O DESAPARECIMENTO DAS ELITES NATURAIS
Hans-Hermann Hoppe
Hoje em dia, depois de menos de um século de
democracia de massa, não existem essas elites naturais e
hierarquias sociais nas quais se poderia imediatamente
buscar proteção. Organizações e ordens hierárquicas
sociais e de elites naturais, ou seja, pessoas e instituições
com autoridade de comando e respeito, independentes
do estado, são ainda mais intoleráveis e inaceitáveis
para um democrata e mais incompatíveis com o espirito
democrático do igualitarismo do que eram uma ameaça
a qualquer rei e a qualquer príncipe. E por causa disso,
sob as regras democráticas do jogo, toda autoridade
independente, todas as instituições independentes, foram
sistematicamente apagadas ou reduzidas à insignificância
através de medidas econômicas. Hoje em dia, nenhuma
pessoa ou instituição fora do próprio governo possui
autoridade genuína, nacional e nem mesmo regional.
No lugar de pessoas de autoridade independente agora
temos meramente uma abundância de pessoas que são
proeminentes: as estrelas do esporte e do cinema, as
estrelas pop, e, logicamente, os políticos. Mas essas
pessoas, embora sejam capazes de lançar tendências e
estabelecer modas, não possuem nada parecido com a
autoridade social pessoal natural.
E quando falamos particularmente de políticos,
isto é ainda mais verdadeiro: eles podem ser grandes
estrelas hoje em dia, todos os dias eles aparecem na TV
e são o assunto do debate público, mas isto é quase que
totalmente devido ao fato de que eles são uma parte do
atual aparato estatal com seus poderes monopolísticos.
Uma vez que esse monopólio seja desfeito, estas
“estrelas” da política se tornariam nulidades, porque
na vida real praticamente todos eles são zeros à
esquerda, picaretas e débeis mentais. E é só mesmo a
democracia que permite que eles cheguem a posições
elevadas. Dependendo de suas próprias capacidades, de
suas próprias realizações pessoais, eles são, quase sem
nenhuma exceção, completamente insignificantes. Sem
meias palavras, assim que o governo democrático – o
congresso – declarasse que de agora em diante todos
estariam livres para escolher seu próprio juiz e protetor,
de modo que ainda pudessem, mas não fossem mais
obrigados a escolher o governo como protetor, quem em
seu juízo perfeito iria ser capaz de escolhê-los?! Ou seja,
os atuais membros do congresso e do governo federal:
quem os escolheria voluntariamente como seus juízes
e protetores? A resposta já está explícita na pergunta.
Reis e príncipes possuem autoridade real; havia coerção
envolvida, não tenha dúvida, mas eles recebiam uma
porção significativa de apoio voluntário.
Em contraste, políticos democráticos são geralmente
desprezados, mesmo por sua própria base eleitoral.
Mas então também não há nenhuma outra pessoa
para a qual se voltar para buscar proteção. Políticos
locais e regionais apresentam basicamente o mesmo
tipo de problema, e com a abolição de seus poderes
monopolísticos, eles obviamente também não oferecem
uma alternativa atrativa. Também não há nenhuma grande
personalidade do mundo empreendedor esperando por
essa oportunidade, e as companhias de seguro, tendo se
tornado quase que completamente criaturas do estado
democrático igualitário, mostram-se tão pouco confiáveis
quanto qualquer outro para assumir esta particularmente
importante tarefa de proteção e justiça.
Portanto, se alguém fizesse hoje o que o rei poderia ter
feito 100 anos atrás, haveria o perigo imediato de ocorrer
de fato o caos social, ou a “anarquia” no mal sentido. As
pessoas realmente iriam, ao menos temporariamente, ficar
muito vulneráveis e indefesas. Então a questão muda:
não há nenhuma saída? Deixe-me resumir a resposta
antecipadamente: Sim, mas ao invés de por meios de uma
reforma de cima para baixo, a estratégia deve agora ser
de uma revolução de baixo para cima. E ao invés de uma
única batalha, em um único front, uma revolução liberallibertária agora deve envolver muitas batalhas em muitos fronts. Isto é, queremos uma guerra de guerrilha ao invés de uma guerra convencional.
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