No mundo contemporâneo, deparamo-nos com a realidade da bastante difundida opinião de que os dogmas representam algo secundário e não obrigatório na religião, cedendo o primeiro lugar aos mandamentos éticos, donde advém a indiferença religiosa e o pouco interesse pela teologia. Todavia, atualmente, a Igreja tem consciência de que os dogmas e os mandamentos estão indissoluvelmente ligados, quer dizer, um não pode existir sem o outro. “A fé sem obras é morta”, disse-nos o Apóstolo Tiago (Tg 2:26) e, segundo o Apóstolo Paulo, “o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei” (Rm 3:28). Entre estas duas frases não existe contradição: as obras são indispensáveis, mas não salvam por si próprias, sem a fé, pois é Cristo que salva os homens e não as obras de caridade. “Conhecereis a Verdade e a Verdade vos tornará livres”, disse Cristo (Jo 8:32), dizendo ainda que Ele próprio é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14:6). Cada dogma revela a Verdade, mostra o caminho e faz comungar a vida. A teologia não deve estar em contradição com a experiência espiritual, mas, ao contrário, decorrer dela própria; é precisamente desta forma que procede a teologia dos Santos Padres há mais de vinte séculos, desde o Apóstolo Paulo e Santo Inácio de Antioquia até São Teófano, o Recluso, e São Silvano do Monte Atos. Fundada sobre a experiência espiritual, estrangeira ao racionalismo e à escolástica, a teologia ortodoxa permanece, nos nossos dias, tão viva e ativa como nos séculos precedentes. As mesmas questões de outrora são colocadas hoje ao homem: O que é a Verdade? Onde está o sentido da vida? Como encontrar a felicidade? Como adquirir a beatitude? O Cristianismo não visa colocar os pontos nos “is”, fazendo o inventário até ao esgotamento de todas as interrogações da alma humana. No entanto, revela uma outra realidade, que ultrapassa de tal maneira tudo o que nos rodeia nesta vida terrena, que, ao pôr-se na sua presença, faz o homem esquecer os seus questionamentos e as suas perplexidades, eis que a sua alma se vê em contacto com o divino, calando-se em face da presença do mistério que nenhuma palavra humana é capaz de exprimir.
Extraído do livro Catequeses, do Metropolita Hilarion Alfeyev
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