A ONU é incapaz de evitar as guerras
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Sugerido e escrito por QuintEssência, Revisado por BabYoda e Narrado e produzido por QuintEssência
Após o fim da Primeira Guerra Mundial, as potências vencedoras do conflito sentiram a necessidade de criar uma organização supranacional que evitasse o surgimento de novos conflitos, semelhantes à Grande Guerra, ou até mesmo maiores do que esta. Foi por isso que, enquanto dividiam os espólios dos derrotados e condenavam a Alemanha à bancarrota, as potências vitoriosas decidiram, em Versalhes, fundar a Liga das Nações, visando atingir o objetivo de garantir a paz e prevenir a guerra entre os diversos países membros. Vinte anos depois, a Europa e todo o restante do planeta mergulhavam, mais uma vez, num sangrento conflito - a Segunda Guerra Mundial, que conseguiu ser ainda pior e mais destrutiva que sua antecessora.
A Liga das Nações falhou miseravelmente em seu objetivo principal, num intervalo de tempo de apenas duas décadas. Isso não impediu, porém, que após o fim da Segunda Guerra Mundial, fossem iniciados os trabalhos para se criar uma entidade que viesse a substituir a antiga Liga na busca por seus objetivos. Assim, foi fundada, em 1946, a ONU - Organização das Nações Unidas, entidade que ainda possui, para além do objetivo inicial de promover a paz, os objetivos complementares de promover os direitos humanos, proteger o meio ambiente e fomentar o desenvolvimento econômico de todas as nações. Mas será que a ONU realmente tem atingido esses objetivos declarados?
O primeiro ponto a se comentar a respeito da ONU é que ela não responde por todas as nações do mundo - até porque a definição do que seja uma nação é algo extremamente vago, dependendo do reconhecimento de outros países para que sua existência seja legitimada. O fato é que a ONU possui, atualmente, 193 países-membros - enquanto que, por exemplo, a FIFA, a Federação Internacional de Futebol, possui 211 países-membros. Qual dos dois órgãos possui legitimidade para definir a quantidade de países existentes ao redor do globo? Pois é, essa é uma pergunta que, certamente, não possui uma resposta clara.
Os problemas da ONU, porém, não se restringem, meramente, a detalhes técnicos. A prática da busca por seus supostos objetivos é um dos maiores problemas da organização. Pense, por exemplo, que o Conselho de Direitos Humanos da ONU já teve, entre seus membros, diversos países conhecidos por violar sistematicamente direitos humanos, praticando tortura em prisioneiros, perseguindo e punindo indivíduos por suas escolhas sexuais e religiosas, negando direitos básicos às mulheres e massacrando minorias étnicas em seu território. Uma tal composição de um conselho dedicado a proteger os direitos humanos ao redor do globo poderia ser uma piada, se não fosse uma verdadeira ofensa às vítimas desses países.
Entre os anos de 2006 e 2015, o Conselho de Direitos Humanos da ONU emitiu 116 condenações - sendo que apenas um país recebeu mais da metade de todas essas condenações. Ao contrário do que você possa imaginar, não se trata de um país responsável por algum genocídio ou por perseguição religiosa implacável; e sim Israel, que detém, sozinho, 61 condenações em tal Conselho. Fica evidente que as condenações emitidas por esse órgão não são estabelecidas por critérios técnicos, mas sim por disposições políticas, visando sempre os interesses dos países membros - ou de pelo menos a maioria deles. E é justamente a característica política da ONU que representa o seu maior problema.
Isso nos leva ao emblemático caso do genocídio ocorrido em Ruanda, em 1994. Qualquer pessoa que tirasse alguns minutos para refletir a respeito de quais seriam as maiores utilidades de uma organização como a ONU, certamente concluiria que defender a paz e evitar tragédias humanitárias seriam as opções mais óbvias. Afinal de contas, o público médio poderia aceitar uma intervenção internacional em um país soberano, se esta tivesse por objetivo evitar que um massacre étnico fosse adiante. Pois bem, o caso do Genocídio de Ruanda nos prova, categoricamente, que a ONU é incapaz de evitar esse tipo de tragédia.
Em 1994, os hutus promoveram uma matança generalizada contra as minorias tutsis, num trágico evento que levou 800 mil pessoas à morte, num espaço de tempo de menos de 4 meses. Enquanto o genocídio ocorria, a ONU mantinha-se numa atitude passiva, preferindo chamar a matança de “massacre”, enquanto até mesmo mulheres e crianças eram mortas, de forma indiscriminada, a golpes de facão. Diversos avisos anteriores ao início dos crimes foram enviados a membros de alto escalão da ONU, mas todos foram sumariamente ignorados. O mesmo se deu também após o início do genocídio.
Na época, o chefe do Departamento de Operações de Paz era o ganês Kofi Annan, que, embora fosse africano, parecia não se preocupar muito com o que acontecia em outra parte do continente que o viu nascer. Diversos avisos a respeito da iminência de um genocídio foram entregues a Kofi Annan, mas ele os ignorou completamente. Ele próprio reconheceria sua péssima gestão dessa questão, anos depois. A vergonhosa atuação de Annan antes e durante o Genocídio de Ruanda deveria levá-lo, no mínimo, a uma demissão de seu posto na ONU, certo? Bem, não foi isso o que aconteceu. Inacreditavelmente, Kofi Annan viria a se tornar, três anos depois, secretário-geral da ONU (maior cargo da organização), tendo sido laureado, em 2001, com o Prêmio Nobel da Paz. Sim, o Nobel da Paz.
Na atualidade, porém, é a questão da manutenção da paz que tem tomado conta de nossas atenções - o que nos leva a outro conselho da ONU, o de Segurança. Formado por 15 membros, o Conselho de Segurança da ONU possui 5 membros com mandato fixo e poder de veto em suas decisões. São estes: Estados Unidos, China, França, Reino Unido e, como não poderia deixar de ser, a Rússia. Como o nome sugere, o objetivo do conselho é evitar guerras, interferindo militarmente, se for necessário, em áreas em que possam se desenvolver conflitos, ou onde estes já estejam acontecendo.
Bem, qual é o posicionamento do conselho da ONU dedicado à manutenção da paz, no que se refere ao atual conflito entre Rússia e Ucrânia? Os exércitos invasores de Putin foram censurados pelo conselho, com exigências imediatas da retirada de suas tropas de um país soberano? Não, isso não aconteceu, porque um dos membros permanentes do conselho - a própria Rússia - vetou a resolução que condenava suas ações. Percebe-se, claramente, que a ONU é ineficiente também nesse aspecto, uma vez que os próprios países que compõem o conselho de segurança podem, eventualmente, se envolver em conflitos com outras nações - Rússia e Estados Unidos que o digam.
No fim das contas, o fato é que a ONU esbarra nos mesmos problemas dos estados como os conhecemos hoje: trata-se uma entidade política, movida não por genuínos interesses no bem-estar da humanidade, mas sim por espúrios interesses individuais de sujeitos que querem acumular, para si, mais poderes, galgando degraus na organização, com vistas a alcançar o topo dessa burocracia. Os membros dos escalões mais altos da ONU desejam apenas subir em suas carreiras burocráticas; e se, para isso, for necessário fazer vistas grossas a algum país votante ou a determinadas ações de um líder mundial de renome, eles farão isso sem o menor receio e sem qualquer tipo de dúvida.
Pense no exemplo do agora mundialmente conhecido Tedros Adhanon, diretor geral da Organização Mundial da Saúde, a OMS, um dos “braços” da ONU. Tedros é um burocrata de carreira, tendo exercido o cargo de ministro da saúde em seu país-natal, a Etiópia, período no qual o pobre país africano sofreu com três surtos de cólera que vitimaram duramente sua população. Não obstante seu fracasso retumbante no combate às doenças, em seu próprio país, Tedros foi eleito para a direção da OMS em 2017, numa campanha capitaneada pela China. Não é surpreendente vermos, pouco tempo depois, o mesmo Tedros tecendo comentários elogiosos à forma como o governo comunista de Pequim combateu a atual crise sanitária que vivemos.
Os exemplos de Tedros e Kofi Annan nos mostram que, tal como na política dos estados, os piores sempre chegam ao poder na ONU. Afinal de contas, também essa organização dispõe de um polpudo orçamento de US$ 3 bilhões anuais, uma cifra que pode encher o bolso de muita gente mal-intencionada. Longe de mim querer insinuar qualquer coisa; mas será que é um equívoco imaginar que, assim como os políticos dos países mundo afora utilizam suas carreiras públicas para enriquecer ilicitamente, também os chefes da ONU e de seus departamentos não teriam, talvez, o mesmo incentivo?
Como um órgão burocrático formado por estados e governado por políticos, a ONU funciona exatamente como qualquer outra entidade estatal: liderada pelos piores, agindo de forma ineficiente e fracassando em todos os seus objetivos declarados. O que a ONU sabe fazer bem é agir em nome de interesses de alguns países-membros e, naturalmente, desenvolver a carreira política de suas lideranças.
Entidades burocráticas como a ONU jamais serão capazes de proporcionar paz onde quer que seja, justamente por serem ineficientes e por terem outros objetivos mais importantes, em primeiro lugar. A paz entre diferentes povos só pode ser alcançada por um eficiente e livre sistema de mercados, que torna todos os povos interdependentes, fazendo com que conflitos se tornem caros e prejudiciais a todas as partes. Determinações, resoluções e outros tipos de ações burocráticas, emitidas por políticos globalistas, não são capazes de fazer aquilo que o mercado faz com maestria: unir os diferentes de forma pacífica, num arranjo em que todos, ainda que buscando sempre seus próprios interesses, saem ganhando.