sábado, 10 de outubro de 2020

Homem, não a sua natureza exterior, e sim o verdadeiro testemunho da Divindade.

Do livro Homem, Sua Verdadeira Natureza de Louis Cloude de Saint Martin

A compreensão humana, por se aplicar tão exclusivamente as coisas exteriores, do que mesmo assim não da conta de forma satisfatória, conhece menos ainda sobre a natureza do próprio Homem; além disso, o homem atual parou de buscar o verdadeiro caráter de sua íntima essência, se tornou completamente cego para a Fonte Divina da qual descende; pois se o homem, se lembrar de seus elementos primitivos, verá que é a única verdadeira testemunha e sinal positivo pelo qual esta Fonte Universal pode ser conhecida; tal fonte deve, necessariamente, ser ocultada, quando o único espelho capaz de representá-la à nossas mentes, desaparece.

Então, quando louváveis escritores e bem intencionados defensores da verdade tentam provar que há um Deus, e derivam de Sua existência todas suas conseqüências necessárias, uma vez que facilmente consideram esta alma humana em suficiente harmonia para servir de testemunha, voltam-se para a Natureza e para a especulação tirada da ordem externa.

Assim, muitos excelentes espíritos tem feito uso dos recursos da lógica, na modernidade, colocando toda ciência externa a serviço do firme propósito de provar a existência da Divindade; ainda assim, apesar de todas estas testemunhas, o ateísmo nunca esteve tão em moda.

Deve ser com certeza, pela glória de nossa espécie, e para demonstrar a grande sabedoria da Providência que todas as evidências tiradas deste mundo sejam tão imperfeitas. Pois, se este mundo pudesse, verdadeiramente, demonstrar a Divindade, Deus estaria satisfeito com este testemunho e não teria tido nenhuma necessidade de criar o Homem. De fato, o Homem foi criado apenas porque o universo como um todo, apesar de toda a grandiosidade que se apresenta aos nossos olhos, nunca pode manifestar as riquezas da Divindade.

Um resultado bem diferente é alcançado por aqueles grandes escritores que sustentando a existência de Deus, tomam o próprio Homem como prova e base de suas demonstrações: O Homem, se não como ele é, como deveria ser. Suas evidências adquirem força, plenitude e satisfazem todas as nossas faculdades de uma só vez. A evidência extraída do Homem tem um efeito suave e parece falar a linguagem de nossa própria natureza.

As evidências extraídas do mundo exterior são frias, áridas e como uma linguagem aparte, que requer um minucioso estudo: além disso, quanto mais decisivo e resoluto este tipo de evidência for, mais humilha nossos adversários, fazendo com que nos odeie.

As evidências extraídas da natureza do Homem, ao contrário, mesmo quando obtém uma completa vitória sobre o descrente, não lhe causa humilhação, pois o faz sentir e participar de toda a dignidade que pertence à sua qualidade como Homem. 

E aquele que não é convencido por esta sublime evidência poderá, no máximo, zombar dela algumas vezes; mas, em outros tempos, ele muito provavelmente, lamentaria não ser capaz de alcançar tão elevada região e certamente nunca ofenderia o que lhe estivesse sendo ofertado; isto é suficiente para demonstrar o quão uidadosos devemos ser ao sondar as profundezas da existência do Homem, e para confirmar a sublimidade de sua essência, por meio da qual devemos demonstrar a Essência Divina, pois não há mais nada no mundo que possa fazê-lo, precisamente.

Eu repito que, para alcançar este fim, todo argumento extraído deste mundo e desta natureza é insatisfatório e instável. Consideramos coisas do mundo para chegar a um Ser fixo, em quem tudo é verdade; emprestamos ao mundo verdades abstratas e figurativas para provar um Ser que é totalmente real e positivo; extraímos algo da inteligência para provar um Ser que é a própria Inteligência; extraímos coisas do amor para demonstrar Aquele que é somente Amor; coisas circunscritas em limites para tornar conhecido Aquele que é Livre; e coisas que morrem para explicar Aquele que é Vida.

Não é para se temer que ao nos submetermos a um empreendimento como este, possamos absorver as mesmas deficiências inerentes dos meios que nos utilizamos, ao invés de demonstrar a nossos oponentes os tesouros Daquele que desejamos reverenciar?

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