Parte 1
DO INÍCIO
O termo "direita" na política não é bem definido e tem sido usado para diferentes posições políticas ao longo da história. Os termos "política de direita" e "política de esquerda" têm origem na Revolução Francesa (1789–1799), e referiam-se originalmente ao lugar onde políticos se sentavam no parlamento francês. Os que estavam sentados à direita da cadeira do presidente parlamentar forma chamados de direita (nem isso é claro afinal: à direita do ponto de vista de quem? Do presidente ou dos parlamentares? e ainda: O presidente do parlamento sentava de frente para os parlamentares ou no mesmo sentido virado para a mesa?). Estes foram amplamente favoráveis ao antigo regime, o Ancien Régime. A Esquerda e era composta por políticos que defendiam a hierarquia, a tradição e o clericalismo. Tem a ver alguma coisa com essa classificação hoje? Talvez muito, ou não? Vejamos.
A expressão le droite (a direita) na França após a restauração da monarquia em 1815 passou a ser muito usada, então le droit foi aplicada para descrever a ultra-monarquia. Em outras épocas e outros países esses termos não eram usados. Nos países de língua inglesa, por exemplo, o termo só foi utilizado no século 20, quando passou a se aplicar, embora talvez não clara nem adequadamente, à certa posição que políticos e ideólogos defendiam no plano de governo que apresentavam.
Em 1789, quando os membros da Assembleia Nacional se dividiam em partidários do rei à direita do presidente e simpatizantes da revolução à esquerda, um deputado, o Barão de Gauville afirmou:
"Nós começamos a reconhecer uns aos outros: aqueles que eram leais a religião e ao rei, ficaram sentados à direita, de modo à evitar os gritos, os juramentos e indecências que tinham rédea livre no lado oposto."
Mas nessa época a chamada direita se colocou na verdade contra a disposição dos assentos, porque acreditava que os deputados devessem apoiar interesses particulares ou gerais, em vez de formar facções ou os famigerados partidos políticos. A imprensa então (no período da abertura da Assembleia dos Estados Gerais, Versalhes, 5 de Maio de 1789) usou os termos "esquerda" e "direita" para se referir a lados opostos simplesmente. Já no século 19, na França, a principal linha divisória entre Esquerda e Direita foi entre partidários da República e partidários da Monarquia. Então veja que republicanos, chamados hoje de direita eram a esquerda da época.
Assim continuou variando o significado de direita entre povos, épocas históricas, sistemas políticos e ideologias. De fato nunca essa demarcação foi precisa, apesar de até hoje haverem pessoas dispostas até a matar e morrer por causa desses rótulos imprecisos e que muitas vezes estes mesmos desconhecem seu significado atual, pior ainda ao longo da história.
HOJE
No geral direita política quer descrever hoje uma visão ou posição que aceita a liberdade individual, a desigualdade humana (natural, cultural, religiosa e econômica) e defende a estrita igualdade de direito perante a lei; em oposição a esquerda que nesse caso defende o direito coletivo (chamado bem comum, em que o bem individual é menos importante que o bem comum, coletivismo), a igualdade social como função do estado (até obrigação) e direitos especiais para determinados grupos e minorias. A desigualdade é vista pelos chamados direitistas como algo natural, inevitável, normal, ou mesmo desejável quando surge devido a esforço, habilidade, trabalho, estudo, produção, etc. ou o oposto disso; ou natural devido a talentos, dons, aptidões, etc. ou ainda devido a aceitação ou violação das leis e valores éticos e morais sendo cada um punido ou premiado de acordo com suas ações diante disso.
Já com relação a política partidária (que naturalmente já é uma ideia de política mais à esquerda) convencionou-se (ou ainda está em discussão) que direita incluem conservadores, democratas-cristãos, liberais (exceto nos Estados Unidos onde mais coerentemente os liberais são vistos como esquerda), libertários, minarquistas, monarquistas, republicanos, nacionalistas e alguns tipos de anarquismo (outra coisa que aparentemente, apenas aparentemente, só ocorre nos E.U.A., partidos anarquistas) , entre outras posições mais regionalizadas ou segundo outras ideologias que não dos próprios direitistas. Friedrich Hayek aponta que é um erro ver o espectro político como uma linha, com os socialistas à esquerda, os conservadores à direita e os liberais no meio. Ele posiciona cada grupo, no canto de um triângulo.
Mais contemporaneamente um quadro como um gráfico cartesiano que divide um quadrado em quatro partes mostra mais exatidão as posições políticas. O quadro divide as posições entre maior e menor interferência estatal na economia (esquerda e direita econômica) na horizontal e a interferência em outros elementos na linha vertical, geralmente em que medida o estado é autoritário ou não.
Enquanto em todo o resto do mundo hoje a discussão gira em torno de liberais e conservadores, as Américas e Europa latinas estão no velho dilema esquerda e direita do século passado, ou seja, entre supostos socialismo e capitalismo. Assim também ainda estão muitos países da Ásia e leste europeu enquanto no norte da Europa e até nos Estados Unidos e Canadá a visão que divide a política entre direita e esquerda é vista como ultrapassada ou simplesmente uma visão da esquerda mais radical ou que tende sempre a radicalizar mais à esquerda e acusar outros esquerdistas de serem de direita.
Outro espectro de divisão contemporâneo posiciona mais à direita as políticas menos intervencionistas, ou seja, nas quais o papel interventor do estado é menor ou nulo e mais à esquerda os tipos mais intervencionistas. Esse tipo de classificação pode parecer um retrocesso à velha polarização cega entre esquerda e direita, mas é importante notar que ele se refere a políticas, não a partidos ou ideologias, dessa forma, e apenas dessa forma, é muito útil para a análise das políticas individualmente, conforme a necessidade no período em questão. Desse modo um governo ou partido por exemplo, pode ser analisado em suas ações e projetos, uns mais à esquerda outros mais à esquerda, se são adequados ou não. Então por ser bem mais flexível e bem menos ideologizada eu creio que esse tipo de análise pode ser até útil, além de mais madura e realista.
Entretanto o gráfico divido em quatro partes me parece ser também adequado quando se trata de posições gerais e de propostas de partidos. Com a ressalva de que não se pode dividir verticalmente em níveis de estado quanto ao seu autoritarismo sem correr o risco de cair em idologismos, eu prefiro analisar a linha vertical quanto ao grau de intervenção em outros elementos. Assim podemos analisar o grau de liberdade econômica na horizontal como maior liberdade econômica à direita e menor à esquerda, ou seja, mais intervencionismo econômico; e na vertical outras influências, como alguns teóricos tem apresentado, mais conservadores acima e menos conservadores abaixo, mais intervenção na cultura, educação, saúde, segurança, cidades acima, e menos intervenção abaixo. É claro que dessa forma também pode apresentar alguns problemas nas generalizações, mas muito menos que nas outras de polarização simplória.
Baseado em:
Social Cognition: An Integrated Introduction. SAGE Publications.
"Hayek, Friedrich. Why I Am Not a Conservative", in The Constitution of Liberty (1960)
Goodsell, Charles T., "The Architecture of Parliaments: Legislative Houses and Political Culture", British Journal of Political Science, Vol. 18, No. 3 (July , 1988)
Linski, Gerhard. Current Issues and Research In Macrosociology
Clark, Barry. Political Economy: A Comparative Approach
Andrew Knapp and Vincent Wright. The Government and Politics of France.
Rodney P. Carlisle. Encyclopedia of politics: the left and the right, Volume 2.
Gauchet, Marcel, "Right and Left" in Nora, Pierre, ed. Realms of Memory: Conflicts and Divisions
The English Ideology: Studies in the Language of Victorian Politics - George Watson Allen Lane: London 1973
Wikipedia
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