nunca existiu. Hoje, talvez, nem mesmo os críticos mais ferozes, como os do “Seminário de
Jesus”, ousam negar a existência histórica de Jesus Cristo, e isso devido aos muitos
documentos a respeito de sua pessoa. Negar, hoje, a passagem de Jesus pela terra seria
como assinar um atestado de obtusidade histórica ou se declarar descontextualizado com as
novas descobertas.
Apesar da abundância de provas que temos sobre Jesus, muitos estudiosos amadores,
levados pelo preconceito e pouca seriedade científica, especulam dizendo que não existem
comprovações concretas da existência de Jesus fora dos evangelhos. Quando não, saem com
o disparate de que só existem duas menções ao nome de Jesus fora dos livros religiosos
(Novo Testamento e os escritos cristãos dos pais da Igreja), as quais se limitariam tãosomente a Flávio Josefo e Plínio. Isso mostra o tom preconceituoso e parcial com que tais
estudiosos tratam os documentos cristãos históricos. Só porque a maioria dos testemunhos
históricos sobre a existência de Jesus é de cunho religioso, esses testemunhos são postos
sob suspeita.
É claro que, para quem conhece um pouco de história, isso não passa de falácia.
Fora os próprios evangelhos e os escritos dos pais da Igreja, temos, ainda, outros
textos dos séculos 1o e 2o que mencionam Jesus Cristo. Podemos dividi-los em dois grupos:
os documentos provindos de fontes judaicas e os documentos provindos de fontes pagãs. Ei-los, em ordem:
Fontes Judaicas
Flávio Josefo
Josefo foi contemporâneo de Cristo e viveu até 98 d.C. É considerado um dos melhores
historiadores antigos. Suas obras sobre o povo judeu são uma preciosidade histórica da vida
helênica no século 1o. Em seu livro Antiguidades judaicas, faz algumas referências a Jesus.
E, em uma delas, escreve: “Por esse tempo apareceu Jesus, um homem sábio que praticou
boas obras e cujas virtudes eram reconhecidas. Muitos judeus e pessoas de outras nações
se tornaram seus discípulos. Pilatos o condenou a ser crucificado e morto. Mas aqueles que
se tornaram seus discípulos pregaram sua doutrina. E afirmam que Jesus lhes apareceu
três dias após a sua crucificação e que está vivo. Talvez, Ele fosse o Messias previsto pelos
maravilhosos prognósticos dos profetas” (XVIII,3,2).
O texto citado é uma versão árabe e, talvez, seja a que mais perto se aproxima do
original. Muitos o colocam em dúvida dizendo ser uma interpolação de um escritor cristão.
E alegam, ainda, que Josefo, na qualidade de judeu, nunca iria se reportar a Jesus dessa
maneira. Mas parece que não há motivos fortes para isso. A verdade é que cada vez mais
eruditos hoje em dia estão inclinados a aceitar essa versão do texto como fidedigna, embora
admitam pequenas interpolações em algumas partes, como, por exemplo, a referência sobre
a ressurreição e a declaração do messianismo.
Em outros lugares, Josefo registra a execução de João Batista (XVIII,7 ,2) e o martírio
de Tiago, irmão de Jesus, que era “chamado Cristo” (XX,9,1): “Assim reuniu um conselho
de juízes, perante o qual trouxe Tiago, irmão de Jesus, que era chamado Cristo, junto com
alguns outros, e, tendo-os acusado de infração à lei, entregou-os para ser apedrejados”.
Mesmo na versão russa, considerada polêmica, é lamentável ver como o preconceito de
alguns críticos os impede de aplicar o bom senso na interpretação dessa passagem. Um
cristão jamais usaria o verbo “ser” no passado, e isso é uma prova favorável contra uma
suposta interpolação de algum escriba cristão, pois, com certeza, usaria a expressão “que é
chamado o Cristo” e não a expressão “que era chamado o Cristo”, como está no texto.
Talmude
A Encyclopaedia Britannica, ao mencionar os talmudes judaicos como fontes
históricas sobre Jesus, finaliza o assunto da seguinte maneira: “A tradição judaica recolhe
também notícias acerca de Jesus. Assim, no Talmude de Jerusalém e no da Babilônia
incluem-se dados que, evidentemente, contradizem a visão cristã, mas que confirmam a
existência histórica de Jesus de Nazaré”.
A “contradição” mencionada pela referida enciclopédia é a acusação dos judeus de que
Jesus realizava magia: “Na véspera da páscoa, eles penduraram Yeshua [...] ia ser
apedrejado por prática de magia e por enganar Israel e fazê-lo se desviar [...] e eles o
penduraram na véspera da páscoa” (Talmude Babilônico, Sanhedrim 43a).
Esses relatos da crucificação estão de pleno acordo com os evangelhos (Lc 22.1; Jo
19.31).
Fontes Pagãs
Plínio
No século 2o, quando o cristianismo atravessou as fronteiras do Império, os cristãos
começaram a chamar a atenção dos pagãos. A difusão do cristianismo foi tão profusa que
chegou a ser tema de uma correspondência política entre Plínio, o Jovem, procônsul na Ásia
Menor, em 111 d.C., e Trajano. A carta dirigida ao imperador Trajano trata das torturas
infligidas aos cristãos por seus pretensos crimes. Entre tais crimes, está o seguinte: “[Os
cristãos] têm como hábito se reunir em um dia fixo, antes do nascer do sol, e dirigir palavras
a Cristo como se este fosse um deus; eles mesmos fazem um juramento, de não cometerem
qualquer crime, nem roubo ou saque, ou adultério, nem quebrarem sua palavra, nem
negarem um depósito quando exigido. Após fazerem isso, despedem-se e se encontram
novamente para a refeição...” (Plínio, Epístola 97).
É interessante ressaltar alguns detalhes nessa carta: Plínio relata fatos históricos
importantíssimos, tais como: a Igreja em expansão e a adoração ao seu fundador — Cristo
— “como se fosse um deus” (Christo quase deo).
Veja, Plínio não procura negar a existência histórica de Jesus.
Tácito
Cornélio Tácito (55-117), um dos mais famosos historiadores romanos, governador da
Ásia em 112 a.D., genro de Júlio Agrícola, que foi governador da Grã-Bretanha, escreveu o
seguinte sobre Cristo: “O fundador da seita foi Crestus, executado no tempo de Tibério pelo
procurador Pôncio Pilatos. Essa superstição perniciosa, controlada por certo tempo, brotou
novamente, não apenas em toda a Judéia [...], mas também em toda a cidade de Roma”
(Anais, XV,44).
O contexto dessa carta trata sobre o incêndio criminoso de Roma. Nero mandara
incendiar Roma e usou os cristãos como bode expiatório. Tácito, apesar de não ser
simpatizante do cristianismo, confirma, entretanto, fatos históricos importantíssimos, tais
como: um personagem histórico chamado “Crestus” (Cristo), sua Igreja, sua morte e a
expansão do cristianismo no século 1o.
Tácito tão-somente confirma o que já sabíamos pelos relatos evangélicos.
Luciano de Samosata
Escritor satírico do século 2o, conta, em sua obra O peregrino, a história de um
cristão convertido e sua apostasia. O livro é recheado de zombarias. E, entre elas, uma
referência ao fundador do cristianismo: “Depois daquele, para dizer a verdade, a quem eles
ainda adoram, o homem que foi crucificado na Palestina porque introduziu este novo culto
no mundo”. Em outra parte, acrescenta que os cristãos continuam “adorando aquele mesmo
sofista crucificado e vivendo segundo suas leis”.
Há uma prova implícita nesse texto sobre o paradoxo “Jesus da história versus o
Cristo da fé”. Em suas linhas zombeteiras, encontra-se uma exposição precisa da fé da
Igreja primitiva. O homem que os cristãos adoravam era o mesmo que fora crucificado e não
um deus qualquer inventado pela imaginação da Igreja.
Suetônio
Historiador romano e oficial da corte de Adriano, Suetônio (70–160), escritor dos anais
da casa imperial (obra intitulada Vida de Cláudio, 25.4), conta que o imperador “expulsou
de Roma os judeus em constante agitação por causa de Chrestus”. E também que “Nero
infligiu castigo aos cristãos, um grupo de pessoas dadas a uma superstição nova e
maléfica”.
Em Atos 18.1,2, Lucas faz referência à mesma expulsão.
Outros testemunhos seculares ao Jesus histórico incluem
Talo
Historiador samaritano, Talo (53 d.C.) é um dos primeiros escritores gentios a
mencionar Cristo indiretamente. Tentando dar uma explicação natural para as trevas que
ocorreram na crucificação de Jesus, afirmou: “O mundo inteiro foi atingido por uma
profunda treva; as pedras foram rasgadas por um terremoto, muitos lugares na Judéia e em
outros distritos foram afetados”. Quanto a essa escuridão, Talos, no terceiro livro de sua
história, diz o seguinte: “Como me parece sem razão, um eclipse do Sol”.
Mara Bar-Serapião - 73 d.C. (?)
Homem sírio que, escrevendo ao seu filho Serapião sobre a busca da sabedoria,
menciona Cristo como sábio, embora não o chame pelo nome, apenas como “rei dos judeus”.
Diz Mara Bar-Serapião — 73 d.C. (?): “Que vantagem têm os judeus executando seu sábio
rei? [...] O rei sábio não morreu; Ele vive nos ensinos que deu”.
Justino, o Mártir
Filósofo cristão que, ao escrever ao imperador Antonino Pio, desafia o regente a
consultar os arquivos imperiais deixados por Pilatos sobre a morte de Jesus Cristo (Apologia
1.48).
No entanto, gostaríamos deixar claro que essas citações não têm a pretensão de provar
a identidade de Cristo, ou seja, se Ele era ou não o Filho de Deus. Apenas mostram que os
anais da história preservaram, por meio de documentos de pessoas não-cristãs, a história
de um homem que viveu no século 1o, identificado com o Jesus bíblico. À primeira vista,
talvez, pareça pouca a quantidade de informações que temos sobre Jesus, mas se
confrontarmos Jesus Cristo com as inúmeras figuras indefinidas da história antiga, é
surpreendente a quantidade de informações que ainda temos sobre Ele.
Se porventura fôssemos reconstituir a vida de Jesus a partir desses pequenos relatos,
teríamos o suficiente para saber quem foi Jesus. Ora, tais relatos nos dão a informação
básica sobre Jesus: um homem que viveu no século 1o, chamado Cristo, Filho de uma
judia, operador de milagres, que reuniu em torno de si vários seguidores que o adoravam
como Deus. Este homem foi crucificado sob o governo de Pôncio Pilatos. É claro que muitas
partes dentro dessas passagens, como, por exemplo, em Josefo e Tibério, são até
admissíveis de interpolações. Mas o caráter anticristão de seus autores é uma prova
incontestável de sua veracidade. Plínio, Tibério e muito menos Luciano de Samosata não
poderiam jamais ser acusados de falsidade. Logo, negar a confiabilidade de todas essas
fontes que falam de Jesus com base em algumas insignificantes interpolações seria
menosprezar toda a história antiga.
Por Que há Poucos Registros Sobre Jesus na História Secular?
Creio que podemos dar algumas razões que levaram as pessoas da época a não dar
muita atenção ao cristianismo, registrando-o nos anais da história. Como aconteceu com os
evangelhos, poucos foram os registros históricos que sobreviveram através dos séculos. E
olha que são 21! Somado a isso, existe a pouca importância que os romanos davam aos
judeus. Seria quase impossível um biógrafo gentio dar atenção a um carpinteiro pobre da
Galiléia. O cristianismo nasceu em uma área remota, pouco relevante, do Império. Nas
palavras de Méier, Jesus era, sem dúvida, um “judeu marginal”.
Mas o que dizer das fontes judaicas? A repercussão não seria mais vultuosa dentro de
Israel, já que Jesus vivia em constante confronto com as autoridades judaicas? Sim, seria!
Todavia, devemos também levar em consideração o fato de que os judeus não quiseram dar
importância a um “herege” e impostor, preferindo esquecê-lo no silêncio do anonimato. As
primeiras menções que temos sobre os cristãos começam a partir do século 2o, quando,
então, o cristianismo passou a ganhar força até mesmo nas camadas mais altas da
sociedade.
Jesus, Um Mito?
O Jesus apresentado pelos evangelhos é fiel à realidade teológica ao que é dito a seu
respeito ou Ele não passa apenas de um mito? Estamos diante de outra objeção levantada
pelos críticos. A moderna crítica procura se basear na metodologia das ciências
antropológica e sociológica para se chegar ao cerne da pessoa de Jesus. Todos sabemos que,
de modo geral, floresceram, em torno dos grandes personagens da história antiga, mitos e
lendas. Quanto mais antigo o personagem, mais suscetível de ser mitificado ele é. Ora, já
que muitas lendas e mitos povoam a história de personagens como Buda, Maomé e
Alexandre, o Grande, por que não admitirmos que o mesmo possa ter ocorrido com Jesus?
O personagem que os evangelhos nos apresentam não seria um arquétipo que, com o passar
dos anos, foi sendo construído pela mentalidade cristã? O verdadeiro Jesus não teria se
perdido em meio às lendas e mitos criados em torno de sua pessoa pela Igreja primitiva?
Não negaremos o fato de que a literatura religiosa cristã do século 2o foi prodigiosa em
inventar um retrato por vezes fantasioso de Jesus. Mas devemos ressaltar que tais obras
eram oriundas de pseudocristãos e, de maneira nenhuma, refletiam a ortodoxia cristã da
época.
Geisler e Nix observam que tais livros revelam “desmedida fantasia religiosa.
Evidenciavam uma curiosidade incurável para descobrir mistérios não revelados nos livros
canônicos [...] e exibem uma tendência doentia, mórbida, de dar apoio a idiossincrasias
doutrinárias mediante fraudes aparentemente piedosas” (Introdução bíblica, p. 112).
Por exemplo, o evangelho de Tomé, no qual se escudam os críticos do “Seminário de
Jesus”, é uma visão gnóstica dos supostos milagres da infância de Jesus que, em tais
relatos, aparece como um pirralho com superpoderes, matando crianças e dando vida a
bonecos de barro.
Méier, comentando sobre o conteúdo desse evangelho, tece a seguinte crítica: “...
Muito material apócrifo provém dos meios cristãos ‘plebeus’ e não cultos, que não
representam nem primitivas tradições confiáveis, nem teologia elevada, mas apenas
curiosidade, a fascinação pelo bizarro e pelo milagroso (para não dizer mágico) e um mero
desejo de entretenimento ‘religioso’”.
Consideremos, por um instante, outro evangelho, o “evangelho de Pedro” ou
“evangelho da cruz”, no qual Jesus sai do túmulo com uma estatura gigantesca, que vai
além do céu, enquanto a cruz sai da sepultura e começa a falar.
Tais relatos fantasiosos sobre Cristo, de per si, são uma prova incontestável de farsa.
São lendas e mitos vestidos em um personagem real. Devemos levar em conta, porém, que
mitos inventados em torno de Jesus não são uma prova definitiva de que o próprio Jesus
seja um mito.
Outra objeção entrelaçada a essa se encontra alicerçada na falsa pressuposição de
que a comunidade cristã copiou os relatos sobre o nascimento virginal de Jesus, seus
milagres e sua ressurreição das antigas religiões pagãs de mistério. É sabido que em muitas
culturas primitivas existem relatos de deuses que nasceram de modo miraculoso de virgens;
de deuses que operaram milagres e ressuscitaram.
Todavia, a objeção de mitologia no cristianismo não procede, porque “para estas
histórias serem legendárias, seria necessário muito tempo para a evolução e
desenvolvimento das tradições”, conclui Craig.
Um mito demora tempo para se formar, mas vimos que os evangelhos tiveram, entre
sua forma oral e sua forma escrita, um hiato de apenas duas décadas. Vejamos o que diz
Will Durant, em seu livro A história da civilização: “Seria um milagre ainda mais incrível que
apenas em uma geração uns tantos homens simples e rudes (pescadores muitos deles)
inventassem uma personalidade tão poderosa e atraente como a de Jesus, uma moral tão
elevada e uma tão inspiradora idéia da fraternidade humana” (Vol. 3 – César e Cristo).
E prossegue Durant, na mesma obra: “Não será a história do fundador do cristianismo
um produto da aflição, da imaginação e da esperança humana — um mito comparável às
lendas de Krishna, Osíris, Átis, Adônis [Dionísio] e Mitra? No século 1o, negar a existência
de Jesus não parece ter ocorrido nem mesmo aos mais severos oponentes do novo credo,
judeus ou pagãos”.
Daí a razão da censura de F. F. Bruce: “Alguns escritores podem brincar com a
imaginação de um ‘cristo-mito’, mas eles não o fazem no campo da evidência histórica. A
historicidade de Cristo é tão axiomática para um historiador imparcial como a de Júlio
César. Não são os historiadores que propagam as teorias de um ‘cristo-mito’” (The New
Testament documents: are they reliable?, Inter-Varsity Press, 1972, p.119).
Os apóstolos, certamente, sabiam a diferença entre lendas e fatos reais. Pedro
assevera a confiabilidade histórica a respeito dos relatos evangélicos sobre Jesus: “Porque
não seguimos fábulas engenhosas quando vos fizemos conhecer o poder e a vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo, pois nós fôramos testemunhas oculares da sua majestade” (2Pe 1.16).
Sim, ser testemunha ocular é um fato que pesa muito na questão. E os apóstolos
foram testemunhas oculares que receberam as informações de primeira mão e não
escritores posteriores que costuraram tais relatos com lendas supersticiosas.
João, o apóstolo considerado um dos discípulos mais chegados do Senhor, dá seu
testemunho pessoal a respeito da historicidade de Cristo: “O que era desde o princípio, o
que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos
apalparam, a respeito do Verbo da vida [...] sim, o que vimos e ouvimos, isso vos
anunciamos, para que vós também tenhais comunhão conosco” (1Jo 1.1-3).
Pedro, ao pregar à multidão de judeus, informa que todos conheciam os eventos da
vida de Cristo agora proclamado por eles, ou seja, pelos apóstolos: “Varões israelitas,
escutai estas palavras: a Jesus, o nazareno, varão aprovado por Deus entre vós com
milagres, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como vós mesmos bem
sabeis; a este, que foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, vós
matastes, crucificando-o pelas mãos de iníquos” (At 2.22,23).
Paulo é ainda mais enfático. Ao dialogar com o rei Festo, relata que os fatos em que se
baseia o cristianismo não foram inventados em algum lugar oculto: “Porque o rei, diante de
quem falo com liberdade, sabe destas coisas, pois não creio que nada disto lhe é oculto;
porque isto não se fez em qualquer canto” (At 26.26).
Lucas nos deixou a par desses eventos, porque, como ele próprio afirma, havia feito
uma acurada pesquisa com as testemunhas oculares: “Visto que muitos têm empreendido
fazer uma narração coordenada dos fatos que entre nós se realizaram, segundo no-los
transmitiram os que desde o princípio foram testemunhas oculares e ministros da palavra,
também a mim, depois de haver investido tudo cuidadosamente desde o começo, pareceume
bem, ó excelentíssimo Teófilo, escrever-te uma narração em ordem” (Lc 1.1-3).
Todos eles foram testemunhas oculares de fatos históricos. Todo o Novo Testamento
estava completo já no século 1o. Caso os apóstolos estivessem inventando um personagem
mitológico, seria fácil para aquelas testemunhas oculares desmentirem essa teodicéia
evangélica, principalmente os opositores do cristianismo. Mas já vimos que, apesar dos
documentos históricos desses adversários do cristianismo distorcerem a essência da
mensagem cristã, nunca chegaram a rejeitá-la à classe dos mitos e lendas.
“Os discípulos não podiam se dar ao luxo de correr o risco de apresentar fatos
inexatos (para não mencionar uma manipulação internacional dos fatos), os quais seriam
imediatamente denunciados por aqueles que teriam imenso prazer em fazê-lo” (Evidência
que exige um veredicto I, Josh MacDowell, Ed. Candeia, p. 79).
A bem da verdade, os relatos sobre Jesus e seus feitos diferem grandemente dos mitos
pagãos. Um fato notável nesses mitos é sua tendência ao fantástico. Mas será que os
evangelhos canônicos apresentam sinais mitológicos?
Comparemos, por exemplo, o relato do nascimento de Buda com o relato do
nascimento de Jesus. A diferença entre os dois é abismal!
Dizem os registros sobre o nascimento de Buda que ele foi concebido no ventre da
rainha Maya, durante o sono, por um elefante branco. Quanto a Jesus, lemos o seguinte:
“Enquanto estavam ali, chegou o tempo em que ela havia de dar à luz, e teve a seu filho
primogênito; envolveu-o em faixas e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar
para eles na estalagem” (Lc 2.6,7).
Por fim, Norman Geisler, citando C. S. Lewis, diz, a respeito dos relatos evangélicos,
que “os registros são diretos e simples, escritos de forma histórica, não artística, por judeus
rigorosos e sem atrativos, que não conheciam a riqueza mitológica do mundo pagão à sua
volta” (Apologética, Ed. Vida, p. 605).
Um dos exemplos citados pelos críticos desses supostos plágios é justamente o caso
do nascimento virginal, o qual iremos analisar no próximo capítulo.
Apologética do Novo Testamento - Universidade da Bíblia ®
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