terça-feira, 10 de setembro de 2024

Morte, morrer, pos-morte - terceira parte - Avaliação dos relatos atuais

Avaliação dos relatos atuais da vida após a morte

Após tomar conhecimento dos livros atuais sobre a vida após a morte, o leitor tem a impressão que a morte não tem nada de assustadora, que, ao ir para o "além," sensações agradáveis automaticamente o aguardam tais como: serenidade, alegria e a permanência na Luz que a todos ama e perdoa; isto porque não há distinção entre os justos e os pecadores, os que crêem e os que não crêem. Este fato colocou em alerta alguns pensadores cristãos e os fez suspeitar desse tipo de literatura. Começaram a perguntar: "Será que essa visão da Luz não seria sedução (engodo) diabólica astuta a fim de adormecer a vigilância dos cristãos? - Viva como quiser, vai para o paraíso de qualquer jeito."

Por essa razão, os pesquisadores John Ankenberg e John Weldon mantém uma posição negativa em relação a toda literatura atual sobre estados "próximos à morte" , vendo neles apenas truques ocultos [9]. Mesmo assim, examinando com atenção os relatos atuais de pessoas que sobreviveram à morte clínica, tem-se a convicção que a maioria deles realmente teve visões reais, e não seduções diabólicas. O problema principal não são as visões, e sim a sua interpretação feita por médicos e psiquiatras, distantes do Cristianismo.

Em primeiro lugar, nem todos os mortos temporariamente mereceram ver a Luz. Já mencionamos os estudos detalhados do Dr. Ring, que mostram que a Luz aparece a uma relativamente pequena porcentagem de pessoas que tiveram experiências de morte temporária. Dr. Maurice Rawlings [4], que reanimou pessoalmente muitos moribundos, afirma que, percentualmente, o numero de pessoas que vêem trevas e horrores é o mesmo do que as que vêem a Luz.

Essa é a opinião também do Dr. Charles Garfield que lidera pesquisas na área dos estados próximos à morte. Ele escreve: "Nem todos morrem de uma forma tranqüila e agradável... Entre os pacientes questionados por mim, há quase o mesmo número de pessoas que experimentaram sensações desagradáveis (encontros com seres semelhantes ao demônio) quanto as que tiveram sensações agradáveis. Alguns deles experimentaram ambas as sensações" [10, pág.54-55]. Há base para supor que muitos, às vezes conscientemente, outros inconscientemente, calam sobre suas sensações desagradáveis pós - morte. A impressão do Dr. Rawlings é que algumas visões são tão horríveis, que o inconsciente das pessoas que as viram, automaticamente as apaga da memória. No seu livro, Dr. Rawlings traz exemplos dessas amnésias. Psiquiatras, tratando de pessoas que sofreram traumas na infância (tais como estupro ou espancamento) sabem sobre esquecimento seletivo semelhante. Além disso, pessoas que tiveram visões luminosas as relataram com mais vontade do que as pessoas que tiveram visões terríveis. Isso porque, aquilo que a pessoa vê "lá" deve estar de acordo com aquilo que ela mereceu com sua vida virtuosa ou pecaminosa. Desta forma, há dois fatores que desequilibram a preponderância dos relatórios: a) o processo da amnésia seletiva e b) não querer espalhar coisas ruins a respeito de si mesmo.

Carl Osis testemunha que, durante a pesquisa da questão da morte entre os hindus, revelou-se que durante o processo da morte, aproximadamente um terço dos hindus experimenta medo, depressão e grande nervosismo pela aparição de "yamdats - o anjo da morte hindu e outros monstros do além (3). Aparentemente, a religião hindu com seu misticismo pagão, pode proporcionar ao homem uma aproximação com forças das trevas do além, o que se manifesta depois em visões assustadoras nos momentos que precedem a morte.

Da literatura dos Santos Padres sabemos que a sedução demoníaca - é um perigo real. O Apóstolo Paulo adverte que: "o Satanás toma o aspecto do Anjo da luz" (4). Ao mesmo tempo, o diabo não tem poder para seduzir qualquer um, quando e como ele quer: suas ações são limitadas por Deus. Se o homem é orgulhoso e deseja ardentemente ver algo sobrenatural, milagroso, algo que outras pessoas não conseguem, ele se encontra em grande perigo de tomar o demônio por anjo. Na literatura espiritual, este estado chama-se "sedução" (pvélest em russo). Correm perigo cair em "sedução" os noviços voluntariosos, servidores de Deus vaidosos, profetas e curadores autodenominados e também pessoas que praticam mística pouco saudável tal como: meditação transcendental, ioga, espiritismo, ocultismo, etc... Dos relatos das pessoas que passaram por morte temporária não se apreende que eles praticassem algo semelhante. Na maioria dos casos, eram pessoas comuns que por força de uma ou outra doença física morreram, mas, graças aos esforços dos médicos e ao sucesso da medicina moderna, foram reanimadas. Elas não esperavam ter nenhuma visão sobrenatural e aquilo, que lhes foi dado ver, foi obra da misericórdia divina, para que elas encarassem a vida de uma forma mais séria. É difícil concordar com a idéia que Deus tenha permitido ao demônio seduzir estes sofredores, pouco tentados na vida espiritual. Além disso, de acordo com os relatos coletados por Dr. Morse [7], essa Luz foi vista por muitas crianças, as quais, por força da sua pureza e inocência, encontram-se sob a proteção do Supremo.

Nos livros ortodoxos a respeito da vida pós morte, há relatos sobre aparições dos demônios aos moribundos e sobre a passagem das almas pela fase de "mítarstvo - russo" (sobre isso relataremos abaixo). No entanto, esses livros mostram que os demônios, normalmente, começam a atemorizar a alma após a chegada do anjo-da-guarda, que a acompanha no caminho ao trono de Deus. Além disso, na presença do anjo, os demônios são obrigados a mostra-se com sua real aparência abominável.

Ainda a respeito dos relatos modernos sobre a descrição da Luz, fica pendente uma questão, que é ,como harmoniza-los com os tradicionais relatos cristãos. Na literatura ortodoxa, o reino da Luz é descrito a medida que se aproxima do Céu, enquanto que na literatura atual, as pessoas viram a Luz, não tendo ainda cruzado a linha misteriosa que separa o nosso mundo do outro. Nós pensamos que as pessoas que experimentaram a morte temporária, ainda não estiveram no paraíso ou inferno verdadeiro.

Quando os anjos apareciam aos santos, eles irradiavam luz; os apóstolos no monte Tabor viram Luz espiritual, apesar de fisicamente estarem ainda nesse mundo. Deus, por sua misericórdia, mostra essa Luz maravilhosa para reforçar a vida na virtude. O contato com essa Luz sempre revela sentimentos de paz e felicidade. A luz do demônio, ao contrário, traz consigo um sentimento de obscura inquietação. Ela incute no homem um sentimento de superioridade, promete conhecimentos, mas não há amor nela, é uma luz fria.

Deve-se acrescentar, que a revisão da vida pela qual as pessoas passaram ao ter o contato com a Luz, quando tiveram de reavaliar moralmente os seus atos e a conseqüente melhora no modo de vida, nos leva a crer que as visões destas luzes eram visões do bem, e não seduções diabólicas. Porque diz-se "pelos seus frutos vai reconhece-los" (Mat. 7:16). Não é o demônio que procura afastar o homem de Deus? É possível que ele iria ajudar os homens a reforçar a fé e a virtude?

No entanto, em um plano mais amplo, uma pessoa de fé deve ser muito cuidadosa com visões e experiências místicas. Assim, em conseqüência ao surgimento de grande número de casos de pessoas que reviveram após a sua morte clínica, alguns médicos e psiquiatras começaram a propor a criação de um novo ramo da ciência acerca da alma e da vida pós - morte. Não há dúvida que é sempre possível comparar, coletar e sistematizar informações sobre o que as almas viram ao "outro mundo." No entanto, deve-se entender que o papel de médicos e psiquiatras resume-se à compilação dos casos. Isto porque nós, os vivos, não temos o contato direto com o mundo espiritual, portanto não há possibilidade de planejar e controlar os estados pós - morte como se fossem experiências de laboratório.

Além disso, devemos lembrar-nos que a vida do homem encontra-se nas mãos de Deus. Somente Ele determina o momento da morte e o destino da alma, após a separação dela do corpo. Por isso, as tentativas de realizar experiências nessa área entram em conflito com a vontade de Deus e levam o experimentador ao contato com os espíritos caídos do além. Como resultado disso, os dados coletados por eles não serão verdadeiros e as conclusões estarão erradas. O monge Seraphim Rose escreve sobre isto: "Muitos pesquisadores atuais reconhecem, ou pelo menos referem-se com simpatia ao ensino oculto na área de estados fora de corpo por um único motivo, ou seja, que ele se baseia em experiências que também é a base da ciência. Mas experiências no mundo material diferem substancialmente das "experiências" na área de estados fora do corpo. No mundo material, os objetos estudados e as leis da natureza são moralmente neutros e portanto podem ser pesquisados com objetividade e a experiência repetida por outros. Mas, no caso em questão, os objetos estudados estão ocultos dos homens, dificilmente captados e freqüentemente manifestam vontade própria com o intuito de enganar o observador" [8, pág.127-128]. Isso ocorre porque a esfera do mundo espiritual próximo de nós está repleta de seres conscientemente malévolos, demônios, que são especialistas na área de sedução. Eles tomarão parte, prazerosamente, em qualquer experiência e a direcionarão convenientemente.

Por isto, devemos levar muito a sério a advertência do monge Seraphim. Assim, atualmente, uma série de pesquisadores, tendo iniciado com casos fidedignos de morte clínica, passaram a experiências pessoais na área dos estado fora-do-corpo. Tendo ignorado o ensino cristão e a experiência de muitos séculos da Igreja Ortodoxa, eles começaram a estudar estados do corpo "astral "e embrenharam-se no ocultismo. Infelizmente, isso ocorreu com o Dr. Moody, com uma psiquiatra chamada E. Kubler-Ross e alguns outros. Dr. Moody, por exemplo, tendo escrito 3 livros valiosos com dados confiáveis, começou a fazer experimentos nas áreas de teosofia e meditação transcendental. Recentemente, ele editou um livro sobre esse tema, chamado "Coming Back" (O Retorno), no qual ele aborda delírios hindus típicos sobre reencarnação. (Veja no suplemento a análise sobre esse ensino).

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Texto extraído de: https://www.fatheralexander.org/booklets/portuguese/life_death_p.htm#n2


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