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Che Guevara, o homem que não gostava de trabalhar, mas sentia prazer em matar
Por
Tiago Cordeiro
Mitos e lendas
De fato, quase toda a trajetória de Che é marcada por versões distorcidas da realidade. Não há, por exemplo, provas de que ele tenha de fato terminado a faculdade de medicina em Buenos Aires. “Ele concluiu os ensinos num tempo mais curto do que seria possível, e a Universidade de Buenos Aires alega que não tem mais os documentos da época”, escreve Fernando Díaz Villanueva em Vida y mentira de Ernesto “Che” Guevara. “Não havia tempo hábil entre o período em que ele retomou os estudos e as exigências da instituição de ensino para os estudantes de medicina, que incluíam um período obrigatório de prática”.
Talvez por isso, não conseguiu empregos como médico em diferentes países por onde passou em meados da década de 1950, incluindo Colômbia e Peru, num momento em que ele sonhava em chegar aos Estados Unidos para fazer dinheiro. Ele tampouco participou ativamente da defesa do governo de esquerda na Guatemala, como se diria posteriormente – na época, enquanto o presidente Jacobo Árbenz Guzmán renunciava e tinha início uma ditadura militar, ele se escondeu na embaixada argentina, enquanto sua noiva a economista peruana Hilda Gadea Acosta, que o sustentava, era presa. Aliás, depender financeiramente de Hilda não representava um constrangimento para o revolucionário, que poucas vezes na vida trabalhou em emprego fixo. Quando o fez, foi sempre por pouco tempo.
Mesmo como presidente do Banco Central e ministro da Indústria, em Cuba, Che era conhecido por aparecer perto do meio-dia, com roupas militares, lançar as botas sobre a mesa e acompanhar, entediado, os relatórios de seus funcionários, economistas que tentavam, sem sucesso, explicar ao líder os fundamentos mais básicos da rotina do trabalho. Guevara dizia que, caso os técnicos o desagradassem, poderia colocar camponeses para exercer a mesma função. A reforma agrária que ele liderou, assim como o esforço de industrialização do país, tiveram resultados catastróficos. Ele era mais eficiente em gerenciar assassinatos. E em escrever e ditar artigos e panfletos, se deixar fotografar e criar comendas e honrarias para si mesmo.
Campo de reeducação
Entediado, Che deixou Cuba em 1965, em busca de incentivar guerras e revoluções em outros países, especialmente Congo e Bolívia, onde seria preso e executado em 9 de outubro de 1967. Seu interesse maior estava em liderar homens armados. “Precisamos seguir o exemplo perene da guerrilha. O ódio é um elemento básico da luta. Devemos alimentar um ódio sem fim em relação ao inimigo, que nos impele a abandonar quaisquer limitações naturais para nos tornarmos máquinas de matar eficientes e violentas”, ele escreveu, em 1967.
A violência não abria espaço algum para a democracia. Em 1959, ele já tinha declarado: “Precisamos eliminar todos os jornais. Não se faz revolução com imprensa livre, porque os jornais são instrumentos da oligarquia”. Em 1961, fundara na península de Guanahacabibes, no extremo oeste de Cuba, o primeiro campo de trabalho para “reabilitação” para cidadãos considerados transgressores. Entre as punições previstas por Che estavam: beber, apresentar sinais de preguiça, tocar música alta, praticar uma religião ou demonstrar sinais de homossexualidade – o líder era obcecado em perseguir gays.
Ainda assim, a imagem que insiste em permanecer, inclusive nos cinemas, é a do motociclista aventureiro, do revolucionário romântico que se tornou um símbolo sexual e um exemplo de comprometimento com a humanidade. O fato de que ele se instalou em uma das maiores mansões de Havana, com piscina, salão de massagens e cais para iates, não costuma aparecer nos filmes. Nem o fato de que ele promoveu queimas de livros e ajudou a construir a polícia secreta cubana, aos moldes da Stasi da Alemanha Oriental.
Como resume Villanueva: “Che é um quase médico que se especializou em matar. Um comunista que queria fazer fortuna nos Estados Unidos. Um inimigo da propriedade privada que tomava mansões para si. Um defensor dos trabalhadores que quase nunca trabalhou. Um humanista desumano”.
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