Sendo o incondicionado, perfeito, não nascido, mas sempre onipresente e onisciente, de onde e como surgiu a ignorância? A perfeição suprema não pode gerar a imperfeição, bem como a onisciência não pode gerar a ignorância a não ser por um ato de vontade. Se há ignorância, condições e mundo da ilusão onde antes só havia o incondicionado, não ilusão e não ignorância (e tal mundo tem começo, Buda, a ciência e Jesus afirmam também o mesmo) então tal mundo e seres só podem ter surgido da perfeição incondicionada e por um ato de vontade da mesma. Portanto o mundo foi criado e se foi criado pela plenitude da perfeição deve ter um propósito.
Buda nega um mundo criado por um deus perfeito. Mas o que significa deus na linguagem que Buda falava? Em qualquer dos idiomas da índia antiga não existia a palavra deus equivalente ao conceito que se tem hoje de deus em qualquer religião monoteísta. O único conceito parecido a um deus absoluto e mesmo assim não criador e sim emanador do universo é o definido na palavra Brahman, que não era chamado de deus como Brahma ou outros, mas de Eu supremo. Buda nega a existência de um eu permanente individual e de um eu superior individual, mas silencia quanto a um eu absoluto ou supremo no sentido monoteísta, aliás essa questão sequer foi proposta, nem mesmo a questão de uma personalidade de Deus como foi proposto por Krishna é aventada. Buda nega que Brahma criou criou o universo, ele também conhecia muito bem os conceitos brahmanistas como expostos nos upanishads pois a classe guerreira era instruída com a mesma doutrina dos brahmanes na época em que ele era ainda príncipe. Porém sabendo disso Buda não nega Brahman nem qualquer conceito semelhante a ele, pelo contrário ele se recusa a falar de tal tema. O que ele nega é que haja algum deus ou força criadora, coisa que não se pode dizer que o incondicionado seja a não ser no sentido de latência ou potência, conceito tão abstrato que nem a física esclarece por completo.
A perfeição e o incondicionado não podem produzir ao acaso ou por derivação ou automaticamente ou por qualquer outro meio a imperfeição e o incondicionado. A não ser que haja um ato voluntário. Para que haja um ato voluntário de algo incondicionado é preciso que haja ciência do ato, pois se não houvesse estaríamos retornando à afirmação de que o incondicionado produz mecanicamente ou por derivação natural ou por qualquer outro meio. Então está provado, sem necessidade de citar nenhum teórico ou texto budista zen ou jonangpa ou de qualquer outra tradição ou patriarca, que o budismo só pode ser teísta ou seria ilógico e impossível.
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