O historiador britânico Leslie Page publicou em 1987 o livro "Karl Marx e o exame crítico de suas
obras".¹
A obra cobre um período de quarenta anos, de 1844-1894, e é baseada nas edições
inglesas das "Marx/Engels
Collected Works" (Obras Reunidas de Marx/Engels) e "Marx/Engels Selected Works"
(Obras Selecionadas de Marx/Engels). Um segundo volume com o mesmo título foi
publicado no ano 2000.²
Page pretendeu destacar as opiniões geralmente desconhecidas ou omitidas
de Marx e Engels sobre diversos assuntos como: a revolução,
o terror revolucionário, o uso da força e o terrorismo. As obras
de Page contribuíram para o debate que se desenvolveu sobre até que ponto Marx
poderia ser responsabilizado pelas experiências do socialismo
real.
Inicialmente Page destaca o Manifesto Comunista, a Mensagem do
Comitê Central à Liga dos Comunistas (1850), e as publicações do Die Neue Rheinische Zeitung (Nova
Gazeta Renana), publicado em Colônia a partir de 1 de junho de 1848 a 19 de maio de 1849. Marx e Engels
dirigiram o jornal, Marx sendo o seu redator-chefe. No artigo "Marx e a Nova Gazeta Renana"
publicado em 1884 Engels declara "A
composição editorial era simplesmente a ditadura de Marx".³ Lênin descreveu o
jornal como "o mais belo e
insuperável órgão do proletariado revolucionário".
Revolução
Engels declarou que 1873 que "Uma
revolução é certamente a coisa mais autoritária que existe; é o
ato pelo qual uma parte da população impõe a sua vontade sobre a outra parte
por meio de fuzis, baionetas e canhões [...]; e se o partido vitorioso não
deseja ter lutado em vão, deve manter esta prática por meio do terror
que suas armas exercem nos reacionários."4
Terrorismo
Engels publicou na Nova Gazeta
Renana dois artigos intitulados "The
Magyar Struggle" (A luta Húngara) e "Democratic Pan-Slavism" (Pan-eslavismo Democrático).
Engels prescreveu em "Democratic
Pan-Slavism" que: "Somente
pelo mais determinado terrorismo contra os povos Eslavos nós poderemos,
juntamente com os poloneses e húngaros, assegurar a Revolução". E
na mesma página escreve ele: Então
haverá uma luta, uma luta de vida-e-morte inexorável com o Eslavismo que trai a
revolução; uma batalha de aniquilação e terrorismo cruel - não nos
interesses da Alemanha, mas nos interesses da Revolução!"
Em "The Magyar
Struggle" Engels afirma: "...
Entre todas as grandes e pequenas nações da
Áustria, somente três lideranças do progresso tiveram uma parte ativa na
história e retêm ainda sua vitalidade – Alemães, Poloneses e Húngaros. Por isso
eles são revolucionários.
Todas as outras grandes e pequenas
nacionalidades e povos estão destinados a perecer num futuro próximo na
tempestade revolucionária mundial. Por esta razão eles são
contra-revolucionários.
[...] A próxima guerra mundial resultará no desaparecimento
da face da terra não somente das classes e das dinastias
reacionárias, mas também de todos os povos reacionários. E isso, também,
é um passo adiante."
Terror revolucionário e uso da
Força
No Manifesto Comunista Marx e Engels afirmam que "Os Comunistas" proclamam "abertamente que os seus objetivos só
podem ser alcançados derrubando pela violência toda a ordem social existente".
Segundo Marx, (Nova Gazeta
Renana, 11 de
julho de 1848), "só existe um modo pelo qual as agonias
assassinas de morte da velha sociedade e o nascimento sangrento da nova
sociedade pode ser encurtado, simplificado e concentrado, e esse modo é o terror
revolucionário."5
"A força", diz Marx
em O Capital,
"é a parteira de toda velha
sociedade em trabalho de parto de uma nova".6
O "Plano de guerra contra
a democracia"
Na página 50 de "Karl Marx
and Critical Examination of his Works" (1987) Leslie Page refere-se
a obra "The Red Prussian: The
Life and Legend of Karl Marx" do autor Leopold Schwarzschild
publicado em 1947 nos Estados unidos e em 1948 na Grã-bretanha. Schwarzschild
faz uma citação da Mensagem do
Comitê Central à Liga dos Comunistas – 1850 ("Mensagem"). Este documento, escrito por
Marx e Engels, era, como Marx disse numa carta para Engels (13 de Julho, 1851),
"no fundo nada mais do que um
plano de guerra contra a democracia".7
Uma nota na página 674 do Volume 10 (1978) das "Marx/Engels Collected Works" (Obras Reunidas de
Marx/Engels) diz que a "Mensagem"
"continha as proposições
fundamentais do programa e das táticas marxistas".
Segundo Robert Payne , (Marx,
p. 239), "Embora pouco
conhecido e raramente estudado", a "Mensagem"
é "um dos mais importantes e
seminais do século XIX", ela "agiu
como uma bomba que possuía um fusível atrasado, explodindo somente no século
XX".8
O programa e das táticas recomendas por Marx e Engels incluíam: "a organização secreta e pública do
partido dos trabalhadores" – com o "armamento de todo o proletariado, com fuzis, carabinas, canhões e
munições" – assumindo a direção "aos chamados excessos, aos atos de vingança popular contra
indivíduos odiados ou contra edifícios públicos que o povo só relembre com
ódio" - montando - "conselhos
municipais revolucionários" - estabelecendo "governos dos trabalhadores revolucionários… ao lado dos novos
governos oficiais".
"Durante o conflito e imediatamente após
o combate, os operários, antes de tudo e tanto quanto possível, têm de agir
contra a pacificação burguesa e obrigar os democratas a executar as suas atuais
frases terroristas."
Os trabalhadores deveriam: "Obrigar
os democratas a intervir em tantos lados quanto possível da organização social
até hoje existente, a perturbar o curso regular desta, a comprometerem-se a
concentrar nas mãos do Estado o mais possível de forças produtivas, de meios de
transporte, de fábricas, de caminhos-de-ferro, etc." – se esforçar
para garantir "a mais decidida
centralização do poder nas mãos do Estado" – "levar ao extremo as propostas dos
democratas" e "ditar-lhes
condições tais que a dominação dos democratas burgueses contenha em si desde o
início o germe da queda".
- PAGE, Leslie R.; Karl Marx and Critical
Examination of his Works. Londres: Freedom Association, 1987.
- PAGE, Leslie R.; Karl Marx and Critical
Examination of his Works – Part 2. Londres: Sentinel Publishing, 2000.
- Marx-Engels, Selected Works, (Moscou,
1958), Vol. 2, p. 300.
- Marx-Engels,
Selected Works, (Moscou, 1977), Vol. 2, p. 379
- Marx-Engels,
Collected Works, Vol. 7, (Londres, 1975), p.506
- K.
Marx, Capital, Vol. 1, Part VIII, Chap. XXXI (1983) p.703
- Selected Correspondence (1941), p. 39; Marx-Engels, Werke,
Vol. 27 (1963), p.278. Apud PAGE, Leslie R.; Karl Marx and Critical
Examination of his Works. Londres: Freedom
Association, 1987. p. 50
- PAYNE, Robert; Marx. Londres: W. H.
ALLEN & COMPANY, 1968.
N.D.E.: Esse texto também pode ser encontrado em
conjunto com outras críticas no site wikipedia.
Excelentes referências críticas a respeito do marxismo.
ResponderExcluirÉ impressionante como o mercado editorial brasileiro de ciências humanas está defasado (e não creio que seja por acaso)
Essas obras poderiam ter mudado o rumo da história do Brasil.
Muito obrigado. Perdoe a demora, se ver esse comentário. Estive tendo muitos problemas com o Google, ia até sair por isso. Por isso não respondi.
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