quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O gnóstico-cristão Valentino e seu mito da criação

O intuito dessa publicação é o conhecimento de alguns aspectos do gnosticismo valentiniano a fim de comparar com outros gnosticismos e ver interpretações válidas ou não dentro dessas linhas de pensamento gnóstico antigo e no pensamento moderno (neognóstico, gnóstico e cristão). Não se trata de uma defesa do modelo valentiniano, mas inclusive, além do que já disse, uma mostra do que sobrou desse pensamento e do que dele já havia em comum em outros, na época e hoje. Existiam nele ideias iguais ou similares tanto aos outros cristãos da época, quanto aos outros gnósticos, mas também grandes diferenças, inclusive pontos que realmente não estão de acordo com as escrituras. Porém é inegável o caráter tanto cristão quanto gnóstico de Valentino, não podendo ele ser excluído de nenhum dos dois campos como queriam alguns gnósticos e cristãos de seu tempo, muito menos como querem alguns falsos gnósticos de hoje colocando Valentino como contrário ao cristianismo.
É bom lembrar que durante algum tempo ele foi muito influente na igreja primitiva, tendo quase chegado, por votação apertada, a ser um de seus chefes máximos (o que seria o papa se comparado ao catolicismo), e que, por seu concorrente e vencedor na votação do conselho, ser contrário a suas ideias é que ele foi considerado herege.
Assim é interessante notar que mesmo o mais influente gnóstico do passado tem pouca influência nos movimentos neognósticos de hoje, tendo mais receptividade ou similaridade no gnosticismo mais conservador e até no cristianismo (talvez pela semelhança com alguns princípios apresentados nas cartas paulinas) do que nestes movimentos "novaeristas" de hoje que se dizem gnósticos.
O texto a seguir pertence à revista Pentagrama, que é de uma ordem realmente gnóstico-cristã que de fato pesquisa e estuda a fundo as práticas e doutrinas a partir das suas fontes originais (não da suposta visão iluminada de algum pretenso mestre, como existe em muitas ordens auto-proclamadas gnósticas ou cristãs), mas no caso desse texto quero fazer uma observação, de que este não é um assunto que domino por completo, no entanto, me parece bem fundamentado, embora eu confesso que desconhecia alguns aspectos do pensamento de Valentino e em outros casos não vi relação com os escritos valetinianos. Mas como ele cita cartas também, talvez estas sejam a fonte das informações que não reconheci. Por isso mesmo conservei abaixo um quadro com citações de Valentino que faz parte do mesmo artigo na revista.

Valentino e o mito da criação
Revista Pentagrama 2/2008
Para Valentino, os habitantes do mundo espiritual,
o pleroma, não são deuses, mas éons.
“O Pai original dos éons é a ‘profundeza’;
sua outra metade é o ‘silêncio’. A profundeza é o
fundamento não criado, o fundamento sem fundamento.
Com o silêncio, a profundeza gera seu filho:
a consciência, semelhante ao Pai, e somente ela é
capaz de conhecê-lo. A outra metade da consci-
ência é a verdade; os dois geram a palavra e a vida,
que por sua vez geram o homem e a comunidade.”
Esses “oito” constituem o cerne do pleroma (a
plenitude).
“A palavra e a vida criam dez éons. O homem e a
comunidade criam outros doze éons, o que perfaz
um total de trinta criações, sendo a trigésima, a
sabedoria (Sophia). Cada éon nutre o desejo de
contemplar aquilo que está na origem do seu ser.
Quanto à sabedoria, seu desejo a impulsiona a
lançar-se audaciosamente em frente. Mas o limite
(Hórus) a preserva de errar na profundeza infinita
do Pai mantendo-a fora do mundo espiritual”.
No mito valentiniano, não são Adão e Eva que
são expulsos do paraíso, e sim a sabedoria, ao passo
que sua metade masculina, o amado, permanece na
plenitude. A sabedoria está exilada no vazio sem
conhecimento, vazio que ela própria criou por sua
transgressão. Em memória do Altíssimo, ela gera
Jesus. Mas ele se lança em direção ao reino do Espírito,
lá onde a sabedoria não pode segui-lo, pois
o limite a impede. Ela encontra-se só, no vazio, prisioneira
da tristeza e da angústia, e diante da causa
fundamental de seu sofrimento: a ignorância. Após
ter suportado tantos tormentos, ela implora a ajuda
de Jesus, o que comove todos os éons, que por sua
vez, imploram ao Pai para libertá-la de sua aflição.
Em seguida, o Pai cria o Espírito Santo, que instrui
os éons sobre qual atitude adotar em relação ao Pai
e restabelece a calma no pleroma. Em reconhecimento
à sua boa ação, a plenitude dos éons vai
criar, com base no que cada um deles tem de mais
belo e radiante, um ser espiritual da mais perfeita
beleza: Cristo. Este é enviado com seus anjos ao
espírito-do-mundo em exílio: a sabedoria.
Note-se o quanto, no mito valentiniano, os conceitos
de Pai, Filho, Espírito Santo e Cristo são mais
ressaltados do que no ensinamento cristão tradicional.
“Cristo liberta a sabedoria de seus sofrimentos
que a prendem à matéria indeterminada.
Seu desejo de beatitude dá nascimento à alma do
mundo, sua aflição gera a terra, sua tristeza, a água,
sua angústia, o ar, e em todos esses elementos surge
a ignorância que se transforma em fogo.”
Vemos que esse processo de redenção começa pela
aparição, no vazio, dos quatro elementos: terra,
água, ar e fogo. “Liberta de seus temores, a sabedoria
recebe com alegria e júbilo a imagem dos
anjos que acompanham Cristo e, inflamada pelo
amor, fecundada por sua imaginação, ela cria, à
semelhança deles, os filhos espirituais.”
Agora começa indiretamente a futura criação do
homem: com base na substância da alma, a sabedoria
cria o “demiurgo”, um ser divino, à imagem do
Pai, e que em conseqüência dará forma a tudo que
existe, furtivamente influenciado por sua mãe, a
sabedoria. Ela queria, na verdade, moldar o universo
em honra dos éons fazendo do mundo visível o
símbolo do mundo invisível.
A fórmula hermética adquire, então, todo seu
sentido: “assim como é em cima, assim é embaixo.”
Em As lembranças que o Apóstolo João guarda de Jesus,
texto que faz parte dos Atos dos Apóstolos apócrifos,
está escrito: “O Senhor fez símbolos de todas
as coisas. Depois que o demiurgo formou o céu
e a terra com a ajuda dos quatro elementos, ele
fez o ser humano e insuflou-lhe uma alma. Mas,
em segredo, a sabedoria associou-lhe uma criança
espiritual sem que o demiurgo o soubesse. Assim, o
demiurgo serve de canal por onde passa o espírito
no corpo e na alma do homem, a fim de que ele
seja levado a termo como no ventre materno, se
Valentino e o mito da criação
desenvolva e se encontre pronto a receber a palavra
de Deus, que é Cristo. Assim que todos os seres
espirituais forem salvos, eles retornarão com sua
mãe, a sabedoria, à plenitude onde, tornados éons
espirituais, poderão contemplar o Pai”.
Assim é o mito de Valentino. Trata-se de dois
campos de vida separados: de um lado, o mundo
espiritual, o pleroma; de outro lado, o mundo
transitório, manifestado para oferecer à sabedoria
exilada uma possibilidade de retorno ao mundo
espiritual. Graças à sua imaginação, a sabedoria
reúne os filhos espirituais (que ela criou à imagem
dos anjos que circundam Cristo) a uma alma e a
um corpo terrestres e ao caminho de experiências
através da matéria.
O homem mortal é, em suma, um instrumento, um
órgão de percepção, com a ajuda do qual a imaginação
da sabedoria pode fazer experiências.
Quando todos os filhos espirituais, escondidos
pela sabedoria dentro dos seres humanos, tiverem
recebido Cristo e forem libertados, a sabedoria
retornará com eles ao pleroma.
No mito de Valentino, a natureza dupla do homem
é explícita: por um lado ele é constituído de pó e
condenado a retornar ao pó; por outro lado, ele é
o filho espiritual da sabedoria, portador de uma
centelha divina oculta. Nossa alma terrestre não
é consciente de nosso companheiro divino, tanto
quanto não foi o demiurgo das manobras secretas de
sua mãe. Apesar de tudo, temos a faculdade de sentir
a influência da centelha divina que está em nós. O
que resulta da alma natural é o instinto de conserva-
ção como conseqüência da influência da sabedoria.
Mas o homem existe sobretudo pela alma que o
demiurgo lhe insuflou; muito de sua energia será
utilizada para se conservar segundo sua concepção
do mundo: ele cuida de sua saúde, de suas relações,
de sua profissão, de seus bens, de seu passado e
outras coisas transitórias. Mas os éons e a sabedoria
almejam conhecer o domínio insondável da
plenitude, do mundo divino. É nisso que podemos 
identificar a influência do filho espiritual em nós:
muitas pessoas buscam sua origem e o mistério da
vida. A ciência constitui uma resposta coletiva a
essa busca. A religião testemunha o desejo de nos
“religarmos” ao plano da eternidade, de encontrar
a libertação e retornar à pátria perdida. A criação
artística traduz o desejo exaltado de um ideal ainda
desconhecido, como atestam as estátuas gregas
de proporções perfeitas, as evocações bíblicas em
alguns quadros e as composições musicais que exprimem
a nostalgia de uma pátria perdida.
No entanto, ciência, religião e arte – cabeça, cora-
ção e mãos – já não reagem de maneira consciente
à centelha-do-espírito que habita secretamente em
nós, à obra da sabedoria que nos inspira. Quem é
animado pelo sopro do demiurgo emprega grande
parte de sua energia para manter a si mesmo e a
imagem que faz do mundo, preocupa-se então com
todos os elementos puramente terrestres enumerados
acima e com muitos outros ainda; sem contar
que, na maior parte do tempo, seu instinto de conservação
faz que ele veja no outro um adversário.
Por outro lado, o desejo de defender sua vida leva
depressa e inevitavelmente à luta, à clássica “luta
pela vida” de Darwin. Se estivéssemos simplesmente
animados pelo demiurgo, não experimentaríamos
como ruim a dor que acompanha a luta pela
vida, e a aceitaríamos como inevitável. No entanto,
como temos em nós uma centelha de sabedoria,
temos uma idéia secreta, latente, de que a dor do
mundo não é inevitável, que a simples vida animal
é, na realidade, bem inferior a nós, e que não devemos
nem podemos nos conformar com ela.
A alma sofre quando temos consciência de nossa
nobreza perdida. E saber que “outra” existência
puramente espiritual foi outrora nosso quinhão,
e disso somos mais ou menos conscientes, nos
faz pensar que deve ter acontecido algo com
uma “queda”, o que explica que erramos em um
mundo que não é o nosso. Um dos traços fundamentais
da criação é a infinita multiplicidade: não
encontramos duas folhas iguais em uma árvore,
nem dois caules de grama perfeitamente iguais em
um campo. Essa diversidade abundante de formas
é própria também da humanidade. Cada indivíduo
reage de modo diferente às duas influências contrárias
que o penetram. Esse algo não terrestre que
inquieta o indivíduo faz dele uma criatura terrestre
descortês. Sempre de novo o meio ambiente deve
pagar caro o sofrimento do qual ele quer se libertar 
de todas as maneiras possíveis. A solução desse problema
não estará longe se o homem puder tornarse
um instrumento suficientemente maleável para
realizar em si “o filho espiritual da sabedoria”, o
qual é coroado quando a imagem que ele faz de si
mesmo se religa a Cristo. Inconsciente desse apelo
que lhe vem de muito alto, o ser humano imagina
que todos os objetivos que persegue são extremamente
importantes, e repete constantemente: “o
fim justifica os meios”, mesmo se seus objetivos,
levando tudo em consideração, favoreçam seu instinto
de conservação, ou apenas seu puro egoísmo.
No conjunto, vemos que o poder mental que nos
é dado para sondar o plano divino é empregado
visando a luta pela vida. Esse poder é cultivado de
maneira refinada, mas cristalizada, e nós o medimos
em relação à engenhosidade com que fabricamos
armas. É preciso reagir à influência que a centelha
divina exerce sobre nós, mas em geral essas reações
são inteiramente caricaturais.
A história prova que poucas pessoas percebem por si
próprias o verdadeiro objetivo da vida e seu sentido
verdadeiro. No entanto, como no mito de Valentino, a sabedoria
crística vem em nossa ajuda: ela se revela em momentos
determinados, logo que a humanidade alcança
psicologicamente certa maturidade.
Ela é então enviada a pessoas que, desde seu nascimento, 
são conscientes da presença do “Outro” em si mesmas. 
Essas pessoas tornam-se assim provas vivas da existência dos dois
mundos, da força e da ação da nova alma no ser
humano, o que provoca a admiração tanto de seus
amigos como de seus inimigos. Elas nos colocam
novamente em contato com o ensinamento das duas
ordens de natureza, e simplesmente nos mostram
nosso lugar e nossa vocação no centro da criação.
Freqüentemente falamos sobre a atual passagem da
era de Peixes para a era de Aquário, período no qual
se verá quem possui ou não a nova inspiração. Desde
o começo desta era, logo após a Segunda Guerra
Mundial, verificamos que certos acontecimentos
produziram-se quase ao mesmo tempo: Gilles Quispel
aprofundou as doutrinas de Valentino segundo o
que Irineu disse sobre o assunto; nas areias do Egito,
em Nag Hammadi, foram descobertos 52 manuscritos
de origem gnóstica; em seguida, J. van Rijckenborgh,
a exemplo dos que acompanham os seres humanos
no caminho da libertação da alma, interveio e
revelou o cristianismo vivente da Rosacruz Áurea.

A antiga biblioteca de Alexandria
Esperamos até 1995 por uma edição completa
em holandês dos textos de Nag Hammadi, e
o mito da criação de Valentino por Quispel só
apareceu em 1985, após investigação de Attridge
e Pagels. Logo após a guerra, a Rosacruz Áurea
fez aparecer uma torrente de publicações onde
o ensinamento das duas ordens de natureza foi
publicamente proposto aos pesquisadores, e se
transformou em uma Escola Espiritual autônoma
através da qual a Luz chega ao mundo. Em muitos
dos que chamamos países “ricos”, as condi-
ções materiais assim como a liberdade de expressão
quase atingiram um ponto de saturação,
jamais antes ultrapassado. O mundo não pode
oferecer muito mais do que já adquirimos. Paralelamente
à industrialização e à democratização,
desde o fim do século XIX, ocorre intensa busca
espiritual, tanto nos movimentos esotéricos como
nos setores da ciência acadêmica. O resultado é
que a realidade manifestada nos é apresentada
como em uma bandeja. Do tratado hermético
Do castigo da alma* extraímos esta citação que se
refere precisamente ao homem de Aquário:
“Este mundo material daqui de baixo, ó alma,
é a morada dos desejos insaciados, do medo, da
indignidade e da aflição; no alto encontra-se o
mundo do espírito, do repouso, inacessível ao
medo, que testemunha de uma dignidade e de
uma alegria elevadas. Tu vês esses dois mundos,
tu vives nesses dois mundos. Faze agora uma
escolha de acordo com tua experiência. Nos dois
podes morar; por nenhum dos dois serás rejeitada
ou abandonada. Mas, para um homem, é
impossível ser atormentado pelos desejos insaciados
e ao mesmo tempo estar em paz, subir e ao
mesmo tempo descer, estar alegre e ao mesmo
tempo abatido. No homem, o amor por este
mundo e o amor por outro mundo não podem
se unir. Isso é impossível” 

Outras citações 
Em uma carta de Valentino, lemos o
seguinte:
“Há um Bem único, que se manifesta livremente
mediante o Filho. Apenas por meio
dele o coração pode se purificar, e isso
apenas quando a essência do mal é dali
extirpada. Agora, sua pureza está obstruída
por várias essências que fizeram morada
no coração, pois cada uma delas executa
sua própria ação, oprimindo-o de diversas
maneiras, mediante desejos impróprios.
Assim, a impureza do coração foi negligenciada
durante tanto tempo, que agora
ele é a morada de numerosos demônios.
Mas, quando o Pai Todo Bem observa o
coração, ele o santifica e o ilumina. E quem
possui tal coração é tão abençoado que
‘verá Deus’”.
Possuir um coração tão puro que possa
ver Deus continua sendo uma realidade
para os cristãos valentinianos. Valentino
não se refere ao coração como órgão
físico, mas como centro espiritual de sabedoria
que se situa no mesmo nível que o
coração físico.
Num outro texto, ele declara: “Muito do
que está escrito nos livros de hoje encontrava-se
na igreja de Deus. Porque esses
ensinamentos fragmentários são as palavras
procedentes do coração, a lei escrita
no coração. Trata-se aqui do grupo dos
‘bem-amados’, que são por ele amados e
que o amam”.
Quem é o bem-amado? O “ser” no cora-
ção, a centelha-de-luz espiritual, o eterno
peregrino que reencarna na matéria. Os
que trazem em si esse princípio vivente
e consciente são homens espirituais
(pneumáticos).
“Pois os gnósticos sabem que existem seres
espirituais originais que vêm habitar as
almas e os homens de luz. Antes da queda
no mundo dos sentidos e do pecado, eles
se encontravam no mundo espiritual superior.
Agora, graças ao autoconhecimento,
eles se apressam a regressar, redimidos e
libertos do mundo inferior. Todos nascemos,
mas nesse momento renascemos no
mundo do Espírito”.
É-se um gnóstico quando se sabe, por
revelação, qual é o seu ser autêntico e sua
verdadeira essência. As outras religiões
são orientadas para Deus de diferentes
maneiras. Os gnósticos se orientam para o
interior de si próprios. Interessam-se pelas
particularidades mitológicas referentes à
origem do universo e da humanidade unicamente
como expressões de si mesmos
e fonte de autocompreensão.
“Abandona a busca de Deus, da criação
e de outras coisas similares. Busca-o
examinando a ti mesmo. Aprende quem
é aquele que torna suas todas as coisas e
diz: Meu Deus, meu pensamento, minha
alma, meu corpo. Descobre a origem
de tuas preocupações, de tua alegria, do
teu amor do teu ódio. Pondera de que
maneira olhas-te, zangas-te, ressentes
amor e paz sem que o queiras. Quando
tiveres observado cuidadosamente essas
coisas, encontrá-lo-ás, em ti mesmo,” declara
Monoimus, autor gnóstico do século
II. E o Pai da Igreja, Irineu de Lyon*, escreve
a respeito de Valentino e dos gnósticos:
“Acreditam de fato que o conhecimento
da inexprimível grandeza constitui a
perfeita remissão. Pois, segundo eles, as
imperfeições e as paixões provêm da
ignorância; a Gnose desagrega a substância
que as constitui; e é por isso que a Gnose
liberta o homem interior. Este não é, por
conseguinte, de natureza material ¬– com
efeito, o corpo é mortal – e muito menos
de natureza animal. Por essa razão a
libertação deve ser de natureza espiritual,
pois a alma animal é o resultado das imperfeições,
mas é a morada do Espírito. A
libertação deve, portanto, ser de natureza
espiritual, pois confirma que o homem interior
e espiritual foi expiado pela graça da
Gnose e que os que alcançaram a Gnose
de todas as coisas já nada desejam. Aí está
a verdadeira libertação”.
Atualmente começa-se a reconhecer as
origens gnósticas do cristianismo. Conseqüentemente,
Valentino deve retomar
o lugar que merece como um dos mais
importantes representantes da Gnose
do início da era cristã. A idéia gnóstica
da libertação interior e autônoma do ser
humano continua ativa dentro da vasta
perspectiva da espiritualização de sua
consciência na força de Cristo.

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