, que permaneça insensível aos argumentos tirados
  • da Escritura e à reprovação dos irmãos (11). Do pensamento da
  • vanglória nasce o do orgulho (14), vício supremo que “provoca a perda
  • do espírito” (21, 26),
  • Como pode o gnóstico lutar contra esses demônios e contra os
  • pensamentos inspirados por eles, de modo a escapar ao desastre final
  • a que conduz o orgulho e, ao contrário, continuar progredindo na
  • ciência até alcançar a oração pura?
  • Evágrio sugere ao monge que se torna gnóstico os mesmos
  • conselhos que lhe dava quando este se dedicava à vida prática; ele
  • aconselha inclusive que o gnóstico não deve se preocupar com o que
  • comer ou vestir, virtude da despreocupação que ele recomendava aos
  • iniciantes em seu Bases da Vida Monástica. Assim como o prático, o
  • gnóstico combaterá os maus pensamentos vindos da parte
  • concupiscente de sua alma por meio de exercícios ascéticos, como o
  • jejum, a vigília e o sono sobre leito duro; ele domará sua parte
  • irascível, mais rebelde nele, pela longanimidade, a ausência de rancor,
  • as esmolas (3), mas também pela salmodia e, sobretudo, fazendo
  • crescer em si a virtude da mansidão (27); com efeito, “quase nenhuma
  • virtude é tão temida pelos demônios quanto a mansidão” (13). O
  • gnóstico que adquiriu um certo domínio sobre suas paixões tem outros
  • meios para lutar contra os demônios; assim ele poderá utilizar, com a
  • condição de que tenha suficiente domínio, sua parte irascível contra
  • os ataques brutais do demônio da fornicação (16). Do mesmo modo ele
  • pode fazer bom uso dos pensamentos da tristeza para destruir os dos
  • outros demônios, com a condição de utilizá-los de forma
  • “homeopática”, como se usa o veneno das víboras, tomado em
  • pequenas doses, para destruir o veneno de outros animais (12).
  • Sobretudo, o gnóstico possui, para combater os demônios, a
  • ciência que ele adquiriu graças a ter alcançado a impassibilidade.
  • Daqui para frente ele já não combate, como o fazia o prático, “à noite”,
  • mas ele contempla “as razões da guerra” e “reconhece facilmente as
  • manobras dos inimigos” (Pr 83). Agora ele sabe como os demônios
  • introduzem nele seus pensamentos, o que lhe permite triunfar com
  • mais facilidade. Eles o fazem utilizando aquilo que Evágrio denomina
  • noémata, termo que designa a “representação”, a imagem, semelhante
  • à marca que os objetos percebidos pelos sentidos deixam no intelecto
  • (25). Estas representações estão no princípio do conhecimento, que é
  • para Evágrio, segundo a tradição estóico-aristotélica, de origem
  • sensível. Elas são dadas ao homem, em sua condição presente (em que
  • ele está ligado a um corpo) para que, a partir delas, ele possa elevar-
  • se a uma ciência mais alta, até a ciência do próprio Deus. Deus
  • confiou-as a nós como um rebanho a um pastor, e nos deu a parte
  • concupiscente da alma para que as amemos e a parte irascível para
  • que as defendamos contra os “lobos”, ou seja, contra as
  • representações enviadas pelos demônios (17).
  • De fato, é utilizando as representações de objetos sensíveis que
  • os demônios agem sobre a alma e introduzem nela seus maus
  • pensamentos (2; 24), tentando desviar suas partes concupiscente e
  • irascível de sua função natural para fazê-las servir ao seu próprio fim,
  • que consiste em impedir o homem de alcançar a ciência. Essas
  • representações vindas dos sentidos são conservadas na memória, de
  • onde elas podem ser chamadas seja pelo intelecto, seja pelos próprios
  • demônios (2), e se o objeto foi percebido com paixão, sua
  • representação mantém, mesmo chamada pela memória, um caráter
  • passional. Com o monge a quem Evágrio se dirige e que é, por seu
  • estado, um solitário, um “anacoreta” – portanto, em princípio,
  • afastado dos “objetos” que atingem os sentidos1 – os demônios
  • utilizam, sobretudo as representações conservadas na memória; em
  • pleno deserto, o encontro, mais ou menos recente, com um irmão,
  • pode estar na origem de uma representação passional persistente,
  • como no caso do monge que guardava rancor de outro cujo rosto não
  • cessava de obcecá-lo durante a prece (37); mesmo na solidão da cela,
  • o monge não está ao abrigo das más representações; assim, quando
  • ele está aplicado na leitura das Escrituras, os demônios sabem utilizar
  • o próprio texto sagrado para sugerir seus maus pensamentos (33). Mas
  • no solitário, as representações são feitas principalmente das
  • lembranças apaixonadas que alimentam e amplificam as divagações
  • da imaginação, às quais a solidão, dia e noite, dá livre curso.
  • Como podem os demônios agir sobre a memória e nela buscar
  • as representações? Sem dúvida, por intermédio das paixões, supõe
  • Evágrio (4). Mas como podem eles conhecer as paixões que estão na
  • alma e as representações conservadas na memória? Com efeito,
  • Evágrio assegura que somente Deus é “cardiognóstico”, ou seja,
  • somente ele conhece o que está dentro do coração dos homens; mas
  • os demônios podem conhecê-lo observando os sinais exteriores,
  • gestos ou palavras, no que eles são muito hábeis (37). Do mesmo modo
  • eles não podem agir sobre nosso espírito senão passando pelo nosso
  • corpo. Evágrio descreve de maneira muito precisa e bastante curiosa,
  • a partir daquilo que ele próprio observou, como alguns demônios
  • fazem adormecer aqueles que leem tocando suas pálpebras e,
  • fazendo-os bocejar, insinuam-se no interior de sua boca (33); da
  • mesma forma, o demônio da tristeza, agindo sobre a pupila, cria um
  • obstáculo à oração evocando a imagem de um pecado há tempos
  • cometido (36). Dentre essas representações com as quais nos tentam
  • os demônios está a de nosso próprio corpo, que está no campo de
  • nossos sentidos com exceção do rosto; por meio desta representação
  • nós nos vemos indo e vindo e, quando se apresenta a figura de outra
  • pessoa, estendendo a mão para dar ou receber; e é assim que, quando
  • surge a tentação, nos imaginamos nos irritando contra um irmão ou
  • 1 O termo pragmata pode designar tanto pessoas como coisas; trata-se sempre de “objetos” da percepção sensível.
  • fornicando com uma mulher (25). Se o monge se abandona a isto, essas
  • imagens se sucedem em seu espírito, sugeridas por vários demônios
  • que se seguem ao primeiro; assim, vítima do demônio da avareza, ele
  • se vê inicialmente, em imaginação, encarregado da gestão do
  • dispensário dos pobres e, para tanto, recolhendo grandes somas de
  • dinheiro; logo sobrevêm as imagens da vanglória: ele se vê cercado da
  • estima de muitos e promovido, não sem algumas contestações que o
  • irritam, à prelazia; surgem então visões provocadas pelo orgulho,
  • visões aterradoras, feitas de relâmpagos ininterruptos, de aparições
  • de dragões alados na cela, visões que levam o monge à perda do
  • espírito e à loucura (21). A este mal estão especialmente sujeitos os
  • que se retiram para a solidão, longe dos irmãos, porém ainda
  • susceptíveis aos golpes da cólera, da tristeza ou do orgulho (23).
  • A essas imagens do dia acrescentam-se as imaginações
  • noturnas, chamadas de fantasiai; os demônios sabem provocar
  • naquele que dorme e cujas partes concupiscente e irascível não estão
  • ainda suficientemente purificadas, imaginações que despertam nele
  • as paixões; para tanto, eles sacodem a memória, liberando
  • representações que esta guardava à parte; às vezes eles se utilizam de
  • percepções que chegam aos sentidos do adormecido, como por
  • exemplo o ruído do vento (28), como fazem com o barulho das ondas
  • para os navegantes (4). Assim eles provocam sonhos terrificantes, e o
  • monge adormecido se vê presa de áspides aladas, cercado por animais
  • ferozes carnívoros, estrangulado por serpentes ou atirado do alto de
  • montanhas elevadas; às vezes ele vê os demônios se transformarem
  • em mulheres com atitudes indecentes e provocantes (27). Quando não
  • conseguem sacudir assim as partes concupiscente e irascível, os
  • demônios provocam sonhos de vanglória: o monge se enxerga vestido
  • com o manto de pastor e apascentando um rebanho, representação
  • simbólica da dignidade da qual ele se crê investido; revestido com a
  • prelazia, talvez do dom da cura, ele vê afluir para si, de todos os países,
  • pessoas trazendo presentes. Às vezes, ao contrário, são as visões da
  • tristeza, de infelicidades ocorridas a seus próximos ou de perigos que
  • o ameaçam: ele se vê, por exemplo, caindo de altas escadas, símbolo
  • de seu naufrágio na vida monástica (28). Às vezes estas imaginações
  • da noite prosseguem durante o dia (27); com efeito, os demônios
  • sabem combinar as representações do dia com as imaginações da
  • noite, pois a parte passional da alma é mais facilmente excitada
  • durante o dia quando foi perturbada por visões na noite precedente;
  • ou, inversamente, eles procuram humilhar com visões noturnas
  • aqueles que foram perturbados no dia anterior.
  • Como pode o gnóstico combater esses demônios e os
  • pensamentos que eles sugerem e por que meios poderá ele triunfar?
  • É preciso, em primeiro lugar, identificar o demônio autor da
  • tentação que se apresenta. O gnóstico o identificará a partir da
  • natureza da representação que a acompanha; se for a imagem de
  • alguém que o ofendeu ou irritou que se apresenta ao seu espírito, é o
  • sinal de que é o demônio da cólera que o está tentando; e o mesmo
  • ocorrerá com relação aos outros pensamentos (2). Identificado o
  • demônio, como expulsar a representação de que ele se serviu para
  • tentar introduzir seus pensamentos? Evágrio coloca em princípio que
  • nosso espírito não pode receber ao mesmo tempo as representações
  • de dois objetos diferentes e que, portanto, ele não pode ser tentado por
  • dois demônios simultaneamente. O procedimento a que recorrerá o
  • gnóstico consistirá, por conseguinte, em expulsar a representação
  • intrometida de um mau pensamento provocando a vinda de uma outra
  • representação (24).
  • Ser-lhe-á também possível expulsar o mau pensamento por
  • meio de um bom pensamento, pois se os maus pensamentos “cortam”
  • os bons, inversamente os bons pensamentos podem cortar os maus
  • (17). Se, com efeito, em suas obras, Evágrio fala sobretudo dos maus
  • pensamentos – a tal ponto que, sob sua pena, a palavra “pensamento”
  • empregada sem qualificativo, designa por si só quase sempre, os maus
  • pensamentos – nem por isso deixa de ser claro para ele que existem
  • também os bons pensamentos, cuja origem e cuja natureza são
  • precisamente definidas neste Tratado Sobre os Pensamentos, melhor
  • do que em qualquer outro. No capítulo 8 Evágrio distingue, além dos
  • “pensamentos demoníacos”, ou seja maus, os “pensamentos
  • humanos”, constituídos de representações simples desprovidas de
  • paixão, e os “pensamentos angélicos”, que perscrutam a natureza das
  • coisas criadas e as suas “razões”; são estes que acompanham a
  • contemplação espiritual. Levando mais longe sua análise, Evágrio
  • distingue, no capítulo 31, dentre os pensamentos humanos aqueles
  • que são bons e os que são maus: os bons são, de um lado, aqueles que
  • provêm de nossa natureza, que é boa como tudo o que Deus criou –
  • estes pensamentos são os mesmos que fazem com que também os
  • pagãos amem seus filhos e honrem seus pais – e, de outro, aqueles que
  • provêm de nossa vontade, quando esta, segundo a clássica
  • comparação da balança, “inclina-se pelo melhor”; maus são os
  • pensamentos que vêm de nossa vontade quando ela “se inclina pelo
  • pior”. Assim diz Evágrio que “ao pensamento demoníaco opõem-se
  • três pensamentos que o cortam quando ele se demora no espírito” (31):
  • o pensamento angélico e os dois pensamentos humanos bons.
  • Para cortar os pensamentos diabólicos, os mais eficazes são
  • evidentemente os pensamentos angélicos. São estes que, na
  • contemplação (theoria) espiritual em que deve progredir o gnóstico,
  • formam o que Evágrio chama de “as contemplações” (theorêmata); à
  • sua ação juntam-se os “sonhos angélicos” que, à noite, visitam os que
  • são puros e impassíveis (4); contrariamente aos sonhos demoníacos,
  • “eles trazem uma grande calma à alma, uma alegria inefável” e,
  • durante o dia, “a supressão dos pensamentos passionais, a prece pura
  • e até algumas razões dos seres, que começam a aparecer sob a ação
  • do Senhor e que revelam a sabedoria do Senhor” (28). Os bons
  • pensamentos e as contemplações que o gnóstico assim adquiriu são
  • semelhantes às pedras que Davi tirou de sua bolsa de pastor para
  • abater Golias, imagem do demônio. Eles dizem respeito aos anjos e aos
  • demônios, ao modo como eles nos visitam e agem sobre nós, ao modo
  • como Lúcifer, em especial, decaído de seu estado original, tenta
  • arrastar a todos os outros seres em sua queda. Estas considerações
  • “ferem gravemente o demônio e colocam em fuga todo o seu
  • acampamento”. O gnóstico poderá então enfrentar o demônio “mano
  • a mano” e agir como Davi que cortou a cabeça de Golias com a própria
  • espada deste (19).
  • O gnóstico pode, realmente, triunfar sobre o demônio
  • utilizando as mesmas armas deste, ou seja, os próprios maus
  • pensamentos. Ele o fará por meio da análise, decompondo o
  • pensamento em seus diversos elementos: assim, “ao longo da sua
  • investigação, o pensamento, reabsorvido em seu próprio exame, será
  • destruído, e o demoníaco fugirá para longe de você, pois seu espírito
  • terá sido elevado aos cumes por meio desta ciência” (19).
  • Esta análise, que é um procedimento altamente intelectual, ao
  • alcance apenas do gnóstico já bastante avançado na impassibilidade e
  • na ciência, está fundamentada sobre a observação, que pode ser feita
  • tanto no momento mesmo da tentação, seja após um curto período,
  • como o demonstra Evágrio ao descrever a conduta a se manter diante
  • do demônio que ele chama de “vagabundo”: não lhe dizer nada no
  • próprio instante, mas observar o modo como ele procura arrastar o
  • intelecto em todas as suas divagações; ele se retirará então por si
  • mesmo, “pois ele não admite ser visto enquanto faz das suas”; Evágrio
  • aconselha a deixá-lo agir assim inclusive nos dias que se seguem, de
  • maneira a “conhecer em detalhe todas as suas maquinações”, após o
  • que se pode colocá-lo em fuga “desmascarando-o com uma simples
  • palavra”. Como isto pode ser difícil de executar no próprio instante da
  • tentação, Evágrio aconselha ao gnóstico remeter-se à memória de tudo
  • o que se passou, no dia seguinte, a fim de poder mostrar ao demônio,
  • quando este se apresentar novamente, que ele viu e compreendeu todo
  • seu jogo; deste modo desmascarado, o demônio fugirá envergonhado
  • (9).
  • Ao longo de toda essa luta contra os demônios deve crescer no
  • gnóstico a aversão que ele deve sentir em relação a estes: se
  • necessário, o “médico das almas”, Jesus Cristo, que já o assistiu
  • durante todo seu percurso ascético, utilizará o “abandono espiritual”,
  • abandono fingido e provisório, com o fim de estimulá-lo e conduzi-lo à
  • “aversão perfeita” em relação aos demônios, só experimentada por
  • aquele que “não peca nem em ato nem em pensamento”, e que é “o
  • sinal da maior e mais primordial impassibilidade”, acesso à mais alta
  • ciência (10; 3).
  • É no capítulo 40 que Evágrio trata mais especificamente da
  • contemplação espiritual e dos seus diferentes graus, aos quais chega
  • paulatinamente o gnóstico. Ele procede também por “representações”
  • (noèmata), mas aqui surge uma distinção fundamental: Evágrio
  • distingue entre as representações que deixam uma marca no intelecto
  • e as que não deixam (41); as que deixam uma marca são, como vimos,
  • aquelas que procedem da percepção, por intermédio dos sentidos do
  • corpo, de um objeto corporal; mas quando o gnóstico se eleva à
  • contemplação de sua “razão” – seu logos, termo que designa aquilo
  • que é a um tempo sua razão de ser e seu princípio explicativo – a
  • representação não possui marca nem figura ; e quando intelecto passa
  • à contemplação das naturezas incorpóreas, quer se trate destas em si
  • ou de suas “razões”, as representações também não deixarão nem
  • marca nem figura nele; a bem dizer, só podemos falar em
  • “representações” (noèmata) aqui por pura analogia; trata-se, na
  • realidade, de “contemplações” (theorèmata); os theorèmata, termo
  • empregado por Evágrio geralmente no plural, correspondem, na
  • contemplação (theoria) espiritual, àquilo que são os noèmata para o
  • conhecimento sensível. Com mais razão ainda, quando se trata da
  • ciência de Deus, na expressão to noema tou Theou (41), o termo
  • noema, empregado de maneira analógica, não significa mais a
  • “representação”, mas a ideia, o conceito, ou melhor, o pensamento, a
  • lembrança de Deus, ê mnème tou Theou, como diz Evágrio em um
  • contexto análogo em Discípulos, 61; com efeito, este estado não
  • poderia implicar nenhuma vacuidade de espírito. Ao progredir na
  • ciência, elevando-se de contemplação em contemplação, o intelecto
  • chega, num momento privilegiado, à “oração pura”: ele vê então a si
  • próprio como “lugar de Deus”, “semelhante à safira e à cor do céu”,
  • conforme o relato da teofania do Sinai em Êxodo, XXIV, 10-112
  • 2 Javé disse a Moisés: “Suba até mim com Aarão, Nadab, Abiú e setenta anciãos de Israel, e adorem de longe. Só Moisés se aproximará de Javé; os outros não se aproximarão, nem o povo
  • subirá com ele’. Moisés desceu e contou ao povo tudo o que Javé lhe havia dito e todas as leis. O povo respondeu unânime: ‘Faremos tudo o que Javé disse’. Moisés colocou por escrito todas as
  • palavras de Javé. Depois levantou-se de manhã, construiu um altar ao pé da montanha e doze
  • estelas para as doze tribos de Israel. Em seguida, mandou alguns jovens de Israel oferecerem
  • holocaustos e imolar novilhos a Javé como sacrifício de comunhão. Moisés pegou a metade do
  • sangue e colocou em bacias; a outra metade do sangue, ele a derramou sobre o altar. Pegou o
  • livro da aliança e o leu para o povo. Eles disseram: ‘Faremos tudo o que Javé mandou e passagem na qual a Septuaginta substituiu o “Deus” do texto hebraico
  • pelo “lugar de Deus” (39). Esta visão é caracterizada por uma luz, que
  • é a própria luz de Deus (15), luz que de certo modo é refletida pelo
  • intelecto e da qual Evágrio diz paradoxalmente que “modela o lugar de
  • Deus” (40). Nesta visão, o intelecto deve não apenas estar desprovido
  • de toda e qualquer representação de objetos sensíveis, mas deve ainda
  • elevar-se acima da contemplação espiritual das naturezas criadas,
  • tanto das corpóreas como das incorpóreas (40).
  • O Tratado Sobre os Pensamentos termina com aquilo que
  • constitui o cume da vida espiritual, ele que havia iniciado com a
  • lembrança dos exercícios da vida prática; desta forma ele retraça,
  • malgrado o aspecto desordenado da matéria que o constitui, todo o
  • itinerário espiritual da alma desde sua condição presente até seu término, a visão da luz divina.

Para participar de nossos grupos de estudo, prática orientada e terapias, basta enviar uma mensagem para o WhatsApp 79991316067. Entre em contato para mais informações, para fazer gratuitamente nossos cursos e para receber este livro ou outros  livros como este. Obrigado.

 

quarta-feira, 13 de agosto de 2025

O Conservadorismo Libertário de Ron Paul

Ron Paul é uma figura central para entender a intersecção entre o libertarianismo e o conservadorismo. O "conservadorismo libertário", ou "paleolibertarianismo" como alguns de seus defensores preferem chamar, é a filosofia que melhor descreve suas ideias.

Em essência, o conservadorismo libertário de Ron Paul pode ser entendido como uma união de duas vertentes:
 * A filosofia libertária: com seu foco radical na liberdade individual, no governo limitado e na defesa do livre mercado.
 * A filosofia conservadora: com sua ênfase na importância da moralidade, da família, da tradição e de um senso de ordem social.
Para Ron Paul, essas duas ideias não são contraditórias, mas sim complementares. Ele acredita que a melhor maneira de preservar os valores conservadores e a ordem social não é por meio do poder do Estado, mas sim protegendo a liberdade individual para que esses valores floresçam voluntariamente.
Aqui estão os pontos-chave de como essa filosofia se manifesta nas ideias de Ron Paul:
1. O Estado como a Principal Ameaça à Ordem e à Moralidade
Ron Paul argumenta que o governo federal moderno, com seu tamanho e poder crescentes, não protege os valores tradicionais, mas os destrói. Ele vê as intervenções estatais, seja por meio de políticas de bem-estar social, guerras no exterior ou regulamentações excessivas, como o principal motor da desintegração social e moral. Para ele, o Estado não é um guardião da moralidade, mas sim um agente de coerção que corrói as instituições voluntárias (como a família e a comunidade) que realmente sustentam a ordem.
2. A Liberdade para Ser "Moral"
Diferente de uma visão que associa o libertarianismo a uma permissividade total, Ron Paul defende a liberdade para que as pessoas possam viver de acordo com seus próprios valores morais e religiosos. Ele acredita que a virtude e a ética devem ser cultivadas por meio da família, da igreja e da comunidade, e não impostas por leis governamentais. A liberdade, nesse sentido, é a condição necessária para que a moralidade tenha valor, pois uma ação virtuosa só é genuína se for uma escolha voluntária.
3. A Constituição Americana como Protetora da Ordem e da Liberdade
Ron Paul é um defensor ferrenho de um governo limitado, definido estritamente pela Constituição dos Estados Unidos. Para ele, o documento original não era apenas um meio de garantir a liberdade, mas também uma estrutura para proteger a ordem social e a cultura do país. Ao defender um retorno à Constituição, ele busca restaurar um equilíbrio entre a liberdade individual e a ordem, que ele acredita ter sido corrompido ao longo do tempo.
4. Não-Intervencionismo e o Foco Interno
Sua política externa não-intervencionista é outro pilar do seu conservadorismo libertário. Ele argumenta que o envolvimento em guerras e a manutenção de um império militar no exterior desviam recursos e energias que deveriam ser usados para fortalecer a sociedade americana internamente. O foco em uma política mais pacífica e comercial é visto como uma forma de proteger os valores e as instituições do próprio país, em vez de exportar a força e o poder coercitivo do Estado para o mundo.

Em resumo, Ron Paul representa a ideia de que a liberdade é a melhor aliada do conservadorismo. Ele não defende o governo para impor a moralidade, mas o limita ao máximo para que a moralidade, a ordem e as tradições possam prosperar por meio da escolha e da associação voluntárias.

Antonio. F. Gonzaga 

Compartilhe este artigo em suas redes sociais, fazendo chegar a mais pessoas as idéias libertárias e participe da construção de uma sociedade livre, onde haja mais informação não-centralizada e distribuída. Participe também do grupo de estudos para receber postagens como estas, livros, vídeos e artigos relacionados: entre em contato pelo WhatsApp 79 991316067

terça-feira, 12 de agosto de 2025

O Liberatrianismo Conservador de Friedman

 


Milton Friedman se identificava como um "liberal clássico" ou "libertário com 'l' minúsculo". Ele defendia uma filosofia que priorizava a liberdade individual e a minimização da intervenção governamental, tanto na economia quanto na vida social.

As principais ideias de Friedman sobre conservadorismo e libertarianismo são as seguintes:

 * Liberalismo Econômico: Friedman era um fervoroso defensor do livre mercado. Ele acreditava que o capitalismo e a liberdade econômica eram os pilares para o crescimento e a prosperidade. Suas teorias, conhecidas como monetarismo, enfatizavam a importância de controlar a oferta de moeda para combater a inflação e defendiam a redução drástica da intervenção do Estado na economia.

 * Críticas à Intervenção Estatal: Ele argumentava que a intervenção do governo, mesmo com boas intenções, frequentemente levava a resultados indesejados, como a ineficiência e a perda de liberdade. A famosa frase "Uma sociedade que coloca a igualdade à frente da liberdade terminará sem as duas" resume bem seu pensamento.


* Posição Libertária: Friedman se alinhava mais com o libertarianismo por sua ênfase na liberdade individual e na autonomia do indivíduo em relação ao Estado. Ele apoiava políticas como o fim do serviço militar obrigatório, a legalização de drogas e a criação de vouchers educacionais para aumentar a competição entre escolas.

 * Diferença do Conservadorismo Tradicional: Embora suas ideias fossem frequentemente adotadas por políticos conservadores (como Ronald Reagan e Margaret Thatcher), Fri edman se diferenciava de muitos conservadores tradicionais em questões sociais. Enquanto o conservadorismo tradicional tende a enfatizar a autoridade, a moralidade e as tradições, Friedman priorizava a liberdade de escolha individual, desde que não prejudicasse a liberdade dos outros. Ele via o governo como uma ameaça potencial à liberdade, independentemente de ser de direita ou de esquerda.


Antonio F. Gonzaga 

Compartilhe este artigo em suas redes sociais, fazendo chegar a mais pessoas as idéias libertárias e participe da construção de uma sociedade livre, onde haja mais informação não-centralizada e distribuída. Participe também do grupo de estudos para receber postagens como estas, livros, vídeos e artigos relacionados: entre em contato pelo WhatsApp 79 991316067