Prefácio
O presente livro reflete plenamente a posição fundamental do autor, que lhe valeu – e ainda lhe vale – a admiração dos discípulos e os insultos dos adversários. Ao mesmo tempo que cada uma das seis lições pode figurar separadamente como um ensaio independente, a harmonia da série proporciona um prazer estético similar ao que se origina da contemplação da arquitetura de um edifício bem concebido.
(Fritz Machlup, Princeton, 1979)
Em fins de 1958, meu marido foi convidado pelo Dr. Alberto Benegas Lynch para pronunciar uma série de conferências na Argentina, e eu o acompanhei. Este livro contém a transcrição das palavras dirigidas por ele nessas conferências a centenas de estudantes argentinos.
Chegamos a Argentina alguns meses depois. Perón fora forçado a deixar o país. Ele governara desastrosamente e destruíra por completo as bases econômicas da Argentina. Seu sucessor, Eduardo Leonardi, não foi muito melhor. A nação estava pronta para novas ideias, e meu marido, igualmente, pronto a fornecê-las. Suas conferências foram proferidas em inglês, no enorme auditório da Universidade de Buenos Aires. Em duas salas contíguas, estudantes ouviam com fones de ouvido suas palavras que eram traduzidas simultaneamente para o espanhol. Ludwig von Mises falou sem nenhuma restrição sobre capitalismo, socialismo, intervencionismo, comunismo, fascismo, política econômica e sobre os perigos da ditadura. Aquela gente jovem que o ouvia não sabia muito acerca de liberdade de mercado ou de liberdade individual.
Em meu livro My Years with Ludwig von Mises, escrevi, a propósito dessa ocasião: “Se alguém naquela época tivesse ousado atacar o comunismo e o fascismo como fez meu marido, a polícia teria interferido, prendendo-o imediatamente e a reunião teria sido suspensa.”
O auditório reagiu como se uma janela tivesse sido aberta e o ar fresco tivesse podido circular pelas salas. Ele falou sem se valer de quaisquer apontamentos. Como sempre, seus pensamentos foram guiados por umas poucas palavras escritas num pedaço de papel.
Sabia exatamente o que queria dizer e, empregando termos relativamente simples, conseguiu comunicar suas ideias a uma audiência pouco familiarizada com sua obra de um modo tal que todos pudessem compreender precisamente o que estava dizendo.
As conferências haviam sido gravadas, as fitas, posteriormente, foram transcritas. Encontrei este manuscrito datilografado entre os escritos póstumos de meu marido. Ao ler a transcrição, recordei vividamente o singular entusiasmo com que aqueles argentinos tinham reagido às palavras de meu marido. E, embora não seja economista, achei que essas conferências, pronunciadas para um público leigo na América do Sul, eram de muito mais fácil compreensão que muitos dos escritos mais teóricos de Ludwig von Mises. Pareceu-me que continham tanto material valioso, tantos pensamentos relevantes para a atualidade e para o futuro, que deviam ser publicados.
Meu marido não havia feito uma revisão destas transcrições no intuito de publicá-las em livro. Coube a mim esta tarefa. Tive muito cuidado em manter intacto o significado de cada frase, em nada alterar do conteúdo e em preservar todas as expressões que meu marido costumava usar, tão familiares a seus leitores. Minha única contribuição foi reordenar as frases e retirar algumas das expressões próprias da linguagem oral informal. Se minha tentativa de converter essas conferências num livro foi bem-sucedida, isto se deve apenas ao fato de que, a cada frase, eu ouvia a voz de meu marido, eu o ouvia falar. Ele estava vivo para mim, vivo na clareza com que demonstrava o mal e o perigo do excesso de governo; no modo compreensivo e lúcido como descrevia as diferenças entre ditadura e intervencionismo; na extrema perspicácia com que falava sobre personalidades históricas; na capacidade de fazer reviver tempos passados com umas poucas observações.
Quero aproveitar esta oportunidade para agradecer ao meu amigo George Koether pelo auxílio que me prestou nesta tarefa. Sua ex periência editorial e compreensão das teorias de meu marido foram de grande valia para este livro.
Espero que estas conferências sejam lidas não só por especialistas na área, mas também pelos muitos admiradores de meu marido que não são economistas. E espero sinceramente que este livro venha a tornar-se acessível a um público mais jovem, especialmente aos alunos dos cursos secundários e universitários de todo o mundo.
Margit von Mises Nova Iorque
Junho, 1979
Nenhum comentário:
Postar um comentário