Vimos que a segunda liberdade pode ser entendida falsamente, e que assim ela degenera em violência a coerção. Mas em seu verdadeiro entendimento, sem negar a primeira liberdade, mas pressupondo-a inevitavelmente, a segunda liberdade é mais elevada, ela é a liberdade última, a autêntica libertação do homem desse mundo. A libertação genuína é dada pelo conhecimento e a realização da Verdade, que inclui em si a liberdade. Alcançar a mais alta liberdade, como um objetivo de vida, significa alcançar a autêntica espiritualidade. O espírito é liberdade e, na espiritualidade, na vida espiritual, não existe nenhuma determinação exterior, não existe compulsão, não existe situação externa. Uma posição externada com coerção de uma parte sobre outra é característica do mundo natural. A vida espiritual é uma vida livre, e nisso está seu sinal constitutivo. Alcançar a espiritualidade equivale a superar a tragédia da liberdade, suas contradições são desfeitas, o que parecia até então insuperável. A espiritualidade autêntica implica a iluminação do irracional, daquela que até então era a liberdade escura, mas sem sua aniquilação, sem forçá-la. O problema da liberdade não pode ser resolvido dentro dos limites da filosofia racional. A dialética não consegue preenchê-lo, as dificuldades insuperáveis permanecem. Mas a cognição filosófica pode se aproximar de seus limites e ir além, fornecendo a solução final a outras áreas. Estou inclinado a pensar que é nisso que consiste a tarefa da filosofia em todas as áreas da cognição. Uma filosofia que desvende a dialética da liberdade nos conduzirá ao Cristianismo, como uma solução positiva para a tragédia da liberdade, a tragédia da liberdade e da necessidade. O problema da liberdade do homem, tão difícil para o pensamento filosófico, só pode ser resolvido pela ideia do Deus-homem e da humanidade Divinizada, que vai além dos limites da filosofia pura. Apenas no Deus-homem se revela uma saída para além da fronteira do mal existente na liberdade e o bem existente na necessidade, da liberdade que gera o mal e da necessidade que compele à bondade, e nesse ponto se alcança a iluminação e a transfiguração da liberdade, de uma liberdade cheia de amor, não a liberdade do primeiro Adão, ainda considerada como a liberdade do mal, mas antes a liberdade do segundo Adão, que pelo livre amor conquistou os princípios obscuros da liberdade. Isso com certeza não quer dizer que, tanto na filosofia quanto na teologia Cristã, bem como na prática Cristã, o problema da liberdade tenha sido devidamente colocado e corretamente resolvido. Ao contrário, aqui surgiram algumas das maiores divergências. A liberdade e a graça muitas vezes são colocadas em oposição, e a graça é vista como uma força acima da liberdade. Mas o Cristão, em seu ideal de pureza, inclui em si a resolução do problema da liberdade. Fora do Cristianismo, o determinismo é essencialmente inevitável. Toda filosofia naturalista é determinista. E quando a filosofia espiritualista procura estabelecer uma base para a liberdade, ela o faz fracamente e com contradições, identificando a liberdade com a substância, isso é, dentro de uma categoria naturalista. Uma questão difícil para a metafísica Cristã está em reconciliar a liberdade do homem com a onipotência de Deus, com a onisciência Divina. A partir desse fundamento gerou-se o ensinamento sobre a predestinação, que encontrou suma máxima expressão em Calvino. Mesmo Santo Agostinho encontrou aqui uma dificuldade insuperável. O caminho mais crível seria aquele no qual existe consciência, que a liberdade constitui uma linha limítrofe para a presciência de Deus, que o próprio Deus coloca um limite à sua presciência, uma vez que Ele deseja a liberdade vê na liberdade o sentido da criação. A esse ponto de vista inclina-se Charles Secrétan em sua obra La Philosofie de la Liberté, uma das mais sutis investigações filosóficas a respeito da liberdade.
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