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A esquerda nos diz que Hitler e o seu movimento Nacional Socialista eram
de direita ou, para ser mais exato, de extrema-direita. Um dos argumentos mais
frequentemente utilizados para sustentar esta alegação é o fato de que Hitler
(e, por conseqüência, o Nacional Socialismo) era antimarxista. Ora, poderíamos
descartar o argumento logo de início, pois o mesmo parte do falso pressuposto
de que o marxismo é a única doutrina de esquerda que existe e que, portanto,
qualquer que seja contrário a ela é, automaticamente, de direita. Tal
pressuposto é falso porque, desde seu surgimento, a esquerda sempre contou com
doutrinas políticas que não intentavam implantar o comunismo. Os jacobinos da
época da revolução francesa (pré-marxistas, pode-se dizer) e os democratas americanos
a partir dos 1920 são apenas alguns exemplos de esquerdistas que não podem ser
chamados de marxistas, ainda que encontremos em suas doutrinas algumas
semelhanças com a ideologia do pensador alemão.
Na realidade, contanto que uma pessoa preserve traços esquerdistas
básicos (como, por exemplo, a crença de que o governo deve multiplicar suas
funções e impostos, a fim de fazer “justiça social”) é perfeitamente possível
que essa pessoa seja esquerdista e, ao mesmo tempo, uma opositora ferrenha do
marxismo. Como? Vejamos. Eu, por exemplo, acredito que a teoria de Marx é
impossível de se realizar na prática, tal como ele havia pensado. Ele imaginava
uma espécie de “ditadura democrática”, na qual todo o proletário iria governar,
e que seria temporária, dando lugar ao posterior comunismo. Para mim, é óbvio
que isso não daria certo em hipótese alguma, porque o homem tende a abusar do
poder e uma ditadura do proletariado certamente se tornaria uma ditadura de
líderes que se dizem “representantes” do proletariado.
Assim, mesmo que eu fosse esquerdista (como, de fato, já fui, embora não
o soubesse) provavelmente seria veementemente contrário ao marxismo, dada a
minha crença na impossibilidade prática do mesmo. Ainda assim, eu poderia crer
na capacidade do Estado de fazer justiça social, votar em candidatos
trabalhistas, ser contrário ao livre mercado, querer mais intervenção
governamental, lutar por mais empresas e serviços públicos e etc.
Então, apontar Hitler e o Nazismo como antimarxistas em nada prova que
eles eram de direita e não de esquerda. É preciso cavar mais fundo na questão.
E eu acredito que uma boa forma de começar a cavar é indo até o livro em que
Adolf Hitler expõe seus ideais nazistas, o Mein Kampf (Minha Luta).> O que
será que ele diz sobre o marxismo? Será que o livro deixa claro que Hitler era
contra o marxismo, justamente porque era de direita? Vamos ver.
Nesse tempo, abriram-se-me os olhos
para dois perigos que eu mal conhecia pelos nomes e que, de nenhum modo, se me
apresentavam nitidamente na sua horrível significação para a existência do povo
germânico:marxismo e judaísmo.
Adolf Hitler enxergava uma relação entre o movimento marxista, o
movimento social-democrata (que, na época, era uma variante menos radical do
marxismo) e o povo judeu. Ao longo do livro ele vai explicando esse ponto de
vista e mostrando como chegou a essa conclusão.
[...] a atividade
da social-democracia não me parecia antipática. Como esse movimento se
preocupava em melhorar as condições vitais do operariado – como eu acreditava
na minha ingenuidade de outrora – pareceu-me melhor falar a seu favor do que
contra. O que mais me afastava da social-democracia era sua posição de
adversária em relação ao movimento pela conservação do espírito germânico
[...].
Na idade de dezessete anos, a palavra marxismo era-me
pouco conhecida, enquanto socialismo e social-democracia pareciam-me concepções
idênticas. Foi preciso, também, nesse caso, que o punho forte do destino me
abrisse os olhos para essa maldita maneira de ludibriar o povo.
É interessante ressaltar como ele mostra uma inclinação à esquerda
julgar positiva a preocupação social-democrata com o proletariado. Não que a
preocupação com trabalhadores seja monopólio esquerdista, mas um direitista
jamais iria admirar a “preocupação” da esquerda com os mesmos, já que a
“preocupação” esquerdista com os trabalhadores implica em ser contrário ao
livre mercado e a favor do intervencionismo estatal. Então, já aqui começa a
ficar claro que Hitler não se tornaria antimarxista por ser favorável às
doutrinas econômicas de direita. Em outro ponto, Hitler afirma:
Vi diante de mim uma doutrina,
constituída de egoísmo e de ódio, que, por leis matemáticas, poderá ser levada
à vitória, mas arrastará a humanidade à ruína. Nesse ínterim, eu já tinha compreendido
a ligação entre essa doutrina de destruição e o caráter de uma certa raça para
mim até então desconhecida. Só o conhecimento dos judeus ofereceu-me a chave
para a compreensão dos propósitos íntimos e, por isso, reais da
social-democracia. Quem conhece este povo vê cair-se-lhe dos olhos o véu que
impedia descobrir as concepções falsas sobre a finalidade e o sentido deste
partido e, do nevoeiro do palavreado de sua propaganda, de dentes arreganhados,
vê aparecer a caricatura do marxismo.
A relação que Adolf Hitler trava entre marxismo, social-democracia e o
povo judeu começa a ficar mais explícita neste ponto. Perceba que Hitler fala
em “propósitos íntimos e, por isso, reais da social-democracia”, o que quer
dizer que o líder nazista era adepto de uma teoria da conspiração. Ele achava
que a social-democracia, bem como o marxismo escondiam seus verdadeiros
objetivos que estavam ligados, de alguma forma, a objetivos também escondidos
do povo judeu. Ele continua em outra parte:
Pouco a pouco,
compreendi que a imprensa social-democrática era, na sua grande maioria,
controlada pelos judeus. Liguei pouca importância a esse fato que, aliás, se
verificava com os outros jornais. Havia, porém, um fato significativo: nenhum
jornal em que os judeus tinham ligações poderia ser considerado como
genuinamente nacional, no sentido em que eu, por influência de minha educação,
entendia essa palavra.
Vencendo a minha relutância, tentei
ler essa espécie de imprensa marxista, mas a repulsa por ela crescia cada vez
mais. Esforcei-me por conhecer mais de perto os autores dessa maroteira e
verifiquei que, a começar pelos editores, todos eram judeus.
Examinei todos os panfletos
sociais-democráticos que pude conseguir e, invariavelmente, cheguei à mesma
conclusão: todos os editores eram judeus. Tomei nota dos nomes de quase todos
os líderes e, na sua grande maioria, eram do “povo escolhido”, quer se tratasse
de membros do “Reichscrat”, de secretários dos sindicatos, de presidentes de
associações ou de agitadores de rua. Em todos encontravam-se sempre a mesma
sinistra figura do judeu [...] Os líderes do Partido Social Democrata, com os
pequenos elementos do qual eu tinha estado em luta durante meses, eram quase
todos pertencentes a uma raça estrangeira, pois para minha satisfação íntima,
convenci-me de que o judeu não era alemão. [...] Pouco a pouco, familiarizei-me
com a sua doutrina e dela me utilizava como instrumento para a formação de
minhas convicções íntimas. Só então compreendi quais eram os corruptores do
povo.
É preciso entender o raciocínio de Hitler dentro de seu contexto. Em sua
época, os judeus estavam espalhados por toda a Europa. Havia realmente muitos
judeus e nas mais diversas camadas sociais. Isso incomodava muitos europeus,
que preservavam um espírito um pouco xenófobo. Deste modo, o pensamento
anti-semita não era incomum e nem recente, mas vinha se desenvolvendo havia
algumas décadas.
Não sabemos ao certo se havia algo mais que fazia Hitler odiar os
judeus, mas é neste contexto de diversos judeus espalhados pela Europa e de
xenofobia crescente, que Hitler começa a crer que existia um enorme plano
maquiavélico judaico para dominar o mundo. A presença de judeus em diversas
profissões e camadas sociais seria parte do plano. Cada qual estaria
estrategicamente posicionado, infiltrando na cultura suas idéias, enriquecendo
e tomando conta de espaços e trabalhos. Desta forma, social-democracia e
marxismo seriam apenas dois instrumentos nas mãos dos judeus para alcançar sua
meta suprema. Por isso, ele alerta:
Se o judeu, com o auxilio do seu
credo marxista, conquistar as nações do mundo, a sua coroa de vitórias será a
coroa mortuária da raça humana e, então, o planeta vazio de homens, mais uma
vez, como há milhões de anos, errará pelo éter. A natureza sempre se vinga
inexoravelmente de todas as usurpações contra o seu domínio. Por isso, acredito
agora que ajo de acordo com as prescrições do Criador Onipotente. Lutando
contra o judaísmo, estou realizando a obra de Deus.
Fica evidente que Hitler enxergava o marxismo e todas as suas variações
como braços do plano judaico de dominação mundial. Era isso que o fazia ser
contrário ao marxismo. E para ele, a sua conclusão era fruto de muito estudo,
conforme afirma em outro ponto:
Gradualmente o meu estudo me forneceu
princípios graníticos para as minhas próprias convicções – tanto que desde
então nunca pensei em mudar minhas opiniões pessoais sobre o caso. Fiz também
um profundo estudo das ligações do marxismo com o
judaísmo.
Conforme vai chegando ao fim do livro, Hitler vai se tornando cada vez
mais enfático quanto a relação
entre marxismo e judaísmo.
Comecei a aprender e compreender, só
agora, o sentido e a finalidade da obra do judeu Karl Marx. Só agora compreendi
bem seu livro – “O Capital” – assim como a luta da social-democracia contra a
economia nacional, luta essa que tem em mira preparar o terreno para o domínio
da verdadeira alta finança internacional.
O entendimento de Hitler sobre a economia marxista era mais ou menos
assim: o judeu encenava que estava lutando a favor do proletariado e que
colocaria a economia em suas mãos. Ao mesmo tempo desprezava nacionalidades,
criando uma mentalidade internacionalista. A idéia era quebrar as fronteiras
entre países para que quando o judeu, em qualquer país, dominasse a economia,
tivesse facilidade de dominar a economia de outras partes do mundo>, já que
não nacionalidades não mais importam e a economia marxista deve ser uma só. A
isso Adolf Hitler denominava “capitalismo internacional judaico”. Vejamos:
O que a chamada imprensa liberal fez
antes da guerra foi cavar um túmulo para a nação alemã e para o Reich. Não
precisamos dizer nada sobre os mentirosos jornais marxistas. Para eles o mentir
é tão necessário como para os gatos o miar. Seu único objetivo é quebrar as
forças de resistência da nação, preparando-a para a escravidão do capitalismo
internacional e dos seus senhores, os judeus.
Em outro trecho, Hitler repete a dose:
Antes da guerra, a
internacionalização dos negócios alemães já estava em andamento, sob o disfarce
das sociedades por ações. É verdade que uma parte da indústria alemã fez uma
decidida tentativa para evitar o perigo, mas, por fim, foi vencida por uma
investida combinada do capitalismo ambicioso, auxiliado pelos seus aliados do
movimento marxista.
Um trecho interessante que mais uma vez demonstra o viés esquerdista de
Hitler, mesmo sendo antimarxista, é quando ele começa a falar sobre como
acreditava que se deveria agir contra a imprensa judaica.
Seu pensamento segue o molde de todas as doutrinas de esquerda. A
esquerda se define pelo pressuposto básico de que o homem é capaz de resolver a
crueldade e as injustiças sociais através de alguma ferramenta. Essa ferramenta
quase sempre é o governo, que deve receber o máximo de funções possíveis, a fim
de conquistar essa meta. A crueldade e as injustiças, por sua vez, são sempre
causadas por inimigos que precisam ser combatidos. Assim, em todo governo
esquerdista, sempre há uma luta apocalíptica entre o governo e os “inimigos” do
bem-estar social.
O que difere as várias doutrinas esquerdistas uma das outras é a visão
que cada uma delas possui sobre quem são os inimigos do bem-estar social. Para
marxistas, os inimigos são os burgueses, os líderes religiosos e os
conservadores. Para Adolf Hitler, no entanto, os inimigos eram os judeus, os
estrangeiros que residiam na Alemanha, os negros, os deficientes e todos os que
se afastavam do “perfil ariano”.
Então, perceba que Hitler define os inimigos do bem estar social,
apresenta a mão forte do governo como a grande solução para o problema e afirma
que a nova imprensa estaria a serviço do Estado, o que nada mais é do que
intervencionismo estatal, controle de empresas privadas e oposição ao livre
mercado. Tudo isso “em prol” do bem estar social. Ora, isso é economia de esquerda
pura!
A coisa vai ficando mais interessante na medida em que Hitler começa a
apontar o socialismo pregado pelo marxismo como algo falso, que, na realidade,
pretende fazer exatamente o inverso do que prega: fortalecer o capitalismo.
Torna-se claro que Hilter é um socialista que deseja implantar o que ele julga
ser o verdadeiro socialismo. Ele diz:
Doravante, só resta
ao operário a tarefa de pelejar pelo futuro do povo judeu. Sem se aperceber,
entra a serviço da potência que ele tem a ilusão de combater. Com a aparência
de deixá-la atacar o capital, é que se pode melhor fazê-la lutar pelo mesmo.
Nisso tudo, grita-se constantemente contra o capital internacional, quando em
verdade o que se visa e a economia nacional. É esta que importa demolir para
que, no seu cemitério, se possa edificar triunfalmente a Bolsa Internacional.
O processo aí empregado pelo judeu é
o seguinte: aproxima-se do trabalhador, finge compaixão pela sua sorte ou mesmo
revolta contra seu destino de miséria e indigência, tudo isso unicamente para
angariar confiança. Esforça-se por examinar cada privação real ou imaginária na
vida dos operários, despertando o desejo ardente de modificar a sua situação. A
aspiração à justiça social, latente em cada ariano, é por ele levada de um modo
infinitamente hábil, ao ódio contra os privilégios da sorte; a essa campanha
pela debelação de pragas sociais imprime um caráter de universalismo bem
definido. Está fundada a doutrina marxista.
Apresentando-a inseparavelmente
ligada a toda uma série de exigências sociais bem legítimas, vai ele
favorecendo sua propaganda e, por outro lado, despertando a aversão da
humanidade bem intencionada em satisfazer aquelas exigências, que, expostas da
maneira por que o são, aparecem desde o inicio, como injustas, e mesmo de impossível
realização.
É que, sob esse disfarce de idéias
puramente sociais, escondem-se intenções francamente diabólicas. Elas são
externadas ao público com uma clareza demasiado petulante. A tal doutrina
representa uma mistura de razão e de loucura, mas de tal forma que só a loucura
e nunca o lado razoável consegue se converter em realidade. Pelo desprezo
categórico da personalidade, por conseguinte da nação e da raça, destrói ela as
bases elementares de toda a civilização humana, que depende justamente desses
fatores.
Eis a verdadeira essência da teoria
marxista, se é que se pode dar a esse aborto de um cérebro, criminoso a
denominação de “doutrina”. Com a ruína da personalidade e da raça, desaparece o
maior reduto de resistência contra o reino dos medíocres, de que o judeu é o
mais típico representante.
Essa doutrina pode ser julgada justamente pelos seus desvarios em
matéria econômica e política. Todos os que, de fato, são inteligentes hesitam
em entrar no seu séquito, e os outros, a quem falta suficiente atividade
intelectual ou preparo econômico, precipitam-se ao seu encontro. O judeu,
dentro de suas próprias fileiras, “sacrifica” o elemento inteligente ao
movimento, pois mesmo semelhante movimento não se pode manter sem inteligência.
Assim cria-se um verdadeiro movimento trabalhista, sob a chefia de judeus.
Aparentam visar à melhora das condições dos operários, tendo na mente, porém,
em verdade, a escravização e o aniquilamento de todos os povos que não são
judeus.
Impressionante esse trecho! Hitler deixa claro que não critica o
marxismo tanto por seu conteúdo, mas por sua mentira. Ou seja, Hitler está
querendo dizer que concorda com as propostas sociais marxistas, mas que se opõe
ao marxismo porque, segundo ele, tudo não passa de um embuste judaico para escravizar
as nações. É como se Hitler estivesse dizendo: “Ei! Vocês não são socialistas
de verdade! São exploradores do povo!”. Para Hitler era claro que o
“socialismo” marxista não passava de capitalismo judeu. A análise que ele faz
do panorama mundial da época leva em conta essa concepção.
A
internacionalização da economia alemã, isto é, a exploração do trabalho alemão
por parte dos financeiros judeus internacionais, somente será praticável em um
Estado politicamente bolchevizado. Mas a tropa de assalto marxista do
capitalismo internacional judaico só poderá quebrar definitivamente a espinha
dorsal do Estado alemão mediante a assistência amigável de fora. Por isso, os
exércitos da França devem ocupar a Alemanha, até que o Reich, corroído no
interior, seja dominado pelas forças bolchevistas a serviço do capitalismo
judaico internacional.
Assim, o judeu é, hoje em dia, o
grande instigador do absoluto aniquilamento da Alemanha. Todos os ataques
contra a Alemanha, no mundo inteiro, são de autoria dos judeus. Foram eles que,
na paz como durante a guerra, pela sua imprensa, atiçaram, premeditadamente o
ódio contra a Alemanha, até que Estado por Estado abandonou a neutralidade e
assentou praça na coligação mundial, renunciando aos verdadeiros interesses dos
seus povos.
As ideias do judaísmo nesse assunto são de uma clareza meridiana. A
bolchevização da Alemanha, isto é, a exterminação da cultura do nosso povo e a
consequente pressão sobre o trabalho alemão por parte dos capitalistas judeus é
apenas o primeiro passo para a conquista do mundo por essa raça.
Que Hitler era anticapitalista fica claro aqui. Ele não pretendia
destruir todo o sistema capitalista, é verdade. Mas para ser anticapitalista
não é necessário ter essa intenção. Basta encarar o capitalismo em seu estado
puro como algo ruim e procurar domá-lo através do governo, intervindo
intensamente na economia e engessando o livre mercado e a livre concorrência. É
aquela velha retórica esquerdista de controlar o “capitalismo selvagem” em prol
da sociedade.
Também fica claro aqui que a briga entre marxistas e nacional
socialistas era, na verdade, uma disputa entre duas doutrinas de esquerda que
almejavam o status de “verdadeiro socialismo”, acusando-se um ao outro de
“capitalista”. Esse tipo de disputa dentro do próprio pensamento de esquerda
sempre foi muito comum. Revolucionários franceses dividiram-se em jacobinos e
girondinos; revolucionários russos dividiram-se em bolcheviques e mencheviques;
revolucionários bolcheviques dividiram-se em stalinistas e trotskistas;
stalinistas também passaram a fazer oposição aos fascistas (que tinham
profundas raízes marxistas). E por aí vai. Nenhuma dessas disputas, contudo,
mudou o fato de que todas essas visões são de esquerda.
Ele [Hitler] invoca o poder do Estado mais uma vez para esclarecer às
massas sobre suas misérias e para aniquilar o judeu. O Estado não pode “se
conservar indiferente como o tem sido até hoje”. A partir daí, Hitler começa a
investir pesado na “justificação” de seu racismo. E ele vai tão longe que afirma
que o objetivo do Estado é preservar a raça pura. Diz:
Em face disso, a concepção “racista”
distingue a humanidade em seus primitivos elementos raciais, Ela vê, no Estado,
em princípio, apenas um meio para um fim e concebe como fim a conservação da
existência racial humana. Consequentemente, não admite, em absoluto, a
igualdade das raças>, antes reconhece na sua diferença maior ou menor valor
e, assim entendendo, sente-se no dever de, conforme à eterna vontade que
governa este universo, promover a vitória dos melhores, dos mais fortes e
exigir a subordinação dos piores, dos mais fracos.
O Estado como ferramenta para o novo mundo e a luta entre raças nos oferece
o tom de esquerdismo do nacional socialismo. No marxismo temos classes sociais.
No nazismo temos raças. Mas, no fim das contas, temos em ambas as visões de
mundo uma polarização da sociedade e um conflito que deve ser travado para que
se alcance uma sociedade reformada. Neste momento que entra a função do Partido
Os princípios políticos do partido em
formação devem ser como os dogmas para a Religião. Por isso, a concepção
racista do mundo tem de tornar-se um instrumento que permita ao Partido as devidas
possibilidades de luta, tal como a organização partidária marxista abre o
caminho para o internacionalismo
Depois de fazer toda a análise do
problema da sociedade, Hitler vem com a solução, claro! A solução estava em um
partido forte, regido por princípios quase religiosos, que iria transformar o
Estado em um verdadeiro Estado socialista. Não há nada original neste ponto.
Acredito que estes textos deixam bem
claro que o antimarxismo de Adolf Hitler nem chega perto de colocá-lo na
posição de direitista. A verdade é que Hitler era um esquerdista fervoroso, que
considerava o Nazismo como o verdadeiro socialismo e o marxismo como uma
doutrina judaica de dominação mundial, a qual ele freqüentemente denominava
como capitalismo judaico internacional..
Um pequeno
adendo
Há pessoas que podem continuar insistindo que Hitler era antimarxista
por ser direitista, baseando-se em alguns trechos de Mein Kempf que são
apontados por esquerdistas como prova de que Hitler comungava de ideias básicas
da direita. Eu gostaria de analisar pelo menos dois desses trechos, a fim de
não deixar dúvidas sobre o esquerdismo de Hitler. O primeiro trecho é esse:
A doutrina judaica do marxismo repele o princípio aristocrático na
natureza. Contra o privilégio eterno do poder e da força do indivíduo levanta o
poder das massas e o peso-morto do número. Nega o valor do indivíduo, combate a
importância das nacionalidades e das raças, anulando assim na humanidade a
razão de sua existência e de sua cultura.
Alegam os esquerdistas que esse trecho é uma prova de que Hitler era de
direita por três motivos. Em primeiro lugar, porque ele defende o “princípio
aristocrático da natureza”, que seria um princípio no qual a direita acredita e
a esquerda repele. Em segundo lugar, porque exalta o individualismo, criticando
o marxismo por sua noção coletivista de sociedade. E, em terceiro lugar, porque
exalta nacionalidades e raças, que é algo considerado conservador por quem é de
esquerda.
Todos esses pontos, contudo, são falhos. Vamos começar pelo tal
“princípio aristocrático da natureza”. O que viria a ser isso? Bem, para Hitler
esse princípio tinha a ver com a alegação de que existem raças diferentes de
homens e que algumas raças são superiores às outras. O pensamento fundamental
de direita, no entanto, jamais defendeu uma sandice dessas. Embora seja verdade
que muitos direitistas, ao longo da história, tenham sido racistas, tais
concepções não passavam de opiniões pessoais que nada tinham a ver com a visão
de mundo da direita. Até porque, ser racista independe de posição política.
Pode-se ser tanto um direitista racista como um esquerdista racista.
O que a esquerda faz aqui é, na verdade, uma grande confusão. Ela
confunde o “princípio aristocrático da natureza”, de Hitler, com o “princípio
da diversidade natural”, este sim, defendido pelo pensamento de direita.
Segundo tal princípio, os seres humanos nascem com diferenças de habilidades e,
dentro dessas habilidades, há ainda quem seja melhor do que o outro. Isso é
óbvio e não há preconceito nesta ideia. Por exemplo, em uma sala de aula nem
todos são bons em química. Talvez, de 30 alunos, apenas 10 se deem bem nesta
matéria. E dentro destes 10, certamente há um ou dois que é melhor do que os
outros. Isso vale para qualquer habilidade. É por isso que existem hierarquias,
divisões de funções e até mesmo uma divisão desigual de riquezas. Não obstante,
acreditar nisso não significa acreditar em raças naturalmente inferiores ou
superiores.
Ironicamente, a idéia de usar o racismo dentro da política para criar
grupos de conflito no mundo é uma idéia que encontra maior aporte na esquerda.
Afinal, a direita rechaça a idéia de ver o mundo como uma enorme luta entre
classes, ao passo que a esquerda se baseia nisso. Burgueses x Proletários;
Religiosos x Ateus; Conservadores x Radicais; Brancos x Negros; Heterossexuais
x Homossexuais; Machistas x Feministas; Pró-vida x Pró-escolha e etc. O mundo
esquerdista é polarizado. Tem que haver um grupo oprimido, que precisa se
proteger e se vingar, e um grupo opressor, que precisa ser combatido. O mundo
direitista não tem grupos. Só indivíduos. Assim, o princípio de Hitler é apenas
uma variação da mentalidade grupal (ou classista) da esquerda.
Quanto à questão da exaltação do individualismo, feita por Hitler, há
aqui um paradoxo. Todos reconhecem que o Nacional Socialismo não foi uma
doutrina que defendeu a liberdade individual. O simples fato de criar um
objetivo único para todos é uma prova de que o regime não tinha a intenção de
dar autonomia de pensamento ao indivíduo, mas pretendia controlar sua vida
através do Estado. Então, o que será que Hitler quis dizer quando criticou o
marxismo por negar o valor do indivíduo?
A explicação é simples. Hitler havia reparado que a doutrina marxista
criava uma enorme massa amorfa de pessoas através da mistura de nacionalidades
e culturas diferentes. Tudo se perdia nessa mistura, pois a doutrina enxergava
a todos como apenas proletários. Raça, cultura, língua, hábitos e nacionalidade
eram engolidos por essa massa proletária. Como Hitler era essencialmente
nacionalista e racista, ele precisava fazer seus leitores se sentirem
desconfortáveis em relação à maneira como o marxismo via as pessoas. O que ele
faz? Primeiro, ele mostra como que o indivíduo não tem valor no marxismo, pois
é apenas mais um proletário. Depois define o indivíduo em termos de
nacionalidade, raça, cultura, língua e hábitos (tudo o que a massa amorfa do
marxismo não levava em conta). Por fim, apresenta o nazismo como uma ideologia
que valorizava o indivíduo, já que levava em conta o que o definia.
A mágica estava feita. Com essa retórica, Hitler conseguiu fazer as
pessoas se sentirem valorizadas dentro do nazismo. Como, de fato, existe um
senso muito maior de aproximação entre pessoas de mesma nacionalidade, cultura
e etc., elas não se sentiam dentro de uma massa amorfa, mas dentro de uma
grande família.
Hitler fala em valorizar a personalidade, o indivíduo, mas deixa claro
que isso é obrigação do Estado, bem como é sua obrigação cuidar do bem-estar
dos cidadãos. Sua intenção é se intrometer na vida dos cidadãos, através do
governo, ditando aquilo que o Estado acha que é bom para o indivíduo. Isso nada
mais é do que coletivismo! Individualismo é o Estado deixar o indivíduo por si
próprio.
Com relação à defesa de nacionalidades e raças feitas por Hitler, mais
uma vez, isso não é doutrina de direita. A direita acredita em diferenças de
habilidades entre as pessoas (o que leva à existência de hierarquia) e no
patriotismo, que é bem diferente de nacionalismo. O patriotismo é o amor pela
nação, enquanto o nacionalismo é a criação de uma classe política nacional que
se opõe às outras nações. E eu torno a dizer que tal visão classista é uma
variante da mentalidade classista comum à esquerda.
O segundo trecho que quero analisar é este:
A ação destruidora do judaísmo em
vários aspectos da vida do povo, deve ser vista como um esforço constante para
minar a importância da personalidade nas nações que os acolhem e substituí-la
pela vontade das massas.
Os esquerdistas alegam aqui que a esquerda sempre prega que o poder seja
dado ao povo, ao passo que Hitler abominava isso. Seria esta uma prova de que
ele não era de esquerda, mas de direita. Verdade seja dita, Hitler não pregava
que o povo tomasse o poder. Mas isso, no máximo, fazia dele um esquerdista mais
sincero que os outros neste ponto. Afinal, todos os líderes esquerdistas que
prometeram dar o poder ao povo, se tornaram ditadores. Eles não se consideraram
ditadores, claro. Eram “representantes” do povo. Mas o fato é que jamais se viu
o próprio povo governar. E certamente todo líder sabe que, ao fim de uma
revolução, alguém vai ter que tomar as rédeas do governo e receber poderes
despóticos. Hitler apenas não fingiu que isso não ocorreria. Foi direto ao
ponto: tem que haver um líder.
Isso só reforça seu esquerdismo. Para a direita, a idéia de colocar todo
o poder nas mãos do governo, seja por meio de uma só pessoa ou de um só
partido, é ridícula, extremamente ridícula. Lembremo-nos dos pais fundadores
dos EUA, conservadores até os cabelos. Eles tinham um medo terrível do
despotismo. Por isso projetaram uma nação federalista e com um governo central
bem limitado. Lógico que os EUA não são mais assim há tempos! Mas eram. E eram
porque seus fundadores eram direitistas.
Então, se um homem pretende dar ao Estado um poder ilimitado e se tornar
o grande líder da nação, a fim de mudar os problemas do mundo, isso certamente
não é nem um pouco conservador. Na verdade, é progressista. O conservador tem
medo desse tipo de revolução insana e prefere sempre a prudência.