quarta-feira, 25 de outubro de 2023

ALQUIMIA CRISTÃ - parte 4



DEUS FEZ-SE HOMEM PARA QUE O HOMEM SE TORNASSE DEUS 

A deificação do homem Por elas nos foram dadas as preciosas e grandíssimas promessas a fim de que assim vos tornásseis participantes da natureza divina depois de vos libertardes da corrupção que prevalece no mundo como resultado da concupiscência (2 Pd 1, 4) 

TORNAMO-NOS NO QUE SOMOS 

O homem é criado à imagem do Deus infinito. É chamado a ultrapassar os limites da criação e a tornar-se ele próprio infinito. Ser "à imagem" representa ao mesmo tempo um dom e um objectivo. O "à imagem" é uma potencialidade, um germe que nunca deixou de estar presente. Esta possibilidade de deificação diz respeito ao homem em todos as suas componentes, dos estratos somáticos e psíquicos mais superficiais até ao âmago do seu ser. 

O VERBO É FAZEDOR DE DEUSES 

O tema da deificação está presente em várias correntes filosóficas e religiosas da Antiguidade, em particular no orfismo, no platonismo, no estoicismo, e no hermetismo. Apoiando-se nas Escrituras1, o cristianismo definiu-o assim: Deus fez-se homem para que o homem se tornasse Deus. Encontramos pela primeira vez estas poderosas palavras em Ireneu2. No Ocidente, elas foram recuperadas por Santo Agostinho3. Orígenes qualifica o Verbo de fazedor de deuses4, o Verbo possibilitando àqueles que fora d'Ele são deuses (...) que se tornem deuses buscando junto de Deus aquilo com que se deificam...5. Para Clemente de Alexandria, o Logos tornou-se homem para que fosse um homem a ensinar como pode um homem tornar-se Deus6. Ele gratifica-nos com a herança paterna, realmente grande, divina e inadmissível, divinizando o homem por um ensinamento celeste1. O homem torna-se Deus, retoma Máximo, tanto quanto Deus se torna homem. Segundo Atanásio, O Verbo de Deus fez-se homem para que nos tornássemos deuses8, o próprio Verbo de Deus veio para que, sendo a imagem do Pai, pudesse recriar o homem segundo a imagem. Gregório Nazareno exprime-se de forma ainda mais radical: o Verbo fez-se homem por causa de ti, para que tu te tornes Deus por causa d'Ele9. Para Gregório de Niceia, Deus misturou-se com a natureza perecível, para que, graças à sua mistura com o divino, o nosso ser pudesse tornar-se divino.10 Cirilo de Alexandria apresenta a deificação como finalidade da Incarnação: o Verbo fez-se daquilo que nós somos para que nos tomemos participantes daquilo que Ele é.u Atanásio12, Gregório Nazianzeno13, Gregório de Niceia14, Basílio o Grande e muitos outros Padres da Igreja fizeram deste princípio um adágio comum da teologia. Os Padres e os teólogos da Igreja do Oriente15 repetilo-ão ao longo dos séculos, com mais insistência do que os da Igreja do Ocidente. Não deixaram de lembrar a essência mesma do cristianismo: uma descida de Deus até aos limites do nosso estado presente, até à morte. Mas esta descida de Deus abre aos homens uma via de ascensão, abre os horizontes ilimitados da união dos seres criados com a Divindade. Neste contexto, Gregório Palamas define a Igreja como uma "comunidade de deificação". 



A PEDAGOGIA DIVINA 

Deus confiou ao homem inúmeros pontos de referência na sua caminhada para a deificação. A primeira revelação Vários filósofos da Antiguidade, as velhas religiões de Mistérios, os construtores de catedrais, os alquimistas da Renascença e os teósofos cristãos insistiram neste ponto: o universo que nos rodeia é ele próprio uma Revelação. Deus estendeu à nossa volta o mundo dos corpos para que encontremos no sensível algo pelo qual possamos voltar para ele. O universo é uma imagem sensível de Deus para que toda a obra denote o seu autor. Num quadro de pintura, um perito reconhece o pintor pois o quadro exprime algo do seu criador. Também o mundo que percepcionamos revela o seu Criador pois a grandeza e a beleza das criaturas fazem, por analogia, contemplar seu Autor (Sb 13, 5). Cada coisa é então um sinal em que Deus se dá a conhecer a nós. Eis a carta do simbolismo medieval, em teologia, em filosofia e até na arte decorativa das catedrais. O universo teofânico de Scoto Erígeno, o liber creaturarum de Guilherme d'Auvergne e de Boaventura, o simbolismo dos Lapidados e dos Bestiários, sem esquecer o que orna os pórticos das nossas catedrais ou resplandece nos seus vitrais, são outras tantas testemunhas desta confiança cristã na translucidez dum universo, onde o mais pequeno dos seres é um indício da presença de Deus. Sendo as criaturas imitações de Deus, as suas propriedades fundamentais e as relações dessas propriedades entre elas ajudam-nos a conhecer as de Deus. Segundo Scoto Erígeno, todos os seres criados são luzes, e cada coisa, até a mais humilde, não é, no fundo, senão um círio onde flameja, ainda que fracamente, a luz divina. Composta por um enorme número de pequenas luzes, a criação é uma iluminação destinada a mostrar Deus. O universo cessaria se Deus deixasse de brilhar. Numa tese sobre a obra de Karl von Eckhartshausen, Antoine Faivre comenta esta revelação natural, recorrendo às personagens nascidas da pena do teósofo alemão: É olhando para as folhas duma flor que Aglais descobre a existência de Deus; os perfumes da primavera, as vagas que o vento faz nos campos de trigo convencem-no da Sua bondade. A natureza prova que Deus existe: tal é o título dum dos seus escritos, no qual ele descreve complacentemente os encantos da primavera e as carícias duma jovem esposa. Aliás, como entender Deus sem a natureza?... Eloas, "sacerdote da natureza", ensina ao seu discípulo Sophron que tudo o que nos rodeia é a manifestação de Deus, a letra viva do Seu esplendor, pela qual Ele se revela... Conhecer a natureza, segundo ensina Sophron, permite elevar-se por patamares até ao conhecimento do sobrenatural graças às marcas divinas, pois não há nada de invisível no espírito de Luz que não tenha uma sombra visível e palpável aqui em baixo.16 O Universo fala-nos de Deus. Deus conhece-se pelas suas obras, afirma o Evangelho de João. O mundo é um espelho no qual Deus se pode contemplar. O Invisível manifesta o seu Ser e o seu Poder no universo visível: Os céus cantam a glória de Deus, e o firmamento proclama a obra das suas mãos (SI 19, 2). E "a realidade invisível de Deus - o seu eterno poder e a sua divindade - tornaram-se visíveis desde a criação do mundo para aqueles que reflectem nas suas obras (Rm 1, 20). Orígenes compara os astros a caracteres de escrita e o céu à Bíblia. Através do estudo do Livro do Mundo, podemos aceder ao seu autor. Os três magos que não eram reis, como bons astrólogos, alcançaram o presépio apenas pela observação e, sobretudo, pela interpretação da estrela17. Eles ilustram a religião natural que se apoia nesta primeira Revelação. A segunda revelação Esta primeira Revelação é apenas uma introdução, uma preparação a duas outras Revelações. Deus escolheu um povo eleito no seio do qual suscitou profetas e mestres, e produziu acontecimentos milagrosos. Deu-lhe uma Lei escrita, vinda para apoiar os ensinamentos da criação. A terceira revelação Por fim, e isto é o mais importante, Deus fez-se homem afim de mostrar até onde Ele nos levaria... para que, tornado Filho do Homem, e partilhando a sua mortalidade, ele levasse os homens à sua perfeição de filhos de Deus e os fizesse participar da imortalidade divina...18. O Verto de Deus fez-se carne, e a carne fez-se Verbo, sem que nenhum dos dois abandonasse a sua íntima natureza19. A carne do Cristo, corpo do Verbo de Deus feito homem, constitui o ponto de contacto do homem com Deus. Em Cristo, o céu e a terra uniram-se. Na pessoa do Cristo, a pessoa humana existia integralmente, divinizada pela sua união com o Verbo de Deus. Por isso, a natureza humana assim assumida recebeu a plenitude da energia divina. Desde então, a possibilidade da sua deificação está assegurada para todos os seres humanos que para tal se esforçam. A origem dos homens a partir de Adão implicava um laço com as suas antigas raízes, entre as quais a mortalidade. 0 seu enxerto sobre uma nova árvore autoriza a sua regeneração. Falando claramente, o Cristo não veio para nos ajudar a melhor suportar o pesadelo desta existência, veio sim para nos permitir sair dela: Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é (1 Jo 3, 2). 

A SÍNTESE DE NlCOLAU CABASILAS 

Nicolau Cabasilas propõe uma síntese. O homem tem por fim renascer e ressuscitar: tal é, desde a idade apostólica, a lição dos Padres, da qual ele já discerne um resumo nos antigos mistérios. As energias contidas no corpo glorificado do Cristo são comunicadas aos seus iniciados e asseguram a sua deificação. Esta comunicação efectua-se, entre outros meios, pelos sacramentos, a que a tradição oriental chama de "Mistérios". São os pontos do espaço e do tempo onde a vida divina reencontra a vida humana e a transfigura; são celebrações e procedimentos pelos quais se realiza a deificação. O baptismo e o crisma restauram a semelhança no próprio acto, libertando a imagem cuja irradiação se torna perceptível nos santos e nas crianças. A eucaristia alimenta esta divinização.

(...)


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