Leszek Kolakowski
Os darwinistas interpretavam a totalidade da civilização e toda atividade intelectual como uma arma na luta da raça humana pela sobrevivência.
Essa posição facilitava, ainda que não tornasse forçosa, uma atitude pragmática para com o conhecimento:
visto que a cognição e os seus resultados preservados e codificados na forma de ciência não eram "nada além" da resposta da espécie ao seu ambiente natural, a noção de verdade, assim como a de bondade ou a de beleza, deixava de ter qualquer significado transcendental:
as coisas eram valiosas no sentido cognitivo, estético ou moral na medida em que contribuíssem para prolongar e fortalecer a vida da espécie.
Do mesmo modo, nenhuma opinião científica incluindo a própria teoria da evolução, poderia ser considerada "verdadeira" no sentido cotidiano do termo:
as opiniões eram simplesmente órgãos da vida, o que em si mesmo não é nem bom nem mau, nem verdadeiro nem falso, mas algo que simplesmente aparece ao longo do tempo.
Contudo, esse argumento se baseava numa teoria biológica que se apresentava como verdadeira no sentido transcendental do uso cotidiano.
Toda a estrutura da "filosofia científica" [então] revelava-se como um círculo vicioso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário