sábado, 16 de outubro de 2021

Cap. 6 - Ecce Homo - Louis Claude de Saint-Matin

 

Do livro Ecce Homo por Louis Claude de Saint Martin, publicado pela Sociedade das Ciências Antigas






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Capítulo VI


Na categoria das falsas missões estão as que fazem uso de datas e procuram aplicar a movimentos políticos modernos as várias profecias contidas na história judaica. Essas se referiam somente a povos ligados diretamente à Judea, por interesse ou rivalidade, mas sempre segundo planos divinos insondáveis. Realizados tais planos, as profecias utilizadas para anunciá-los exauriram completamente o espírito que lá se encontrava.


Os próprios judeus serão obrigados a se elevarem até regiões superiores para obter os frutos que lhes foram prometidos, onde esse espírito se retirou para aguardá-los. Lê-se, portanto, em Jeremias 30:24: A ardente ira do Eterno não se acalmará até que tenha realizado e executado os propósitos de seu coração. No fim dos dias compreendereis essas coisas.

Lê-se ainda em Isaías 60: 18-22, onde a consolação e a alegria com as quais devem ser preenchidos são transferidas a um dia no qual não terás mais o Sol como luz do dia, nem o clarão da noite te iluminará......O teu Sol não voltará a por-se, e a tua Lua não minguará.

Em Joel 4: 1-2 ainda se lê que depois do retorno da escravidão do povo de Judá e de Jerusalém, o Senhor diz que reunirá todos os povos no vale de Josafá para julgá-los ( tais expressões exultam a inteligência a elevar-se acima do vale terrestre ). O Senhor promete à estirpe de Judá no versículo 21: purificarei ( vingarei ) então o sangue deles, que não purifiquei antes; e o Senhor habitará em Sion. Sobre essas últimas palavras, recordemos a frase pronunciada por São Paulo em I Cor 15:50: A carne e o sangue não poderão receber por herança o reino de Deus. Pela mesma razão dizemos que o reino de Deus não pode co-habitar com a carne e com o sangue. Será necessário, portanto, que a carne e o sangue desapareçam para que as profecias de paz do antigo testamento possam se realizar.

No entanto, se tais profecias fossem aplicadas à reintegração do povo de Israel ao seu reino temporal e terreno isso as diminuiria, certamente querer aplicá-las hoje aos movimentos sociais e políticos significaria desconhecê-las. Estaríamos atribuindo a essas funções que o espírito não lhes conferiu. Não podemos esquecer o estado de nossas sociedades políticas atuais que, infelizmente, estão abandonadas a simples potências humanas, das quais não podemos esperar nenhum futuro. O reino do homem não é desse mundo, e o Homem reparador, que nos regula verdadeiramente, não se ocupou da ordem política dos reinos da Terra deixou-os, sim, às potências que os dirigem.

Esses parecem também estar privados de espírito, embora no seu agir desordenado a luz espiritual jamais os perca de vista. As missões de que falávamos antes, certamente não são menos falsas do que quando se anunciam sob o nome humano da Virgem ou sob outros nomes de criaturas privilegiadas. A tendência do homem de santificar seus próprios impulsos sentimentais e divinizar os objetos bastou para que as simples orações e invocações dirigidas a essas criaturas privilegiadas, assumissem no seu íntimo um caráter de dignidade e imponência. O homem encontra-se apoiado, quase exclusivamente, no auxílio que tais criaturas podem lhe dirigir, enquanto Deus pode favorecer-lhe a ponto de permitir a essas criaturas orarem em conjunto com todos os homens para Ele.

Mas, ao contrário, transpusemos seu culto com facilidade e imprudência. Quanto mais o homem encontrava naquelas criaturas escolhidas a paz, a alegria, o apoio do qual necessitava, menos se sentia impelido a buscar seu conforto na própria fonte.

De fato, quantas pessoas que oram para tais criaturas auxiliadoras, não se surpreendem acreditando orar à própria Divindade, sem conseguir mais estabelecer a diferença entre elas? Quantos se surpreendem adorando-os, enquanto acreditam estar apenas orando? Esse tipo de idolatria é muito perigosa, porque nasce da nossa sensibilidade, do nosso amor e das nossas virtudes, se não das nossas próprias mentes.

Aproveitando-se dos falsos passos que nossa sensibilidade mal instruída nos faz seguir, o Príncipe das trevas facilmente nos conduz em direção a outros chamados desviados que para ele são bem conhecidos,. Sob a veneração de nomes transformados em sagrados pelo homem, ele pode preparar, anunciar e operar maravilhas e acontecimentos tão planejados que poderiam enganar os próprios eleitos. Qual a razão, então, para que o Príncipe das trevas se esforce em conferir a tais nomes poderes quase divinos, a não ser pela intenção de esconder, o melhor possível, o nome do verdadeiro Deus, que o impediria de se mover e o relegaria aos abismos? Pois se é verdade que existem fogos que produzem irradiações e nuvens que fazem as imagens dos objetos formarem reflexos aparentes, é ainda mais verdadeira a existência de um fogo vivo que opera no silêncio e oculto como o fogo da natureza, produz sem parar os mesmos objetos, regulares em suas formas e

onde parecem desvanecer todas as disformidades.

Certamente, o Príncipe das trevas só pode executar obras inferiores e ilusórias, através do nomes de que se serve. Porém, num grande número de casos distintos, ele tem a capacidade de substituir obras autênticas pelas suas semelhantes com uma analogia doutrinal; fundamentada sobre a nossa

perigosa sensibilidade, ilude o coração com uma doçura sedutora e o espírito com maravilhas pela conformidade da missão e a correspondência dos fatos.

Se fôssemos menos imprudentes, essa mesma uniformidade não deveria deslumbrar-nos mais que o normal. Efetivamente, o mesmo agente que influi sobre tais missões, dirige maravilhas animado pelo escopo de deslumbrar-nos ao invés de instruir-nos; também opera sempre sobre as mesmas bases: conhecendo nossas fraquezas e nossa ávida curiosidade (que tomam as tonalidades das nossas verdadeiras necessidades) é natural que obtenha sempre os mesmos resultados.

Na uniformidade dessas profecias e missões pode haver uma semelhança com aquelas sacras. De fato, ambas nos anunciaram os mesmos eventos e mantiveram a mesma linguagem. Tudo isso não elimina a possibilidade de sermos enganados por tonalidades aparentes, e não impede que o erro tenha, como a verdade, uma linguagem assoante e testemunhos uniformes.

Mas existem sinais por meio dos quais podemos nos guardar dos enganos. Basta pensar nos elogios que os agentes dessas diversas missões fazem abundantemente aos que são chamados, estabelecendo promessas sobre os brilhantes papéis que realizarão. Por outro lado, sabemos que os verdadeiros profetas não costumam ser elogiados e que o Homem responsável pela redenção de nossas culpas prometeu aos próprios discípulos somente ultrajes e perseguições.

Um outro sinal revelador do engano pode ser sentido pela divergência entre as missões extraordinárias e o caráter das missões fundamentais do Reparador, que são as únicas sobre as quais se podem modelar todas as outras missões verdadeiras.

As missões mais próximas de nós no tempo, afastam-se do espírito do Reparador ao localizar sobre a Terra um ponto focal para as graças divinas que ele prometeu às Nações e para as quais não estabeleceu nenhum lugar específico, baseado nas palavras que disse a Samaratina. João 4: 21-23: Vem a hora em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis ao Pai...... Vem a hora e já chegou em que os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade e são esses os adoradores que o Pai deseja.

As missões afastam-se do espírito do Reparador, quando sujeitam seus agentes à regras humanas e ascéticas, gerando discussões, por não terem sido de fato instituídas pelo Reparador e que sendo fundamentadas somente sobre um caráter convencional e figurativo, oferecem a possibilidade de opiniões relacionadas ao Príncipe oculto e à confusão que ele opera nas próprias missões. Se não são dirigidas pelo Príncipe das trevas, que se serve de normas inconsistentes para sufocar a verdadeira piedade, podem ser orientadas também por entidades que já partiram deste mundo e que estiveram incorporadas em instituições convencionais ou figurativas durante suas vidas terrenas.

Essas, detidas nas regiões inferiores sem terem ainda ascendido às regiões de sua perfeita renovação, podem conservar relações terrenas na ordem da piedade inferior e, nessas relações, saber ensinar doutrinas reduzidas e limitadas - aprendidas sobre a Terra e das quais ainda não tiveram tempo de se separar.

O terceiro sinal revelador a nos manter atentos quanto a um possível aspecto negativo das missões extraordinárias, consiste em analisar o motivo pelo qual as mulheres, dada a sua sensibilidade, são preferidas em relação aos homens, sendo o foco de todos os favores da glória que tais missões prometem a seus agentes para reinarem nessa espécie de império. De fato, Isaías nos esclarece bem nesse ponto quando repreende o povo por deixar-se dominar pelas mulheres (3:12).

Para alguns homens, que exercem papéis representativos no âmbito das realizações extraordinárias e de manifestações de força ligadas ao nome da Virgem e de muitas outras criaturas privilegiadas, as mulheres prestam-se em massa a desenvolver a função de anunciadoras e de missionárias, em qualquer lugar que estejam.

Não falo das instituições religiosas que a ignorância, a superstição e a má fé consolidaram sob o amparo de nomes fascinantes, arrastando sem limites o entusiasmo das populações ignorantes. As desarmonias que daí derivam são comparáveis àquelas que derivam de um abuso análogo na ordem das manifestações.

Para convencer-nos, basta deter nossa atenção sobre os princípios aqui já expostos. Antes de mais nada, nós fomos eleitos para sermos sinal e testemunho da Divindade e de mais nenhum outro ser.

Além disso, as Sagradas Escrituras, que são o arquivo fiel dos nossos títulos e do nosso destino, nos dizem do Reparador em Atos 4:12 : Em nenhum outro há salvação, pois nenhum outro nome foi dado sob o céu aos homens por quem possamos ser salvos.

Em vão, os defensores de nomes novos e diferentes apoiam-se nas palavras do próprio Reparador, que no Apocalipse 2:17 promete dar aos vitoriosos o maná sagrado, e uma pedra branca sobre a qual será escrito um novo nome desconhecido a todos exceto aquele que o recebe.

Tais palavras são dirigidas contra os partidários de nomes novos. Como não se espera que sejam vitoriosos ao oferecer um novo nome, demonstrou-se que a promessa não se refere a esse tipo de manifestação.

Além disso, esses novos nomes são conhecidos por quem os recebe e também por todos aqueles que não os recebem, enquanto o novo nome prometido pelo Reparador não é conhecido de nenhum outro, a não ser pelo que o recebe. Esse mesmo Reparador diz em Apocalipse 3:12 : Quanto ao vencedor, farei dele uma coluna no templo de meu Deus. E ele nunca sairá fora do templo e escreverei sobre ele o nome de meu Deus e o nome da cidade de meu Deus da nova Jerusalém, aquela que desce do céu de meu Deus, e meu novo nome.

Essas promessas anunciam ainda que haverá favores para aqueles que aproveitarão os dons já trazidos pelo Reparador. Consequentemente anunciam uma ampliação do nome libertador que ele já nos ensinou. Ora, as manifestações da emotividade impaciente e inconsciente, baseadas num pretenso aumento, no fundo oferecem nomes de criaturas simples que abusam de nós, contradizem os verdadeiros princípios do nosso ser, injuriam as Escrituras e, falsamente, pretendem abolir suas promessas.

Quanto às manifestações e missões que se apresentam sob o nome do próprio Reparador, não só não nos dão o verdadeiro novo nome, como atribuem ao Reparador um papel e uma linguagem onde ele próprio não se reconheceria.



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