domingo, 4 de fevereiro de 2024

Psicologia da Evolução Possível ao Homem

P. D. Ouspensky


INTRODUÇÃO 

Durante anos recebi numerosas cartas de meus leitores. Todos perguntavam-me o que tinha feito depois de escrever meus livros, publicados em inglês em 1920 e 1931, mas redigidos desde 1910 e 1912. Nunca podia responder a essas cartas. Só para tentar fazê-lo, necessitaria de livros inteiros. Porém, quando meus correspondentes moravam em Londres, onde me instalara em 1921, organizava, em sua intenção, ciclos de conferências, nas quais tentava responder às suas perguntas. Explicava-lhes o que descobrira depois de haver escrito meus dois livros e em que direção se engajara o meu trabalho. Em 1934 escrevi cinco conferências preliminares que davam uma idéia geral do objeto de meus estudos, bem como das linhas de trabalho que seguia comigo determinado número de pessoas. Reunir tudo isso numa única conferência e mesmo em duas ou três era totalmente impossível; por isso, advertia sempre ser inútil assistir a uma ou duas conferências, mas serem necessárias no mínimo cinco, ou talvez dez, para se ter uma idéia da orientação do meu trabalho. Essas conferências continuaram desde então e, durante todo esse período, corrigi-as e reescrevi-as várias vezes. No conjunto, achei essa organização geral satisfatória. Liam-se cinco conferências, estando eu presente, ou então ausente. Os ouvintes podiam fazer perguntas e, se tentavam seguir os conselhos e indicações que lhes eram dados – e que diziam respeito sobretudo à observação de si e a certa disciplina interior –, adquiriam rapidamente, pela prática, uma compreensão mais do que suficiente do que eu fazia. É claro que sempre reconheci não serem cinco conferências o bastante e, nas conversações seguintes, retomava os dados preliminares para desenvolvê-los, tentando fazer ver aos ouvintes sua própria posição diante do novo conhecimento. Tornou-se evidente para mim que, para muitos dentre eles, a principal dificuldade era dar-se conta de que tinham realmente ouvido coisas novas, quer dizer, coisas que nunca tinham ouvido antes. Sem confessá-lo a si mesmos, tentavam sempre negar em pensamento a novidade do que tinham ouvido e esforçavam-se, qualquer que fosse o assunto, em retraduzir tudo em sua linguagem habitual. Naturalmente, não podia levar isso em conta. Sei que não é fácil reconhecer que estamos ouvindo coisas novas. Estamos de tal maneira habituados às velhas cantigas, aos velhos refrões, que há muito deixamos de esperar, deixamos até de crer que possa existir alguma coisa nova. E, quando ouvimos formular idéias novas, tomamo-las por velhas idéias ou pensamos que podem ser explicadas ou interpretadas com o auxílio de velhas idéias. De fato, é tarefa árdua compreender a possibilidade e a necessidade de idéias realmente novas; isso requer tempo e revisão de todos os valores correntes. Não posso assegurar que, desde o início, encontrarão aqui idéias novas, isto é, idéias das quais nunca tenham ouvido falar. Mas, se tiverem 3 paciência, não tardarão a notá-las, e desejo-lhes, então, que não as deixem escapar e cuidem para não interpretá-las da velha maneira. Nova Iorque, 1945.



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