segunda-feira, 9 de setembro de 2024

Morte, morrer, pos-morte - segunda parte - O que a alma vê no "outro" mundo

 


O que a alma vê

no "outro" mundo

A morte não é como muitos a imaginam. Na hora da morte, teremos que ver e passar por muitas coisas para as quais não estamos preparados. O objetivo desse artigo é o de ampliar e expandir e pormenorizar nossa compreensão sobre a inevitável separação do nosso corpo mortal.

Para muitos, a morte é como dormir sem sonhar.Você fecha os olhos, adormece e nada mais existe, apenas a escuridão. Só que dormir termina ao amanhecer e a morte é para sempre. A muitos, o desconhecido é o que mais assusta: "O que acontecerá comigo?" E então procuramos não pensar na morte. Entretanto lá no nosso íntimo sempre existe o sentimento do inevitável e uma ansiedade inquietante. Cada um de nós terá de atravessar esta fronteira. Deveriamos pensar e nos preparar para isto. Alguém pode perguntar: "Mas pensar e se preparar para que? Isto não depende de nós. Chega a nossa hora, morremos e pronto. Mas enquanto ainda há tempo, é preciso tomar tudo da vida, tudo aquilo que ela pode nos proporcionar: beber, comer, amar, conseguir o poder e a glória, o respeito, ganhar dinheiro, etc. Não se deve pensar sobre nada desagradável e difícil e, claro, nem cogitar sobre a morte." Muitos agem assim.

E, mesmo assim, às vezes, outros pensamentos perturbadores passam pela nossa cabeça: "E se não for assim? E se a morte não for o fim, e após a morte do corpo, eu, inesperadamente para mim mesmo, de repente me encontrar em condições completamente novas, conservando a capacidade de ver, ouvir e sentir?" E o mais importante: "E se, o nosso futuro no além, de alguma forma depender do como vivemos a nossa vida e de como éramos antes do momento de cruzar a soleira da morte?"

Reunindo os relatos das pessoas que sobreviveram à morte clínica, emerge o seguinte quadro do que a alma vê e experimenta, ao separar-se do corpo. Quando a morte se processa e a pessoa atinge o limite de desfalecimento, ela ouve quando o médico a considera morta. Em seguida, ela vê seu "sosia" - um corpo inerte - deitado abaixo dela, e os médicos e as enfermeiras tentando revive-la. Essas imagens inesperadas provocam um grande choque na pessoa, porque, pela primeira vez na vida ela se vê do lado de fora. E aí ela verifica que as suas capacidades habituais - ver, ouvir, pensar, sentir etc. - continuam a funcionar normalmente, só que agora independentes do seu envolucro exterior. Flutuando no ar, acima dos outros que se encontram no quarto, a pessoa instintivamente tenta comunicar-se, dizer algo ou tocar alguém. Mas, para seu horror, percebe que está isolada dos outros: ninguém a ouve, nem sente o seu toque. Além disso, ela fica admirada ao sentir uma sensação inacreditável de alívio, serenidade e até mesmo alegria. Não há mais aquela parte do "eu" que sofria, exigia algo e queixava-se sempre de tudo. Sentindo tal alivio, a alma do morto normalmente não quer voltar ao seu corpo.

Na maioria dos casos documentados da morte temporária, a alma, após observar por alguns momentos o que se passa ao redor, volta ao seu corpo físico, e nesse momento, o conhecimento do outro mundo é interrompido. Mas, às vezes, a alma dirige-se adiante para o mundo espiritual. Alguns descrevem essa sensação como movimento num túnel escuro. Após isso, as almas de algumas pessoas vão para um mundo de grande beleza, onde, às vezes elas encontram parentes, que morreram anteriormente. Outras, vão parar numa região de luz e encontram-se com um ser de luz, do qual emanam grande amor e compreensão. Alguns afirmam que é o nosso Jesus Cristo, outros que é um anjo. Mas, todos concordam que é alguém repleto de bondade e compaixão. Alguns ainda, vão parar em lugares tenebrosos e, voltando, descrevem terem visto seres cruéis e repugnantes. Ás vezes, o encontro com o misterioso ser luminoso é acompanhado de uma "revisão" da vida, quando a pessoa começa a lembrar do seu passado e faz uma avaliação moral dos seus atos. Após isto, alguns vêem algo semelhante a uma cerca ou fronteira. Eles sentem que, uma vez ultrapassada esta fronteira, não poderão voltar ao mundo físico.

Nem todos os que sobreviveram à morte temporária passaram por todas essas fases. Uma porcentagem significativa de pessoas que voltaram à vida, não se lembram de nada que aconteceu com eles "lá." As etapas citadas são colocadas em ordem de sua freqüência relativa, começando com as que ocorrem mais freqüentemente e terminando com as que são mais raras. Segundo os dados do Dr. Ring, aproximadamente um de cada sete que lembram-se da existência fora do corpo, viu a luz e conversou com o ser de luz.

Graças ao progresso da medicina, a reanimação dos mortos passou a ser um procedimento quase padrão em muitos hospitais atuais. Antigamente, isso quase não existia. Por isso, existe uma certa diferença entre os relatos da vida pós - morte na literatura antiga, mais tradicional, e na moderna. Os livros religiosos mais antigos, relatando sobre a aparição da alma dos mortos, contam sobre visões no paraíso ou no inferno e sobre encontros com anjos ou demônios. Esses relatos podem se chamar de descrições do "cosmo distante," já que retrata o mundo espiritual distante de nós. Os relatos modernos, anotados pelos médicos - reanimadores, ao contrário, descrevem principalmente quadros do "cosmo próximo" - as primeiras impressões da alma que acaba de deixar o corpo. Esses relatos são interessantes pois complementam a primeira categoria de relatos (dos tempos mais antigos) e nos dão a possibilidade de entender com mais clareza aquilo que espera cada um de nós Entre estas duas categorias, está a descrição de K. Ixcul, publicada pelo Arcebispo Nikon em 1916 nas "Páginas da trindade" sob o título "Inacreditável para muitos, mas aconteceu" que abrange os dois mundos - o "distante," e o" próximo." Em 1959, o "Mosteiro da Santíssima Trindade" reeditou esta história numa brochura separada.Vamos apresenta-la aqui de uma forma abreviada. Este relato envolve elementos da literatura antiga e contemporânea sobre o mundo após morte.

K. Ixcul era um típico jovem intelectual da Rússia antes da revolução. Ele foi batizado quando criança e cresceu no meio ortodoxo, mas com era comum entre os intelectuais, era indiferente à religião. Às vezes entrava numa igreja, comemorava as festas de Natal e Páscoa, até comungava uma vez por ano, mas considerava muitos ensinamentos da religião ortodoxa como sendo superstições arcaicas, inclusive o ensinamento sobre a vida após a morte. Ele tinha certeza que com a morte terminava a existência do homem..

Certa vez, ele teve pneumonia. A doença se tornou séria e demorada, e enfim ele foi internado no hospital. Ele não pensava sobre a morte que se aproximava e esperava ficar bom logo e recomeçar as suas atividades habituais. Certa manhã, ele de repente, sentiu-se muito bem. A tosse passou, a febre baixou. Ele pensou, que enfim, estava curado. Mas, para seu espanto, os médico ficaram preocupados e trouxeram oxigênio. E depois - calafrios e completa apatia por tudo que estava em sua volta. Ele conta:

"Toda a minha atenção concentrou-se em mim mesmo... é como se ocorresse bipartição... apareceu o homem interior - o mais importante, que tinha total indiferença ao corpo exterior e ao que ocorria com ele... Era espantoso ver e ouvir e ao mesmo tempo sentir desinteresse em relação a tudo. O médico faz uma pergunta, eu ouço, entendo, mas não respondo - não tenho porque falar com ele... E de repente, fui puxado para baixo, para a terra, por uma força enorme. Eu me agitei. "Agonia" - disse o médico. Eu entendia tudo, não sentia medo.

Lembrei-me ter lido que a morte é dolorosa, mas não sentia dor. No entanto, sentia um pesar. Eu era puxado para baixo... Eu sentia que algo deveria desprender-se... Fiz um esforço para me libertar e de repente, senti-me leve. Eu senti paz. Lembro-me claramente do restante. Eu estou em pé no meio do quarto. A minha direita, formando semi - circulo em torno da cama, estão os médicos e as enfermeiras. Eu estava surpreso - o que eles estão fazendo lá, já que eu não estou lá, estou aqui. Aproximei-me para olhar. Deitado sobre a cama, estava eu. Ao ver o meu "dublê," não me assustei, mas fiquei surpreso - como é possível? Eu quis tocar a mim mesmo - minha mão atravessou, como se tivesse atravessado o vazio. Não consegui também tocar os outros. Não sentia o chão... Eu chamei o médico, mas ele não reagiu. Eu entendi que estava completamente só, e entrei em pânico.

Olhando o meu corpo físico, pensei: "Será que eu morri?" Mas, isto era difícil de admitir. Eu me sentia mais vivo que antes, sentia tudo e entendia. Após um certo tempo, os médicos saíram do quarto, os dois enfermeiros começaram a discutir as peripécias da minha enfermidade e da morte, e a auxiliar, virando-se para o ícone, fez o sinal da Cruz e em voz alta desejou-me o habitual: "Que ele tenha o Reino dos Céus, e paz eterna." E mal ela pronunciou estas palavras, apareceram dois anjos. Um deles, eu imediatamente o reconheci, era o meu Anjo da Guarda, o outro eu desconhecia. Os dois anjos, pegando-me sob os braços, levaram-me para a rua, direto através da parede do hospital. Já escurecia e nevava. Eu via isso, mas não sentia nem o frio e nem mudança de temperatura. Nós começamos a subir rapidamente." Mais adiante continuaremos o relato do Ixcul.

Graças às novas pesquisas na área da reanimação e coletando diversos relatos dos sobreviventes à morte clínica, há possibilidade de formar um quadro detalhado, sobre o que a alma vivencia logo após a separação do corpo. Claro, que cada caso tem suas características individuais, que os outros não tem, E isto é natural, porque quando a alma vai parar no "além" é como se ela fosse um bebe recém - nascido com a visão e audição ainda não desenvolvidos. Por isso, as primeiras impressões das pessoas, que "emergiram" no "outro mundo," tem caráter subjetivo. No entanto, no seu conjunto, elas ajudam a formar um quadro bastante completo, ainda que não totalmente compreensível para nós.

Vamos, a seguir, relatar os momentos mais característicos das experiências do "outro mundo" cuja fonte são os livros modernos sobre vida após a morte.

1. Visão do "dublê." Tendo morrido, o homem não se dá conta disso, imediatamente. E só depois de ver o seu "dublê," deitado embaixo inerte, e se convencer que ele é incapaz de comunicar-se, ele percebe que a sua alma saiu do corpo. Às vezes, acontece que, após um desastre inesperado, quando a separação com o corpo físico ocorre brusca e inesperadamente, a alma não reconhece o seu corpo e pensa que está vendo alguém parecido com ele. A visão do "dublê," e a incapacidade de comunicar-se provoca um grande choque na alma, de modo que ela não tem certeza se isto é sonho ou realidade.

2. Consciência não rompida. Todos, sobreviventes à morte temporária, testemunham que conservaram totalmente o seu "eu" e todas as suas capacidades mentais, sensoriais e de vontade. Mais que isso, a visão e a audição tornam-se até mais aguçadas, o raciocínio fica mais claro e torna-se mais enérgico e a memória torna-se lúcida. Pessoas que faz tempo perderam alguma capacidade em conseqüência de alguma doença ou da idade, de repente sentem que a recuperam. O homem percebe que pode ver, ouvir, pensar etc., não tendo órgãos físicos. É fantástico, por exemplo, que um cego de nascença tendo saído do corpo, viu tudo o que era feito com o seu corpo pelos médicos e enfermeiros e mais tarde, após relatar todo o ocorrido, ele voltou a ser cego. Os médicos e psiquiatras, que associam as funções de pensar e de sentir aos processos químico - elétricos no cérebro, devem levar em conta esses dados modernos, compilados por médicos - reanimadores para entender corretamente a natureza humana.

3. Alívio. Normalmente, a morte é precedida pela doença e sofrimento.Ao sair do corpo a alma se alegra, pois nada mais dói, nada oprime, nada sufoca, a mente funciona claramente, os sentimentos apaziguados. O homem começa a identificar-se com a alma, e o corpo parece ser algo secundário e inútil, como tudo material. "Eu saio, e o corpo é um invólucro vazio" - explica um homem, que sobreviveu à morte temporária. Ele assistiu à sua cirurgia cardíaca como se fosse um "espectador." As tentativas de reanimar o seu corpo, absolutamente não o interessavam. Aparentemente, ele tinha se despedido mentalmente da vida terrena e estava pronto para iniciar uma nova vida. Entretanto, permanecia com ele o amor pela família e preocupação com os filhos que deixava. Deve-se notar, que mudanças radicais no caráter do indivíduo não ocorrem. O indivíduo permanece o mesmo que era. "A suposição que, abandonando o corpo, a alma imediatamente passa a conhecer e entender tudo, é falsa. Eu vim para esse novo mundo do mesmo jeito como saí do velho," - conta K. Ixcul.

4. O Túnel e a Luz. Após a visão do seu próprio corpo físico e do ambiente que o rodeia, algumas almas continuam no outro mundo espiritual. Enquanto outras, não passam pela primeira fase ou não reparam nela e vão direto para o segundo estágio. A passagem para o mundo espiritual, alguns descrevem como sendo uma viagem através do espaço escuro, lembrando um túnel, no final do qual eles vão parar numa região de luz não terrena. Existe um quadro do século XV de Jerônimo Bosh "Ascensão ao Empírico" que representa algo semelhante à passagem da alma pelo túnel. Isso significa que mesmo naquele tempo alguém já tinha acesso a esse conhecimento.

Eis, a seguir, dois relatos contemporâneos a respeito do assunto: "Eu ouvia, quando os médicos anunciaram a minha morte, mas nesse momento, era como se eu estivesse nadando em um espaço escuro. Não há palavras para descrever a sensação. Era completamente escuro ao redor, e só longe, muito longe, via-se luz. Era uma luz muito brilhante, mesmo que parecesse pequena inicialmente. À medida que eu me aproximava, a luz aumentava. Eu me deslocava velozmente em direção à luz e sentia que dela emanava o bem. Sendo cristão, lembrei-me das palavras de Cristo: "Eu sou a luz do mundo" e pensei: "Se isto é a morte, sei quem está esperando por mim" [1, pág.62].

"Eu sabia que estava morrendo" - conta uma outra pessoa, - e nada podia fazer, para comunicar isto, já que ninguém me ouvia... Eu estava fora do meu corpo - isto com certeza, porque eu via o meu corpo lá na mesa de operação. Minha alma tinha saído do corpo. Por isso, sentia-me perdido, mas depois vi essa luz diferente. Inicialmente, era pouca luz, mas depois tornou-se mais brilhante. Eu sentia o calor da luz. A luz cobria tudo, mas não me atrapalhava a visão da sala de cirurgia, médicos, enfermeiras, etc... Inicialmente, eu não entendi o que estava acontecendo, mas depois a voz da luz perguntou-me, se eu estava pronto para morrer. A luz falava, tal qual um homem, mas não havia ninguém. Era a Luz que perguntava... Agora eu entendo, que a Luz sabia que eu não estava pronto para morrer, mas queria me testar. A partir do momento que a Luz começou a conversar, eu fiquei bem, eu sentia que estava seguro e que a Luz me amava. O amor, que emanava da Luz, era inimaginável, indescritível" [1, pág.63].

Todos os que viram a Luz e depois tentaram descreve-la, não conseguiram achar as palavras adequadas. A Luz era diferente da luz que conhecemos por aqui. "Aquilo não era uma luz, mas sim uma ausência da escuridão, total e absoluta. Essa Luz não criava sombras, não era visível, mas estava em todo lugar e a alma permanecia na Luz" [5, pág.66]. A maioria testemunha sobre a Luz, como sendo um ser moralmente bondoso, e não como uma energia impessoal. As pessoas religiosas tomam essa Luz por Anjo, ou até mesmo por Jesus Cristo - em todo caso, por alguém que leva paz e amor. No encontro com a Luz, eles não conversavam em nenhum idioma. A Luz se comunicava com eles mentalmente. E aí, tudo estava tão claro, que era absolutamente impossível esconder algo da Luz.

5. Revisão e julgamento. Alguns, que sobreviveram à morte temporária, descrevem a etapa de revisão da vida que tiveram. Às vezes, a revisão ocorria durante a etapa da visão da Luz, quando o homem ouvia da Luz a pergunta: "O que você fez de bom?" A pessoa entendia que a pergunta não era feita para saber algo, mas para que a pessoa pudesse recordar a sua vida. E assim, após a pergunta, o filme da vida terrena da pessoa passa perante a sua visão espiritual, começando na tenra infância. O filme da vida se move como uma seqüência de quadros de episódios da vida, um após o outro, e a pessoa vê claramente e com detalhes tudo o que aconteceu com ela. Nesse momento, a pessoa revive e moralmente reavalia tudo aquilo que ela falou e fez.

Eis um dos casos típicos, que ilustra o processo da revisão: "Quando a Luz chegou, perguntou-me: - "O que você fez em sua vida? O que pode me mostrar?" ou algo semelhante a isso. E então, começaram a aparecer esses quadros. Eram quadros muito nítidos, coloridos, tridimensionais e em movimento. Toda a minha vida passou por mim... Eis eu, ainda uma menina pequena, brincando com a irmã perto do riacho... Depois, os acontecimentos da minha casa... escola... casamento... Tudo seguia na minha frente com mínimos detalhes. Eu revivia esses acontecimentos... Eu via os fatos quando fui cruel e egoísta. Senti vergonha de mim mesma e desejava que isto nunca tivesse acontecido. Mas, era impossível mudar o passado..." [1, pág. s65-68]

Reunindo muitos relatos de pessoas que passaram pela revisão da vida, deve-se concluir que ela sempre deixa nelas uma impressão profunda e benéfica. Realmente, durante a revisão, a pessoa é forçada a reavaliar seus atos, fazer o balanço do seu passado e assim é como se fizesse um julgamento sobre si mesmo. Na vida diária, as pessoas escondem o lado negativo do seu caráter e escondem-se atrás da máscara de virtude, para parecer melhores do que realmente são. A maioria das pessoas estão tão acostumadas com a hipocrisia, que param de ver o seu verdadeiro eu - freqüentemente orgulhoso, ambicioso e avarento. Mas, no momento da morte, essa máscara cai e a pessoa se vê tal qual realmente é. Principalmente, no momento da revisão, torna-se visível cada um de seus atos ocultos, até em cores e tridimensional, - ouve-se cada palavra dita, acontecimentos esquecidos são revividos de forma diferente. Nesse momento, tudo conseguido durante a vida - situação sócio-econômica, diplomas, títulos, etc... - perde seu sentido. A única coisa que serve para avaliação é o lado moral dos atos. E, nessa hora, a pessoa se julga não apenas pelo o que ela fez, mas também, como seus atos e palavras influenciaram outras pessoas.

Eis como uma outra pessoa descreveu a revisão da sua vida: "Eu senti-me fora do meu corpo, flutuando sobre um edifício, e vi o meu corpo deitado lá embaixo. Depois, uma luz me envolveu e nela eu vi como se fosse um filme, toda a minha vida. Senti-me muito envergonhado, porque muito do que eu antes considerava normal e aprovava, agora entendi que não era bom. Tudo era extremamente real. Eu sentia que um julgamento ocorria comigo e que uma razão superior me comandava e me ajudava a ver. O que mais me impressionou foi que me foi mostrado não apenas o que fiz mas como meus atos influenciaram outros... Aí eu entendi, que nada se apaga e nem passa em branco, mas que tudo, até cada pensamento tem conseqüências." [2, pág.s34-35]

Os próximos dois trechos de relato de pessoas que sobreviveram à morte temporária, ilustram como a revisão os ensinou a encarar a vida de uma nova forma..."Eu nunca contei a ninguém o que eu passei no momento da minha morte, mas, quando voltei à vida, senti-me dominado por um desejo enorme e ardente de fazer algo de bom para os outros. Eu sentia vergonha de mim mesmo..". "Quando voltei, resolvi que era necessário que eu mudasse. Sentia arrependimento, e a minha vida passada não me satisfazia em absoluto. Resolvi iniciar um outro modo de vida, completamente diferente." [2, pág.s25-26]

Agora imaginemos um bandido, que durante a sua vida causou muito sofrimento a outros - enganador, mentiroso, denunciador, ladrão, assassino, estuprador e sadista. Ele morre, e vê todas as maldades que praticava em todos os seus horrendos detalhes. E aí a sua consciência, há muito adormecida, inesperadamente até para ele mesmo, acorda sob a ação da Luz e ele sente remorsos terríveis dos males praticados. Que tortura insuportável, que desespero deve dominá-lo quando ele nada mais pode fazer, nem para corrigir, nem sequer esquecer. Isto vai se tornar para ele o início de tormentos insuportáveis, dos quais não haverá para onde fugir. A consciência do mal praticado, o dano que causou à sua alma e da alma de outros, vai se tornar para ele um "verme imorredouro" e um "fogo inapagável."

6. Um Novo Mundo. Algumas diferenças nas descrições das experiências da vida após a morte, se explicam pelo fato que aquele mundo é totalmente diferente do nosso, no qual nascemos e no qual se formaram todas as nossas noções. No outro mundo, o espaço, o tempo e objetos tem um conteúdo totalmente diverso ao qual os nossos órgãos dos sentidos estão acostumados. A alma, que vai para o mundo espiritual pela primeira vez, experimenta algo semelhante ao que pode experimentar, por exemplo, um verme subterrâneo quando sobe pela primeira vez à superfície da terra. Ele vê pela primeira vez a luz solar, sente o seu calor, vê a bela paisagem, ouve o canto dos pássaros, sente o perfume das flores (supondo que um verme tem os órgãos dos sentidos). Tudo isto é tão novo e belo, que ele não encontra palavras, nem exemplos para contar sobre isto aos habitantes do mundo subterrâneo.

Da mesma forma, as pessoas, que durante a sua morte encontram-se no outro mundo, vêem e sentem muitas coisas que são incapazes de relatar. Assim, por exemplo, as pessoas perdem a noção da distância, tão comum para nós. Alguns afirmam que eles puderam, sem dificuldade, somente com a ação do pensamento transportar-se de um lugar para outro, independente da distância. Assim, por exemplo, um soldado, ferido gravemente no Vietnã, durante a cirurgia, saiu do seu corpo e observou as tentativas dos médicos para revivê-lo. "Eu estava lá, mas o médico, é como se estivesse e ao mesmo tempo não estivesse lá. Eu o toquei, e foi como se simplesmente o atravessasse... Depois, de repente, eu estava no campo de batalha, onde fui ferido e vi enfermeiros, recolhendo os feridos. Eu quis ajuda-los, mas, de repente fui parar na sala de cirurgia novamente... Era como se, num piscar de olhos, bastando desejar, eu me materializasse aqui ou lá..." [5, pág. 33-34]

Há outros relatos semelhantes de deslocamentos inesperados. Ocorre "um processo puramente mental e agradável. Basta desejar - e lá estou eu." "Eu tenho um grande problema. Estou tentando transmitir algo que sou obrigado a descrever em três dimensões... Mas, o que ocorria realmente não era em três dimensões." [1, pág.26]

Se perguntar a alguém que experimentou a morte clínica, quanto tempo durou este estado, normalmente ele não é capaz de responder. As pessoas perdem completamente a noção do tempo. "Poderia ter sido alguns minutos, ou alguns milhares de anos, não há nenhuma diferença." [2, pág.101; 5, pág.15]

Outros, que sobreviveram à morte temporária, aparentemente foram parar em mundos mais distantes do nosso mundo físico. Eles viram a natureza do "outro lado" e descreveram - na em termos de morros, plantas verdes de um verde que não existe na Terra, campos inundados por uma luz dourada maravilhosa. Há descrição de flores, árvores, pássaros, animais, canto, música, campos e jardins de uma beleza incrível, cidades... Mas eles não encontravam as palavras certas para transmitir suas impressões.

7. O aspecto da alma. Quando a alma abandona o seu corpo, ela não reconhece de imediato. Assim, por exemplo, desaparecem marcas da idade; as crianças se vêem adultos, os velhos - moços [3, pág.75-76]. As partes do corpo, por exemplo, mãos ou pernas perdidas por algum motivo, aparecem novamente. Os cegos voltam a enxergar.

Um operário caiu do alto sobre os cabos de alta tensão. Como conseqüência de queimaduras, perdeu as duas pernas e parte da mão. Durante o tempo de cirurgia ele experimentou o estado da morte temporária. Tendo saído do corpo, ele nem reconheceu o seu próprio corpo físico, tão danificado este se encontrava. No entanto, ele reparou em algo que o surpreendeu ainda mais: seu corpo espiritual estava completamente sadio.[3, pág.86]

Na península de Long Island no estado de Nova York, vivia uma velhinha de 70 anos, que tinha perdido a visão desde os 18 anos. Ela sofreu um ataque cardíaco, e tendo parado no hospital, passou pela experiência da morte temporária. Tendo sido reanimada algum tempo depois, ela contou o que viu durante a reanimação. Ela descreveu detalhadamente diversos aparelhos usados pelo médicos. O mais fantástico era que, somente agora, no hospital ela tinha visto esses aparelhos pela primeira vez na vida, já que na sua juventude, antes da cegueira, eles sequer existiam. Ela ainda contou ao médico que o tinha visto numa roupa azul. Claro que, tendo voltado à vida, voltou a ser cega, como era antes.[3, pág.171]

8. Encontros. Alguns relatam encontros com parentes ou conhecidos já falecidos. Esses encontros às vezes aconteciam em condições terrenas, e às vezes em ambientes do outro mundo. Assim, por exemplo, uma mulher que passou pela morte temporária, ouviu os médicos dizendo para seus parentes, que ela estava morrendo. Tendo saído do corpo, viu os seus parentes e amigos falecidos. Ela os reconheceu e eles estavam alegres por reencontrá-la. Outra mulher viu seus parentes que a cumprimentavam e apertavam suas mãos. Eles estavam vestidos de branco, estavam contentes e pareciam felizes.....".e de repente, virando de costas para mim, começaram a afastar-se. A minha avó, virando-se por sobre o ombro, me disse: "Nós te veremos mais tarde, não desta vez." Ela tinha morrido aos 96 anos, mas lá parecia ter 40-45 anos, sadia e feliz." [1, pág.55]

Um homem conta que, enquanto ele estava morrendo de ataque cardíaco em um canto do hospital, sua irmã estava à morte, de coma diabético, no outro canto do hospital. "Quando saí do corpo, - conta ele- de repente encontrei a minha irmã. Fiquei muito contente, porque gosto muito dela. Conversando com ela, quis segui-la, mas ela, virando-se para mim, mandou eu permanecer aonde eu me encontrava, explicando que a minha hora ainda não tinha chegado. Quando voltei, contei ao meu médico que tinha encontrado a minha recém - falecida irmã. O médico não acreditou. No entanto, atendendo ao meu pedido insistente, ele mandou a enfermeira averiguar e soube que a minha irmã tinha falecido recentemente, tal qual eu contei." [3, pág.173]

A alma, chegando ao outro mundo, caso encontre alguém, serão pessoas que eram próximas a ela. Algo familiar atrai as almas. Por exemplo, um pai idoso encontrou no outro mundo seus seis filhos já falecidos. "Eles lá não tem idade" - conta ele. Aí deve-se esclarecer que as almas das pessoas falecidas não ficam perambulando por onde querem, de acordo com a sua vontade. A Igreja Ortodoxa ensina que, após a morte do corpo físico, Deus determina para cada alma o lugar apropriado para sua permanência temporária - paraíso ou inferno. Por isso, encontros com parentes mortos devem ser encarados não como regra, mas como exceção, permitida por Deus por serem úteis para pessoas que ainda devem viver na Terra. É possível que nem sejam encontros, e sim visões. Deve-se admitir que aí há muitas coisas que vão além de nosso entendimento.

Basicamente, os relatos das pessoas que foram parar "do outro lado" dizem a mesma coisa, mas os detalhes variam. Às vezes, eles vêem o que esperavam ver. Os cristãos vêem anjos, a Virgem Maria, Jesus Cristo, os Santos. Os não religiosos vêem templos, figuras de branco ou jovens, e às vezes, não vêem nada, mas sentem a "presença."

9. A Linguagem da Alma. No mundo espiritual, as conversas ocorrem por meio apenas do pensamento e não por meio de alguma linguagem. Por isso, quando voltam, as pessoas tem dificuldade em relatar as palavras exatas da conversa com a Luz, Anjo ou alguém que elas encontraram [1, pág.60]. Conseqüentemente, se no outro mundo todos os pensamentos são ouvidos, devemos aprender aqui, no mundo em que vivemos, a sempre termos bons pensamentos, para não nos envergonharmos do que pensamos involuntariamente.

10. O Limiar. Alguns, estando no outro mundo, contam de algo que parece ser uma divisa ou fronteira. Alguns a descrevem como sendo uma cerca ou grade na extremidade de um campo, outros como beira de um lago ou de um mar, outros ainda como um portão, rio ou nuvem. A diferença na descrição decorre de novo da recepção subjetiva de cada um. Por isso, não há como definir com exatidão a aparência dessa fronteira. O importante, no entanto, é que todos a compreendam exatamente como uma fronteira, atravessando a qual, não há mais retorno ao mundo anterior. Depois dela, começa a viagem para a eternidade. [1, pág.73-77; 5, pág.51]

11. O Retorno. Às vezes, é dado ao recém - falecido a possibilidade de escolha - ficar "lá" ou retornar à vida na Terra. A voz da Luz pode perguntar, por exemplo: "Você está pronto?" Assim, o soldado ferido seriamente no campo de batalha, viu seu corpo aleijado e ouviu a voz. Ele pensava que quem conversava com ele era Jesus Cristo. Foi lhe dado a possibilidade de voltar ao mundo terrestre, onde ficaria aleijado ou ficar no "além." O soldado preferiu voltar.

Muitos são atraídos de volta pelo desejo de concluir a sua missão terrena. Tendo voltado, eles afirmavam que Deus permitiu a eles retornar e viver porque a missão da vida deles não estava concluída. Eles ainda manifestavam a certeza de que a volta deles foi resultado de sua própria escolha. Esta escolha foi satisfeita porque ela era fruto do senso de dever e não por motivos egoístas. Assim, por exemplo, alguns deles eram mães querendo voltar para seus filhos pequenos. Mas, também havia aqueles que foram mandados de volta, contrariando o desejo deles de permanecer lá. A alma deles já foi preenchida com sentimento de alegria, amor, paz, ela estava bem ali, mas a sua hora ainda não chegou, ela ouve uma voz, ordenando-lhe que volte. As tentativas de reação para não voltar ao corpo não adiantaram. Alguma força puxava-os de volta.

Eis, a seguir, um caso contado por uma paciente do Dr. Moody: "Eu tive um ataque cardíaco, e estava num espaço escuro. Eu sabia que deixei meu corpo e estava morrendo... Eu pedi a Deus para me ajudar e logo escapei da escuridão e vi uma neblina cinzenta pela frente, e depois vi pessoas. Suas figuras eram semelhantes às da Terra e eu vi algo semelhante a uma casa. Tudo estava iluminado por uma luz dourada, muito suave, não tão áspera como na Terra. Eu sentia uma alegria não terrena e queria passar pela neblina, mas aí apareceu o meu tio Carl, que havia morrido há muito tempo. Ele atravessou-se no meu caminho e me disse: "Volte. A sua tarefa na Terra ainda não está terminada. Volte imediatamente." Assim, contra a sua vontade, ela voltou ao corpo. Ela tinha um filho pequeno que não sobreviveria sem ela.

A volta ao corpo às vezes ocorre instantaneamente, às vezes coincide com a utilização de choque elétrico ou outras técnicas de reanimação. Todas as sensações desaparecem e a pessoa sente que está de novo na cama. Alguns sentem a entrada no corpo como se fosse um empurrão. Inicialmente, sentem-se desconfortáveis e com frio. Às vezes, após a volta ao corpo, ocorre uma breve perda de consciência. Os médicos reanimadores e outros observadores notam que, no momento da volta à vida, a pessoa geralmente espirra.

12.Uma Nova Atitude em Relação à Vida. Pessoas que estiveram lá apresentam grandes mudanças. Segundo afirmativa de muitos deles, ao voltar, procuram viver melhor. Muitos deles passaram a crer em Deus com mais convicção, mudaram seu modo de vida, tornaram-se mais sérios e mais profundos. Alguns até mudaram de profissão, indo trabalhar em hospitais e asilos de velhos, para ajudar os que necessitam. Todos os relatos de pessoas que passaram por morte temporária, falam de fenômenos totalmente novos para a ciência, mas não para o Cristianismo. Mais tarde, analisaremos os casos atuais de visões do outro mundo, sob a ótica do ensino Ortodoxo.


https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/vida_apos_a_morte.html

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