A origem da tradição
Os primeiros rosacruzes eram médicos, alquimistas, matemáticos, filósofos, teólogos... Tinham objeções à igreja católica, especialmente ao papado e ao papa da época, considerado por estes um anti-cristo. Também tinham críticas aos protestantes, apesar de serem parte do mesmo movimento, pois todos estes falavam em reforma, mas permaneciam nos mesmos métodos violentos, dogmáticos e autoritários do catolicismo da época, sendo todos eles resistentes a um retorno ao estado primitivo da igreja e a separação completas dos poderes mundanos. Os rosacruzes originais eram cristãos místicos que propunham uma reforma radical, pacífica, e independente de qualquer autoridade ou poder institucionalizado. Eram também radicalmente contra Maomé e sua doutrina que reduzem Jesus Cristo a um simples profeta antecessor destes.
Dizer que os rosacruzes queriam uma reforma radical significa para tais um retorno à pureza da igreja inicial, o acesso total do povo às escrituras (tanto as canônicas quanto as não-canônicas), a aceitação dos dons espirituais, a pregação dos não-ordenados, o sacerdócio universal, o desligamento total entre igreja e estado. Também significa uma reforma do mundo, onde ciência e religião não tem razão para serem separadas, e a ciência seria livre para estudar as coisas espirituais (o que foi proibido pelo papa, nunca um consenso científico como dizem uns); os políticos seriam meros administradores especialistas, pessoas dedicadas e preparadas para isso, em serviço voluntário, não chefes, dominadores e cobradores de impostos; onde os políticos estariam impedidos de quebrar as leis da religião. Apenas para citar alguns exemplos do pensamento rosacruz inicial. Por estes e por muitos outros detalhes foram perseguidos, caluniados, acusados muitas vezes de charlatanice, curandeirismo e heresia por seus adversários, que, pelo que vimos acima, não poderiam ser poucos.
Não havia uma direção hierarquizada nem centralizada, era um grupo que assume-se apenas como "Irmãos", daí a palavra frater (irmão) utilizada antes dos seus nomes ou iniciais. E a forma de organização era mesmo a Fraternidade, vindo o termo Ordem apenas muito mais tarde a ser usado, assim como organizações graduais semelhantes às templárias. Mas ainda este termo tinha o mesmo sentido de fraternidade, pois era uma organização na forma de monastério intinerantes, como os freis e freiras da época, só que sem um local fixo, exceto, a Casa do Espírito Santo, local simbólico, onde se reencontravam todos os anos para compartilhar os aprendizados, feitos, projetos e apresentar novos discípulos. Sim, os Rosacruzes originais eram monges, no sentido de que não tinham esposas nem relações sexuais de nenhuma espécie (não é sem prazer que desminto aqui os defensores da abominável "magia sexual" como se esta fosse prática rosacruz, quem diz isso é mentiroso ou ignorante, simples assim).
É claro que o movimento rosacruz, que é iniciado, supostamente, por discípulos dos primeiros e, seguramente, por admiradores dos ensinamentos, mas infelizmente também por enganadores, teve muitas outras influências, diferentes da tradição inicial. Esta organização primária era baseada em seis ou sete preceitos (sete dos quais um seria desconhecido aos de fora). Mas também todo o significado simbólico dos três manifestos iniciais servia de base, não só à doutrina rosacruz, mas também a todo o procedimento iniciático e alquímico. Os livros de referência dos rosacruzes eram em primeiro lugar a Bíblia e em segundo lugar As Núpcias Alquímicas de Christian Rosenkreutz, como guia interpretativo desta, e guia também desses processos (alquímico e iniciático), onde havia tudo o necessário para o desenvolvimento dos irmãos rosacruzes. Entretanto parece mais certo que para os primeiros organizadores, três outros livros misteriosos eram mais importantes do que As Núpcias, os livros M, H e T. Dos quais o livro M seria o mais importante. Depois voltaremos a esse assunto.
Duas linhas de origens são traçadas tradicionalmente, ou vinda de uma ordem anterior ou criada realmente por teólogos luteranos que pensavam difernte da maioria. Se formos mais para trás no tempo seguindo historicamente essas duas possibilidades muitas ramificações também podem ser colocadas como origem. Por exemplo, na primeira existe desde a hipótese da criação por uma família ligada a reis e dinastias até a de uma origem em alguma das maçonarias operativas antigas; na segunda temos desde a hipótese de que o próprio autor das Núpcias, o teólogo Valentin Andreae, inventou tudo, até a da reunião de um grupo de sábios que tinham poderes paranormais e ou dons do Espírito Santo e que com os primeiros e técnicas alquímicas produziam ouro e com os segundos curavam as pessoas e conseguiam pregar em várias línguas, falando como locais a língua de qualquer lugar onde estivessem.
Todas as hipóteses entre essas, no entanto, nunca foram problema nem interesse dentro dos grupos verdadeiramente herdeiros dessa tradição, muito mais ocupados em cumprir sua missão e objetivo. Na verdade elas terminam colaborando para que a fama se espalhe e cada um conforme sua própria tendência tome a que mais lhe agrada como mais possível ou a verdadeira (e infelizmente isso também facilita que farsantes se digam verdadeiros herdeiros ou até mesmo inventem histórias fantasiosas sobre a verdadeira origem).
Mas a tradição insiste em preservar a história (seja real, seja apenas alegórica) de Christian Rozenkreuz como aparece nos três manifestos iniciais, pois seja como for os significados profundos dessa história contam toda a trajetória iniciática do ser humano dentro dos caminhos ensinados pela rosacruz. Entretanto é importante saber que, seja como for, a jornada de aprendizado atribuída a Christian Rosenkreutz é real, vivida por uma pessoa ou pelas fundadoras (e escrita juntado a experiência de todos numa só história, como sendo uma só pessoa, algo bem típico dos primeiros rosacruzes, que não assinavam seus nomes mas apenas o nome Rosacruz, ou, no máximo, acrescido de iniciais de seus nomes de iniciados).
O estudo e a vida no mosteiro, a viagem ao oriente onde resgata a ortodoxia cristã, conhece os segredos da alquimia árabe e sua medicina e da alquimia egípcia hermética antiga, a fiolosofia pitagórica e grega em geral, a astronomia desses povos incluindo os persas, constitui a base dos ensinamentos e são as ciências transmitidas pelos rosacruzes a seus discipulos mais próximos, que já tenham sido provados interessados dignos e hábeis para realizá-las. Isso é o que ao todo se chama a Grande Obra, de transmutação do ser humano e da humanidade, que nada mais é do que o retorno ao estado original celestial do indivíduo e a reforma da religião, ciência, arte e filosofia em seus fundamentos eficazes para levar o ser humano a esse objetivo. Aqui o conhecimento da verdade e de Deus e a comunhão com ele são o principal fundamento, método e também objetivo.
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