As ordens religiosas e militares remontam à Idade Média, ao tempo das cruzadas, na sequência da tomada de Constantinopla, pelos Turcos, em finais do século XI, e da violência a que estes sujeitaram os peregrinos que se dirigiam à Terra Santa. Tiveram a missão de defenderem os lugares santos do Cristianismo, de protegerem e assistirem as populações e peregrinos e de colonizarem as terras conquistadas aos seguidores do Islão.
Após o decreto do Papa Urbano II (de 1088 a 1099), no Concílio de Clermont, da conquista da Palestina, surgem as cruzadas com cerca de seiscentos mil fiéis que, em nome da religião católica, formam um exército monástico-militar, que parte em direção a Constantinopla e, depois de dominar Niceia e Antioquia, consegue tomar Jerusalém. Em 1099, Godofredo de Bulhão é eleito defensor do Santo Sepulcro e alguns cavaleiros cruzados impulsionam aí uma albergaria ou hospital que desde 1048 recebia e apoiava os peregrinos. São estes que dão origem à primeira Ordem Militar, a Ordem dos Hospitalários ou de São João de Jerusalém, mais tarde conhecida também como de Rhodes ou de Malta. Nove cavaleiros que se albergaram numa parte do Templo de Salomão formaram a Ordem dos Cavaleiros do Templo, ou Templários.
Ordem dos Hospitalários ou de S. João de Jerusalém – começou por ser uma casa religiosa de recolha de peregrinos em Jerusalém, fundada em 1048. Pouco tempo depois, foi erigido junto a esta casa um hospital com capela própria. Em 1113, o papa Pascoal II mandou erigir a congregação, sob o nome de S. João, e deu-lhe regra própria. Em 1120 o Grão-mestre da congregação, Raimundo de Puy, acrescentou, para além dos cuidados com os doentes, o serviço militar. Após a queda de Jerusalém (1187) e de Acre (1291), às mãos dos muçulmanos, os Hospitalários têm de abandonar a Palestina, instalando-se, em 1312, na Ilha de Rhodes. Passou a chamar-se Ordem de Malta, a partir de 1530, ao estabelecer-se na ilha do mesmo nome, que passou a ser a sua sede. Esta Ordem entrou em Portugal no início do século XII, por volta de 1122 e 1128. No entanto, só tem importância militar em Portugal no último quartel do século XII. Em 1194, D. Sancho I doou-lhes a terra de Guindintesta para aí construírem um castelo a que pôs o nome de Belver. D. Sancho II doou-lhes, em 1232, as terras do Crato. O grão-mestre desta Ordem passou, a partir de 1340, a ser designado por prior do Crato, por aí se situar a sede da Ordem.
Ordem dos Templários ou dos Cavaleiros do Templo ou Ordem de Cristo – inicialmente intitulada milícia dos Pobres Cavaleiros de Cristo, é fundada por nove cavaleiros, chefiados por Hugo de Payem. Mas é S. Bernardo quem faz a sua propaganda no ocidente e consegue o apoio da Igreja. Depois de, em finais do século XIII, a ordem do Templo ter abandonado o Próximo Oriente, visto estar aí já extinto o domínio cristão, todos os seus seguidores regressaram aos países de origem. Só na Península Ibérica se mantinham as condições para que a Ordem mantivesse as atividades para que fora criada: a luta contra os muçulmanos. Por ser muito poderosa economicamente, a ela recorrendo os reis e senhores quando em dificuldades financeiras, tornou-se para eles uma ameaça a anular. Filipe-o-Belo, rei de França, foi um dos líderes da campanha que levou ao desaparecimento desta Ordem. Foi extinta em 1312, por ordem do papa Clemente V, que determinou a passagem dos seus bens para a Ordem dos Hospitalários, com exceção dos reinos peninsulares. Em Portugal, D. Dinis procurou junto de Roma a criação de uma nova Ordem, a dos Cavaleiros de Nosso Senhor Jesus Cristo, que foi instaurada por bula de João XXII em 1319. Esta Ordem, com regra beneditina, recebeu todos os bens que eram da Ordem do Templo, tendo sido sediada em Castro Marim (zona de fronteira com os Mouros); em 1357 a sede foi transferida para Tomar. Foi de reconhecida importância o seu papel nas conquistas e na expansão ultramarina, sobretudo pela ação do seu administrador, D. Henrique.
Outras ordens simultaneamente religiosas e militares aparecem como necessidade de defesa contra os mouros e dos peregrinos que se dirigem aos diversos locais de devoção. Estão neste caso a Ordem de Calatrava e a Ordem de Santiago da Espada.
A Ordem de Calatrava – fundada por S. Raimundo, surgiu para defender a cidade fronteiriça de Calatrava contra os ataques dos mouros. Confirmada em 1164 pelo Papa Alexandre III, estabelece-se, também em Portugal, com sede em Évora. Depois recebe como doação diversas localidades, incluindo Avis, passando os “Freires de Évora” a serem conhecidos por “Freires de Avis”. No entanto, sem data precisa, aparece a Ordem de Avis independente da de Calatrava.
Ordem de Avis – a data da criação desta Ordem é desconhecida, mas, tal como as suas congéneres, terá começado por uma associação de cavaleiros com o objetivo de combater os muçulmanos, por meados do século XII. No reinado de D. Afonso Henriques existia uma associação com o nome de Freire de Évora, integrada na Ordem de Calatrava de Castela, que recebeu do rei a doação de diversos castelos expostos aos ataques dos mouros. Em 1211, D. Afonso II doou a estes freires o lugar de Avis que, mais tarde, viria a ser a sua sede. Esta Ordem seguia a regra beneditina, o hábito tinha uma cruz vermelha florenciada e na sua bandeira figuravam também duas aves. A independência da Ordem em relação a Calatrava ter-se-á dado no reinado de D. João I e, nesta altura, a cruz passou a ser verde. As dignidades da Ordem eram: Mestre, Comendador-mor, Chaveiro, Alferes-mor e Sacristão-mor. Possuía, no início do século XVIII, terras no Alto Alentejo e no Ribatejo.
A Ordem de Santiago da Espada ou simplesmente Ordem de Sant’Iago – terá começado, tal como outras, por uma pequena associação de cavaleiros para combate aos Mouros na zona de Leão. Foi oficializada por Fernando de Leão em 1170, que lhe doou dois anos mais tarde a vila de Cáceres. A Ordem rapidamente se espalhou por Castela e Portugal, onde recebeu vários castelos a sul do Tejo. Foi confirmada por bula papal em 1175. Com o avanço da reconquista para sul, o papel dos cavaleiros da Ordem foi de destaque e por isso receberam numerosos castelos, no Baixo Alentejo e Algarve. Entre estes castelos estava o de Palmela, no qual a Ordem, já independente da de Castela, se estabeleceu. A separação da Ordem de Castela foi muito contestada, apesar de deferida por bula do papa Nicolau IV de 1288. Depois destes vários documentos pontifícios confirmaram e anularam a separação. Esta, no entanto, manteve-se, e só foi confirmada definitivamente em 1452, por bula do papa Nicolau V. Os seus estatutos foram publicados em 1509, 1542 e 1548. A sua bandeira principal era vermelha com cruz de braços iguais florenciada e, mais tarde, passou a ter como único símbolo a cruz em forma de espada.
Em Portugal, as ordens religiosas militares foram extintas a 30 de junho de 1834, por um diploma que tornou aplicável às ordens militares o decreto, de 30 de maio do mesmo ano, que extinguiu os conventos religiosos.
Nos séculos X e XI não surgiram só as ordens religiosas e militares, mas também várias ordens religiosas com missões de apoio, ensino, missionação e assistência dos desfavorecidos, como a Ordem dos Beneditinos, a Ordem de Cluny ou a Ordem de Cister. Estas ordens religiosas são diversas, embora as masculinas se costumem agrupar em Cónegos Regrantes, Ordens Monásticas, Ordens Mendicantes e Clérigos Regulares; e as femininas, dependendo ou não de uma ordem masculina (1.ª Ordem) se designem em Segunda Ordem ou Ordens Terceiras.
Ordens religiosas militares in Artigos de apoio Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2018. [consult. 2018-12-03 20:12:35]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/apoio/artigos/$ordens-religiosas-militares.