O QUE DEVE SER FEITO - segundo capítulo
- Mas pode acontecer algo – e obviamente este algo aconteceu
- – que rompa e distorça ou até sabote este desenvolvimento
- normal, impulsionado pelo interesse próprio. E este algo,
- certamente, é o estado, o qual eu irei definir inicialmente
- como um monopolista territorial de proteção financiado
- compulsoriamente. Ou seja, um monopolista da defesa e do
- fornecimento e aplicação da lei e da ordem.
- Mas como é que o estado surge? Embora a resposta
- seja geralmente – e eu acredito que intencionalmente
- – confusa, deve ser esclarecido logo de cara que a lei e a
- ordem, ou a proteção da propriedade e a lei estatal, e a
- ordem estatal e a proteção estatal não são uma única e
- mesma coisa; elas não são coisas idênticas. Assim como
- a propriedade e a cooperação social baseada na divisão do
- trabalho são naturais, também o desejo humano de ter sua
- propriedade protegida contra desastres naturais ou sociais
- – como crimes – é um desejo completamente natural. E a
- fim de satisfazer este desejo, existe acima de tudo a defesa
- própria. Prevenção, seguro (individual ou cooperativo),
- vigilância, autodefesa e punição.
- E que não reste absolutamente nenhuma dúvida sobre
- a eficácia de um sistema de proteção baseado na disposição
- que as pessoas têm de se defenderem. Foi assim que a lei
- e a ordem foram mantidas pela maior parte da história
- da humanidade. Em cada vila, mesmo nos dias de hoje, a
- lei e a ordem são mantidas basicamente desta forma. No
- Velho Oeste americano – o qual não pode ser considerado
- exatamente “selvagem” quando comparado com a situação
- atual – esta era a forma que a lei e a ordem eram mantidas,
- por pessoas propensas a se defenderem.
- Além disso, a divisão do trabalho irá então naturalmente afetar a produção da segurança e os serviços de segurança. Quanto mais aumenta o padrão de vida,
- mais as pessoas irão, além de contarem com as medidas de
- defesa-própria, também querer participar das vantagens da
- divisão do trabalho, e buscar por proteção se vinculando a
- um protetor especializado, a fornecedores de lei e ordem,
- justiça e proteção. E naturalmente, todas as pessoas
- irão procurar para desempenhar esta tarefa pessoas ou
- instituições que também tenham algo delas próprias a ser
- protegido – que possuam os meios para assegurar proteção
- eficaz e possuam uma reputação de serem juízes justos e
- imparciais. Em toda sociedade que tenha passado de um
- grau mínimo de complexidade, irá rapidamente emergir
- indivíduos específicos, que por possuírem propriedades
- para defender, por terem uma boa reputação etc., irão
- assumir o papel de juízes, reconciliadores e protetores. E
- novamente, toda e qualquer vila até os dias de hoje, cada
- pequena comunidade, e mesmo o Velho Oeste, ilustram a
- validade desta conclusão.
- Também é possível haver proteção sem um estado. Isto
- deveria ser totalmente óbvio, mas em uma era de confusão
- e ofuscação estatista, se faz cada vez mais necessário
- enfatizar esta percepção elementar e, ainda assim, como
- veremos a seguir, muito perigosa. O passo decisivo que
- desviou a história da humanidade de seu curso natural –o pecado original da raça humana, por assim dizer – ocorre
- com a monopolização do fornecimento de proteção,
- defesa, segurança e ordem: a monopolização destas tarefas
- por apenas um dos numerosos protetores iniciais, com a
- exclusão de todos os outros. Um monopólio de proteção
- passa a existir assim que uma única agência ou uma única
- pessoa pode efetivamente exigir que todas as pessoas de um
- determinado território devam se dirigir exclusivamente a
- ela para receber justiça e proteção. Ou seja, que ninguém
- possa depender exclusivamente ou apenas da autodefesa,
- ou associar-se a alguma outra pessoa para receber
- proteção. Uma vez que este monopólio é obtido, então
- o financiamento deste protetor não é mais totalmente
- voluntário, mas em parte se torna compulsório.
- E, conforme previsto pela economia austríaca
- convencional, uma vez que deixe de existir a livre entrada
- no segmento de proteção de propriedade – ou em qualquer
- outro segmento que seja – o preço da proteção irá subir, e
- a qualidade da proteção irá cair. O monopolista se tornará
- cada vez menos um protetor de nossa propriedade, e
- cada vez mais uma máfia, ou mesmo um explorador
- sistemático dos proprietários. Ele se tornará um agressor e
- um destruidor das pessoas e de suas propriedades, que ele
- inicialmente deveria proteger.
- Agora o que é facilmente descrito em termos abstratos
- (monopólio) consiste na prática de uma tarefa meticulosa
- e demorada. Como alguém pode se safar ao barrar da
- competição todos os outros protetores? E por que as pessoas e, em especial, os outros potenciais reconciliadores e juízes
- excluídos, permitiriam que uma coisa dessas acontecesse, que
- um indivíduo monopolizasse este serviço? A resposta sobre a
- origem do estado é deveras complicada em seus detalhes, mas em termos gerais é muito simples de ser identificada.
- Em primeiro lugar, todo estado, ou seja, toda agência
- de proteção monopolista, deve começar, ou só pode se
- originar, em um território extremamente pequeno, como
- uma vila. É praticamente inconcebível que um estado
- mundial, ou um monopólio de proteção abrangendo toda
- a população do mundo possa vir a existir do zero.
- A segunda coisa que devemos levar em conta é que não é
- qualquer um que consegue chegar sequer a um monopólio
- de proteção local. De preferência, os monopolistas
- de proteção local são inicialmente membros da elite
- social natural. Ou seja, eles são inicialmente membros
- realizados e conhecidos pela sociedade. Eles também
- eram, antes de alcançarem a posição de um monopolista,
- previamente escolhidos voluntariamente como protetores.
- Somente como elites bem estabelecidas e reconhecidas,
- cuja autoridade seja essencialmente voluntária, se torna possível para eles darem o passo decisivo em direção à
- monopolização e se safarem com isso.
- Isto que dizer que todo governo ou estado local inicial
- se origina na forma de nobreza pessoal ou privada ou na
- forma de domínio principesco. Ninguém iria confiar a
- manutenção da lei, ordem e justiça a qualquer um, ainda
- mais se esta pessoa ou agência possuísse um monopólio
- para esta tarefa específica. Ao invés disso, as pessoas
- obviamente iriam buscar proteção com alguém conhecido, e conhecido por ser uma pessoa sábia, e somente uma
- pessoa assim, um nobre ou um aristocrata, conseguiria
- adquirir uma posição monopolista inicialmente.
- Historicamente, por sinal, se olharmos a história
- moderna ou antiga, os estados em toda parte são
- basicamente primeiro estados principescos, e apenas
- depois eles se tornam estados democráticos. E mesmo
- sendo verdade que os estados devam começar apenas
- localmente, e geralmente como estados principescos,
- ainda assim centenas de anos se passaram até que qualquer
- coisa semelhante ao estado moderno passasse a existir.
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