NESSE pequeno artigo eu vou provar que a maioria das pessoas
que dizem que não existe filosofia oriental é analfabeta (e não é metáfora). O
argumento mais usado para defender a ideia de que não existe filosofia oriental
é dizer que filosofia é uma palavra grega e se refere à uma maneira peculiar de
pensar ou uma construção do pensamento inventada Grécia (principalmente
referindo-se a criação de sistemas), e que não se pode simplesmente usar o
significado ao pé da letra como amizade ou amor à sabedoria.
Usando esse mesmo critério vamos dissecar um pouco esse
argumento. Vamos primeiro testa-lo se é um critério válido usando em outras
palavras. Por exemplo, fala-se em sabedoria dos filósofos, ou que há uma
sabedoria oriental ou que se pode no máximo falar em sabedoria oriental, mas
não em filosofia. Ora, sábio e sabedoria não são termos quaisquer que se
referem a qualquer espécie de pensamento ou filosofia. Todo estudioso da
filosofia sabe (ou pelo menos deveria saber) que sabedoria não se refere a
qualquer saber ou quantidade ou qualidade de saber, mas foi um termo criado pelos
estoicos, para se referir à sabedoria estoica e que sábio, nesse contexto, seria
um adjetivo cabível apenas a um mestre estoico, não a qualquer filósofo. Então
não podemos a rigor usar esse termo para outras formas de pensamento seja
oriental ou ocidental da mesma forma que não se poderia usar “filosofia” para quaisquer
outras formas de pensamento que não os da tradição filosófica ocidental.
Portanto não se pode, por exemplo, dizer que há filósofos sábios, a não ser que
ele seja um mestre estoico. Esse teste é apenas um exemplo. Sigamos.
Vamos agora, ao contrário, usar outra palavra, não a palavra
mesma, mas um termo oriental em seus equivalentes ocidentais. “Escrita”, por
exemplo. Esse termo na china antiga para se referir à linguagem escrita
chinesa. Todos sabem que os chineses não utilizam “caracteres alfabéticos”,
eles se utilizavam então apenas de ideogramas. Nós não usamos ideogramas, mas
um alfabeto, portanto a palavra “escrita”, que se refere a ideogramas não pode
ser usada para a linguagem simbólica alfabética que usamos. Melhor inventar
outra palavra, pois, NA ORIGEM (e esse é o critério dos que afirmam que não
existe filosofia oriental aplicam, só enfatizando) a palavra “escrita” se
refere à outra coisa que é feito na china e em outros países do oriente. Este teste
é outro exemplo.
Mas vamos também questionar, usando o mesmo critério, o uso das
palavras alfabeto, alfabetizado e analfabeto. A palavra alfabeto se refere
claramente ao alfabeto grego que inicia com as letras chamadas alfa e beta. Nós
usamos o famoso, A-B-C, romano. NÃO, desse modo, o alfabeto, caracteres gregos.
A palavra alfabeto se refere em sua origem a outra coisa, o realmente alfabeto,
criado na Grécia. Temos que usar outra palavra então, chamemos de A-B-C, por
exemplo, e àqueles que leem, poderiam ser chamados de algo como “abeceados”,
não de alfabetizados.
Portanto essas pessoas que falam que não existe filosofia
oriental, com exceção daquelas que leem grego (e compreendem o que estão lendo
é claro) não podem ser chamados de alfabetizados. Eles são, portanto,
analfabetos.
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