Holodomor
Holodomor é uma palavra de origem ucraniana composta por dois termos: “holod”, que significa fome, e “mor”, que significa praga ou morte. Juntas, elas significam aproximadamente “assassinato por fome” e se referem ao brutal período de penúria alimentar imposto pelo regime soviético na Ucrânia entre 1932 e 1933.
Em 1928, Josef Stálin, líder soviético desde a morte de Vladimir Lênin em 1924, iniciou um grande processo de modernização nacional com o Primeiro Plano Quinquenal. Este tinha como objetivo principal impor a coletivização da agricultura privada, aumentando a produção para vender os excedentes para as potências interessadas; assim, planejava-se custear a industrialização nacional tão ambicionada pelo regime soviético.
Tal projeto, porém, acabou por gerar uma grave crise na URSS, uma vez que os fazendeiros mais abastados - pejorativamente conhecidos como kulaks - tiveram que renunciar forçosamente a suas terras e ir embora dos campos, sendo tratados como inimigos da revolução caso se recusassem. No caso de resistência, as famílias eram arrancadas de suas casas e enviadas para locais inóspitos sem qualquer comida ou proteção, onde eram abandonadas à espera da morte. Também seriam deportados intelectuais e religiosos no mesmo período, de forma a quebrar qualquer organização mais veemente contra os planos do governo central.
Paulatinamente, a base agrícola mais produtiva foi sendo aniquilada, enquanto a população cada vez mais pobre refugiava-se nas cidades. Neste cenário, apenas a Ucrânia conseguiria produzir bons resultados nas colheitas de 1930, quando o país produziu sozinho 1/3 do trigo de toda a URSS. Entretanto, logo no ano seguinte, os primeiros sinais do espectro da fome começaram a ser vistos. Primeiramente, graças aos resultados agrícolas ruins ocorridos no resto da União Soviética, o governo central confiscara quase metade da produção ucraniana de 1930, o que em grande medida prejudicava a alimentação da população das cidades.
Além disso, historiadores ucranianos consideram atualmente que a corrente stalinista acreditava o país, que passava por um movimento nacionalista desde os anos 1920 pela independência, deveria ser fragilizado para manter-se fiel ao governo central, procedendo então para negar qualquer ajuda nos anos que se seguiriam. Dessa forma, o Holodomor teria sido planejado por Stálin e seus aliados para melhor dominar um dos mais importantes membros da URSS.
Em 1932, mesmo diante da escassez acentuada por problemas relacionados ao clima, às pragas, à falta de equipamento apropriado para a colheita e aos próprios camponeses desinteressados pelo projeto de coletivização, o governo central ainda se recusava a fornecer qualquer auxílio. Ao invés disso, foi aumentando ainda mais as metas mensais a serem cumpridas pela Ucrânia. A fome passou a ser cotidiana enquanto novas medidas previam a prisão de qualquer pessoa, independentemente da idade, que fosse flagrada carregando comida para fora dos campos onde trabalhavam. Eventualmente, o próprio estoque pessoal dos trabalhadores seria confiscado.
No início de 1933, uma rebelião em larga escala sabotou a linha de produção da Ucrânia. O governo central viu o evento como o início de uma contrarrevolução, destruindo-a com severidade: cerca de 100.000 pessoas acabariam presas e enviadas aos gulags, os campos de trabalhos forçados soviéticos. No auge da fome, em meados do ano, 30.000 pessoas morreriam por dia na Ucrânia, embora a União Soviética continuasse a negar oficialmente que esse fosse o caso enquanto continuava a exportar toneladas de comida para o exterior. De acordo com relatórios soviéticos, na época tornou-se aceitável consumir carne humana na Ucrânia.
Após cerca de 15 milhões de mortes, o Holodomor apenas cessou após o programa econômico que levara à coletivização da agricultura ter sido ajustado. O evento em si só seria admitido com ressalvas pela União Soviética em 1987, durante o governo de Mikhail Gorbachev. Em 2006, a Ucrânia aprovou uma lei reconhecendo o Holodomor como um evento genocida, após o qual seria acompanhado por mais de 20 países. Entretanto, ainda não existe reconhecimento oficial da ONU neste sentido.