terça-feira, 15 de agosto de 2017
DIÁLOGO ENTRE PSICANÁLISE E ZEN
Diálogo entre psicanálise freudiana e zen-budismo a respeito do eu, da subjetividade, e da identidade. Pedro Rodrigo Peñuela Sanches; Gilberto Safra (orientador) Instituto de Psicologia - Universidade de São Paulo 1. Objetivos A atual pesquisa realizou-se como continuação da pesquisa apresentada no 13º SIICUSP, intitulada "O desejo e suas implicações na constituição do eu conforme o zen-budismo e a psicanálise freudiana", de modo a manter e aprofundar a proposta de diálogo teórico entre psicanálise e filosofia zenbudista. Procurou-se, nela aprofundar a investigação a respeito das noções de eu e de subjetividade nos dois sistemas, bem como discutir as implicações para a psicanálise de um debate entre as concepções de Freud e as do zen-budismo. 2. Material e métodos Trata-se de pesquisa bibliográfica – semelhante à anterior –, cujo método consiste na leitura de textos e posterior articulação crítica de suas idéias de acordo com o recorte estabelecido. Concentrou-se a leitura em textos metapsicológicos da obra de Freud (escritos entre 1900 e 1939), e em textos clássicos do budismo primitivo e do zen-budismo. Além disso, foram realizadas entrevistas com psicanalistas e zen-budistas, a fim de permitir uma reflexão sobre as implicações das noções estudadas, no cotidiano de pessoas que praticam algum dos dois sistemas 3. Resultados e conclusões parciais A noção de eu ao longo da obra de Freud já aparece em seus primeiros textos psicológicos conceituada principalmente como uma das partes em tensão no conflito psíquico. Desde os primeiros textos analisados, é parte fundamental do conflito psíquico o esforço do eu para desalojar da consciencia tudo o que, ainda que também o constitua, é contraditório com a trama identitária construída e amada no processo narcísico. É nas relações com o outro que em grande parte o eu se constitui, tendo de renunciar ao lugar de objeto narcísico, erigindo um ideal de eu a perseguir, e passando a ser instância defensora da renúncia à satisfação pulsional imediata, promotora do processo secundário, e do princípio de realidade. Nesse sentido, é à relação com os outros e com a cultura que o eu deve sua gênese e também a fonte principal de seu conflito com sua raiz pulsional, mas é também no campo dessa relação que pode encontrar formas alternativas de algum tipo de integração entre sua identidade e as pressões pulsionais. No budismo, por sua vez, procura-se desmantelar a noção de eu, por ser entendida como a principal das ilusões fontes de sofrimento. Na argumentação dos textos clássicos budistas escritos em páli, coloca-se que o a ilusão do eu nasce da ilusão de que algum ou todos os "cinco agregados" – quais sejam, matéria, sensação, percepção, formações mentais, consciência –, constituem base de uma identidade permanente; o que, na argumentação budista é impossível, na medida em que estes "agregados" são dependentes de causas e condições constantemente mutáveis, não tendo portanto nenhuma solidez ou fixidez. O zen-budismo introduz um posicionamento mais paradoxal, expresso na frase de um de seus fundadores, Ehei Dogen, de que "estudar o budismo é estudar a si mesmo; estudar a si mesmo é esquecer de si mesmo". O que esse sistema, como desenvolvimento histórico do budismo inicial coloca é a possibilidade de o sujeito constituirse como dotado de uma ipseidade ainda que destituído de identidade permanente. Nesse sentido, seria possível pensar um sujeito que possa agir no mundo de maneira mais livre do esforço neurótico por manter a coerência com uma identidade mormente imaginária.
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