terça-feira, 8 de outubro de 2024

MORTE, MORRER E PÓS-MORTE - quinta parte


A alma no seu caminho ao Céu

Já mencionamos alguns relatos atuais sobre a etapa da "revisão," pelo qual alguns passam imediatamente após a separação do corpo. Obviamente, esta fase tem algo em comum com o "julgamento particular" ou com o preparo para ele.

Nos relatos sobre a vida dos santos e na literatura espiritual, existem contos sobre o anjo da guarda que acompanha a alma do falecido em direção ao Céu, para adorar a Deus. Freqüentemente, os demônios, ao ver a alma a caminho do Céu, rodeiam-na com a intenção de assustá-la e leva-la consigo. O caso é que, de acordo com a Sagrada Escritura, após o seu expurgo do Céu, os anjos amotinados apoderaram-se do espaço, se é possível chamá-lo assim, entre o Céu e a Terra. Por isto, o apóstolo Paulo chama o satanás de "príncipe reinante nos ares" e seus demônios de espíritos do mal que habitam "sob o Céu" (13). Estes espíritos errantes, vendo a alma guiada por um Anjo, cercam-na e acusam-na pelos pecados cometidos durante a sua vida terrena. Sendo muito arrogantes, eles tentam assustar a alma, leva-la ao desespero e possui-la. Nesse ínterim, o anjo da guarda ampara e defende a alma. Isto não deve leva-lo a pensar que os demônios tenham algum direito sobre a alma do homem, já que eles também estão sujeitos ao julgamento de Deus. O que os leva a cometer este ato é que durante a vida terrena, a alma os obedeceu em algumas coisas. A lógica dos demônios é simples: "Já que você agia como nós, seu lugar é conosco."

Na literatura religiosa, esse encontro com os demônios chama-se "mitárstvo," (14) (pedágio, obstáculo). Tal encontro com os espíritos do mal é descrito por K. Ixcul, cuja narrativa iniciamos anteriormente. Eis o que aconteceu após os dois Anjos terem vindo buscar a sua alma: "Nós começamos a subir rapidamente. E a medida que subíamos, um espaço cada vez maior se abria perante a minha vista, e, finalmente, ele atingiu proporções tão grandes que eu fiquei apavorado ao conscientisar-me da minha insignificância perante esse deserto infinito. A minha vista tinha algumas particularidades. Primeiro: estava escuro, mas eu enxergava perfeitamente, e a minha vista recebeu a capacidade de enxergar no escuro; segundo: eu conseguia ver com tal amplitude, o que certamente não poderia fazer com minha vista comum.


A noção do tempo apagou-se na minha mente e eu não sei quanto ainda subimos, quando, de repente, ouviu-se um rumor indefinido e depois, apareceu de algum lugar, gritando e berrando, uma multidão de seres horrendos. "Demônios!" - eu entendi com incrível rapidez, e senti-me dominado por um pavor desconhecido até este momento. Tendo me cercado, eles exigiam que eu lhes fosse entregue, tentavam arrancar-me dos braços dos Anjos, mas provavelmente, não tinham autoridade para isso. No meio desse barulho inacreditável e muito agudo para a audição como eles próprios eram para a visão, uivos e berros, às vezes, eu conseguia distinguir algumas palavras e até frases completas.


"Ele é nosso: ele renegou a Deus" - de repente, eles berraram quase a uma só voz e com tamanha insolência atiraram-se sobre nós, que o medo congelou todo e qualquer pensamento.

"Isso é mentira!" - eu quis gritar, mas minha memória amarrou-me a língua. De alguma forma incompreensível, de repente, lembrei-me de um acontecimento insignificante que ocorreu na minha juventude, e do qual eu nem poderia lembrar.

Eu me lembrei que, ainda no tempo da escola, reunido com colegas, nós, tendo discutido a respeito dos trabalhos escolares, passamos a conversar sobre temas abstratos e elevados, conversas que tínhamos freqüentemente.

"Eu não gosto de temas abstratos," - disse um dos meus colegas, - e nesse caso, é uma total impossibilidade. Eu posso acreditar em uma ciência, digamos, inexplorado, na força da natureza, e possa admitir a sua existência, mesmo não vendo sua manifestação clara, porque ela pode ser ou insignificante ou juntar-se em suas ações com outras forças, e portanto, difícil de ser captada; mas crer em Deus como ser pessoal e todo poderoso, crer, quando não vejo nenhuma manifestação clara desse ser - já é um absurdo. Dizem: acredite. Mas porque devo acreditar em Deus, quando posso igualmente crer que não há Deus. Não é verdade? Pode ser que Ele não exista?" - perguntou o colega, olhando diretamente para mim.

"Pode ser que não" - disse eu.

Essa frase era só de palavras vãs, vazias a conversa sem nexo do meu colega, não podia sucetar em mim dúvidas a respeito de existência de Deus. Eu nem mesmo seguia a conversa, e agora, ocorreu que essas palavras vãs não tinham sumido sem deixar rastros, eu devia argumentar, defender-me da acusação... Essa acusação era aparentemente o argumento mais forte que os demônios tinham contra mim, era como se, com esse argumento, eles tivessem recebido novas forças para me atacar e com urros terríveis ficara rodando em nossa volta, não deixando-nos seguir em frente.

Me lembrei de uma oração e comecei a rezar, invocando a ajuda dos santos que conhecia e cujos nomes vinham-me à memória. Mas isso não amedrontava os meus inimigos. Pobre ignorante, cristão somente de nome, eu lembrei-me quase pela primeira vez sobre Aquela, que se denomina Defensora dos Cristãos.

Mas, é possível que o meu apelo a ela foi tão ardente já que a minha alma estava tão aterrorizada que mal eu pronunciei o seu nome, apareceu uma névoa branca que começou a envolver rapidamente a horrenda multidão do demônio. Ela os ocultava da minha vista antes que eles se afastassem de nós. Urros e gritos ainda se ouviam por muito tempo, mas pela diminuição do volume eu entendi que a terrível perseguição estava ficando atrás.

O sentimento de pavor tinha me invadido tão totalmente, que eu nem sequer tinha consciência, se durante o terrível encontro o nosso vôo continuou ou se tínhamos parado; por um tempo, eu entendi que estávamos nos movendo, subindo, novamente o infinito espaço aéreo.

Tendo percorrido uma certa distância, vi uma luz brilhante na minha frente; se parecia com a luz do sol, mas era muito mais forte. Lá, provavelmente, é um reino de luz. "Sim, reino, domínio completo de Luz "- eu intuía com algum sentido especial o que ainda não via, - porque com esta luz não há sombra. "Mas, como pode ser luz sem sombra?"- imediatamente manifestaram-se meus conceitos terrenos.

E de repente, nós penetramos rapidamente na esfera dessa Luz, e ela praticamente me ofuscou. Eu fechei os olhos, cobri o rosto com as mãos, mas isso não ajudava, já que minhas mão não formavam sombras. Além disso, esse tipo de defesa nada significava aqui.

Mas aconteceu algo mais. Majestosamente, sem via, mas com poder e inflexivelmente ecoaram palavras: "Não está pronto!" - E depois... depois uma parada instantânea no nosso vôo alucinante para cima - e rapidamente começaram a descer.

Mas, antes de abandonar essas esferas foi me dado conhecer mais uma ocorrência divina. Mal essas palavras soaram de cima, que nesse mundo, pareceu-me que cada partícula, cada átomo respondeu.


Um eco de milhões de vozes repetiu as palavras numa linguagem inaudível para audição, mas sensível e inteligível para o coração e a mente, exprimindo total concordância com a afirmativa. E nesta unidade de vontade havia tamanha harmonia divina, e nessa harmonia uma alegria tão grande, difícil de expressar, que, comparando-a com nossos encantos e deslumbramentos terrenos esses parecem um triste dia sem sol. Esse eco de milhões de vozes soou como um acorde musical inimitável, e a alma respondeu despreocupadamente a ele, querendo, num impulso ardente, integrar-se a essa harmonia divina.

Eu não entendi o sentido verdadeiro das palavras que se referiam a mim, e não entendi que devia voltar à Terra e viver como antes. Pensava que seria carregado para algum outro local e um tênue sentimento de protesto nasceu em mim, quando surgiram perante mim, inicialmente sem nitidez, como na névoa matutina os contornos da cidade, e depois já nítidas as ruas, minhas conhecidas e o hospital. Aproximando-se do meu corpo inerte, o Anjo da guarda disse: "Você ouviu a determinação do Deus?" E, apontando para o meu corpo ordenou: "Entre nele e comece a preparar-se!" após isto, ambos os Anjos tornaram-se invisíveis para mim."

Após isto, K. Ixcul conta sobre o seu retorno ao corpo, que já tinha ficado no necrotério durante 36 horas e como e como os médicos ficaram impressionados com o milagre de sua volta à vida. Pouco tempo após esse acontecimento, K. Ixcul entrou para o mosteiro e morreu monge.


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