quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

Apócrifos - Evangelho Segundo Felipe - parte 1


Os títulos foram colocados pelo editor, não fazem parte do original

Qual é a nossa herança

1 UM HEBREU faz um hebreu e [o] chama desta maneira: "prosélito". Mas um prosélito não faz outro prosélito: [alguns] são como [...] e criam outros: [outros, todavia] se satisfazem com o fato de chegar a existir.
2 O [escravo] apenas aspira a ser livre e não ambiciona os bens do seu senhor; mas o filho não é só filho: reclama para si a herança do pai.
3 Os que herdam dos mortos estão eles mesmos mortos e são herdeiros de mortos. Os que herdam dos vivos vivem eles próprios e são herdeiros de quem está vivo e de quem está morto. Os mortos não herdam de ninguém, pois como pode herdar quem está morto? Se o morto herda de quem está vivo, não morrerá. Antes, viverá com maior razão.
4 Um homem pagão não morre, pois em verdade não viveu nunca, para que logo [possa] morrer. Aquele que chegou a ter fé na verdade, esse encontrou a vida e corre perigo de morrer, pois mantém-se vivo.
5 A partir da vinda de Cristo, o mundo é criado, as cidades tomam-se belas e desaparece tudo que havia fenecido.
6 Enquanto éramos hebreus, estávamos órfãos; apenas possuíamos nossa mãe. Mas ao fazer-nos cristãos, surgiram para nós um pai e uma mãe.

A semeadura

7 Os que semeiam no inverno colhem no verão. O inverno é o mundo; o verão é o outro éon. Semeemos o mundo para que possamos colher no verão! Ao inverno sucede o verão; mas quem se empenha em colher no inverno, não terá colheita, terá de arrancar.
8 Da mesma maneira que alguém como esse, ele [não] produzirá fruto; e não só isso [...]: também no outro Sábado permanece [...] estéril.

9 Cristo veio para resgatar alguns, para salvar outros e redimir outros. Ele resgatou os forasteiros e os fez seus. Ele segregou os seus, penhorando-os segundo sua vontade. Ao manifestar-se, não só se desprendeu da lama quando lhe aprouve, como também, desde o dia em que o mundo teve sua origem, a manteve deposta. Quando quis veio recuperá-la, já que ela havia sido penhorada; havia caído em mãos de ladrões e feita prisioneira. Mas Ele a libertou, resgatando os bons que havia no mundo e os maus.
10 A luz e as trevas, a vida e a morte, os da direita e os da esquerda são irmãos entre si, sendo impossível separar uns dos outros. Por isso nem os bons são bons, nem os maus são maus, nem a vida é vida, nem a morte é morte. Assim é que cada um virá a dissolver-se em sua própria origem desde o princípio; mas os que estão além do mundo são indissolúveis e eternos.

A ilusão dos objetos

11 Os nomes que se dão às vibrações do mundo são susceptíveis de um grande equívoco, pois distraem a atenção do estável para o instável. E, assim, quem ouve (a palavra) "Deus" entende não o estável, mas o instável. O mesmo ocorre com o "Pai", o "Filho", o "Espírito Santo", a "Vida", e "Luz", a "Ressurreição", a "Igreja" e tantos outros; não se entendem os conceitos estáveis, mas sim os instáveis, a não ser que se conheçam de antemão os primeiros. Estes estão no mundo [...]; se estivessem no éon nunca seriam citados no mundo nem estariam entre as coisas terrenas; eles têm seu fim no éon.
12 Só há um nome que não se pronuncia no mundo: o nome que o Pai deu ao Filho. E superior a tudo. Trata-se do nome do Pai, pois o Filho não chegaria a ser Pai se não se houvesse apropriado do nome do Pai. Quem está de posse desse nome o entende, mas não fala dele; mas os que não estão de posse dele não o entendem. A verdade criou diferentes nomes neste mundo, porque sem eles é de todo impossível apreendê-la. A verdade é única e múltipla por nossa causa, para ensinar-nos, através de muitos este único nome por amor.
13 Os Archontes quiseram enganar o homem, vendo que ele tinha parentesco com os verdadeiramente bons: tiraram o nome dos que são bons e o deram aos que não são bons, com o fito de enganar por meio dos nomes e vinculá-lo aos que não são bons. Logo — no caso de que queiram prestar-lhes um favor — farão que se separem dos que não são bons e os integrarão entre os que são bons, que eles conheciam de antes. Pois eles pretendiam raptar o que é livre e fazê-lo seu escravo para sempre.

(...)

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