Apologética do Novo Testamento - Universidade da Bíblia
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No período em que os evangelhos foram escritos, não existia a lei de copyright, que
garante o direito exclusivo ao autor da obra de imprimir, reproduzir ou vender, enfim, de
deter exclusivamente seus direitos autorais.
Naquela época remota, sem o recurso da imprensa, quando os livros eram escritos
com tintas em pergaminhos ou códices, mais de uma vez a obra de um autor foi atribuída a
outro, devido às muitas semelhanças entre elas. E nem mesmo se fazia questão sobre esse
assunto, que só ganhou relevância com o advento da imprensa. Por exemplo, Domenico
Grasso fornece uma boa lustração a respeito, quando diz: “Durante séculos, acreditou-se
que a obra sobre ‘hierarquia celeste’ fosse da autoria de Dionísio Aeropagita, convertido por
São Paulo (At 17.34), enquanto se demonstrava pertencer a um filósofo neoplatônico do
século 5o, comumente chamado ‘pseudodionísio’. Ainda hoje se discute a autenticidade de
algumas obras da antiguidade clássica, conhecidas por Appendix Vergiliana e Epistolae ad
Caesarem, atribuídas a Salústio. O problema da autenticidade de um documento é de
enorme importância porque dela depende o seu valor”. E Domenico Grasso chega à seguinte
conclusão em relação aos escritos sagrados neotestamentário: “O problema também é válido
para os evangelhos. Quem são os seus autores?”.
Existe alguma maneira de sabermos se esses evangelhos foram escritos pelos
apóstolos? É bom frisar (e muitos desconhecem este fato) que nenhum dos evangelhos,
como os conhecemos hoje, com os títulos de “Evangelho segundo São Mateus (kata
Maththaion), São Lucas ou São João”, veio com a assinatura pessoal de seu autor. E, por
conta dessa dificuldade, não podemos, apenas pelo recurso literário, saber quem os
escreveu. No começo, os evangelhos eram anônimos. Mas isso não quer dizer que não
sabemos, com certeza, quem foram seus autores verdadeiros. Por outro lado, repudiamos a
idéia maldosa de que a Igreja tenha escolhido, aleatoriamente, tais nomes com o fim de dar
autoridade a essas obras.
Além disso, temos outra dificuldade: não possuímos os autógrafos (escritos originais)
conforme saíram da pena dos apóstolos. Mas isso não é tão embaraçoso como muitos
críticos pensam. Pode ser explicado satisfatoriamente por dois fatores básicos:
O material no qual se escrevia, o papiro, era frágil, que logo se desgastava, portanto,
os textos tinham de ser recopiados. Tais cópias eram feitas em rolo de papiro (planta) e,
mais tarde, em códices (em formato de livro) com letras unciais (escritos em caracteres
maiúsculos) ou em códices minúsculos. Os chamados lecionários (antologias de textos para
uso litúrgico) vieram depois, também confeccionados em papiro e, posteriormente, em velino
e pergaminho (pele de animais).
As perseguições sofridas pelos cristãos, quando seus escritos sagrados estavam em
constante perigo de ser destruídos. Assim, é provável que os cristãos primitivos tenham lido
e relido os originais até que eles se gastassem, desfazendo-se por completo. Os evangelhos,
contendo o título-nome dos autores, vieram das cópias dos códices antigos. Os dois códices
mais importantes do Novo Testamento são: o códice vaticano e o códice sinaítico. Se
levarmos em consideração que tais códices vieram de todas as províncias do Império, desde
o século 4o até o 9o, somando um total de mais de 4 mil, é incrível como a Igreja primitiva,
em todas as partes, aceitou com unanimidade os autores dos quatro evangelhos sem
contestação. Isso só pode ter ocorrido devido ao fato de que os títulos muito cedo foram
partes integrantes dessas obras.
Grasso ainda afirma: “Ninguém conhece um autor diferente daquele conhecido pelos
outros. Se em alguma região viessem a saber que o autor de determinado evangelho não era
o mesmo a quem se atribuía sua autoria em outro lugar, era coisa fácil de ser conhecida”.
Todavia, nunca houve divergência no seio da Igreja sobre a autoria dos quatro
evangelhos. É improvável até que esses livros tenham circulado durante décadas para
somente no século 2o serem estereotipados pela Igreja. Poderia ter havido discordâncias,
caso ninguém soubesse quem eram os autores de tais obras.
O papirólogo Carsten Peter Thiede corrobora com essa opinião: “É inconcebível que
alguém tivesse ousado inventar candidatos tão improváveis e tão pouco conhecidos como
Marcos e Mateus (ou até mesmo Lucas), se estes não tivessem sido realmente os nomes dos
autores — ou se, de alguma forma, não tivessem uma ligação direta com aqueles escritos”.
Para que possamos ter uma idéia de como era certa a tradição de a autoria dos
evangelhos ser atribuída aos quatro evangelistas, nos basta tão-somente considerarmos o
fato de que até mesmo os heréticos aceitavam, sem contestação, que a autoria dos
evangelhos procedia, respectivamente, de Mateus, Marcos, Lucas e João.
Irineu, em seu livro apologético, nos assegura que “o valor dos evangelhos é tão
grande que recebe o testemunho até dos próprios hereges...”. Prosseguindo, ele diz “que
cada um pretendia apoiar suas teorias particulares em um dos evangelhos. Por exemplo, a
seita dos ebionitas tinha preferência pelo evangelho de Mateus. O herege Marcião, pelo de
Lucas. Já os valentinianos se apegavam ao de João”. Pelo depoimento de Irineu, percebe-se
que até mesmo os mais primitivos heréticos aceitavam Mateus, Marcos, Lucas e João como
respectivos autores dos quatro evangelhos que levam os seus nomes.
Além disso, temos o testemunho de outros pais da Igreja primitiva. O escritor e
historiador eclesiástico Eusébio de Cesaréia, em sua obra História eclesiástica, conserva
fragmentos dos escritos de Papias, bispo de Hierápolis e escritor cristão do início do século
2o (c. 130 a.D.), que conheceu os discípulos dos apóstolos. Papias nos dá a seguinte
informação quanto aos autores dos dois primeiros evangelhos: Mateus e Marcos.
Quanto a Marcos, diz o seguinte: “Marcos, sendo o intérprete de Pedro, tudo o que
registrou escreveu com grande exatidão, mas não na ordem em que foi falado ou realizado
por nosso Senhor, pois ele não ouviu nem seguiu nosso Senhor, mas, conforme disse, esteve
em companhia de Pedro, que lhe deu tanta instrução quanto necessária [...] Assim Marcos
não errou em nada ao escrever algumas coisas como ele as recordava...”.
Quanto a Mateus, escreve: “Mateus compôs sua história em dialeto hebraico e cada
um traduzia segunda a sua capacidade”.
Em 170, Irineu de Lião, refutando os hereges de seu tempo, menciona Lucas como
autor do terceiro evangelho: “Ora, se Lucas, que sempre pregou e evangelizou com Paulo,
que teve confiada a missão de sempre nos transmitir o evangelho...”. Por isso, D. A. Carson
chega à seguinte conclusão: “... O único evangelho circulou cedo sob quatro formas
distintas: ‘Segundo Mateus’ [...], sendo que a preposição apresenta a pessoa que se
acreditava ser o seu autor”.
Esses dados fornecem provas confiáveis que nos permitem afirmar com segurança que
seus autores são verdadeiramente aqueles a quem são atribuídos.
4.1. Por Que Apenas Quatro Evangelhos?
Entre os estudiosos da numerologia bíblica (a numerologia bíblica é apenas simbólica),
o número quatro representa universalidade. Quatro são os pontos cardeais. Quatro são as
estações do ano em todo o mundo. E quatro foram os impérios mundiais. O evangelho de
Cristo também é transcultural, não se restringe a nenhuma raça, cor ou cultura específica,
mas se estende a toda a criatura debaixo do céu em todos os tempos. Seu alcance é
universal.
Diz Josh MacDowell que os “quatro evangelhos haviam-se tornado tão axiomáticos no
mundo cristão que Irineu pôde se referir a eles como um fato comprovado e reconhecido tal
como os quatro pontos cardeais”.
Vejamos o que disse Irineu: “Por outro lado, os evangelhos não são, nem mais nem
menos, do que esses quatro. Com efeito, são quatro as regiões do mundo em que vivemos,
quatro são os ventos [...] Por isso é evidente que o Verbo, Artífice de todas as coisas, que
está sentado acima dos querubins [...] nos deu um evangelho quadriforme sustentado por
um único Espírito”.
Já bem cedo, em 160 d.C, um cristão chamado Taciano separou os quatro evangelhos
em seu Diatessaron (expressão que significa “pelos quatro”). Assim se expressa Eusébio de
Cesaréia a respeito: “Taciano, tendo formado certo corpo e coleção de evangelhos, não sei
como, deu-lhes este título, Diatessaron, que é o evangelho dos quatro, ou o evangelho
formado pelos quatro...”.
Eusébio cita, ainda, outro escritor cristão do século 2o, Clemente de Alexandria (150-
215), que fala dos “quatro evangelhos transmitido até nós”, e conhece uma tradição segundo
a qual foram escritos primeiramente aqueles que contêm a genealogia do Senhor, isto é,
Mateus e Lucas.
Clemente também dá a tradição a respeito da ordem dos evangelhos, conforme
transmitida pelos presbíteros mais velhos: “Ele diz que os que contêm as genealogias foram
escritos primeiro...”.
Orígenes, um dos apologistas da fé cristã da segunda metade do século 2o, conhecia o
nome dos quatro evangelistas e a ordem em que escreveram, como conhecemos hoje, a
saber: Mateus, Marcos, Lucas e João.
Tertuliano (160–223), advogado e apologista, ao escrever, no início do século 3o,
contra Marcião, atesta o valor dos quatro evangelhos frente à heresia de Marcião, que só
admitia o evangelho de Lucas.
O Canon muratoriano também nos fala do reconhecimento dos quatro evangelhos pela
Igreja romana.
No prólogo de seu evangelho, Lucas deixa claro que, em sua época, já existiam outros
escritos sobre a vida de Jesus: “Visto que muitos têm empreendido fazer uma narração
coordenada dos fatos que entre nós se realizaram” (1.1).
Não obstante, cremos que Deus quis preservar somente quatro livros contendo a
narrativa verdadeira, fiel e inspirada sobre a vida de Cristo.
4.2. Um ou Quatro Evangelhos?
Já vimos o motivo pelo qual o Senhor Deus nos deu um evangelho quadriforme. Agora,
estamos diante de outra incógnita: “o evangelho” ou “os evangelhos”? Como devemos
denominar? Parece que o termo apresenta a mesma aparente dificuldade tal como
aconteceu com a expressão “Escritura” ou “Escrituras”. No começo, era um termo geral,
significando simplesmente escritos. Mais tarde, deu-se a designação mais precisa: “a
Escritura” ou “as Escrituras”, para distinguir os escritos sagrados dos judeus. O apóstolo
Pedro classifica alguns textos do apóstolo Paulo como “Escritura”. Paulo, ao escrever a
Timóteo (1Tm 5.18), cita o evangelho de Lucas (Lc 10.7) e o livro de Deuteronômio (Dt 25.4),
conferindo a mesma autoridade escriturística a ambos.
Com respeito aos evangelhos, Carson elucida a questão ao dizer que “nenhum dos
quatro relatos sobre o ministério de Jesus recebe no Novo Testamento o nome de evangelho
[...] Talvez, perto do fim do século 1o, ou início do 2o, acrescentaram-se títulos aos relatos
oficiais da Igreja sobre o ministério de Jesus. Foi certamente aí que se empregou ‘evangelho’
pela primeira vez para designar uma obra literária. [...] Não o evangelho por Marcos, mas o
[único] evangelho, segundo [a versão de] Marcos...”.
Parece que o uso que Marcos faz dessa palavra, já no início de sua obra (1.1), serviu
para consagrar o termo como obra literária.
Justino, o mártir (133 d.C.), foi o primeiro a empregar o termo “evangelho” para
designar os relatos canônicos do ministério de Jesus.
F. F. Bruce, ao comentar sobre os evangelhos, dá o parecer de que “já em data bem
remota vieram os quatro evangelhos a constituir uma unidade integrada. E essa coleção de
quatro documentos era originalmente conhecida como ‘o evangelho’, no singular, e não ‘os
evangelhos’, no plural. Havia apenas um evangelho apresentado em quatro narrativas [...]
Por volta de 115 a.D., Inácio, bispo de Antioquia, refere-se ao ‘evangelho’ como escrito
revestido de autoridade, e, visto que conhecia mais de um dos quatro ‘evangelhos’, é
provável que o título designe a coleção assim chamada, então”.
Geralmente, dá-se o nome de “quatro evangelhos” aos primeiros livros do Novo
Testamento. Antes do século 4o, todavia, a coleção era designada apenas pelo nome de “o
evangelho”, distinguindo-se as diferentes formas por “segundo Mateus”, “segundo Marcos”, e
assim por diante.
Mas as expressões “evangelho de Mateus”, “evangelho de Marcos” e “evangelho de
Lucas” são apenas nomenclaturas externas provenientes do século 2o. Na verdade, como já
vimos, há um só evangelho apresentado em quatro formas, como bem atesta Agostinho em
seu Sermão sobre a ressurreição de Cristo, segundo São Marcos: “A ressurreição de nosso
Senhor Jesus Cristo lê-se estes dias, como é costume, segundo cada um dos livros do santo
evangelho”.
4.3. Os “Problemas” dos Sinóticos
Aprendemos, nos tópicos anteriores, o que significam e quais são os evangelhos
sinópticos. Abordaremos, agora, algumas dificuldades referentes a esses evangelhos.
Os evangelhos sinópticos têm sido alvo de extensa pesquisa durante muito tempo. A
crítica textual tem feito uma verdadeira devassa em seus textos com o fito de resolver aquilo
que denominara de “O problema sinóptico”.Tais problemas, segundo os críticos, seriam
supostas contradições apresentadas em alguns trechos. Mas como observa o comentarista
Halley, em sua obra Manual bíblico: “O fato de haver pormenores diferentes e ligeiras
variantes na descrição de um mesmo incidente faz que o testemunho dos vários escritores
se torne tanto mais digno de fé, visto afastar a possibilidade de terem entrado em
combinação prévia”.
E, citando as palavras do historiador Paul Barnett, “as diferenças entre as narrativas
não apenas indicam que Mateus e Lucas estavam isolados um do outro quando escreveram,
mas também que as fontes de que dependeram eram bem separadas”.
As dificuldades envolvendo os sinópticos foram apresentadas por Champlin,
resumidas em forma de várias perguntas, como seguem:
Os evangelhos foram escritos “independentemente” uns dos outros, sem qualquer
fonte comum oral e escrita, sendo narrativas somente feitas de memória?
Se houve fontes comuns escritas ou orais, de que natureza e quantas eram elas?
Qual dos evangelhos sinópticos é primário? E esse evangelho foi usado diretamente
como fonte de informação pelos demais evangelistas?
Qual foi a fonte de material usado pelos evangelhos não primários, naquilo em que
estão de acordo entre si, nas passagens que não figuram em Marcos?
Quando um evangelho não primário tem material peculiar a si mesmo, qual foi sua
fonte informativa?
Quais foram as fontes informativas do evangelho primário?
Para dirimir esses problemas, os críticos, ao longo dos anos, foram criando várias
teorias. Algumas delas já foram abandonadas por completo. Já outras possuem agora
apenas alguns raros defensores. E há aqueles, porém, que continuam gozando de grande
popularidade entre os eruditos.
A seguir, veremos que, indubitavelmente, não se pode tomar qualquer partido em
posição dogmática em relação a nenhuma dessas teorias.
No trabalho de desvendar o “mistério” da origem dos evangelhos, destacaram-se,
principalmente, ao longo dos anos, três teorias que pretenderam apresentar soluções
plausíveis para a questão em pauta. Vejamos:
4.4. A Crítica da Forma
Os críticos dessa escola se preocupam não com a parte literária dos evangelhos, mas
com o hiato deixado entre a transmissão oral até a composição literária dos mesmos. Seus
proponentes tentam descobrir como as comunidades cristãs transmitiram os ensinamentos
de Jesus. A crítica, neste caso, solapa, de certa forma, a integridade histórica dos
evangelhos, pois os críticos dizem que a comunidade cristã criou as fontes das quais os
evangelhos derivaram. Propõem que, de acordo com a necessidade enfrentada, as comunidades locais iam inventando episódios ou ensinamentos acerca de Jesus para sanar
tais dificuldades. Essas coleções, na opinião de seus defensores, foram as responsáveis pela
composição dos evangelhos. Em suma, o evangelho, conforme temos hoje, não seria
histórias verídicas de testemunhas oculares, mas refletiria apenas a crença da Igreja
primitiva a respeito de Jesus. Essas unidades isoladas foram costuradas com frases
cronológicas pelos evangelistas, tais como: “depois disso”, “poucos dias depois”,
“imediatamente”, para dar um tom histórico à obra. O papel crucial dessa escola seria
descobrir as leis por trás dessa tradição. Seus principais expoentes são: Martin Dibelius,
Rudolf Bultmann e Vicent Taylor, o menos radical deles.
4.5. A Crítica da Redação
Em verdade, os críticos dessa escola não se preocupam com a origem dos evangelhos
e, tampouco, importam-se com quem foram seus autores. O que menos importa é a parte
histórica. Seu principal objetivo é o motivo teológico com que cada autor escreveu e por que
escreveu, concentrando-se apenas no texto em si.
A crítica da redação depende muito da crítica da forma. A maioria dos críticos da
redação se baseia na teoria das duas fontes, tendo o evangelho de Marcos como base para
os outros dois. Os principais difusores dessa teoria foram: Gunther Bornkamm, Hans
Conzelmann e Willi Marxsen.
4.6. A Crítica das Fontes
Uma dessas dificuldades nutridas pelos críticos é saber sobre as fontes dos
evangelhos. Em virtude de muitos versos nos três primeiros evangelhos serem idênticos,
eruditos, por muitos anos, têm debatido o seu relacionamento. A crítica das fontes visa
identificar as fontes escritas usadas para compor os evangelhos. E as soluções que
apresenta foram dadas em forma de algumas teorias.
A seguir, suas principais teorias:
A teoria da dependência de um evangelho original, único
o Propõe que houve um único evangelho em aramaico do qual os outros três se
abeberaram.
A teoria da dependência comum de fontes orais
o Propõe a existência de um evangelho baseado em fontes orais transmitido
pela Igreja, no qual os outros três se basearam.
A teoria da dependência de vários fragmentos escritos
o Baseando-se no depoimento de Papias, seu proponente asseverava que
existiram vários fragmentos sobre a vida de Jesus, os quais foram evoluindo
em sua forma até serem inseridos nos evangelhos sinópticos.
A teoria do não-documento
o Alega que não houve uma fonte comum aos três evangelhos, mas que todos
eles se desenvolveram de modo independente. Seus defensores alegam, ainda,
que os evangelistas escreveram somente o que viram e ouviram de Jesus.
A teoria da interdependência
o É a mais aceita atualmente pela maioria dos eruditos da crítica das fontes.
Seus críticos defendem a tese de que entre os evangelhos havia uma
interdependência, ou seja, um deles foi a fonte dos outros dois. Dentro dessa
teoria se desdobram mais algumas hipóteses das quais analisaremos apenas
quatro:
Hipótese agostiniana, Agostinho, bispo de Hipona, propôs, baseado na tradição, que Mateus foi o
primeiro evangelho a ser escrito e que Marcos, posteriormente, serviu-se dele
para coletar dados e compor seu evangelho. Lucas, por sua vez, seria uma
compilação tanto de Marcos como de Mateus.
Hipótese das duas fontes
o Segundo muitos, parece ser a que fornece melhor explicação para as
similaridades entre os evangelhos. O ponto de vista preponderante, na
atualidade, é que o evangelho de Marcos foi escrito primeiro e Mateus e Lucas
usaram Marcos como fonte para os seus evangelhos. Visto que Mateus e
Lucas são mais extensos que Marcos, é claro que eles contêm materiais que
não se encontram em Marcos. Mateus contém material que não se encontra
em Lucas e Lucas contém material que não se encontra em Marcos. Mateus e
Lucas contêm algum material idêntico que não se encontra em Marcos. Mais
tarde, foi acrescentada uma certa fonte “Q” (da língua alemã Queller = fonte).
Segundo essa mesma teoria, Mateus e Lucas teriam escolhido apenas o que
lhes era conveniente dessas duas fontes.
Hipótese dos dois evangelhos
o Alguns críticos, como Willian Farmer e C. S. Mann, sustentam a hipótese de
Griesbach. E, apesar de sustentarem a crença de que o evangelho de Mateus
foi o primeiro a ser escrito, colocam, diferentemente de Agostinho, Lucas em
segundo lugar e fazem Marcos depender tanto de Mateus como de Lucas.
Hipótese dos quatro documentos
o Foi proposta como solução alternativa aos resquícios de problemas deixados
pela hipótese das duas fontes. Como resultado do trabalho de B. H. Streeter,
a maioria dos eruditos contemporâneos aceita a teoria dos quatro
documentos. Esses documentos seriam um proto-evangelho para cada um
deles, que são:
Marcos foi escrito primeiro e foi usado por Mateus e Lucas. Seu local
de origem seria a Igreja em Roma.
O documento “Q” era uma fonte que supriu os ensinos ou as
atividades de Jesus comuns a Mateus e Lucas, mas que não se
encontram em Marcos. Seu local de origem seria Antioquia.
“L” era uma fonte usada por Lucas para seu material especial com
origem na Igreja de Cesaréia.
“M” era uma fonte usada por Mateus para seu material especial e teve
origem na Igreja de Jerusalém ou Antioquia.
O erudito John P. Meier procura também estender essa questão ao evangelho de João,
e nos informa que ainda há muita discussão se o evangelho de João dependeu de Mateus e
Lucas ou foi produto de fontes independentes como a fonte “Q” e “Marcos”. Entre os críticos
que sustentam a primeira hipótese, está o exegeta Frans Neirynck, que acredita que João se
baseou nos três evangelhos sinópticos. Mas essa teoria foi contestada por P. Gardner-Smith,
que sustentava uma fonte independente para João. Depois, essa mesma teoria foi mais bem
desenvolvida por H. Dodd e aceita por gabaritados comentadores, como, por exemplo,
Raymond Brown.
Entretanto, é bom lembrar que nenhuma dessas hipóteses favorece uma explicação
satisfatória à rica complexidade da origem dos evangelhos. F. F. Bruce diz acertadamente
que a crítica da fonte “conduz necessariamente a resultados muito menos precisos [...]
porquanto tem de incluir porção bem mais avultada de elemento especulativo”.
Até mesmo a mais popular delas não consegue responder a muitas questões da
problemática envolvendo os evangelhos sinópticos. Por exemplo, uma das críticas
levantadas contra a teoria das duas fontes é que não existe cópia alguma dessa suposta
fonte “Q”. Alguns apelam para Lucas 1.1-3 como meio de provar essa teoria. Todavia, Lucas não diz que copiou ipsis litteris das fontes existentes, mas que fez acurada investigação e
consultou as testemunhas oculares ainda existentes. Lucas esteve com muitas pessoas,
inclusive com as testemunhas oculares que eram ministros da Palavra e poderiam ter
perfeitamente fornecido informações fidedignas envolvendo a vida de Cristo. Há grande
possibilidade de Lucas ter tido contato pessoal com os três evangelistas ou algum dos
apóstolos. Além disso, existe o fato de Paulo, em 57 d.C., citar uma passagem de Mateus
10.10 e Lucas 10.7 (“Digno é o obreiro de seu salário”) em 1 Timóteo 5.18. Tudo indica que
um desses evangelhos já estava circulando naquela época.
Ainda sobre Paulo, devemos atentar para o fato de que quando esse apóstolo instrui a
Igreja em Corinto, lançou mão de vários ensinamentos proferidos pelo próprio Cristo, tais
como: o divórcio, o sustento do obreiro, a santa ceia e a morte, o sepultamento e a
ressurreição de Jesus. Paulo parece invocar uma antiga tradição apostólica (1Co 15.1-7)
para fundamentar esta última doutrina. Pelo fato de ele citar esses ensinamentos como
dignos de crédito e observância, pressupõe que já havia alguns ensinamentos circulando
nas igrejas paulinas sobre Jesus Cristo. E o mais interessante é que a maioria desses
ensinamentos encontra paralelo nos sinópticos.
Na verdade, como já tivemos a oportunidade de citar, a voz dos pais da Igreja do
século 2o era unânime em professar a crença que diz ter sido Mateus o primeiro evangelho a
ser escrito e não Marcos. De fato, os quatro evangelhos, nos primeiros códices, aparecem na
mesma seqüência de que se dispõe hoje em dia. Ocasionalmente, João foi posto na frente de
Mateus, mas nunca Marcos.
Segundo o testemunho de Papias, Marcos compôs seu evangelho usando as
informações de Pedro, por isso não havia a necessidade de copiar de Mateus e muito menos
de Lucas. Além disso, se Marcos copiou de Mateus e Lucas, por que então seu evangelho foi
tão resumido no tocante aos ensinamentos de Cristo? É justo crer que ele iria omitir
episódios importantes da vida de Jesus, como, por exemplo, o seu nascimento ou o sermão
do Monte? Outro ponto que deve ser considerado é o seguinte: por que Mateus dependeria
de Marcos, que, diga-se de passagem, não foi testemunha ocular, para compor seu
evangelho? Será que as memórias de Mateus e sua íntima experiência com Cristo, além de
sua relação com os demais apóstolos, não seriam suficientes para tal tarefa?
São justamente estas algumas dificuldades que se impõem quando confrontamos tais
teorias.
Prologos Anti- Marcionitas dos Evangelhos.
ResponderExcluir160 D.C
prólogo ao evangelho de Marcos diz:
“Assim, Marcos afirma, o Marcos chamado de “selo-indicador” porque seus dedos eram curtos comparados à proporção física do seu corpo. Ele era o intérprete de Pedro, e depois da partida de Pedro entregou-se à tarefa de escrever o evangelho em alguma parte da Itália”.
prólogo de Lucas diz:
Lucas era natural de Antioquia da Síria, médico, discípulo dos apóstolos. Mais tarde se juntou a Paulo até que este foi decapitado, servindo ao Senhor sem empecilhos porque não tinha esposa nem filhos..depois que dois evangelhos haviam sido escritos – Mateus na Judéia e Marcos na Itália, Lucas escreveu seu evangelho na Acaia..
prólogo anti-marcionita do evangelho de João diz :
O evangelho de João foi publicado e entregue às igrejas pelo próprio João quando ele ainda estava vivo, conforme o relato de Papia de Hierópolis, discípulo amado de João cujo relato está em seus cinco livros exegéticos.
Obrigado!
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