Do Livro Homem: Sua Verdadeira Natureza e Ministerio
Por
Louis Claude de Saint-Martin
O Homem se agarra no mundo exterior
No estado de apatia em que o homem se encontra mergulhado, através de suas ilusões diárias, e estudando somente a ordem externa da natureza, ele não vê nem a fonte de sua ordem aparente e nem aquela de sua desordem; o homem se identifica com este Universo externo; ele não pode deixar de considerar tal universo como um mundo exclusivo e de existência própria. E neste estado de coisas, a idéia que tem maior dificuldade de acesso ao homem, é aquela da degeneração de nossa espécie e a de queda da própria natureza; O homem, perdeu os direitos que deveria ter sobre a natureza ao deixar de usá-los e acabou confundindo esta natureza obscura e cega com ele mesmo e com a sua própria essência.
Se o homem pudesse, por um momento, ter uma visão mais correta e mais benéfica da ordem externa, uma simples observação seria o suficiente para mostrar-lhe, de uma vez, a real degradação de sua espécie, a dignidade de seu ser e sua superioridade sobre esta ordem externa.
Como pode o homem negar a degeneração de sua espécie, enquanto vê que não pode viver, pensar, agir, existir senão combatendo uma resistência? Nosso sangue tem que se defender da resistência dos elementos; nossa mente, das dúvidas e da obscuridade da ignorância; nosso coração, das falsas inclinações; o nosso corpo como um todo, da inércia; nosso estado social, da desordem, etc.
Uma resistência é um obstáculo; um obstáculo, na ordem do espírito, é uma antipatia e uma inimizade; uma inimizade em ação é um hostil poder combatente; este poder, estendendo suas forças continuamente à nossa volta, nos coloca numa situação violenta e dolorosa, na qual não devemos estar e sem a qual tal poder nos seria desconhecido, como se não existisse, uma vez que interiormente sentiríamos que fomos feitos para a paz e tranqüilidade.
Não! O Homem não está em sua harmonia adequada; ele, evidentemente, sofreu uma mudança para pior, não digo isto por encontrar nos livros, e nem por ser uma idéia geralmente admitida pelas pessoas.
Falo porque durante sua passageira existência na terra, parece estar no meio de seus semelhantes, assim como um leão voraz entre as ovelhas, ou como uma ovelha entre vorazes leões; isto porque entre este vasto número de homens, há dificilmente um que desperte para alguma coisa que não seja vítima ou executor de seu irmão.
O Homem tem posição mais elevada que a Natureza
Apesar de tudo, o Homem é um grande ser; se não o fosse, como poderia ter sido degenerado? Mas, independentemente desta prova da anterior dignidade de nosso ser, a reflexão seguinte, deve nos convencer de nossa superioridade em relação a Natureza, até mesmo agora.
A Natureza Astral terrestre executa as leis da criação e só chegou a existir pela virtude destas leis.
O reino mineral e vegetal tem em si o efeito destas leis, pois contêm todas as propriedades elementares, astrais e outras propriedades essenciais; e isto acontece com mais eficácia e num maior desenvolvimento do que nas próprias estrelas, que contêm apenas a metade destas propriedades, ou do que na terra que contém a outra metade.
O reino animal tem o uso destas leis da criação, uma vez que os animais tem que alimentar, manter e reproduzir a si mesmos; eles contém todos os princípios necessários para isto. Mas o Homem Espírito tem, de uma só vez, o efeito, o uso, e a livre direção ou manipulação destas leis. Irei fornecer apenas um exemplo bastante familiar sobre isto, mas através de seu significado, a mente pode elevar-se.
O exemplo é: Primeiro; um campo de milho, que contém em si o efeito destas leis da Natureza; Segundo, um animal carnívoro, fazendo uso deste milho, podendo comê-lo; Terceiro um padeiro que tem o controle e a manipulação do milho, podendo fazer pão com ele; isto mostra, ainda que de uma forma bastante material, que os poderes da Natureza são possuídos de forma partilhada pelas criaturas que a constituem; mas, que somente o Homem Espírito, em si mesmo, pode abarcar todas elas.
Quanto aqueles direitos materiais que o homem possui, que mencionamos acima, nas manipulações do padeiro, se elevarmos nosso pensamento a verdadeira região do Homem, encontraremos, sem dúvida alguma, estes direitos provados de forma mais virtual e em grande escala, através da investigação das maravilhosas propriedades que constituem o Homem Espírito, e explorando a alta ordem de manipulações a que levam estas propriedades.
Se o Homem tem o poder de ser o artífice e o artesão das produções terrestres, por que não poderia ser o mesmo em uma ordem superior? Ele deve ser capaz de comparar todas as produções divinas com suas Fontes, já que tem o poder de comparar os efeitos da natureza com as causas que a forma e guia, só o homem tem este privilégio.
Somente a experiência pode dar uma idéia deste sublime direito ou privilégio; mesmo assim, esta idéia sempre parecerá nova, mesmo para aquele acostumado a ela.
Meu Deus! O Homem conhece seus direitos espirituais, mas não desfruta deles! Que necessidade há de alguma outra prova de sua privação, além de sua degeneração?
O Homem pode recuperar suas posições
OH! Homem! Abra, então, seus olhos por um instante; pois com seu julgamento apressado, não só, nunca recuperará seus direitos, como também corre o risco de aniquilá-los. É preciso aprender uma lição de ordem física: os animais tem alma coletiva; e fica claro que, embora não sejam máquinas, eles não possuem espírito. Por esta razão, os animais não tem nenhuma aliança a ser estabelecida entre eles e seu princípio, como nós temos; mas, observando a regularidade de seu ritmo, não se pode negar, para a vergonha do homem, que de uma forma geral; devemos reconhecer, de que estas criaturas não dotadas de liberdade, manifestam uma aliança mais completa e constante com o seu princípio, do que podemos formar em nós mesmos. Podemos até mesmo ir mais longe, dizendo que todas as criaturas, exceto o homem, se manifestam como almas coletivas, das quais Deus é a mente ou o espírito.
De fato, o mundo, ou o homem perdido, poderia ser só espírito, mas ele pensa que pode agir sem a sua verdadeira alma, sua sagrada e divina alma, na verdade, não pode mais do que ressaltar sua alma animal e sua vaidade. Em Deus, há também uma alma e um espírito sagrado, já que somos sua imagem; contudo eles são um, assim como todos os poderes e faculdades do ser supremo.
Por um lado, temos o privilégio de formar, tal qual aquele que é o Todo-Sábio, uma indissolúvel e eterna aliança entre nossas espíritos e nossas almas sagradas, unindo-as no princípio que as formam; somente a partir desta condição indispensável, é que podemos ter esperança de sermos novamente a imagem de Deus; ao nos empenharmos nisso, temos a confirmação do doloroso fato de nossa degeneração e, ao mesmo tempo, de nossa superioridade em relação à ordem externa.
Continua...
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