Do livro O Manifesto do Novo Libertário
[Obs.: esse livro possui referenciais, e também fundamenta, um tipo bem específico de liberarianismo, o agorismo, portanto, não se pode generalizar ou atribuir a outros tipos de liberarianismo algumas de suas características distintas. Embora, como em todas os modos de pensar libertários há contribuições importantes no todo, é importante notar aqui os pontos bem característicos como as estratégias e as intenções claras de influenciar a sociedade como um todo que diferem muito de outras formas de liberarianismo.]
Por Samuel Edward Konkin III
I
Estatismo: Nossa Condição
Nós somos coagidos pelos outros seres humanos. Uma vez que eles têm capacidade de escolher fazer o contrário, nossa condição não precisa ser essa. Coerção é imoral, ineficiente e desnecessária para a vida e realização humanas. Aqueles que desejam ficar inertes enquanto seus vizinhos os exploram têm a liberdade de fazer isso; este manifesto é para aqueles que escolhem fazer o contrário: resistir.
Para combater a coerção, deve-se entendê-la. Mais importante, tanto é necessário entender pelo que se está lutando quanto contra o que se está lutando.1 Reação cega vai em todas as direções a não ser a fonte de opressão e dispersa oportunidades; a busca de um objetivo comum converge os oponentes e permite a formação de uma estratégia e uma tática coerentes.
Coerção difusa é otimamente resistida por autodefesa local, imediata.
Embora o mercado possa desenvolver negócios de maior escala para a proteção e restituição, ameaças aleatórias de violência somente podem ser lidadas com raízes de misticismo e ilusões plantadas no pensamento das vítimas, e requerem uma grande estratégia e um ponto cataclísmico de singularidade histórica: a revolução.
Essa instituição de coerção, que centraliza a imoralidade, dirigindo o roubo e o assassinato e coordenando a opressão numa escala inconcebível pela criminalidade aleatória existe. Ela é a Máfia das máfias, a Gangue das gangues, a Conspiração das conspirações. Ela já assassinou mais pessoas em alguns anos recentes que todas as mortes da história até esse momento; ela já roubou em alguns anos recentes mais do que toda a riqueza produzida na história até esse momento; ela iludiu — para sua sobrevivência — mais mentes em alguns anos recentes do que toda a irracionalidade da história até esse momento.

Nosso Inimigo, o Estado.2 somente no século XX, guerras dizimaram mais que todas as mortes anteriores; os impostos e a inflação roubaram mais que todas as riquezas que foram previamente produzidas; e as mentiras políticas, a propaganda e, acima de tudo, a "educação" enganaram mais mentes que todas as superstições anteriores; contudo, através de toda a confusão e ofuscação, o fio da razão desenvolveu fibras de resistência para serem enroladas na corda da execução do Estado: o Libertarismo.
Onde o Estado divide e conquista sua oposição, o Libertarismo une e libera. Onde o Estado obscurece, o Libertarismo clarifica; onde o Estado esconde, o Libertarismo descobre; onde o Estado perdoa, o Libertarismo acusa.
O Libertarismo elabora toda uma filosofia a partir de uma simples premissa: iniciação de violência ou sua ameaça (coerção) é errada (imoral, má, ruim, supremamente imprática, etc.) e é proibida; nada mais é.3
O Libertarismo, como desenvolvido até o momento, descobriu o problema e definiu a solução: o Estado vs. o Mercado.
O Mercado é a soma de todas as ações humanas voluntárias.4 Se se age não-coercivamente, se é parte do Mercado. Assim a Economia se tornou parte do Libertarismo.
O Libertarismo investigou a natureza do homem para explicar seus direitos derivados da não-coerção. Imediatamente se seguiu que o homem (mulher, criança, marciano, etc.) tinha um direito absoluto à sua vida e outras propriedades — e nenhuma mais. Assim a filosofia Objetiva se tornou parte do Libertarismo.
O Libertarismo perguntou por que a sociedade não era libertária agora e encontrou o Estado, sua classe dominante, sua camuflagem e os heróicos historiadores que se esforçam para revelar a verdade. Assim a História Revisionista se tornou parte do Libertarismo.
A Psicologia, como desenvolvida especialmente por Thomas Szasz como contra-psicologia, foi abraçada pelos libertários que buscavam se libertar tanto das limitações estatais quanto do auto-aprisionamento.
Procurando uma arte para expressar o potencial horror do Estado e extrapolar as muitas possibilidades da liberdade, o Libertarismo encontrou a Ficção Científica na área.
Das esferas política, econômica, filosófica, psicológica, histórica e artística, os partidários da liberdade viram um todo, integrando sua resistência com a dos outros, e se aproximaram enquanto tomavam suas consciências. Assim os Libertários se tornaram um Movimento.

O Movimento Libertário olhou em volta e viu o desafio: em todos os lugares, Nosso Inimigo, o Estado, desde as profundezas do oceano até as áridas estações da superfície lunar, em todas as terras, pessoas, tribos, nações — e em toda mente individual. Alguns procuraram uma aliança imediata com outros oponentes da elite dominante para destituir quem presentemente controla o estado. 5 Alguns tentaram um confronto imediato com os agentes do Estado. 6 Alguns tentaram colaborar com aqueles no poder que ofereciam menos opressão em troca de votos.7 Alguns se abrigaram no esclarecimento de longo prazo da população para construir e desenvolver o Movimento.8 Em todos os lugares, uma Aliança Libertária de ativistas surgiu.9 Os Círculos mais Altos do Estado não pretendiam abrir mão de seus saques e restituir a propriedade de suas vítimas ao primeiro sinal de oposição. O primeiro contra-ataque veio dos anti-princípios já plantados pela corrupta Casta Intelectual: Derrotismo, Recuísmo, Minarquia, Colaboracionismo, Gradualismo, Monocentrismo e Reformismo — incluindo a aceitação de oficiais do Estado para "melhorar" o Estatismo!
Todos esses anti-princípios (desvios, heresias, princípios auto-destrutivos, etc.) serão abordados mais tarde. O pior de todos é o Partidarismo, o anti-conceito de se buscar fins libertários através de meios estatistas, especialmente através de partidos políticos.
Um Partido "Libertário" ["Libertarian" Party] foi o segundo contra-ataque do Estado disparado contra os Libertários, primeiro como um ridículo oxímoro 10, depois como um exército invasor11. O terceiro contra-ataque foi uma tentativa por um dos dez mais ricos capitalistas dos Estados Unidos de comprar as maiores instituições Libertárias — não apenas o Partido — e dirigir o movimento como os outros plutocratas dirigem todos os outros partidos políticos em estados capitalistas.12
O grau de sucesso que esses contra-ataques estatistas tiveram em corromper o libertarismo levou a uma divisão da "Esquerda" do Movimento e a uma desesperante paralisação dos outros. Enquanto a da desilusão crescia com o "Libertarismo", os desiludidos procuravam respostas a este novo problema: o Estado por dentro assim como o Estado por fora. Como nós evitamos ser usados pelo Estado e sua elite de poder? Isto é, eles perguntavam, como nós podemos evitar desvios do caminho da liberdade quando sabemos que há mais que um? O mercado tem muitos caminhos para a produção e o consumo de um produto, e nenhum é perfeitamente previsível. Então, mesmo se alguém nos disser como sair daqui (do Estatismo) para lá (para a liberdade), como saberemos que esse é o melhor caminho?
Alguns já estão costurando as velhas estratégias dos movimentos há muito tempo mortos com outros fins. Novos caminhos estão de fato sendo oferecidos — de volta ao Estado.13
A traição, inadvertida ou planejada, continua. Não precisa ser assim. Embora ninguém possa prever a seqüência de passos que sem dúvida alcançarão uma sociedade livre de indivíduos de vontade livre, nós podemos eliminar de uma vez todos aqueles que não avançarão a Liberdade, e aplicar os princípios do Mercado, que sem hesitação mapeará o terreno a ser viajado. Não há Um Caminho, uma linha reta para a Liberdade, para ser claro. Mas há uma família de linhas, um Espaço cheio de linhas, que levarão o libertário ao seu objetivo da sociedade livre, e esse Espaço pode ser descrito.
Uma vez que o objetivo seja estabelecido e que os caminhos sejam descobertos, resta somente a Ação do indivíduo para sair daqui e chegar até lá. Acima de tudo, este manifesto clama por essa Ação.
CURSOS DE MÚSICA 🎷🎸
Notas:
1 Devo a Robert LeFevre esse insight, embora nós tiremos conclusões diferentes.
2 Obrigado, Albert J. Nock, por essa frase.
3 O moderno Libertarismo é melhor explicado por Murray Rothbard em For A New Liberty, o qual, a despeito de sua recente edição, está sempre um ano ou mais atrasado. Recomendar mesmo o melhor trabalho sobre o libertarismo é como recomendar uma canção para explicar a música em todas as suas formas.
4 Obrigado, Ludwig von Mises.
5 Radical Libertarian Alliance, 1968-71.
6 Student Libertarian Action Movement, 1968-72, mais tarde revivida brevemente como um proto-MLL.
7 Citizens for a Restructured Republic, 1972, formada por membros da RLA desiludidos com a revolução.
8 Society for Individual Liberty, 1969. Também o Rampart College (agora extinto) e a Foundation for Economic Education e o Free Enterprise Institute, os quais existiam antes da explosão libertária de 1969.
9 Principalmente a California Libertarian Alliance, 1969-73. O nome é mantido vivo ainda por patrocínio de conferências no Reino Unido.
10 O primeiro "Libertarian" Party foi estabelecido por Gabriel Aguilar e Ed Butler na California em 1970 como uma casca vazia para ganhar acesso à mídia. (Aguilar, um galambosiano, era ferrenhamente anti-político.) Até mesmo o "L"P de Nolan foi ridicularizado e desprezado por Murray Rothbard no primeiro ano de sua existência.
11 O "Libertarian" Party, que eventualmente se organizou nacionalmente e candidatou John Hospers e Toni Nathan para presidente e vice-presidente em 1972, foi primeiro estabelecido por David e Susan Nolan em dezembro de 1971 no Colorado. David Nolan era um membro de Massachussetts da Young Americans for Freedom que rompeu com a organização em 1967 e perdeu o climax de 1969 em St. Louis. Ele permaneceu conservador e minarquista até esta primeira edição.
Embora os Nolans fossem bastante inocentes, outras organizações e candidatos freqüentemente também, o debate sobre a "Questão Partidária" começou imediatamente. A New Libertarian Notes atacou o conceito do "L"P na primavera de 1972 e publicou um debate entre Nolan e Konkin logo antes da eleição (NLN 15).
Na campanha presidencial de 1980, os Nolans romperam com aliderança do "L"P de Ed Crane e seu candidato Ed Clark, que fizeram uma campanha poderosa, bem financiada, do tipo tradicional-caçadora de votos com uma plataforma de enfeite.
12 Charles G. Koch, bilionário do petróleo de Wichita, através de seus parentes, de suas fundações e centros comprou, estabeleceu ou"financiou" o seguinte de 1976 a 1979: Murray Rothbard e seu Libertarian Forum; a Libertarian Review (de Robert Kephart), editada por Roy A. Childs; a Students for a Libertarian Society (SLS) e Joe Peden; a Inquiry, editada por Williamson Evers; o Cato Institute; e vários fundos, fundações e institutos Koch. Chamado de "Kochtopus" na New Libertarian 1 (fevereiro de 1978), ele foi primeiro atacado por escrito por Edith Efron na publicação conservadora-libertária Reason, junto com alegações de uma conspiração "anarquista". O Movement of the Libertarian Left desconsiderou os delírios anti-anarquistas de Efron e correu para apoiá-la em suas revelações-chave do crescimento do monocentrismo no movimento.
Em 1979, o Kochtopus tomou o controle do National Libertarian Party na convenção de Los Angeles. David Koch, irmão de Charles, abertamente comprou a nomeação para vice-presidente por US$500 mil.
13 Murray Rothbard rompeu com o Kochtopus logo depois da convenção do Partido Libertário de 1979 e a maior parte de seus aliados mais próximos foram expurgados, como Williamson Evers da Inquiry. O CLS foi cortado do financiamento de Koch. O Libertarian Forum começou a atacar Koch. Rothbard e o jovem Justin Raimondo estabeleceram uma nova facção "radical" no Partido Libertário (a primeira, de 1972-74, foi criada pelos progenitores da NLA como uma tática de recrutamento para destruir o Partido por dentro).
Embora Rothbard tenha sido levado a perguntar "Sam Konkin está certo?" em seu discurso de 1980 num jantar da facção radical em Orange County, a estratégia dela era reformar o LP usando táticas da New Left e neo-marxistas.
14 Eu espero que subseqüentes edições omitam esta nota, mas no presente contexto histórico, é vital assinalar o fato de que o Libertarismo não é especificamente para os mais "avançados" ou esclarecidos elementos na América do Norte, talvez tipificados por consultores de computação jovens, brancos e altamente literatos, com uma parceira igualmente feminista (e um ou dois filhos).
Apenas o livre mercado pode salvar o "Segundo" e "Terceiro Mundo" da árdua pobreza e das superstições autodestrutivas. Tentativas compulsórias de aumentar criticamente os padrões de produção e o entendimento cultural causaram atraso e retrocesso: e.g. Irã e Afeganistão. Em geral, o Estado tem se envolvido em deliberada repressão do progresso.
Quasi-livre mercados, como os portos livres de Hong Kong, Cingapura e Xangai (anteriormente) atraíam inundações crescentes de empreendedores hábeis e motivados. O incrivelmente alto desenvolvimento do mercado negro de Burma já toma toda a economia e só necessita de uma consciência libertária para destituir Ne Win e o Exército e acelerar o comércio para aniquilar a pobreza quase que imediatamente.
Similares observações são possíveis em relação a mercados negros desenvolvidos e semi-livres mercados tolerados no "Segundo Mundo" da ocupação soviética, como na Armênia, Geórgia e na contra-economia russa.
15 Nota à segunda edição: a nota acima continua, tristemente, necessária.
CONTINUA...
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