Digha Nikaya 26
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1. Em certa ocasião o Abençoado
estava entre os Magadhas em
Matula. Lá ele se dirigiu aos monges desta forma: “Bhikkhus”.
– “Venerável Senhor”, eles responderam. O Abençoado disse o seguinte:
“Bhikkhus, sejam ilhas para vocês mesmos, refúgios para
vocês mesmos, buscando nenhum refúgio externo; com o Dhamma como a sua ilha, o
Dhamma como o seu refúgio, buscando nenhum outro refúgio.[1] E como, um
bhikkhu é uma ilha para ele mesmo, um refúgio para ele mesmo, buscando nenhum
refúgio externo; com o Dhamma como a sua ilha, o Dhamma como o seu refúgio,
buscando nenhum outro refúgio? Quando ele permanece contemplando o corpo como
um corpo, [2] ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de
lado a cobiça e o desprazer pelo mundo; quando ele permanece contemplando as
sensações como sensações, a mente como mente, os objetos mentais como objetos
mentais, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo
colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo, então, verdadeiramente, ele é uma ilha para ele mesmo, um refúgio
para ele mesmo, buscando nenhum refúgio externo; tendo o Dhamma como a sua
ilha, o Dhamma como o seu refúgio, buscando nenhum outro refúgio.
“Mantenham-se no seu próprio
domínio bhikkhus [3], no
seu território ancestral. [4]
Se vocês assim fizerem, então Mara não terá sua oportunidade, Mara não se
estabelecerá. É acumulando estados benéficos que o mérito se incrementa.
2. “Certa vez, bhikkhus, houve um
monarca chamado Dalhanemi que girou a roda, um monarca justo que governou de
acordo com o Dhamma; conquistador dos quatro pontos cardeais, que estabeleceu a
segurança no seu reino e que possuía os sete tesouros. Que são: a Roda
Preciosa, o Elefante Precioso, o Cavalo Precioso, a Jóia Preciosa, a Mulher
Preciosa, o Tesoureiro Precioso e como sétimo o Conselheiro Precioso. Ele tinha
mais de mil filhos que eram corajosos e heróicos e que aniquilavam os exércitos
inimigos. Ele governava tendo conquistado esta terra circundada pelo mar, sem
bastão ou espada, através do Dhamma. Mas se ele deixasse a vida em família e
seguisse a vida santa, então ele se tornaria um arahant, um Buda perfeitamente
iluminado, aquele que remove o véu do mundo.
3. “Depois de muitas centenas e
milhares de anos o Rei Dalhanemi disse para um certo homem: ‘Meu homem, no
momento em que você vir que a Roda Preciosa tenha deslizado da sua posição,
relate isso para mim.’ ‘Sim, senhor,’ o homem respondeu. E depois de muitas
centenas e milhares de anos o homem viu que a Roda Preciosa havia deslizado da
sua posição. Vendo isso, ele relatou esse fato ao Rei. Então o Rei Dalhanemi
mandou buscar o seu primogênito, o príncipe herdeiro, e disse: ‘Meu filho, a
Roda Preciosa deslizou da sua posição. E eu ouvi dizer que quando isso
acontecesse para um monarca que gira a roda, ele não teria mais muito tempo de
vida. Eu estou saciado dos prazeres humanos, agora é o momento de buscar os
prazeres divinos. Você, meu filho, assuma o controle desta terra circundada
pelo oceano. Eu irei raspar o meu cabelo e barba, vestirei os mantos de cor
ocre e deixarei a vida em família pela vida santa.’ E tendo instalado, da forma
requerida, o seu filho mais velho como rei, o Rei Dalhanemi raspou o seu cabelo
e barba, vestiu os mantos de cor ocre e deixou a vida em família pela vida
santa. E sete dias depois que o sábio real havia seguido a vida santa, a Roda
Preciosa desapareceu.
4. “Então um certo homem veio até
o Rei Khattiya ungido e disse: ‘Senhor,
você deve ser informado que a Roda Preciosa desapareceu.’ Em vista disso o Rei
sentiu pesar e tristeza. Ele foi até o sábio real e relatou-lhe o que havia
acontecido. E o sábio real disse: ‘Meu filho, você não deve sentir pesar ou tristeza
pelo desaparecimento da Roda Preciosa. A Roda Preciosa não é uma herança de
família. Mas agora, meu filho, você precisa se tornar um Monarca que gira a
roda. [5] E então poderá
ocorrer que, se você realizar os deveres de um Monarca que gira a roda, no
Uposatha do décimo quinto dia, tendo lavado a sua cabeça e ido para o terraço
no topo do palácio para o dia de Uposatha, a Roda Preciosa surgirá para você,
com mil raios, com a roda, o cubo, completa em todos os aspectos.’
5. “Mas qual, senhor, é o dever
de um Monarca que gira a roda?” “É o seguinte, meu filho: Você, na dependência
do Dhamma, honrando-o, reverenciando-o, amando-o, homenageando-o e venerando-o,
tendo o Dhamma como sua insígnia e bandeira, reconhecendo no Dhamma o seu
mestre, você deve estabelecer guarda, defesa e proteção de acordo com o Dhamma
para a sua própria família, suas tropas, seus nobres e vassalos, para Brâmanes
e chefes de família, pessoas que vivam nas cidades e no campo, contemplativos e
Brâmanes, para animais e pássaros. [6] Não permita que o crime
[7] prevaleça no seu
reino e para os necessitados, lhes dê o que necessitem. E quaisquer
contemplativos e Brâmanes que no seu reino tiverem renunciado à vida dos
prazeres sensuais e estiverem dedicados à renúncia e à nobreza, cada um se
domesticando, cada um se acalmando, cada um se esforçando para dar um fim ao
desejo, se de tempos em tempos eles vierem consultá-lo quanto a o que é
benéfico e o que é prejudicial, o que é criticável e o que é isento de crítica,
o que deve ser seguido e o que não deve ser seguido e qual ação irá no longo
prazo conduzir ao dano e sofrimento e qual irá conduzir ao bem-estar e
felicidade, você deveria ouví-los e dizer-lhes que evitem o mal e façam o bem.
[8] Esses, meu filho,
são os deveres de um Monarca que gira a roda.”
“Sim, senhor,” respondeu o Rei, e
ele realizou os deveres de um Monarca que gira a roda. E ao fazer isso, no
Uposatha do décimo quinto dia, tendo lavado a cabeça e ascendido até o terraço
no topo do seu palácio para o dia de Uposatha, a Roda Preciosa surgiu para ele,
com mil raios, com a roda, o cubo, completa em todos os aspectos. Então o Rei
pensou: “Eu ouvi que quando um Rei Khattiya ungido vê essa roda no último dia
da quinzena, ele se tornará um Monarca que gira a roda. Que eu possa me tornar
um monarca assim!”
6. “Então, levantando-se do seu
assento e arrumando o manto externo sobre o ombro, o Rei tomou um vaso com água
com a mão esquerda, borrifou a Roda com a mão direita e disse: ‘Gire para
adiante, boa roda preciosa; triunfe, boa roda preciosa!’ Então a roda preciosa
girou para adiante na direção leste e o Rei a seguiu com o seu exército. E em
qualquer região na qual a Roda parasse, o Rei estabelecia residência com o seu
exército. E aqueles que antes a ele se opunham na região leste vinham e diziam:
‘Venha, grande Rei; bem vindo, grande Rei; comande, grande Rei; aconselhe,
grande Rei.’ E o Rei dizia: ‘Vocês não devem matar seres vivos; vocês não devem
tomar aquilo que não for dado; vocês não devem agir de forma imprópria em
relação aos prazeres sensuais; vocês não devem dizer mentiras; vocês não devem
beber bebidas embriagantes; sejam moderados na alimentação.’[9] E aqueles que antes a
ele se opunham na região leste se tornavam seus súditos.
7. “Então, a roda preciosa
mergulhou no oceano do leste e emergiu outra vez. E nisso, ela girou para
adiante, na direção sul ... E aqueles que se opunham na região sul se
submeteram ao Rei. Então, a roda preciosa mergulhou no oceano do sul e emergiu
outra vez. E nisso, ela girou para adiante, na direção oeste ... E aqueles que se opunham na região oeste
se submeteram ao Rei. Então, a roda preciosa mergulhou no oceano do oeste e
emergiu outra vez. E nisso, ela girou para adiante na direção norte ... E
aqueles que se opunham na região norte se submeteram ao Rei.
“Agora, quando a roda preciosa
triunfou sobre a terra de oceano a oceano, ela retornou para a capital real e
permaneceu como que presa pelo eixo ao portão do principal palácio do Rei, como
um adorno no portão do palácio principal.
8. “E um segundo Monarca que gira
a roda fez o mesmo e um terceiro, um quarto, um quinto, um sexto e um sétimo
monarca também …. disse para um certo homem vigiar se a Roda Preciosa
deslizasse da sua posição (igual ao verso 3).
E sete dias depois do sábio real ter seguido a vida santa, a Roda
Preciosa desapareceu.
9. “Então um certo homem veio até
o Rei e disse: ‘Senhor, você deve ser informado que a Roda Preciosa
desapareceu.’ Em vista disso o Rei sentiu pesar e tristeza. Mas ele não foi até
o sábio real para lhe perguntar sobre os deveres de um Monarca que gira a roda.
Ao invés disso, ele governou o povo de acordo com as suas próprias idéias, e
sendo assim governado, o povo não prosperou tão bem quanto havia prosperado sob
os reis anteriores, que haviam realizado os deveres de um Monarca que gira a
roda. Então os ministros, conselheiros, funcionários do tesouro, guardas e
porteiros e os recitadores de mantras vieram até o Rei e disseram: ‘Senhor, enquanto
você governar o povo de acordo com as suas próprias idéias, diferente da forma
que ele foi governado sob os monarcas anteriores, o povo não irá prosperar bem.
Senhor, há ministros … no seu reino, nós mesmos inclusive, que preservaram o
conhecimento sobre como um Monarca que gira a roda deveria governar.
Pergunte-nos, Majestade e nós lhe diremos!’
10. “Então o Rei ordenou que os
ministros e todos os demais se reunissem e ele os consultou. E eles explicaram
os deveres de um Monarca que gira a roda. E tendo ouvido o que eles disseram, o
Rei estabeleceu guarda , defesa e proteção, mas ele não atendeu as necessidades
dos necessitados e como resultado a pobreza se espalhou. Com a disseminação da
pobreza, um homem tomou algo que não lhe havia sido dado, dessa forma cometendo
o que passou a ser chamado de roubo. Eles o prenderam e o trouxeram perante o
Rei dizendo: ‘Majestade, este homem tomou algo que não lhe foi dado, que
chamamos de roubo.’ O Rei disse: ‘É verdade que você tomou algo que não lhe
havia sido dado – que é chamado de roubo?’ ‘Sim é, Majestade.’ ‘Porque?’
‘Majestade, eu não tenho nada para o meu sustento.’ Então o Rei lhe deu alguns
bens dizendo: ‘Com isto, meu bom homem, você poderá se manter, sustentar sua
mãe e pai, manter uma esposa e filhos, levar adiante um negócio e presentear os
contemplativos e Brâmanes, o que irá promover o seu bem-estar espiritual e
conduzir a um feliz renascimento com um resultado prazeroso no plano
celestial.’ ‘Muito bem, Majestade,’ o homem respondeu.
11. “E exatamente a mesma coisa
aconteceu com um outro homem.
12. “Então, as pessoas ouviram
que o Rei estava distribuindo bens para aqueles que tomassem algo que não lhes
houvesse sido dado e assim elas pensaram: ‘E se nós fizéssemos o mesmo!’ E
então um outro homem tomou algo que não lhe havia sido dado e eles o trouxeram
perante o Rei. O Rei perguntou porque ele havia feito aquilo e ele respondeu:
‘Majestade, eu não tenho nada para o meu sustento.’ Então o Rei pensou: ‘Se eu
der bens para todos aqueles que tomarem algo que não lhes foi dado, os roubos
irão crescer cada vez mais. Melhor eu dar um fim nisso, dar um fim de uma vez
por todas, cortar a cabeça dele.’ Assim ele ordenou aos soldados: ‘Prendam os
braços deste homem para trás com uma corda forte, raspem a cabeça dele e
conduzam-no ao rufar dos tambores pelas ruas e praças e para fora da cidade
pela porta do sul, lá dêem um fim nele aplicando a pena capital, decepando a
sua cabeça!’ E assim eles fizeram.
13. “Ouvindo sobre o ocorrido, as
pessoas pensaram: ‘Vamos obter espadas afiadas e depois poderemos tomar de
qualquer um aquilo que não nos for dado, daremos um fim em todos, daremos um
fim em todos de uma vez por todas, cortaremos as suas cabeças.’ Assim, tendo
obtido algumas espadas afiadas, elas se lançaram em assaltos homicidas sobre
vilarejos, vilas e cidades e também se dedicaram ao roubo nas estradas, matando
as suas vítimas cortando-lhes a cabeça.
14. “Assim, por não haver
generosidade para com os necessitados, a pobreza se disseminou, do incremento
da pobreza, o tomar o que não é dado se disseminou, do incremento do roubo, o
uso de armas se disseminou, do incremento do uso de armas, o ato de tirar a
vida se disseminou e do incremento do ato de tirar a vida, o tempo de vida das
pessoas diminuiu, a sua beleza diminuiu e como resultado da diminuição do tempo
de vida e da beleza, os filhos daqueles cujo tempo de vida havia sido oitenta
mil anos passaram a viver apenas quarenta mil. E um homem da geração que viveu
por quarenta mil anos tomou algo que não lhe foi dado. Ele foi trazido perante
o Rei que lhe perguntou: ‘É verdade que você tomou algo que não lhe foi dado –
que é chamado de roubo?’ ‘Não, Majestade,’ ele respondeu, dizendo assim uma
mentira deliberada.
15. “Assim, por não haver
generosidade para com os necessitados … o tirar a vida se disseminou e do
incremento do tirar a vida, a mentira se disseminou e do incremento da mentira,
o tempo de vida das pessoas diminuiu, a sua beleza diminuiu e como resultado da
diminuição do tempo de vida e da beleza, os filhos daqueles cujo tempo de vida
havia sido quarenta mil anos passaram a viver apenas vinte mil. E um homem da
geração que viveu por vinte mil anos tomou algo que não lhe foi dado. Um outro
homem o denunciou para o Rei, dizendo: ‘Senhor, o fulano tomou algo que não lhe
foi dado,’ falando assim mal de outrem. [10]
16. “Assim, por não haver
generosidade para com os necessitados … o falar com malícia se disseminou e
como conseqüência, o tempo de vida das pessoas diminuiu, a sua beleza diminuiu
e como resultado da diminuição do tempo de vida e da beleza, os filhos daqueles
cujo tempo de vida havia sido vinte mil anos passaram a viver apenas dez mil. E
na geração que viveu por dez mil anos, alguns eram belos e outros eram feios. E
aqueles que eram feios, sentindo inveja daqueles que eram belos, cometiam
adultério com as esposas deles.
17. “Assim, por não haver
generosidade para com os necessitados … a conduta sexual imprópria se disseminou
e como conseqüência, o tempo de vida das pessoas diminuiu, a sua beleza
diminuiu e como resultado da diminuição do tempo de vida e da beleza, os filhos
daqueles cujo tempo de vida havia sido dez mil anos passaram a viver apenas
cinco mil. E na geração que viveu por cinco mil anos, duas coisas se
disseminaram: a linguagem grosseira e a linguagem frívola, e como conseqüência,
o tempo de vida das pessoas diminuiu, a sua beleza diminuiu, e como resultado
da diminuição do tempo de vida e da beleza, os filhos daqueles cujo tempo de
vida havia sido cinco mil anos passaram a viver, alguns, apenas dois mil e
quinhentos e outros, dois mil. E na geração que viveu por dois mil e quinhentos
anos, a cobiça e a raiva se disseminaram, e como conseqüência, o tempo de vida das
pessoas diminuiu, a sua beleza diminuiu, e como resultado da diminuição do
tempo de vida e da beleza, os filhos daqueles cujo tempo de vida havia sido
dois mil e quinhentos anos passaram a viver apenas mil. E na geração que viveu
por mil anos, o entendimento incorreto [11] se disseminou … e como conseqüência, os filhos daqueles cujo
tempo de vida havia sido mil anos passaram a viver apenas quinhentos. E na
geração que viveu por quinhentos anos, três coisas se disseminaram: o incesto,
o desejo excessivo e as práticas depravadas [12] … e como conseqüência,
os filhos daqueles cujo tempo de vida havia sido quinhentos anos passaram a viver,
alguns, apenas duzentos e cinqüenta e outros, apenas duzentos. E na geração que
viveu por duzentos e cinqüenta anos, três coisas se disseminaram: falta de
respeito pela mãe e pelo pai, por contemplativos e Brâmanes, e pelo cabeça do
clã.
18. “Assim, por não haver
generosidade para com os necessitados … a falta de respeito pela mãe e pelo
pai, por contemplativos e Brâmanes, e pelo cabeça do clã se disseminou, e como
conseqüência, o tempo de vida das pessoas diminuiu, a sua beleza diminuiu, e os
filhos daqueles cujo tempo de vida havia sido duzentos e cinqüenta anos
passaram a viver apenas cem.
19. “Bhikkhus, virá um tempo em
que os filhos dessas pessoas terão um tempo de vida de dez anos. E com isso, as
meninas estarão prontas para casar com cinco anos de idade. E assim, estes
sabores desaparecerão: manteiga líquida, manteiga, óleo de sésamo, melaço e
sal. Para essas pessoas o grão de kudriisa [13] será o alimento
principal, da mesma forma como o arroz e o caril (curry) são hoje. E com elas,
os dez tipos de conduta virtuosa irão desaparecer por completo e os dez tipos
de conduta não virtuosa irão prevalecer: para aqueles que possuírem um tempo de
vida de dez anos não haverá uma palavra para “virtude” [14] então, como poderá
haver alguém que pratique ações virtuosas? Aquelas pessoas que não tenham
respeito pela mãe e pelo pai, por contemplativos e Brâmanes, e pelo cabeça do
clã, serão aquelas que desfrutarão de honra e prestígio. Tal como é agora com
as pessoas que demonstram respeito pela mãe e pelo pai, por contemplativos e
Brâmanes, e pelo cabeça do clã, que são elogiadas e honradas, assim será com
aqueles que fizerem o oposto.
20. “Entre aqueles com um tempo
de vida de dez anos ninguém irá se dar conta de mãe ou tia, da cunhada da mãe,
ou da esposa do mestre, ou da esposa do pai de alguém, e assim por diante –
haverá completa promiscuidade no mundo igual a bodes e cabras, porcos e porcas,
cães e chacais. Entre eles, haverá forte inimizade, ódio violento, raiva
violenta e pensamentos de matar, mãe contra filho e filho contra mãe, pai
contra filho e filho contra pai, irmão contra irmão, irmão contra irmã, da
mesma forma como o caçador sente ódio pelo animal que ele está caçando.
21. “E para aqueles com um tempo
de vida de dez anos, haverá um tempo de ‘intervalo das espadas’ de sete dias,
durante o qual eles verão um ao outro como animais selvagens. Espadas afiadas
irão surgir nas mãos deles e o
pensamento: ‘Ali está um animal selvagem!’ eles irão matar uns aos
outros com aquelas espadas. Mas haverá alguns que irão pensar: ‘Não matemos
mais ou que não haja mais mortes! Vamos para florestas remotas, rios difíceis
de atravessar, ou montanhas inacessíveis, e vivamos das raízes e frutas da
floresta.’ E isso eles fazem por sete dias. Então, ao final dos sete dias, eles
emergem dos seus esconderijos e se regozijam em comunhão dizendo: ‘Seres bons,
vejo que vocês estão vivos!’ E então o seguinte pensamento irá ocorrer nesses
seres: ‘Foi só por termos nos habituado aos modos ruins e prejudiciais que
sofremos a perda dos nossos semelhantes, façamos o bem! Que coisas boas
poderemos fazer? Vamos abster-nos de tirar a vida – essa será uma boa prática.’
E assim eles se abstêm de tirar a vida e, tendo adotado essa ação benéfica,
eles a praticarão. E por ter realizado essas coisas benéficas, o seu tempo de
vida se incrementa e a beleza se incrementa. E os filhos daqueles cujo tempo de
vida havia sido dez anos passaram a viver vinte anos.
22. “Então irá ocorrer a esses
seres: ‘É pela adoção de práticas benéficas que incrementamos nosso tempo de
vida e a beleza, portanto, dediquemo-nos ainda mais a práticas benéficas. Vamos
nos abster de tomar aquilo que não nos for dado, da conduta sexual imprópria,
da linguagem mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira, da
linguagem frívola, da cobiça, da má vontade, do entendimento incorreto; vamos
nos abster de três coisas: incesto, desejo excessivo e práticas depravadas;
vamos ter respeito pela mãe e pelo pai, por contemplativos e Brâmanes e pelo
cabeça do clã e vamos perseverar nessas ações benéficas.’
“E assim eles farão essas coisas
e como conseqüência disso o seu tempo de vida e a beleza se incrementarão. Os
filhos daqueles cujo tempo de vida havia sido vinte anos passaram a viver até
quarenta, os filhos deles passaram a viver até oitenta, os filhos deles
passaram a viver até cento e sessenta, os filhos deles passaram a viver até
trezentos e vinte, os filhos deles passaram a viver até seiscentos e quarenta;
os filhos daqueles cujo tempo de vida havia sido de seiscentos e quarenta anos
passaram a viver até dois mil anos, os seus filhos passaram a viver até quatro
mil anos, os filhos deles passaram a viver até oito mil anos e os seus filhos
passaram a viver até vinte mil anos. Os filhos daqueles cujo tempo de vida
havia sido de vinte mil anos passaram a viver até quarenta mil anos e os filhos
deles passaram a viver até oitenta mil anos.
23. “Entre aquelas pessoas com um
tempo de vida de oitenta mil anos, as meninas estarão prontas para casar com
quinhentos anos de idade. E essas pessoas conhecerão apenas três tipos de
enfermidades: desejo, jejum e envelhecimento.[15] E na época dessas
pessoas, este continente de Jambudipa será poderoso e próspero; vilarejos,
vilas e cidades estarão muito próximas uma das outras. Jambudipa, tal como
Avici [16] estará tão
cheio de gente quanto uma mata está cheia de capim e arbustos. Nessa época, a
Benares de hoje será uma cidade real denominada Ketumati, rica, próspera e
populosa, repleta de gente e bem suprida. Em Jambudipa haverá oitenta e quatro
mil cidades lideradas por Ketumati como a capital real.
24. “E na época das pessoas com
um tempo de vida de oitenta mil anos, irá surgir na capital Ketumati um rei
chamado Sankha, um monarca que irá girar a roda, um monarca justo de acordo com
o Dhamma, conquistador dos quatro pontos cardeais… (igual ao verso 2).
25. “E na época das pessoas com
um tempo de vida de oitenta mil anos, irá surgir no mundo um Abençoado chamado
Metteyya [17], sublime,
digno, perfeitamente iluminado, consumado no verdadeiro conhecimento e conduta,
bem-aventurado, conhecedor dos mundos, um líder insuperável de pessoas
preparadas para serem treinadas, mestre de devas e humanos, iluminado, sublime.
Ele irá declarar - tendo realizado por si próprio com o conhecimento direto -
este mundo com os seus devas, maras e brahmas, esta geração com seus
contemplativos e sacerdotes, seus príncipes e povo. Ele irá ensinar o Dhamma,
com o significado e fraseado corretos, que é admirável no início, admirável no
meio, admirável no final; e ele irá revelar uma vida santa que é completamente
perfeita e imaculada. Ele será acompanhado por milhares de bhikkhus tal como eu
sou acompanhado por centenas.
26. “Então o Rei Sankha irá
reconstruir o palácio que uma vez foi construído para o Rei Maha-Panada e tendo
ali vivido, ele irá renunciá-lo e presenteá-lo para os contemplativos e
Brâmanes, os mendigos, os transeuntes, os destituídos. Então, raspando o cabelo
e a barba, ele irá vestir os mantos de cor ocre e deixar a vida em família pela
vida santa sob a orientação do supremo Metteyya. Permanecendo só, isolado,
diligente, ardente e decidido, em pouco tempo, ele alcançará e permanecerá no
objetivo supremo da vida santa pelo qual membros de um clã deixam a vida em
família pela vida santa, tendo conhecido e realizado por si mesmo no aqui e
agora.
27. “Bhikkhus, sejam ilhas para vocês mesmos, refúgios para
vocês mesmos, buscando nenhum refúgio externo; com o Dhamma como a sua ilha, o
Dhamma como o seu refúgio, buscando nenhum outro refúgio. E como, um bhikkhu é
uma ilha para ele mesmo ... ? Quando ele permanece contemplando o corpo como um
corpo, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo colocado de
lado a cobiça e o desprazer pelo mundo; quando ele permanece contemplando as
sensações como sensações, a mente como mente, os objetos mentais como objetos
mentais, ardente, plenamente consciente e com atenção plena, tendo
colocado de lado a cobiça e o desprazer pelo mundo.
28. “Mantenham-se no seu próprio
domínio bhikkhus, no seu território ancestral. Se vocês assim o fizerem, o seu
tempo de vida irá se incrementar, a sua beleza irá se incrementar, a sua
felicidade irá se incrementar, a sua riqueza irá se incrementar, seu poder irá
se incrementar.
“E qual é o tempo de vida para um
bhikkhu? Neste caso, um bhikkhu desenvolve a base do poder espiritual [18] que possui
concentração devido ao desejo e às formações volitivas do esforço. Ele
desenvolve a base do poder espiritual que possui concentração devido à energia
e às formações volitivas do esforço. Ele desenvolve a base do poder espiritual
que possui concentração devido à mente e às formações volitivas do esforço. Ele
desenvolve a base do poder espiritual que possui concentração devido à investigação e às
formações volitivas do esforço. Ao praticar com freqüência essas quatro bases
do poder espiritual, ele poderá se quiser, viver por todo um século, ou a parte
que faltar para um século. Isso é o que chamo de tempo de vida para um bhikkhu.
“E o que é a beleza para um
bhikkhu? Neste caso, um bhikkhu pratica a conduta correta, ele vive contido
pelas regras do Patimokkha, perfeito na conduta e na sua esfera de atividades,
temendo a menor falha ele treina adotando os preceitos de virtude. Essa é a
beleza para um bhikkhu.
“E o que é a felicidade para um
bhikkhu? Neste caso um bhikkhu, isolado dos prazeres sensuais entra no primeiro
jhana, segundo, terceiro, quarto jhana. Essa é a felicidade para um bhikkhu.
“E o que é riqueza para um
bhikkhu? Neste caso um bhikkhu, permanece permeando o primeiro quadrante com a
mente imbuída de amor bondade, da mesma forma o segundo, da mesma forma o
terceiro, da mesma forma o quarto; assim, acima, abaixo, em volta e em todos os
lugares, para todos bem como para si mesmo, ele permanece permeando o mundo
todo com a mente imbuída de amor bondade, abundante, transcendente,
imensurável, sem hostilidade e sem má vontade. Depois, com a mente imbuída de
compaixão, … com a mente imbuída de alegria altruísta, … com a mente imbuída de
equanimidade, … ele permanece permeando o mundo todo com a mente imbuída de
equanimidade, abundante, transcendente, imensurável, sem hostilidade e sem má
vontade. Essa é a riqueza de um bhikkhu.
“E o que é o poder para um
bhikkhu? Neste caso, um bhikkhu, com a eliminação das impurezas, permanece num
estado livre de impurezas com a libertação da mente e a libertação pela
sabedoria, tendo conhecido e manifestado isso para si mesmo no aqui e agora.
Esse é o poder para um bhikkhu.
“Bhikkhus, eu não considero que
exista um outro poder tão difícil de ser conquistado quanto o poder de Mara. É
apenas acumulando estados benéficos que o mérito se incrementa.”
Isso foi o que disse o Abençoado.
Os bhikkhus ficaram satisfeitos e contentes com as palavras do Abençoado.
Abreviações:
DA Digha
Nikaya Atthakatha
Notas:
[1] Veja também o DN 16.2.26 e SN XLVII.13. [Retorna]
[3] Gocare: com o sentido
literal de ‘pastagens.’Veja também o SN XLVII.6. [Retorna]
[4] Pettike visaye: 'o
âmbito dos seus antepassados'.[Retorna]
[5] Cakkavatti-vatte vattahi. vatta significa tanto ‘girar’ como
‘dever’. [Retorna]
[6] Asoka, que se esforçou em
viver de acordo com o ideal do monarca que gira a roda estabeleceu hospitais
para animais. [Retorna]
[7] Adhamma-karo: ‘não
agir de acordo com o Dhamma.’ [Retorna]
[8] A palavra interpretada como
‘bem’ é a mesma mencionada antes como ‘benéfico’, isto é kusala. Também
pode ser interpretado como hábil. [Retorna]
[9] O sentido literal é ‘coma de
acordo com o comer’. O significado não é muito claro e pode também ser
interpretado como ‘governe (colete impostos) com moderação.’ [Retorna]
[10] Muito embora a acusação seja
justificada! Mas a denúncia foi feita com malícia [Retorna]
[11] Miccha-ditthi [Retorna].
[12] Miccha-dhamma [Retorna].
[13] Um tipo de centeio. [Retorna]
[14] Kusala O verdadeiro
significado é a habilidade em reconhecer as conseqüências cármicas das ações
praticadas – em outras palavras não ter miccha-ditthi [Retorna].
[15] Parece não haver
enfermidades em si: a morte resulta apenas da alimentação excessiva ou
inadequada ou o processo inevitável de envelhecimento. Os acidentes também
parecem estar excluídos. [Retorna]
[16] Nos comentários Avici é o
inferno mais inferior. [Retorna]
[17] O próximo Buda, talvez
melhor conhecido pelo nome Maitreya em Sânscrito.[Retorna]
[18] Iddhi-pada: caminhos
para o poder ou sucesso. Concentração fundamentada na aspiração (chanda-samadhi),
na energia (viriya-samadhi), na consciência (citta-samadhi), na
investigação (vimamsa-samadhi). [Retorna]
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