segunda-feira, 23 de outubro de 2017

O CÂNON NEOTESTAMENTÁRIO

A palavra cânon, para muitos, não é comum. Seu significado etimológico está ligado a
uma planta — o junco, do hebraico qaneh (Ez 40.3). Transliterado para o grego, esse kanón
ou “cana” (“Caule de várias plantas da família das gramíneas, tais como a taquara, o
bambu, a cana-de-açúcar, etc.”, dic. Aurélio), servia como aferidor de medida. Com o correr
do tempo, passou então a significar “padrão”. Seu significado original continuou sofrendo
mutações. Na época do Novo Testamento, o apóstolo Paulo aplicou a palavra cânon como
“regra moral”, em Gálatas 6.16, e “medida”, em 2Coríntios 10.13,14. Foi Orígenes, porém,
quem primeiro a usou como “regra de fé”. Mais tarde, no século 4o, a palavra cânon aparece com o sentido de “lista” dos livros do Antigo e Novo Testamentos.
Quando, então, falamos no cânon do Novo Testamento, estamos, na verdade, nos
reportando à lista dos 27 livros aceitos como divinamente inspirados, que servem como
regra de fé e prática dos cristãos. Canônico, por conseguinte, denota aquilo que está de
acordo com o cânon relacionado aos 66 livros da Bíblia.
Já tivemos a oportunidade de tratar antes sobre a estrutura dos evangelhos. As
perguntas deste capítulo serão as seguintes: “Como essa lista dos 27 livros foi aceita pela
Igreja? Como foi sua seleção? Quem coligiu esses livros como canônicos? Quais foram os
fatores que levaram a isso?”.
 A história do cânon tenta entender de que modo tais coleções e, finalmente, a coleção
do Novo Testamento, tomaram a forma que possuem hoje.
A resposta mais adequada, talvez do ponto de vista estritamente histórico e não tão
objetivo, é que o Espírito Santo direcionou a Igreja a separar o joio do trigo, ou seja, os livros divinamente inspirados de outras obras falsamente atribuídas aos apóstolos, e isso inclui também as literaturas de caráter ortodoxo que tratavam igualmente sobre a fé cristã, mas não possuíam autoridade divina.
Jesus foi categórico quando afirmou: “Mas, quando vier o Espírito da verdade, ele vos
guiará [os apóstolos] em toda a verdade” (Jo 16.13). Os livros do Novo Testamento
possuíam, por assim dizer, o imprimatur divino. Contudo, nosso outro enfoque agora
recairá na parte mais técnica. Iremos mostrar, mediante uma pesquisa histórica mais
objetiva, o desenvolvimento do cânon neotestamentário. É oportuno, entretanto, começar
mostrando, de forma resumida, a história da autoridade do conteúdo desses livros antes da
formação do cânon sagrado, o que poderíamos chamar de um “protocânon”, ou cânon oral.
Aliás, o único cânon escrito usado até então pela Igreja antes da composição dos escritos
apostólicos era a Septuaginta, versão grega do Antigo Testamento usada pelos cristãos como texto-prova para mostrar que Jesus era o Messias prometido pelos profetas (Lc 24.44).
Mesmo uma leitura superficial dos evangelhos mostrará que as palavras de Jesus
possuíam uma autoridade espiritual equiparada à autoridade dos livros do Antigo
Testamento.
 Suas palavras deveriam ser praticadas (Mt 7.24).
 Suas palavras eram eternas (Mt 24.35).
 Suas palavras eram espírito e vida (Jo 6.63).
 Suas palavras eram de vida eterna (Jo 6.68).
 Suas palavras deveriam ser obedecidas (Jo 15.7-10).
 Sua doutrina era de Deus (Jo 7.16,17).
 Sua autoridade era superior à autoridade de Moisés (Jo 5.46).
Logo, Jesus Cristo e, posteriormente, os apóstolos se tornaram o “cânon vivo” da Igreja
enquanto pregavam oralmente a doutrina cristã. Lucas relata que a Igreja perseverava na
“doutrina dos apóstolos” (At 2.42; 5.28). As pregações apostólicas, possivelmente, devem ter sido estereotipadas nas comunidades locais e, por conta disso, houve, também
possivelmente, uma categorização oral dessas pregações. Vejamos como se expressa a
introdução do Novo Comentário da Bíblia: “Além do evangelho escrito, recordado pelos
quatro evangelistas, havia o evangelho falado ou oral, a boa-nova (euangelion) proclamada
por Cristo e pelos discípulos”.
Como vimos, Marcos, bem cedo, talvez por volta do final da década de 40, começa a
escrever seu evangelho, o qual é tomado como base por Mateus e Lucas. Se a corrente de
pensamento acima esposada pela maioria dos críticos modernos for a correta, então Marcos gozou bem cedo de uma autoridade histórica e apostólica. Lucas nos diz que fez uma investigação minuciosa. Duas palavras usadas no original precisam ser destacadas aqui:
akribos (minucioso), que pode ser traduzida para “meticuloso”, “preciso”, “rigoroso”, e
parakoloutheo (investigação), que vem de dois vocábulos gregos: para, que denota “ao lado
de, perto” e akoloutheo, que exprime: 1) Seguir a alguém que precede, juntar-se a ele como
seu assistente, acompanhá-lo; 2) Juntar-se a alguém como um discípulo, tornar-se ou ser
seu discípulo (Strong). Tal foi o exame criterioso que Lucas fez antes de redigir seu
evangelho.
Assim, Lucas, ao se basear em parte no evangelho de Marcos que, segundo a tradição
de Papias, em parte recebera de Pedro, confere implicitamente autoridade apostólica ao
mesmo.
Há de se destacar que, por esse tempo, a coleção das cartas de Paulo já formava o que
muitos chamam de corpus paulinun. Pedro chega a citar as epístolas de Paulo,
equiparando-as às “Escrituras” (2Pe 3.15,16).
Se Pedro escreveu sua epístola entre 66 e 67, como bem atestam alguns estudiosos,
então as cartas do apóstolo já eram consideradas de valor canônico na Igreja primitiva. Dois
pontos podem ser destacados para mostrar esta verdade:
O próprio Paulo acreditava na inspiração de seus escritos, como sugerem alguns
textos (1Co 7.40; 14.37), por serem autorizados (1Co 2.16; 7.17; 14.37,38; 2Ts 3.14).
Paulo ordenava que suas epistolas fossem lidas pelas igrejas (Cl 4.16; 1Ts 5.27).
Como se Formou o Cânon?
Alguns fatores circunstanciais contribuíram para que o cânon dos 27 livros do Novo
Testamento fosse coligido. Vejamos tais fatores:
1) Combate às heresias,
2) Perseguições e
3) Solidificação da religião cristã.
As profecias sobre os falsos mestres, proferidas por Cristo (Mt 24.11), Pedro (2Pe 2.1) e
Paulo (At 20.29,30), haviam começado a se cumprir na época de João (1Jo 2.19; 4.1-3; 2Jo
1.7). Entre as sete igrejas do Apocalipse, aparecem alguns pequenos grupos heréticos da
época, dirigidos por alguns falsos apóstolos (Ap 2.2) que apresentavam a doutrina de Balaão
(Ap 2.14) e dos nicolaítas (Ap 2.15). E também Jezabel, “mulher que se diz profetisa” (Ap
2.20).
Na época, florescia também o gnosticismo, doutrina sincretista que misturava
doutrinas cristãs com ensinamentos pagãos. Os grupos cristãos gnósticos afirmavam que o
corpo de Jesus era apenas ilusório (docético), pois consideravam a matéria má e
pecaminosa, daí as advertências de João em 1João 4.2.
É possível que grupos espúrios da época de Paulo (judaizantes) e João (gnósticos)
começaram a produzir seus próprios escritos, conferindo-lhes autoridade apostólica. Alguns
escritos espúrios em nome dos apóstolos começaram a circular ainda quando eles estavam
vivos. Lucas 1.1-3 parece sugerir que muitos desses escritos, antecedentes ao seu
evangelho, não fossem fidedignos. Subentendemos isso pela advertência que Lucas faz a
Teófilo no versículo 4: “Para que tenhais plena certeza das coisas em que foste ensinado”.
Na segunda metade do século 2o, fervilhavam escritos atribuídos aos apóstolos, tais
como: evangelhos, atos, epístolas e apocalipses. Mas todas essas obras foram produzidas
por grupos heréticos que tentavam propagar e fundamentar suas heresias usando o nome
dos verdadeiros apóstolos de Cristo. Pais da Igreja como Irineu e Tertuliano escreveram
abundantemente combatendo tais grupos e suas respectivas heresias.
Eusébio de Cesaréia, por volta do século 4o, mostra, em sua obra História eclesiástica,
a proliferação dos heresiarcas que existiram desde o final do século 1o até sua época. Foi
também nesse período que começaram a circular pela Igreja muitos escritos de cristãos,
como, por exemplo, o livro catequético Didaquê (Pastor de hermas), entre outros.
Todavia, a necessidade de se ter um cânon autorizado dos livros do Novo Testamento
se fez sentir realmente quando Marcião (140 d.C.), um cristão com tendências gnósticas,
elaborou uma lista particular de livros contendo apenas o evangelho de Lucas e dez
epístolas de Paulo. Os evangelhos e as epístolas que se referiam a Jesus como Filho do Deus
do Antigo Testamento foram rejeitados por Marcião, e também todo o Antigo Testamento. A Igreja reagiu reprovando esse cânon. Agora, restava saber qual era o verdadeiro cânon do
Novo Testamento.
Até então, a Igreja não havia se preocupado em formular uma lista definida dos livros
autênticos ou não. Mas todos os livros que compõem hoje o nosso Novo Testamento foram
aceitos pela Igreja, com exceção, e isso apenas em algumas regiões, dos sete livros finais.
Todavia, isso ocorreu mais por causa do isolamento geográfico entre as igrejas do que por
escolha própria. Na polêmica contra os heréticos, era necessário saber que livros, de fato,
eram autênticos, quais deles estavam revestidos de autoridade divina e quais não.
Conseqüentemente, restava saber que livros deveriam ser lidos como sendo verdadeiramente inspirados nas igrejas.
Os Princípios Usados no Critério de Seleção
Depois da controvérsia com Marcião, os cristãos começaram a acelerar o processo de
canonicidade que já estava em andamento. Em resumo, esse processo seguiu mais ou
menos o seguinte padrão: os livros do Novo Testamento foram escritos pelas testemunhas
oculares ou discípulos de tais testemunhas (Marcos e Lucas); sua leitura foi amplamente
recomendada pelos apóstolos (Paulo, João e Pedro); foram colecionados (epístolas de Paulo) e aceitos pelas igrejas como sendo úteis para dirigir a vida espiritual e doutrinária da Igreja; ganharam aceitação por parte de toda a Igreja e não apenas das congregações locais; e, por último, foram, mais tarde, oficialmente aprovados mediante decisão formal da Igreja. Alguns critérios, no entanto, foram usados pelos cristãos para decidir se um livro era autêntico ou não, dos quais destacamos os seguintes:
A. A Apostolicidade da Obra. O material em consideração pela comunidade
eclesiástica deveria ter sido redigido por um dos doze que conviveram com Jesus. No
entanto, esse critério era um tanto flexível, pois havia pessoas que não foram testemunhas
oculares, mas escreveram obras sobre a vida de Cristo. Então, neste caso, o termo
apostolicidade não precisava significar necessariamente autoria apostólica, poderia ser
autoridade e aprovação apostólica. Temos um bom exemplo nos escritos dos dois
evangelistas, que, apesar de não terem sido do corpo original dos apóstolos, no entanto,
escreveram com a autoridade de um apóstolo. Lembrando que Marcos foi companheiro de
Pedro e Lucas, de Paulo.
B. A catolicidade da obra. Este fator envolve a circulação, o uso e a aceitação do livro.
Já que não era fácil comprovar a autenticidade apostólica, esta característica auxiliou, e
muito, a confecção do cânon. Os autores sagrados haviam deixado discípulos em suas
igrejas, mas só os livros usados pela Igreja como um todo vieram a ser incluídos no cânon.
Como os pastores e membros das várias congregações se comunicavam entre si por cartas,
os livros mais usados se tornaram obviamente conhecidos. Vale a pena lembrar que muitos
livros não foram aceitos por causa desse segundo princípio de aferição. Apesar disso,
alguns, como já dissemos, ficaram restringidos, por algum tempo, a algumas regiões por
falta de comunicação.
C. A ortodoxia na obra. Este foi um dos princípios mais importantes aplicados pelos
líderes das igrejas de então. O ensino da obra deveria concordar com a regra de fé — regula
fidei. Isto é, coerência entre cada livro e a ortodoxia da Igreja. Visto que muitos grupos
heréticos se escoravam em escritos espúrios, a Igreja teve de separar o joio do trigo. Quando a obra apresentava erros teológicos que colidiam com a fé da Igreja como um todo e histórias fabulosas explicitamente reprováveis, era rejeitada.
D. A inspiração da obra. O critério essencial é o mesmo que levou ao reconhecimento
do Antigo Testamento. Um fator preponderante foi o testemunho do Espírito Santo dentro
da Igreja. A inspiração não foi colocada de fora para dentro, mas de dentro para fora, e a
Igreja, como um corpo, discerniu isso. Os livros que iriam ser inseridos na lista canônica
deveriam dar provas cabais dessa inspiração. Os livros apostólicos se mostravam com
autoridade, eram proféticos e, o mais importante, sua mensagem transformava vidas.
Os Primeiros Cânones
Como já vimos, o primeiro a elaborar um cânon na história da Igreja foi Marcião. Mas
como seu cânon era imparcial e tendenciosamente herético, foi imediatamente repudiado
pela Igreja. O fato de Marcião rejeitar certos livros é praticamente uma prova de que tais
livros eram revestidos de autoridade. Não tardou e os principais líderes das igrejas
começaram a atacar a lista proposta pelo herege. Os livros rejeitados por Marcião foram
ardorosamente defendidos por Irineu e Tertuliano, entre outros. Os mesmos estavam
praticamente em uso na Síria, na Ásia Menor e em Roma. A Igreja sentiu a necessidade de
elaborar uma lista oficial dos livros canônicos. Com isso, várias listas começaram a
aparecer. Algumas delas, então, foram sendo criadas pela Igreja. As duas primeiras listas
elaboradas depois de Marcião, quem sabe como uma resposta ao seu cânon particular,
foram o Diatessaron e o Muratoriano.
A. Diatessaron. Em 170 d.C., um cristão chamado Taciano já agregava em uma só
obra os quatro evangelhos.
B. Fragmento muratoriano. Surgido em 170 d.C. (?), tal documento é um manuscrito
do século 8o, cópia do original, descoberto pelo sacerdote italiano Ludovico Antonio
Muratori, no século 13. Alguns o situam até mesmo antes do Diatessaron, por volta de 150
d.C. Essa lista mostra os mesmos livros que temos hoje, com exceção de três epístolas:
Tiago, 2Pedro e Hebreus.
C. O cânon de Orígenes. Orígenes classificou os livros em duas categorias:
homologoumena, conhecidos e aceitos por todos, e antilegomena, aqueles que ainda
perduravam alguma dúvida em algumas regiões, a saber: Hebreus, Tiago, 2Pedro, 1 e 3João,
Judas e alguns apócrifos.
D. O cânon de Atanásio. Em 325 d.C., numa carta enviada à sua Igreja, por ocasião
da páscoa, Atanásio, bispo de Alexandria e campeão da ortodoxia contra o arianismo,
confeccionou uma lista contendo os 27 livros que deveriam ser lidos na Igreja. Essa lista
continha os mesmos livros do nosso atual Novo Testamento.
D. O cânon de Eusébio de Cesaréia. Em 325 d.C., Eusébio seguiu à risca a mesma
lista organizada por Atanásio e classificou os livros em reconhecidos, discutidos e espúrios.
E. Outros cristãos. Clemente de Alexandria, Irineu, Tertuliano e, posteriormente,
Cirilo de Jerusalém (386 d.C.) figuram na história como defensores de um cânon do Novo
Testamento que continham os quatro evangelhos, as epístolas de Paulo, Atos, 1Pedro, 1João e Apocalipse.
F. Concílios da Igreja. O Concílio de Nicéia já havia tocado no assunto, mas foram os
Concílios de Hipona (393 d.C.) e de Cartago (397 d.C.) que ratificaram a lista dos 27 livros
de Atanásio, conservados até hoje em nossa Bíblia.
Por Que Houve Demora na Aceitação de Alguns Livros?
Escritores como Eusébio de Cesaréia classificaram a literatura cristã vigente como
segue:
 No grupo dos homologoumena, os livros aceitos por todos, estavam os quatro
evangelhos, Atos, as epístolas paulinas, 1Pedro e 1João.
 O grupo dos pseudepígrafos compunha os livros rejeitados, ou seja, todos os
apócrifos do Novo Testamento. Geralmente, tais livros eram escritos por seitas
gnósticas, docéticas ou ascéticas. Eis uma lista de alguns desses livros espúrios:
A. Atos Apócrifos
de André Séc. 3o
de João Séc. 2o
de Tiago Séc. 2o
de Paulo Séc. 2o
de Pedro Séc. 1o- 2o
de Tomás Séc. 3o
de Tadeu Séc. 3o
B. Evangelhos Apócrifos
dos hebreus Séc. 1o (?)
dos egípcios ou tradição de Matias Séc. 2o
dos ebionitas ou dos 12 apóstolos Séc. 2o
de Pedro Séc. 2o
de “pseudoTomé” Séc. 2o
Proto-evangelho de Tiago Séc. 2o
Árabe da infância Séc. 2o (?)
Copta de Tomé, o dídimo Séc. 2o
de Filipe Séc. 3o
de Maria Madalena ?
da Verdade ?
de Nicodemos Séc. 2o – 5o
de Matias ?
de Barnabé ?
de André ?
de Judas Iscariotes ?
de Eva ?
de Basílides ?
de Cerinto ?
de Bartolomeu ?
C.Epístolas Apócrifas
3Coríntios Séc. 2o
dos apóstolos Séc. 2o
aos laodicenses Séc. 2o
aos alexandrinos Séc. 2o
Entre Paulo e Sêneca Séc. 3o
D. Apocalipses Apócrifos
de Pedro Séc. 2o
de Paulo Séc. 3o
de Estêvão ?
de Tomé Séc. 4o
de João ?
da Virgem ?
Sibila cristã Séc. 3o
E. Outros Documentos Apócrifos
Declaração de José de Arimatéia Séc. 2o
Descida de Cristo aos infernos Séc. 5o
A cura de Tibério Séc. 6o
A vingança do Salvador ?
Cartas entre Pilatos e Herodes Séc. 5o
Cartas entre Pilatos e Tibério Séc. 5o
Relatório de Pilatos Séc. 7o
Tradição de Pilatos Séc. 7o
A morte de Pilatos ?
Trânsito ou passagem de Maria Séc. 3o – 6o
Livro do descanso Séc. 3o – 6o
História de José, o carpinteiro
O terceiro e último grupo era formado pelos antilegomena, nos quais perduravam
algumas dúvidas, a saber: Hebreus, Tiago, 2Pedro, 1 e 3João, Judas e Apocalipse.
Entre os questionamentos que retardaram sua aceitação em algumas regiões podemos
destacar os seguintes:
 Anonimato. Por não trazer o nome do autor, a epístola aos Hebreus, por algum
tempo, não foi considerada de origem apostólica. Posteriormente, a crítica primitiva
a incorporou às cartas de Paulo.
 Aparente discrepância doutrinária. Um caso típico foi a carta de Tiago, que não era
considerada por muitos de origem apostólica, devido ao aparente conflito entre os
seus ensinos e os ensino do apóstolo Paulo sobre a justificação pela fé. Contudo,
alguns exegetas resolveram esse problema e a carta de Tiago foi incluída nos livros
canônicos.
 Diferenças de estilo. A segunda epístola de Pedro provê um bom exemplo disso. Ao
contrário da carta aos Hebreus, a segunda epístola de Pedro traz o nome do
apóstolo. Todavia, a objeção maior estava relacionada ao seu estilo literário, quando
comparada à primeira carta de Pedro. No entanto, Pedro poderia muito bem ter
lançado mão de um amanuense (escrevente). Se esse foi o caso, fica, então,
explicada a aparente diferença. As epístolas de João e o livro do Apocalipse entram
também nessa categoria.
 Diálogo com livros apócrifos. O problema quanto ao texto de Judas se deu pelo fato
de ele ter citado os livros apócrifos da literatura judaica, como, por exemplo, o livro
de Enoque (v. 14,15) e a assunção de Moisés (v. 9). Mas devemos lembrar que tais
livros não são postos na mesma categoria das Escrituras Sagradas, antes, são
apenas citações de obras não inspiradas, tal como fez o apóstolo Paulo em algumas
de suas epístolas ao citar poetas pagãos (At 17.28).
 Outros fatores. Além de tudo o que já foi falado, há as questões do tamanho, do
caráter particular de cada livro, do seu destino e/ou a falta de aplicabilidade às
necessidades da Igreja naquele período.
Apesar de a maioria dos pais da Igreja se posicionar a favor de muitos desses livros,
outros, porém, não agiam dessa forma, e isso por causa da questão geográfica, que gerava
falta de comunicação entre as igrejas, ou por causa da má interpretação quanto aos ensinos
dos livros. Mas quando o mal-entendido foi desfeito, tais livros foram definitivamente
incluídos no cânon neotestamentário.
O Novo Testamento é Confiável?
A conclusão que tiramos é que o cânon sagrado não foi imposto como decisão de um
concílio qualquer e muito menos de uma pessoa. Não. O cânon, de per si, já prova sua
autenticidade. O que os cristãos fizeram foi apenas reconhecer aquilo que já era regra de fé
há muito tempo nas igrejas cristãs. Apesar de existirem outros escritos sobre Jesus e sua
doutrina corrente na época, aprouve a Deus separar apenas esses 27 livros e marcá-los com
sua autoridade e aprovação para o uso de sua Igreja.
Já ficou sobejamente demonstrada a genuinidade dos evangelhos. Agora se nos
apresentam outras questões:
 O texto que possuímos hoje é realmente aquele que saiu da pena dos evangelistas e
apóstolos ou foi alterado no decorrer dos séculos?
 Houve interpolações, omissões ou corrupções no texto?
Um documento pode ter sido genuíno, mas de nada adianta se as cópias que
possuímos não refletem a mesma fidelidade no conteúdo como foi escrito.
Geralmente, a acusação feita por alguns críticos é de que as nossas cópias são
corrompidas. Entretanto, o Novo Testamento é, sem dúvida, o documento mais bem
atestado da antiguidade. Existem mais cópias dele do que de qualquer outro documento
antigo. São mais de cinco mil manuscritos em grego e versões antigas em siríaco e em
outras línguas. “Entre a redação de Sófocles, Ésquilo, Aristófanes e Tucídides e o primeiro
códice que possuímos desses escritos, há um intervalo de 1400 anos; 1600 para Eurípedes e
Catulo [...] 1200 para Demóstenes; e 700 para Terêncio. As cópias mais antigas existentes
hoje do Novo Testamento são dos séculos 2º e 3º d.C.”.
Todos esses achados tornam o Novo Testamento o texto antigo mais bem
documentado e atestado, quando comparado com outros escritos da antiguidade clássica.
[No original há uma tabela comparando essas datações entre vários outros autores históricos]
Vê-se, facilmente, que se alguém rejeitar a autenticidade histórica do Novo
Testamento, então deverá, por coerência, rejeitar a autenticidade histórica de todos os
demais escritos antigos, porque o Novo Testamento é, de longe, o mais bem atestado, tanto
pelo número de cópias existentes como pela proximidade em anos da cópia mais antiga em
relação ao original. Nenhum outro escrito sequer chega perto do Novo Testamento nesses
critérios.
As Variantes
As variantes existentes nos evangelhos são outro ponto ressaltado pelos críticos para
diminuir sua confiabilidade. Será que tais variantes não podem prejudicar a crença de que
os nossos textos modernos refletem o mesmo texto do original?
Por terem sido produzidos em diferentes áreas e sob diferentes circunstâncias, e
devido aos erros de ortografia dos copistas, alguns manuscritos contêm diferenças entre si,
o que chamamos de variantes textuais.
Bruce Metzger, uma das maiores autoridades em grego neotestamentário da
atualidade, afirma que as diferenças não afetam substancialmente nenhuma doutrina
cristã.
Norman Geisler e Willian Nix acrescentam: “O Novo Testamento, então, não apenas
sobreviveu em maior número de manuscritos que qualquer outro livro da antiguidade, mas
sobreviveu em forma mais pura que qualquer outro grande livro – uma forma 99,5% pura”.
Grasso cita o parecer de algumas autoridades como Amiot e Hort ao se expressar da
seguinte maneira: “No conjunto dos manuscritos se encontram, aproximadamente, 250 mil
variantes, incluindo as citações dos padres antes do século 4o e das antigas traduções. A
maioria delas é insignificante: refere-se somente à ortografia e à disposição das palavras.
Segundo Hort, 7/8 do texto estão fora de discussão. As variantes que modificam o texto
abrangem a milésima parte dele: somente umas quinze variantes têm certa importância;
contudo, nenhuma delas toca a substância do dogma estabelecido pelas passagens
criticamente certas, sem termos a necessidade de lançar mão de textos duvidosos”.

Fonte: Apologética do Novo Testamento - Universidade da Bíblia ® www.universidadedabiblia.com.br
www.universidadedabiblia.net

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