quinta-feira, 9 de outubro de 2025

PONTOS DE DIVERGÊNCIA entre o anarcocapitalismo e o liberatarianismo monarquista conservador

A divergência fundamental entre o anarcocapitalismo e o libertarianismo monarquista conservador reside na concepção sobre a forma de poder e a função do Estado. Enquanto os anarcocapitalistas defendem a abolição completa do Estado, o libertarianismo monarquista, popularizado por Hans-Hermann Hoppe, propõe uma monarquia como forma de governo preferível, mas ainda limitada. 


Pontos de divergência em detalhe
CaracterísticaAnarcocapitalismo (Ancap)Libertarianismo Monarquista Conservador
Abordagem sobre o EstadoAdvoga a completa abolição do Estado, que é visto como um monopólio coercitivo de serviços, incluindo segurança e justiça. Todos os serviços seriam fornecidos por empresas privadas em um mercado competitivo.Reconhece que a monarquia, apesar de ainda ser uma forma de Estado, é a menos prejudicial, pois o monarca, agindo como proprietário do reino, tem um incentivo para preservar e aumentar o valor de seu "capital" (o reino) para as futuras gerações.
Monopólio vs. Livre MercadoConsidera o Estado como um monopólio inevitavelmente ineficiente e corrupto. Sustenta que o livre mercado e a concorrência privada são a única forma de fornecer serviços de forma eficiente e justa.Argumenta que a democracia, com governantes temporários, é inerentemente menos responsável e mais propensa a dilapidar os recursos em busca de benefícios de curto prazo. O monopólio da monarquia, embora existente, é mais limitado e tem uma visão de longo prazo.
Propriedade e OrdemA ordem social e a justiça seriam mantidas por meio de agências de defesa e arbitragem privadas, operando sob o princípio da não-agressão e dos contratos voluntários.A ordem é mantida por meio da estrutura hierárquica e do direito de propriedade do monarca. A monarquia é vista como um mecanismo mais estável e tradicional para a manutenção da propriedade privada e da cultura conservadora.
Visão Histórica e CulturalBaseia-se em princípios lógicos e na teoria econômica da Escola Austríaca, com pouca ênfase em tradições ou estruturas sociais históricas.Hans-Hermann Hoppe, principal expoente dessa vertente, argumenta que a transição histórica da aristocracia para a monarquia e depois para a democracia foi um processo de decadência moral e econômica. A monarquia, apesar de não ser o ideal, é considerada a melhor opção historicamente comprovada para a preservação de uma ordem social estável.
Adesão ao ConservadorismoFoca quase que exclusivamente nos princípios de liberdade individual, propriedade privada e livre mercado. Aspectos conservadores como tradição, religião e costumes não são centrais na teoria, embora um indivíduo possa ser anarcocapitalista e conservador em sua vida pessoal.A teoria de Hoppe integra explicitamente o conservadorismo, defendendo valores como família, comunidade e hierarquia natural, que seriam mais bem preservados sob uma monarquia do que sob a "tirania da maioria" democrática.
Resumo das principais diferenças
  • Monarquia versus ausência de Estado: O cerne da questão é que o anarcocapitalismo é uma teoria que prevê um sistema sem Estado, enquanto o libertarianismo monarquista é uma teoria que prevê um sistema com Estado, embora um tipo específico de Estado.
  • Incentivos para a preservação: Hoppe argumenta que a monarquia é uma forma de privatização do governo. O monarca, sendo o dono do reino, tem o incentivo de preservar e aumentar o valor de seu patrimônio para a posteridade. Já na democracia, os políticos têm um incentivo para consumir o capital em benefício próprio, pois sabem que sua permanência no poder é temporária.
  • Conservadorismo: A inclusão de elementos conservadores, como a valorização da tradição e a crítica à democracia, é uma marca registrada do libertarianismo monarquista, ausente na teoria anarcocapitalista, que foca mais na lógica econômica e na propriedade privada. 



IMPLATAÇÃO DA MONARQUIA LIBERTÁRIA


Uma monarquia libertária, tal como proposta por Hans-Hermann Hoppe, não teria um plano de implementação formalizado ou uma estratégia política única, já que o próprio conceito é mais uma tese econômica e histórica do que um programa de ação política concreta
. Hoppe não advoga ativamente pelo retorno de monarquias como solução imediata, mas sim usa a análise de incentivos da monarquia histórica para criticar a democracia e sugerir que ela é menos prejudicial do que o sistema democrático de hoje. 
A transição para um governo com incentivos monárquicos, segundo a lógica de Hoppe, não se daria por um golpe de Estado ou por eleições (que ele critica). Em vez disso, a implementação envolveria a desintegração gradual e a privatização do poder político.


Como seria a transição para uma monarquia libertária
  1. Secessão e descentralização: Hoppe vê o processo de secessão, ou seja, a separação de grupos menores do Estado central, como o principal motor de mudança. Ele acredita que grupos pequenos (comunidades, regiões ou até mesmo famílias) têm mais incentivos para resistir ao poder de governos maiores, que cobram impostos e regulamentam a vida de forma invasiva. O processo de secessão contínua levaria à criação de unidades políticas menores, mais competitivas e mais alinhadas com os interesses locais.
  2. Privatização do poder político: À medida que as comunidades se separam, a propriedade do território e a gestão dos serviços públicos (como segurança e justiça) seriam progressivamente privatizadas. Isso leva à emergência de uma "ordem natural", onde o território é visto como propriedade privada, e os serviços de governo são fornecidos por proprietários de terras e empresas de segurança concorrentes. Nessa ordem, um proprietário de terras hereditário, que age como monarca, veria o seu "reino" como a sua propriedade, o que o incentivaria a agir de forma mais responsável a longo prazo.
  3. Monarcas como capitalistas de terra: Na lógica de Hoppe, um monarca não é um líder democrático de curto prazo, mas um proprietário de capital com um horizonte temporal longo. Seus herdeiros herdarão o "negócio", então o incentivo é manter e aumentar o valor do capital, e não consumi-lo em benefício próprio, como acontece na democracia. Para Hoppe, a monarquia é a "privatização do governo", enquanto a democracia é a "publicização do governo", levando a uma exploração menos previsível e mais destrutiva. 
Desafios e críticas à implementação
A proposta de Hoppe é em grande parte teórica e enfrenta desafios práticos e críticas significativas. Hoppe não oferece um roteiro claro de como a secessão e a privatização ocorreriam de forma pacífica e organizada na realidade.
  • O conceito de um monarca proprietário de terras com um poder significativo gera críticas, principalmente devido ao risco de que ele possa se tornar um tirano, independentemente dos incentivos de longo prazo. Hoppe, no entanto, argumenta que a concorrência entre monarcas e a secessão contínua limitariam esse poder. Muitos críticos apontam que a teoria de Hoppe idealiza certas monarquias históricas, ignorando a complexidade e a violência que caracterizaram outros governos monárquicos. 
Em suma, a transição para a monarquia libertária de Hoppe não seria um evento único, mas um processo gradual e orgânico, impulsionado pela secessão e pela privatização do poder. É mais um ideal teórico do que um plano de ação, e visa ilustrar por que a monarquia histórica era, na sua visão, menos danosa do que a democracia moderna.


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