quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A Escola Austríaca

Do livro A Escola Austríaca de Jesus Huerta de Soto. -- São Paulo :
Instituto Ludwig von Mises Brasil, 2010.

a tEoria da ação doS auStríaCoS frEntE à
tEoria da dECiSão doS nEoCláSSiCoS

Para  os  teóricos  austríacos,  a ciência  Econômica  é  concebida
como uma teoria da ação mais do que da decisão, e esta é uma das
características  que  mais  os  separa  dos  seus  colegas  neoclássicos.
de fato, o conceito de ação humana engloba e supera, em muito, o
conceito de decisão individual. Em primeiro lugar, para a Escola
Austríaca,  o  conceito  relevante  de  ação  inclui,  não  só  um  hipo
tético processo de decisão num enquadramento de conhecimento
“dado”  sobre  os  fins  e  os  meios,  mas,  sobretudo,  e  isto  é  o  mais
importante, “a própria percepção do sistema de fins e de meios”
(kirzner, 1998: 48) no seio do qual tem lugar a alocação econômica
que os neoclássicos tendem a estudar com caráter de exclusividade.
oimportante para os austríacos não é que se tenha tomado uma
decisão, mas sim que a mesma é levada a cabo sob a forma de uma
ação  humana  ao  longo  de  cujo processo (que  eventualmente  pode
chegar ou não a concluir- -se) se produzem uma série de interações
e atos de coordenação cujo estudo constitui, para os austríacos, o
objeto de investigação da ciência Econômica. Por isso, para a Es
cola Austríaca, a ciência Econômica, longe de ser um conjunto de
teorias sobre escolha ou decisão, é um corpus teórico que trata dos
processos de interação social, que poderão ser mais ou menos coor
denados, dependendo da capacidade demonstrada no exercício da
ação empresarial por parte dos agentes implicados.

Os  austríacos  são  especialmente  críticos  da  concepção  restrita  de
economia que tem a sua origem em robbins e na sua conhecida defi
nição da mesma como ciência que estuda a utilização de meios escas
sos susceptíveis de usos alternativos para a satisfação de necessidades
humanas (robbins, 1932). A concepção de robbins supõe implicita
mente um conhecimento dado sobre os fins e os meios, com o qual se
reduz o problema econômico a um problema técnico de mera alocação,
maximização ou otimização, submetido a restrições que se supõe serem
também conhecidas.  ou seja, a concepção de economia em robbins
corresponde ao coração do paradigma neoclássico e pode considerar
se completamente alheia à metodologia da Escola Austríaca tal como
ela hoje é entendida. com efeito, o homem “robbinsiano” é um au
tômato ou simples caricatura do ser humano que se limita a reagir de
forma passiva face aos acontecimentos. Em oposição a esta concepção
de robbins, há que destacar a postura de Mises, kirzner e do resto dos
economistas  austríacos,  que  consideram  que  o  homem,  mais  do  que
alocar meios “dados” a fins também “dados”, procura constantemente
novos fins e meios, aprendendo com o passado e usando a sua imagi
nação para descobrir e criar (mediante a ação) o futuro. Por isso, para
os austríacos, a economia está integrada dentro de uma ciência muito
mais geral e ampla, uma teoria da ação humana (e não da decisão ou es
colha humanas). segundo Hayek, se esta ciência geral da ação humana
“precisa de um nome, o termo ciências praxeológicas, agora claramente
definido e amplamente utilizado por ludwig von Mises, parece ser o
mais apropriado” (Hayek, 1952a: 24).

oSuBjEtiviSmo auStríaCo frEntE ao
oBjEtiviSmo nEoCláSSiCo

Um segundo aspecto de importância crucial para os austríacos é
o Subjetivismo.   Para  a  Escola  Austríaca,  a  concepção  subjetivista  é
essencial e consiste precisamente na tentativa de construir a ciência
Econômica partindo sempre do ser humano real de carne e osso, con
siderado como agente criativo e protagonista de todos os processos
sociais. Por isso, para Mises, “a teoria econômica não estuda coisas
e objetos materiais; estuda os homens, as suas apreciações e, conse
quentemente, as ações humanas que delas derivam. os bens, as mer
cadorias,  as  riquezas  e  todas  as  demais  noções  de  conduta  não  são
elementos  da  natureza,  mas  sim  elementos  da  mente  e  da  conduta
humana. Quem deseje entrar neste segundo universo deve abstrair-se
do mundo exterior, centrando a sua atenção no significado das ações
empreendidas  pelos  homens”  (Mises,  1995:  111-112).   É  fácil  por-
tanto entender que para os teóricos da escola Austríaca, e em grande
medida ao contrário dos neoclássicos, as restrições em economia não
são impostas por fenômenos objetivos ou fatores materiais do mundo
exterior (por exemplo, as reservas de petróleo), mas antes pelo conhecimento humano de tipo empresarial (a descoberta de um carburador
que conseguisse duplicar a eficiência dos motores de explosão teria o
mesmo efeito econômico que uma duplicação do total de reservas físicas
de petróleo). Por isso, para a Escola Austríaca, a produção não é um
fato físico natural e externo, sendo antes, pelo contrário, um fenômeno intelectual e espiritual (Mises, 1995: 169).

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