sábado, 26 de julho de 2025

O QUE DEVE SER FEITO - segundo capítulo


  • Proteção e o estado

  • Mas pode acontecer algo – e obviamente este algo aconteceu 
  • – que rompa e distorça ou até sabote este desenvolvimento 
  • normal, impulsionado pelo interesse próprio. E este algo, 
  • certamente, é o estado, o qual eu irei definir inicialmente 
  • como um monopolista territorial de proteção financiado 
  • compulsoriamente. Ou seja, um monopolista da defesa e do 
  • fornecimento e aplicação da lei e da ordem. 
  • Mas como é que o estado surge? Embora a resposta 
  • seja geralmente – e eu acredito que intencionalmente 
  • – confusa, deve ser esclarecido logo de cara que a lei e a 
  • ordem, ou a proteção da propriedade e a lei estatal, e a 
  • ordem estatal e a proteção estatal não são uma única e 
  • mesma coisa; elas não são coisas idênticas. Assim como 
  • a propriedade e a cooperação social baseada na divisão do 
  • trabalho são naturais, também o desejo humano de ter sua 
  • propriedade protegida contra desastres naturais ou sociais 
  • – como crimes – é um desejo completamente natural. E a 
  • fim de satisfazer este desejo, existe acima de tudo a defesa 
  • própria. Prevenção, seguro (individual ou cooperativo), 
  • vigilância, autodefesa e punição.
  • E que não reste absolutamente nenhuma dúvida sobre 
  • a eficácia de um sistema de proteção baseado na disposição 
  • que as pessoas têm de se defenderem. Foi assim que a lei 
  • e a ordem foram mantidas pela maior parte da história 
  • da humanidade. Em cada vila, mesmo nos dias de hoje, a 
  • lei e a ordem são mantidas basicamente desta forma. No 
  • Velho Oeste americano – o qual não pode ser considerado 
  • exatamente “selvagem” quando comparado com a situação 
  • atual – esta era a forma que a lei e a ordem eram mantidas, 
  • por pessoas propensas a se defenderem.
  • Além disso, a divisão do trabalho irá então naturalmente afetar a produção da segurança e os serviços de segurança. Quanto mais aumenta o padrão de vida, 
  • mais as pessoas irão, além de contarem com as medidas de 
  • defesa-própria, também querer participar das vantagens da 
  • divisão do trabalho, e buscar por proteção se vinculando a 
  • um protetor especializado, a fornecedores de lei e ordem, 
  • justiça e proteção. E naturalmente, todas as pessoas 
  • irão procurar para desempenhar esta tarefa pessoas ou 
  • instituições que também tenham algo delas próprias a ser 
  • protegido – que possuam os meios para assegurar proteção 
  • eficaz e possuam uma reputação de serem juízes justos e 
  • imparciais. Em toda sociedade que tenha passado de um 
  • grau mínimo de complexidade, irá rapidamente emergir 
  • indivíduos específicos, que por possuírem propriedades 
  • para defender, por terem uma boa reputação etc., irão 
  • assumir o papel de juízes, reconciliadores e protetores. E 
  • novamente, toda e qualquer vila até os dias de hoje, cada 
  • pequena comunidade, e mesmo o Velho Oeste, ilustram a 
  • validade desta conclusão. 
  • Também é possível haver proteção sem um estado. Isto 
  • deveria ser totalmente óbvio, mas em uma era de confusão 
  • e ofuscação estatista, se faz cada vez mais necessário 
  • enfatizar esta percepção elementar e, ainda assim, como 
  • veremos a seguir, muito perigosa. O passo decisivo que 
  • desviou a história da humanidade de seu curso natural –o pecado original da raça humana, por assim dizer – ocorre 
  • com a monopolização do fornecimento de proteção, 
  • defesa, segurança e ordem: a monopolização destas tarefas 
  • por apenas um dos numerosos protetores iniciais, com a 
  • exclusão de todos os outros. Um monopólio de proteção 
  • passa a existir assim que uma única agência ou uma única 
  • pessoa pode efetivamente exigir que todas as pessoas de um 
  • determinado território devam se dirigir exclusivamente a 
  • ela para receber justiça e proteção. Ou seja, que ninguém
  • possa depender exclusivamente ou apenas da autodefesa, 
  • ou associar-se a alguma outra pessoa para receber 
  • proteção. Uma vez que este monopólio é obtido, então 
  • o financiamento deste protetor não é mais totalmente 
  • voluntário, mas em parte se torna compulsório. 
  • E, conforme previsto pela economia austríaca 
  • convencional, uma vez que deixe de existir a livre entrada 
  • no segmento de proteção de propriedade – ou em qualquer 
  • outro segmento que seja – o preço da proteção irá subir, e 
  • a qualidade da proteção irá cair. O monopolista se tornará 
  • cada vez menos um protetor de nossa propriedade, e 
  • cada vez mais uma máfia, ou mesmo um explorador 
  • sistemático dos proprietários. Ele se tornará um agressor e 
  • um destruidor das pessoas e de suas propriedades, que ele 
  • inicialmente deveria proteger. 
  • Agora o que é facilmente descrito em termos abstratos 
  • (monopólio) consiste na prática de uma tarefa meticulosa 
  • e demorada. Como alguém pode se safar ao barrar da 
  • competição todos os outros protetores? E por que as pessoas e, em especial, os outros potenciais reconciliadores e juízes 
  • excluídos, permitiriam que uma coisa dessas acontecesse, que 
  • um indivíduo monopolizasse este serviço? A resposta sobre a 
  • origem do estado é deveras complicada em seus detalhes, mas em termos gerais é muito simples de ser identificada. 
  • Em primeiro lugar, todo estado, ou seja, toda agência 
  • de proteção monopolista, deve começar, ou só pode se 
  • originar, em um território extremamente pequeno, como 
  • uma vila. É praticamente inconcebível que um estado 
  • mundial, ou um monopólio de proteção abrangendo toda 
  • a população do mundo possa vir a existir do zero.
  • A segunda coisa que devemos levar em conta é que não é 
  • qualquer um que consegue chegar sequer a um monopólio
  • de proteção local. De preferência, os monopolistas 
  • de proteção local são inicialmente membros da elite 
  • social natural. Ou seja, eles são inicialmente membros 
  • realizados e conhecidos pela sociedade. Eles também 
  • eram, antes de alcançarem a posição de um monopolista, 
  • previamente escolhidos voluntariamente como protetores. 
  • Somente como elites bem estabelecidas e reconhecidas, 
  • cuja autoridade seja essencialmente voluntária, se torna possível para eles darem o passo decisivo em direção à
  • monopolização e se safarem com isso. 
  • Isto que dizer que todo governo ou estado local inicial 
  • se origina na forma de nobreza pessoal ou privada ou na 
  • forma de domínio principesco. Ninguém iria confiar a 
  • manutenção da lei, ordem e justiça a qualquer um, ainda 
  • mais se esta pessoa ou agência possuísse um monopólio 
  • para esta tarefa específica. Ao invés disso, as pessoas 
  • obviamente iriam buscar proteção com alguém conhecido, e conhecido por ser uma pessoa sábia, e somente uma 
  • pessoa assim, um nobre ou um aristocrata, conseguiria 
  • adquirir uma posição monopolista inicialmente. 
  • Historicamente, por sinal, se olharmos a história 
  • moderna ou antiga, os estados em toda parte são 
  • basicamente primeiro estados principescos, e apenas 
  • depois eles se tornam estados democráticos. E mesmo 
  • sendo verdade que os estados devam começar apenas 
  • localmente, e geralmente como estados principescos, 
  • ainda assim centenas de anos se passaram até que qualquer 
  • coisa semelhante ao estado moderno passasse a existir.

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