segunda-feira, 19 de novembro de 2018

HISTÓRIA DAS IGREJAS CRISTÃS DESDE A ORIGEM 7 - CAPÍTULO IX - parte II

PERSEGUIÇÃO AOS BATISTAS 


A história dos batistas é toda regada com o sangue dos seus mártires. Da mesma forma que seus antepassados, os mártires pós-apóstolicos, sofreram nas mãos do império e dos judeus, colocando-os nas prisões e nas arenas para serem engolidos pelos leões, e também seus antecessores, os anabatistas, sofreram toda sorte de atrocidades e torturas nas mãos dos católicos, os batistas sofreram horrores nas mãos dos católicos e protestantes por um longo período de tempo. Onde uma igreja batista era descoberta ou estabelecida, logo vinha a perseguição, e com ela a morte dos batistas.

A Perseguição na Inglaterra 


Até o ano de 1534 a Inglaterra foi um país católico. A partir desta data, liderados pelo rei Henrique VIII, os ingleses passaram a ser protestantes, mais precisamente pertencentes a Igreja da Inglaterra, conhecida como Episcopal ou Anglicana. Os templos católicos tornaram-se templos anglicanos. Padres foram muitas vezes transformados em pastores. O batismo foi o mesmo dos católicos, infantil e por aspersão. Os batistas, vendo tanta coisa errada, nunca aceitaram a igreja anglicana como uma igreja de Jesus. Seus pastores batizavam todos os que vinham do catolicismo ou do anglicanismo. Isso pareceu ruim aos olhos do rei e dos pastores anglicanos. Por isso ficou resolvido pelos anglicanos que os batistas precisavam morrer.

Muitos pastores e membros das igrejas batistas foram cruelmente mortos pela igreja anglicana. De 1534 até 1688 a igreja anglicana comandou o ato de intolerância contra as igrejas batistas. Foi nesta época que viveu John Bunyan. Neste período a perseguição era geral. As igrejas batistas não tinham o direito legal de existir, e quando descobertas, eram fechadas e destruídas. Não é por um acaso que muitas igrejas batistas, tanto na Inglaterra como no País de Gales, mudavam-se inteiramente para a América do Norte.

A partir de 1688 foi permitido aos batistas realizarem seus cultos publicamente, sem é claro, atormentar a igreja anglicana. Isso era coisa impossível aos batistas. Como pregar Jesus sem mostrar o pecado? Como ensinar a Bíblia sem mostrar o erro? O ensinamento da Bíblia, foi, muitas vezes, o fator principal das perseguições contra os pastores batistas. Apesar dessa tolerância era negado aos batistas o direito de ter acesso a cargos públicos, bem como ao parlamento. Somente em 1818 foram os batistas munidos deste direito. Mesmo assim não eram considerados válidos o registro de nascimento (pois negavam dar suas criancinhas ao batismo anglicano), e o registro de casamento (pois não casavam-se diante de um pastor anglicano e numa igreja anglicana). A intolerância do registro de nascimento só foi revogada em 1836, e a de casamento em 1844. Porém ainda não podiam ser aceitos nas Universidades de Cambridge e Oxford. Até este tempo os filhos dos dissidentes não possuíam o direito de acesso em nenhuma das grandes instituições. O ato de libertação veio somente no ano de 1854.

Alguns escritores tem revelado ao mundo um pouco das atrocidades sofridas pelos batistas nas mãos dos católicos e dos protestantes da Inglaterra. O Missionário W.C. Taylor relata no Manual das Igrejas Batistas, pg 149-151, que:
"Desde o século XII até o século XVII, muitos batistas sofreram perseguição e morte por meio da fogueira, do afogamento, da decapitação, além de outros métodos, que algumas vezes importavam em torturas desumanas. E isso sofreram dos papistas como dos protestantes..."

"Escreve Brande que: No ano de 1538, trinta e um batistas, que haviam fugido da Inglaterra, foram executados em Delf, na Holanda; os homens foram decapitados, e as mulheres foram afogadas (History of Reformers pg 303)..."

"O bispo Latimer declara que: Os batistas que foram queimados em diferentes partes do reino, seguiam para a morte intrepidamente, sem qualquer temor, durante o tempo de Henrique VIII. (Neals History of Puritans, V. III, pg 356)..."

"O Dr. Featley, um dos seus mais figadais inimigos, escreveu a respeito deles, em 1633: Essa seita, entre outras, até agora tem presumido da paciência do Estado, a ponto de organizar convenções semanais, rebatizar centenas de homens e mulheres juntos, de madrugada, em riachos, e em alguns braços do Tamisa e noutros lugares, imergindo-os completamente. Tem imprimido diversos panfletos em defesa de sua heresia; sim, e tem desafiado alguns de nossos pregadores a disputa. (Eng. Bapt. Jubilee Memor. Benedicts Hist. Baptist, pg 304)."

Das muitas histórias de pastores e igrejas batistas perseguidos na Inglaterra durante os anos de 1534 a 1688, há uma que até hoje tem comovido o mundo todo. É a história do pastor John Bunyan, ganho para Cristo após o árduo trabalho de sua esposa (uma batista), que lhe trazia a Bíblia e livros para ler. Em 1653 ele batizado foi pela Igreja de Bedford. Desde então sua vida é um exemplo de fé e firmeza nas tribulações. O relato abaixo foi extraído do livro "A História das Religiões", de Cherles Francis Pother, páginas 468-469, de 1944:

"Pregava havia já quatro anos quando Carlos II subiu ao trono na Inglaterra e restaurou o episcopalismo. Os pregadores puritanos teriam de conformar-se ou suspender os sermões. John Bunyan recusou-se a obedecer, sendo condenado a doze anos de prisão. Lograria a soltura em qualquer tempo desde que se comprometesse a não mais pregar, mas dizia com desassombro que, uma vez livre, pregaria na primeira oportunidade. Não o demoveu fome da esposa e dos filhos, sendo um deles uma menina, cega. Conseguiu ganhar algum dinheiro na cadeia fabricando cadarços compridos de fio de linho de pontas rematadas, os quais eram vendidos por sua filhinha cega.
Até na prisão Bunyan pregava aos companheiros. Tinha consigo apenas dois livros: Livro dos Martires, de Fox, e a Bíblia. Veio então grande inspiração e escreveu O Peregrino. Promulgada a declaração de indulgencias, foi Bunyan posto em liberdade, e logo depois eleito pastor de sua velha igreja. Três anos depois a declaração foi renovada, voltando Bunyan para a prisão por ser pastor não conformista".

John Bunyan não foi o único. Simplesmente é o mais conhecido. Antes de Bunyan muitos batistas padeceram o martírio. Tomas Hellys por exemplo, apenas três anos após a fundação da Igreja Batista de Spitalfields, em 1612, foi martirizado a mandato dos bispos anglicanos em 1615. John Smith, outro fundador de igrejas batistas, e um autentico anabatista por ter sido batizado na época em que as igrejas batistas ainda eram chamadas por esse epíteto, foi martirizado em 1612, apenas três anos após da fundação de sua primeira igreja. Edward Wightman, de Burton-sobre-o-Tento, condenado pelo bispo de Coventry, foi queimado em Litchfield, a 11 de Abril de 1612. Estes são alguns dos muitos casos de pastores ou membros batistas mortos por católicos e protestantes.

A Perseguição na Nova Inglaterra (Estados Unidos). 


Como as perseguições na Inglaterra estavam aumento no período de 1534 a 1688, foi o jeito de muitos anabatistas-batistas deixarem este país e rumarem para os Estados Unidos. Viam na América uma nova Canaã. E acertaram. Muitos pastores pregavam a emigração em massa. Igrejas inteiras foram transferidas da Inglaterra e do País de Gales para os Estados Unidos.
O primeiro grupo de batistas a emigrarem ainda eram conhecidos como anabatistas. Veja o relato do livro "A História das Religiões" página 489:

"Um outro grupo correu para Providence, logo nos primórdios da existência deste centro, não só foi bem acolhido por Roger Williams, como logrou sua adesão. Este grupo era o dos Anabatistas, ou como são mais conhecidos, batistas".

Provavelmente esse grupo veio junto com os puritanos do Mayflower em 1620. Mas descobertos pelos puritanos de Boston foram expulsos de lá em pleno inverno rigoroso de 1638. Negavam-se a entregar suas crianças para o batismo infantil dos presbiterianos e dos congregacionalistas. Encontraram em Roade Island um abrigo para sua fé. Formaram uma igreja anabatista em Newport neste mesmo ano. No ano seguinte fundaram uma igreja batista em Providence. Tinham como pastor John Clark, um homem de princípios e verdadeiro baluarte da fé. Também é desta igreja o conhecido Obadias Holmes, que foi o sucessor de John Clark no ministério. O pastor J.M. Carrol, no seu livro O Rasto de Sangue, página 47, assim narra as perseguições sofridas por Holmes e seus companheiros diante da Igreja Congregacional em Massachussets Bay:

"Com respeito às perseguições em algumas das colônias americanas vamos mencionar alguns exemplos. De certa feita, estava enfermo um dos membros da Igreja de John Clark. A família morava na Colônia e um pregador visitante de nome Crandall e um leigo de nome Obadias Holmes, foram visitar a família enferma. Enquanto eles estavam realizando um culto de oração com a família doente, um oficial ou oficiais da colônia prenderam-nos e mais tarde foram apresentados perante o tribunal para serem processados. Também está dito na história que para arranjar uma acusação mais forte contra eles, foram levados para uma reunião religiosa da Igreja Congregacional, tendo as mãos amarradas. A acusação deles foi a de não tirarem seus chapéus num serviço religioso.

Todos foram processados e condenados. O governador Endicott está presente. Zangado disse a Clark, durante o julgamento: - Tendes negado o batismo infantil (isto não era acusação contra eles). - Mereceis morrer. Não quero um traste deste na minha jurisdição. Como pena deviam pagar uma multa ou serem açoitados. A multa de Crandall (o visitante) foi de cinco libras; A pena de Clark foi de 20 libras; A multa de Holmes (os registros dizem que ele foi congregacional antes de se tornar um batista) foi de 30 libras. As multas de Clark e Crandall foram pagas por amigos. Holmes recusou igual obséquio alegando que não havia errado, razão porque foi bastante chicoteado. Os arquivos dizem que ele se despira até a cintura e que foi açoitado (com chicote tipo especial) até que o sangue lhe cobriu as costas, descendo pelas pernas até lhe encher os sapatos! "
O Dr. J.M. Carrol ainda relata outra história de perseguições sofridas pelos batistas na América, e desta feita o perseguido o pastor Jaime Ireland, página 49:

"A Virgínia foi o segundo lugar no mundo onde a liberdade religiosa foi adotada, seguindo a Rhode Island. Mas isto foi um século mais tarde. Antes disto, cerca de trinta pregadores em tempos diferentes foram presos, tendo como única acusação contra si o fato de pregarem o Evangelho do Filho de Deus. Jayme Ireland é um exemplo. Ele foi preso... Depois disto os seus inimigos tentaram matá-lo a pólvora. Tendo falhado neste primeiro esforço quiseram sufocá-lo até a morte, usando enxofre, que ardia sob as janelas da prisão. Tendo falhado outra vez, tentaram envenená-lo com o auxílio de um médico. Tudo falhou. E Ireland continuou a pregar para o seu povo das janelas da prisão. Um muro foi construído em redor da cela para impedir que o povo o visse ou fosse visto por ele, mas esta dificuldade foi vencida. O povo amarrou um lenço à ponta de uma comprida vara a qual era levantada para mostrar a Ireland que todos estavam reunidos. As pregações continuaram."
Hoje os Estados Unidos é o país mais evangelizado do mundo. Os batistas são o maior corpo denominacional do país, com milhões e milhões de adeptos esparramados em todo canto das terras americanas. Mas nem sempre foi assim. A liberdade aos batistas só veio em plena pujança no século XVIII. O Dr. J.M. Carrol traça um exemplo de como o Estado da Virgínia chegou dar liberdade religiosa aos batistas, página 49:

"Em Virginia foi promulgada uma lei dando permissão aos municípios de terem um pastor batista, mas somente um. O pastor poderia pregar uma só vez de dois em dois meses. Mais tarde esta lei foi modificada permitindo a pregação uma vez cada mês. Mais ainda assim em um só lugar do Município e um único sermão naquele dia mas nunca pregado à noite. Outras leis foram passadas não somente na Virgínia, mas em outros lugares, proibindo qualquer trabalho missionário".
Hoje muitos desprezam o sentido denominacional dos batistas. Eles se esquecem que se hoje a Bíblia pode ser lida com liberdade é fruto de um laborioso trabalho de persistência dos batistas, sim, daqueles pastores que deram seu sangue para podermos receber a Bíblia, o livre direito de culto e o correto ensino das escrituras. Dependesse de Calvino e Lutero estaríamos presos às correntes da escravidão protestante que varreu o norte da Europa. Dependesse do catolicismo estaríamos presos às correntes da escravidão e idolatria que sempre habitou no Sul da Europa e de lá foi transportada para as Américas.

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