quarta-feira, 20 de novembro de 2024

A Vida dos Santos I

 Seleção da

Vida dos Santos

I

Janeiro — Fevereiro

Bispo Alexandre Mileant

Traduzido por Tatiana Zyromsky

 

Índice:

A Veneração ortodoxa dos Santos.

Janeiro.

São Basílio Grande. Santa Mártir Tatiana. Santa Nina, Igual-aos-Apóstolos, Missionária da Georgia. Santa Mártir Leonilla. Santo Antônio Grande. Mártires Inna, Pinna e Rimma. São Máximo Confessor. São Guennadi. Santa Xenia Romana. Bem-aventurada Xenia de São Petersburgo. São Gregório Teólogo. São João Crisóstomo. São Nikita, Arcebispo de Novgorod.

Fevereiro.

São Simeão Justo e Santa Profetisa AnaGrão Mártir Teodoro Stratilatos. As Mártires Valentina, Paula e Ennafa. São Vsevolod. Santo Alexis, Metropolita de Moscou. Santos Martiniano, Zoia e Svetlana (Fotinia). Grão Mártir Teodoro Tiron. São Leo, Papa de Roma. Santas Mulheres Marina e Cira.

Dia Onomásticos dos Santos por ordem alfabética.

 


A Veneração ortodoxa dos Santos.

Por ocasião do batismo recebemos o nome em homenagem a um santo, o qual desde aquele momento se torna o nosso protetor, patrono celestial. Cada cristão ortodoxo deve conhecer a vida do seu protetor celestial e em suas orações pedir o seu auxílio e orientação. Nossos antepassados, na sua devoção, honravam o dia do seu santo — "o dia do seu anjo" — com a Santa Comunhão e este dia foi mais festejado do que o dia do seu nascimento.

Qual o sentido da veneração ortodoxa dos santos ? Será que os santos no Céu conhecem as nossas necessidades e nossas dificuldades, e será que eles se interessam por isto ? Será que eles ouvem as nossas preces e procuram nos ajudar ? Será que é bom pedir a ajuda dos santos, ou será que é suficiente somente orar a Deus ? As seitas, que perderam a tradição apostólica, não compreendem a essência e o objetivo da Igreja de Cristo e por isso negam a necessidade de orações aos santos no Céu. Resumiremos aqui o ensinamento Ortodoxo sobre este assunto.

A veneração ortodoxa dos santos é baseada na convicção de que todos nos, que estamos tentando nos salvar e os que já se salvaram, vivos e mortos, constituem uma única família de Divina. A igreja é uma grande sociedade, que abrange todo o mundo visível e invisível. Ela é uma organização enorme, mundial, constituída sobre os princípios de amor, onde cada um deve cuidar não só de si, mas também do bem-estar e da salvação de outras pessoas. Os santos são aquelas pessoas, que durante a vida demonstraram mais amor para com os próximos.

Nos, ortodoxos, cremos, que quando uma pessoa justa morre, ela não rompe a sua ligação com a Igreja, mas passa para a sua esfera mais alta, celestial — para a Igreja triunfante. No mundo espiritual a alma da pessoa não deixa de pensar, querer, sentir. Pelo contrário, estas qualidades se abrem ainda mais amplamente e com uma maior perfeição.

Os cristãos modernos, não ortodoxos, que perderam a sua ligação viva com a Igreja Celestial-terrestre, têm as mais vagas e confusas idéias sobre a vida após a morte. Alguns deles acham, que depois da morte a alma do homem adormece e se desliga de tudo; outros — que a alma do homem, mesmo continuando a sua atividade depois da morte, não se interessa mais pelo mundo, do qual saiu. Outros ainda acham, que em princípio não se deve orar aos santos, pois o cristão tem uma relação direta com Deus.

Mas qual é o ensinamento das Escrituras Sagradas a respeito dos justos, que deixaram o mundo terrestre, e qual a força de suas preces? Nos tempos dos apóstolos a Igreja era compreendida como uma só família, Celestial-terrestreO apóstolo Paulo escrevia aos neófitas: "Aproximastes-vos do Monte Sião e de Jerusalém celeste, cidade de Deus vivo e de milhares e milhares de anjos, reunião festiva, e assembléia dos primogênitos, cujos nomes estão inscritos nos Céus, onde Deus é Juiz de todos e as almas dos justos estão já na posse da perfeição" (Hebreus 12:22-23). Por outras palavras, vós, que se converteram para o cristianismo, entraram para uma grande família, recebendo uma ligação íntima com o mundo celestial e com aqueles, que lá se encontram. As palavras finais do apóstolo Pedro aos cristão da Ásia Menor — "Envidarei, portanto, todos os meus esforços para que, depois da minha partida, vós recordeis disto" (2 Pedro, 1:15) — testemunham claramente que ele promete se preocupar com eles também depois, do mundo espiritual.

O antigo hábito de pedir ajuda aos santos mártires e santos justos é baseado na consciência de um contato estreito e vivo com a Igreja Celestial-terrestre e na fé em força das preces dos santos.


Sabemos, que nem todos os homens, mas somente aqueles mais diligentes e justos eram chamados por Deus de Seus amigos e somente estes receberam os dons do Espírito Santo e dons de fazer milagres. Assim, Cristo, durante a Ultima Ceia, disse aos apóstolos: "Vós sois Meus amigos! ... Pois, quem fizer a vontade de Deus, esse é Meu irmão, e irmã, e mãe" (João 15:14-15; Mateus 12:50). A historia sagrada nos dá muitos exemplos da proximidade espiritual, de "ousadia" dos santos nos seus pedidos a Deus. Assim, por exemplo, Abraão pediu que Deus tenha piedade dos moradores de Sodoma e Gomorrha, e Deus se prontificou a cumprir o pedido dele, se entre os moradores tivesse pelo menos 10 homens justos. Outra vez, Deus desviou o castigo de Abimelec, rei de Gerar, atendendo ao pedido de Abraão (Gênese, cap. 18, Gênese, cap. 20). A Bíblia nos conta, que Deus conversou com Moisés pessoalmente, "como uma pessoa que conversa com o seu amigo." Quando Mariam, a irmã de Moisés, pecou e foi castigada pela lepra, Moisés suplicou a Deus e obteve lhe o perdão (Êxodo 33:11; Números cap. 12). Podemos relatar também outros exemplos sobre a força extraordinária das preces dos santos.

Os santos não ofuscam Deus e não diminuem a necessidade de nossas preces à Ele, como o nosso Pai Celestial. Assim, os adultos numa família não diminuem a autoridade dos pais, quando se preocupam com as crianças junto com eles. Podemos dizer até mais: nada alegra tanto os pais como a preocupação dos irmãos mais velhos com as crianças. Assim também o nosso Pai Celestial se alegra ouvindo as preces dos santos e vendo o empenho deles em nos ajudar. Os santos têm uma fé maior que nos e ficam perto de Deus porque são justos. Portanto vamos rezar a eles como se eles fossem nossos irmãos mais velhos que estão diante do trono de Deus.

É bom saber, que os justos, ainda aqui na terra, viam e sabiam muita coisa daquilo, que é desconhecido por um homem simples. Assim, muito mais, eles devem ter estes dons agora, quando passaram da vida terrestre para o mundo celestial. Por exemplo, o apóstolo Pedro viu, o que acontecia com a alma de Ananias; Eliseu ficou sabendo sobre o pecado do servo Giezi, e o que é ainda mais admirável, soube de todas as intenções da corte síria, as quais ele depois revelou ao rei de Israel. Muitos santos, ainda aqui na terra, penetraram em espírito no mundo Celestial, uns viram muitos anjos, outros eram dignos até ver Deus (Isaías, Ezequiel), outros eram elevados até o terceiro Céu, onde ouviram misteriosas vozes, como por exemplo, o apóstolo Paulo. Assim, tanto mais, por estarem no Céu eles têm a faculdade de saber tudo aquilo que se passa na terra e podem ouvir as súplicas daqueles que os pedem, pois os santos no Céu "são iguais aos anjos" (Atos 5:3; 4 Reis cap. 4; 4 Reis 6:12; Lucas 20:36). Da parábola de Cristo sobre o rico e o Lázaro sabemos, que Abraão, estando no Céu, podia ouvir as lamentações do rico, sofrendo no inferno, não obstante o "grande precipício" que os dividia. As palavras de Abraão: os teus irmãos têm Moisés e profetas, então que os obedeçam, — demonstram claramente que Abraão conhece o que acontece na vida dos israelitas mesmo após a sua morte, que conhece Moisés e seus mandamentos, os profetas e suas escrituras. A visão espiritual dos justos lá no Céu é, sem dúvida, muito maior do que era na terra. O apóstolo diz: "Agora vemos por espelho, de maneira confusa, mas então será face a face. Agora conheço de modo imperfeito, mas então conhecerei como sou conhecido" (1 Coríntios 13:12)

A proximidade dos santos do Trono de Deus e a força de suas preces pelos fieis, que estão na terra, é mostrada no livro do Apocalipse, onde o apóstolo João diz: "Na minha visão ouvi também, ao redor do trono, ao redor dos seres vivos e dos anciãos, a voz de muitos anjos — miríades de miríades e milhares de milhares." Depois ele descreve a visão dos justos, no Céu rezando por homens, que estão na penúria na terra: "E adiantou-se um outro anjo, e pôs-se diante do altar, segurando um turíbulo de ouro. Foram-lhe dados muitos perfumes, para que os oferecesse com as orações de todos os santos no altar de ouro, que está diante do trono. E a fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo, com as orações dos santos, diante de Deus" (Apocalipse 5:11; 8:3-4).

Grande é a força de oração: "Confessai-vos, pois, mutuamente os vossos pecados para alcançar a saúde. É de grande poder a oração eficaz do justo" ensinava o apóstolo Tiago (Tiago 5:16). A oração pelo outro é a expressão do amor; e os santos no Céu, orando por nos, demonstram o seu amor fraternal e sua preocupação conosco.

Tanto no Evangelho, como em outros livros do Novo Testamento achamos muitos exemplos que testemunham a força da oração por outras pessoas. Assim, por exemplo, a pedido de um cortesão, o Senhor curou o seu filho; a pedido de uma mulher, a filha dela foi libertada do demônio; a pedido de um pai, Senhor expulsou o demônio do filho dele; e a pedido dos amigos, perdoou e curou um paralítico, a quem os amigos dele desceram do telhado; a pedido de um centurião romano um servo deste foi curado (João 4:46-53; Mateus 15:21-23; Marcos 9:17-25; Marcos 2:2-25; Mateus 8:5-13). E a maior parte das curas milagrosas foi efetuada pelo Senhor à distancia.

Assim, se as orações de pessoas simples tiveram tanta força, quanto mais poderosas são as orações dos justos que estão diante do trono de Deus. "Esta é a confiança que temos Nele: se pedirmos alguma coisa conforme a Sua vontade, Ele nos ouve(1 João 5:14).

Eis porque a Igreja, desde os tempos mais remotos, sempre mantinha o ensinamento sobre o proveito das orações aos santos. Por exemplo, isto está presente nas liturgias antigas e outros legados. Em liturgia do apóstolo Tiago lemos: "Principalmente lembremo-nos da Santíssima e Gloriosa Sempre Virgem, Mãe de Deus. Senhor, lembre-Te Dela e pelas santas orações Dela tenha piedade de nós." São Cirilo de Jerusalém, explicando a liturgia da Igreja de Jerusalém, diz: na Liturgia, nos invocamos também os que já morreram, em primeiro lugar — os patriarcas, os profetas, os apóstolos, os mártires, para que, pelas suas orações, Deus aceite os nossos pedidos também.

Muitos padres e doutores da Igreja, principalmente a partir do século IV, atestam a necessidade de venerar os santos. Mas já no começo do século II temos indicação direta, nas escrituras daquela época, da fé em orações dos santos no Céu por seus irmãos na terra. Os testemunhas do sofrimento e da morte do santo Inácio Teóforo (começo do século II) dizem: "Quando voltamos em lágrimas para casa, fizemos vesperal ... Depois, dormimos um pouco e alguns de nós viram o bem-aventurado Inácio, que se levantou, nos abraçou e também alguns de nos viram como ele rezou por nós." Existem muitas anotações parecidas sobre as orações e pedidos por nós aos santos mártires, principalmente da época das perseguições dos cristãos.

A convicção na santidade de uma pessoa falecida é atestada por vários fatores, por exemplo: sofrimento pelo Cristo, a confissão intrépida da fé, o trabalho abnegado para a Igreja, o dom de cura. Principalmente, Nosso Senhor nos demonstra a santidade de uma pessoa por milagres após a morte dela, quando em nossas orações invocamos tal pessoa.

Além de uma ajuda pela oração, os santos nos ajudam a alcançar a salvação também com o exemplo de suas vidas. O cristão fica muito enriquecido quando lê as vidas dos santos e vê, como eles conseguiram incorporar o Evangelho em suas vidas. Aqui temos tantos exemplos de uma fé viva, de coragem, de paciência. Os santos eram pessoas iguais à nos, mas eles venceram as mais difíceis tentações e nos encorajam a seguir o nosso caminho com paciência e sem resmungar.

O apóstolo Tiago conclamava os cristãos a imitar a paciência dos profetas antigos e do Jó, que sofreu muito, para alcançar uma fé tão firme como a do profeta Elias. O apóstolo Pedro ensinava as mulheres serem tão modestas como a justa Sara, esposa do Abraão. Santo Apóstolo Paulo nos dá exemplos de ascese dos antigos justos, a começar pelo Abel e terminando com os mártires Macabeus e conclama os cristãos a seguirem estes exemplos. Terminando os seus ensinamentos, ele diz: "Portanto nós, rodeados que estamos de tal nuvem de exemplos, livres de todo obstáculo e do pecado que nos seduz tão facilmente, enfrentemos, com a arma da paciência, o combate que se nos apresenta" (Tiago cap. 5: 1 Pedro 3:6; Hebreus 12:1).

O Senhor disse: "Nem se acende uma candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas encima do candelabro, onde brilha para os que estão em casa. Assim brilhe vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus" (Mateus 5:15-16). Os santos são estrelas brilhantes, que nos mostram o caminho para o Reino de Deus.

Vamos valorizar a proximidade a Deus dos nossos santos e vamos invoca-los, pedindo a sua ajuda e lembrando-nos, que eles nos amam e se preocupam com a nossa salvação. Nos dias de hoje é importantíssimo conhecer a vida dos santos, pois em geral, entre os "cristãos" de hoje, a compreensão dos ideais cristãos ficou muito deturpada.


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