segunda-feira, 27 de novembro de 2017

JESUS – DOS DOZE AOS TRINTA ANOS

Num primeiro momento, a pergunta “O que fez Jesus dos doze aos trinta anos?” não
oferece nenhum problema. A curiosidade sobre esse fato é normal. O problema começou
quando certos grupos religiosos, ligados ao movimento Nova Era, pretenderam respondê-la
utilizando fontes duvidosas.
Como sabemos, esses movimentos rejeitam toda cultura judaico-cristã do Ocidente,
logo, rejeitam também as Sagradas Escrituras como padrão de verdades religiosa e
histórica. Em seu lugar, ou seja, no lugar da Bíblia, abraçam toda sorte de idéias, filosofias
e doutrinas orientais, principalmente as hindus. Conseqüentemente, a figura que emergiu
daí é completamente estranha ao Jesus (o filho de Maria) apresentado nas páginas dos
evangelhos.
Ao invés do carpinteiro de Nazaré, seguidor do judaísmo de sua época, foi pintado o
quadro de um asceta hindu, viajante oriental, aluno de gurus e praticante de todo um
misticismo que os cristãos jamais imaginaram fazer parte do comportamento de Jesus.
Segundo afirmam, Jesus teria viajado ao Extremo Oriente, após o incidente no templo de
Jerusalém (Lc 2.46), e se iniciado nas doutrinas e práticas da Índia e do Tibete. Na verdade,
os adeptos da Nova Era criaram um Jesus à sua própria imagem e semelhança, para que,
assim, pudessem justificar todas as suas práticas ocultistas.
Como fez outrora o kardescismo, os novaerenses não poderiam também deixar de
incluir Jesus (a quem chamam de Issa ou Isa, seu nome no Alcorão) em seu círculo.
Qualquer movimento religioso que queira alcançar destaque no Ocidente terá de incluir
Jesus de alguma forma em seu credo, nem que para isso seja preciso “criar seu próprio
Jesus”. Mas apenas usar o nome ou a figura de Jesus não é suficiente. Por isso, Paulo
advertiu os cristãos em Corinto: “Mas temo que, assim como a serpente enganou Eva com a
sua astúcia, assim também sejam de alguma sorte corrompidos os vossos sentidos, e se
apartem da simplicidade que há em Cristo. Porque, se alguém for pregar-vos outro Jesus
que nós não temos pregado, ou se recebeis outro espírito que não recebestes, ou outro
evangelho que não abraçastes, com razão o sofrereis” (2Co 11.3,4).
Inconformados com o Jesus Bíblico
O Jesus bíblico não agrada as pessoas, sejam elas do tipo intelectuais acadêmicos ou
místicos religiosos. Assim, acabam apresentando um Jesus totalmente às avessas do que é
declarado na Bíblia.
Para tanto, esses movimentos, encabeçado por adeptos da Nova Era, lançaram mão de
um período de silêncio biográfico sobre Jesus para que pudessem tecer um amontoado de
informações que, longe de acrescentarem algo ao conhecimento do Filho de Deus,
distorceram-no completamente.
Dessa forma, sem quaisquer evidências, baseiam-se em mistificações e boatos
estranhos e duvidosos. O resultado só poderia ser alguém completamente estranho às
características de Jesus, conforme nos é mostrado, de forma tão clara, nas páginas do Novo
Testamento.
Documentos Versus Divagações
Entre as fontes que se propõem a contar o que ocorreu com Jesus entre os doze e
trinta anos, está o que os adeptos da Nova Era chamam de “arquivos ou registros
akáshicos”, que, segundo eles, trata-se de um espaço invisível, simbolizado pelo éter,
também conhecido como “reservatório cósmico de memórias individuais”, o que seria uma
espécie de “memória do Universo” para os esotéricos.
Nesses registros, segundo supõem, estão escritas todas as palavras, ações e
pensamentos de todos os seres e de todos os indivíduos que já existiram ou existem no
Universo. Afirmam, ainda, que somente as pessoas iniciadas no esoterismo conseguem
consultar essas informações.
Foi baseado nesses registros que Levi H. Dowling, ex-capelão do Exército americano,
escreveu o livro O evangelho de Jesus, o Cristo, para a Era de Aquário. Tal obra contém
muitos relatos da peregrinação de Jesus (ou Issa) pelo Extremo Oriente. O capítulo 23
ressalta que Jesus esteve na Índia e “procurou aprender a arte hindu de curar, de modo que
se tornou discípulo de Udraka, o maior dos curadores hindus”. Após aprender alguns
conceitos sobre cura, Jesus teria baixado “a cabeça em reconhecimento pela sabedoria
daquela alma superior e seguiu seu caminho”.
O livro também diz que Jesus esteve em um templo em Lhasa, capital do Tibete, onde
conheceu o grande sábio oriental Meng-Tse, que o ajudou a ler os manuscritos antigos: “E
Meng-Tse abriu as portas do templo de par em par e todos os sacerdotes e mestres deram as
boas-vindas ao sábio hebreu”.
O grande problema com essas e outras passagens é que elas são estranhas ao que
lemos sobre Jesus no Novo Testamento. Jesus jamais curvou a cabeça ou teve qualquer
atitude que lembrasse o misticismo hindu. Nem mesmo a história registra algum grande
sábio oriental por nome Meng-Tse. Então, fica a pergunta: “Que credibilidade podemos dar
às informações retiradas de um arquivo que ninguém pode ver? Alguém pode dizer que são
confiáveis?”.
Tudo isso se torna mais discrepante quando comparamos as duas fontes de
informações — as do Jesus bíblico e as dos registros atávicos. Lucas comenta, na
introdução de seu evangelho: “Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração
dos fatos que entre nós se cumpriram, segundo nos transmitiram os mesmos que os
presenciaram desde o princípio, e foram ministros da palavra, pareceu-me também a mim
conveniente descrevê-los a ti, ó excelente Teófilo, por sua ordem, havendo-me já informado
minuciosamente de tudo desde o princípio; para que conheças a certeza das coisas de que já
estás informado” (1.1-4).
O texto bíblico em referência mostra que, ao lidarmos com o Novo Testamento,
estamos lidando com documentos históricos escritos por testemunhas oculares ou por
investigadores que tiveram contato com essas testemunhas oculares. Isso está em aberto
contraste com aqueles que dizem ter retirado suas informações de um suposto arquivo
invisível, acessível apenas a um restrito grupo de pessoas exóticas.
Documentos Fidedignos Versus Documentos Duvidosos
Outra fonte que procura informar as atividades de Jesus entre os doze e trinta anos é
descrita pelo jornalista russo Nicolai Notovitch, que teria, em 1887, quando então com 29
anos, conhecido o mosteiro budista de Hemis, em Ladakh, no Norte da Índia. Foi lá que
soube da existência de escritos tibetanos sobre um misterioso profeta chamado “Santo Issa”
e cujos dados sobre sua vida eram muito semelhantes aos dados da vida de Jesus de
Nazaré. Segundo o jornalista, o reverendo abade do mosteiro budista traduzia e lia os
escritos, às vezes incompletos, e o jornalista, por sua vez, tomava nota de tudo.
Esses supostos escritos afirmavam que um adolescente de Israel chamado Issa tinha
fugido de casa e chegado àquela região trazido por mercadores com o objetivo de se preparar
espiritualmente. Os textos diziam ainda que esse suposto Issa foi discipulado nos mosteiros
budistas e hindus.
Antes de darmos crédito a tais relatos, seria bom compararmos documentalmente
nossos evangelhos com as narrações do jornalista russo. Segundo o escritor Josh McDowell,
existem hoje, aproximadamente, 24 mil cópias antigas do Novo Testamento, mais do que
qualquer outro livro da antiguidade, as quais são suficientes para confirmar a historicidade
de Jesus.
Em nenhum lugar, esses textos fazem qualquer referência à visita de Jesus ao
Extremo Oriente ou apresenta qualquer ensino ou prática que lembre os hindus e os
budistas ou suas escrituras. Portanto, fundamentar-se em um manuscrito obscuro, do qual
até hoje ninguém, além de Nicolai Notovitch, tem conhecimento, para saber quem é Jesus é
algo fora de lógica. Seria o equivalente a abraçar boatos e a rejeitar documentos históricos.
Jesus, o Judeu de Nazaré da Galiléia
Quando lemos os relatos bíblicos da vida de Jesus, ficamos convencidos de que sua
viagem à Índia, entre os doze e trinta anos, é uma divagação de homens que querem
transtornar o cristianismo, “deformando” a pessoa de Jesus para embasar seus ensinos.
Quando Jesus começou seu ministério, todos o identificaram como alguém de seu
meio:
 Filho do carpinteiro, irmão de Tiago, José, Simão e Judas (Mt 13.55).
 Carpinteiro, filho de Maria (Mc 6.3).
 Filho de José (Lc 4.22).
O epíteto “Jesus de Nazaré” ou “Jesus Nazareno” era o identificador de uma de suas
principais características. Os apelidos, que funcionavam como sobrenome, geralmente eram
dados de acordo com um fator importante que servia para distinguir uma pessoa de outra
pessoa com o mesmo nome. Esse acréscimo ao nome poderia ser a filiação, como, por
exemplo, “Simão Barjonas”, isto é, filho de Jonas (Mt 16.17). Poderia ser de função, como
João, o Batista (Mt 3.1), ou Simão, o curtidor (At 10.6). Poderia ser de qualidade, como
“Boanerges”, que significa “filhos do trovão”, como no caso de Tiago e João (Mc 3.17). Ou,
ainda, poderia ser de lugares, como José de Arimatéia (Jo 19.38).
No caso de Jesus, todos o identificavam como sendo de Nazaré, pequena cidade da
Galiléia. Em nenhuma parte dos evangelhos há qualquer menção, por menor que seja, que
relacione Jesus a outra localidade geográfica. Se Jesus tivesse passado esses dezoito anos
em outro lugar, não o teriam identificado como sendo de Nazaré, mas, sim, de outro lugar.
Ainda que se tratando de outro contexto, podemos usar aqui a ilustração sugerida por
Hank Hanegraaf para refutar as especulações do “Seminário de Jesus” sobre o local do
nascimento de Cristo: “Irineu de Lião (c.175—195) provavelmente nasceu em Smirna, onde
possivelmente estudou enquanto menino, e ensinou em Roma antes de se mudar para Lião”.
Hank continua citando Luciano de Antioquia, Paulo de Constantinopla e outros para,
finalmente, concluir: “Estes homens nasceram em um lugar e depois se mudaram para
outro, com o qual seus nomes ficaram associados. Foi justamente o que aconteceu com
Jesus, que nasceu em Belém, mas viveu a maior parte de sua vida em Nazaré” (Lc 4.16).
(...)
Mas, infelizmente, os homens que rejeitam o verdadeiro Cristo querem fazer o silêncio falar
demais. Não se conformam com Jesus tal como Ele é e se apegam a um Jesus que não pode
salvar.
Apologética do Novo Testamento - Universidade da Bíblia ®  www.universidadedabiblia.com.br   www.universidadedabiblia.net

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