Entender algo tão relativamente novo como libertarianismo não é tarefa fácil nem pode ser realizada pela leitura de um artigo, nem mesmo com base em dezenas deles. Há que se buscar, os autores, seus propositores, seus opositores... Mas me surpreende como a maneira de ver do brasileiro, vício este que lhe passa batido, como que alheio à sua própria percepção, é sempre "em bloco". Explico: o brasileiro sempre quer entender ou explicar tudo em pacotes, num só caldo, na mesma panela, como se as ideias fossem sempre esquemas ideológicos ou dependessem sempre deles. É claro que a realidade é bem diferente e muita mais complexa que isto.
Os que compram tudo em combos, ou seja, os que sempre tem que enquadrar em um bloco só e em classificações preexistentes tudo o que lêem, ouvem, enfim, tudo o que conhecem ou estão começando a conhecer, são para mim comparáveis aos jovens esquerdistas atuais. Ou seja, ou são ignorantes, ou são burros, ou tem algo a ganhar com o que estão defendo. Muito antes de conhecer as ideias libertárias, a escola austríaca de economia, os liberais clássicos e os autores conservadores eu lia muitos livros a favor e contra o marxismo (especialmente autores ligados ao trabalhismo e à escola de Frankfurt) e não sou burro nem tinha a ganhar com o que defendia, portanto eu era do tipo ignorante: isto era o que existia de crítica ao marxismo nas bibliotecas da época, ou seja, a crítica da própria esquerda, que nem chegava perto de ser ao menos uma auto-crítica. Sim, de que adiantava?
Eu ignorava completamente o que eram as idéias liberais, conservadoras, libertárias ou de direita reacionária ou qualquer tipo de direita porque excluindo-se o Tao Te King, Adam Smith e Locke eu não tinha nenhum exemplar disso! Não existiam em bibliotecas, livrarias, sebos...
Por isso digo que a geração jovem atual que se interessa por politica é indesculpável: hoje há fontes disponíveis, existe a internet, pdf, autores, livros em algumas bibliotecas e livrarias, vídeos, audio books! Tudo fácil e muitas vezes gratuito. Tudo que sabíamos sobre liberais, conservadores e direita era o que a esquerda escrevia. Toda a crítica que pude conhecer ao marxismo, socialismo, comunismo, leninismo, etc., vinha da própria esquerda, do próprio marxismo cultural de Frankfurt, dos fabianos e trabalhistas ou dos sociais democratas e progressistas. Estes dois últimos que aqui, incrivelmente até hoje, são vistos como de direita por muitos sequelados pelo discurso da extrema esquerda. E essa nova geração que está entre os vinte, começando, e os trinta e pouco: que já era para terem acordado, são os verdadeiros negacionistas da realidade, depois que tudo está às claras, testado, provado, confirmado diversas vezes em diversos lugares, farta documentação...
Hoje os argumentos de esquerda (que nem são argumentos na maioria) ainda sustentam-se, mas por narrativas, de ocultação, falsifição e muitas vezes clara mentira histórica, jornalística, midiática e panfletária (inclua aqui principalmente a fala dos professores de esquerda, militantes que se dedicam a manipular, como foram, os jovens "contestadores" que "incrivelmente"acreditam em tudo e fazem exatamente o que estes esperam; a narrativa dos sindicalistas; dos líderes de partido, e outros).
Pois bem, no libertarianismo não é muito diferente. Alguns realmente vão às fontes, aos verdadeiros estudiosos, à história, mas outros, uma boa parte, simplesmente ouvem os seus "libertários" preferidos, a maioria muito superficial e que se detém em pontos utópicos e ideológicos, igual à juventude esquerdista. Há problemas não apenas com as idéias novas ou "não testadas", não apenas com a imaturidade da maioria dos libertários ou com as utopias de alguns propositores. Isto tudo seria o normal a qualquer conjunto de idéias aleatórias.
O artigo a seguir (retirado de um livro, veja as referências no site que publicou) trás inclusive algumas críticas externas que são feitas a nós libertários. Pelo seu tamanho e intenção termina não fazendo os contrapontos necessários nem apresenta as nuances do próprio pensamento libertário, e mostra acordo com visões de certas supostas incompatibilidades enquanto tolera outras supostas compatibilidades (como se houvessem realmente). Mas apesar disso é uma ótima apresentação (para o tamanho, tão curta) e ousadamente expõe as acusações mais comuns (embora algumas infundadas). Eu gostaria de fazer tal crítica, e de apresentar suas contraposições, não teria feito dessa forma. Mas se você buscar na internet não vai encontrar muita coisa neste sentido (a não ser em livros como os de Rothbartd e outros libertários, e em críticos mentirosos). Assim replico aqui o artigo não apenas como algo para apresentar, mas também para provocar: nós libertários precisamos dar estas respostas, fazer este complemento, não apenas suspirar diante da ignorância e desinformação dos opositores ou ainda pior, como fazem os esquerdistas, mandar que vão estudar (até porque eles não vão e se forem não saberão nem onde procurar ou como identificar autores e expositores do assunto que sejam realmente libertários).
Nós temos que dar essas respostas.
Libertarianismo: conceito
“Quando você perceber que para produzir precisa obter a autorização de quem não produz nada; quando comprovar que o dinheiro flui para quem negocia não com bens, mas com favores; quando perceber que muitos ficam ricos pelo suborno e pela influência, mais que pelo trabalho; que as leis não nos protegem deles mas, pelo contrário, são eles que estão protegidos de você; quando perceber que a corrupção é recompensada e a honestidade se converte em auto-sacrifício, então poderá afirmar, sem temor de errar, que sua sociedade está condenada.” – Ayn Rand (1905 – 1982), escritora e filósofa libertária russa-americana, criadora do objetivismo
O libertarianismo é uma ideologia política que tem a liberdade como seu principal valor e objetivo político. Para os libertários, o objetivo da política deve ser maximizar a autonomia e a liberdade de escolha, não sendo função do Estado promover a ordem ou a igualdade. Os libertários tentam minimizar a legitimidade de qualquer instituição que tenha algum poder coercitivo sobre as pessoas e limitem o julgamento individual. O libertarianismo é como um liberalismo radical ou “turbinado”, mas que – diferentemente da anarquia – ainda reconhece a necessidade da existência de um Estado para exercer um mínimo de funções, como estabelecer e executar um conjunto mínimo de leis, proteger a vida e a propriedade. Como exemplo, os libertários aceitam a ideia de o Estado impor regras de trânsito, mas não aceitam leis impondo o uso de cintos de segurança ou de capacetes. Nesse contexto, o libertarianismo acolhe bem a ideia da minarquia, ou seja, do Estado mínimo.
No entanto, é importante entender que o libertarianismo – assim como a anarquia – é uma ideologia que existe tanto na direita quanto na esquerda. Por isso, o termo “libertarianismo” acaba sendo usado como uma expressão guarda-chuva para inúmeras filosofias políticas. Os libertários da esquerda tentam associar de diversas formas o socialismo com os ideais de liberdade e de abolição de instituições autoritárias, enquanto os libertários de direita advogam o livre mercado e a associação voluntária de indivíduos. Na prática o libertarianismo de direita, defensor do capitalismo “laissez-faire”, é o mais presente no discurso político e aquele que tem mais seguidores, especialmente nos Estados Unidos da América, onde se desenvolveu com bastante força no século XX. É este o libertarianismo que será abordado daqui para frente.
Se preferir, ouça nosso episódio de podcast sobre esse assunto!
LIBERALISMO E LIBERTARIANISMO: DIFERENÇAS
É importante não confundir libertarianismo com liberalismo. A maioria dos liberais não tem problemas com alguma intervenção do Estado na economia e nem defenderia um capitalismo laissez-faire em sua versão mais pura, além de não se opor ao Estado estabelecer um nível considerado adequado de ordem. Para os liberais, a liberdade é um valor necessário para atingir outros objetivos, enquanto que para os libertários a liberdade é o objetivo em si.
O QUE DEFENDEM OS LIBERTÁRIOS?
Na esfera econômica, os libertários de direita defendem um capitalismo do tipo laissez-faire e se opõem a qualquer interferência do Estado na economia. Por outro lado, defendem a ação do Estado para garantir os direitos de propriedade. Para os libertários, a economia deve ser baseada na associação voluntária de pessoas e não haveria a necessidade de uma entidade centralizadora para coordená-la. Na esfera social, os libertários valorizam características pessoais como a autossuficiência e a independência, e entendem que as pessoas devem andar com seus próprios pés e receberem as recompensas por seus esforços individuais. Assim, eles se opõem a qualquer tipo de programa social, mas o fazem mais por princípio do que pelos custos que eles geram para a sociedade por meio de impostos. Eles criticam a tendência das pessoas em aceitar trocar a própria independência por “direitos” providos pelo Estado. Para os libertários, ajudar os necessitados deve ser uma escolha individual e não uma imposição de uma instituição coercitiva.
CRÍTICAS AO LIBERTARIANISMO
A primeira crítica ao libertarianismo é ser uma ideologia que tenta implantar uma visão de mundo teórica pelo uso da política. Os seus críticos observam que se uma sociedade libertária fosse possível, existiria pelo menos algum país no mundo com um Estado mínimo, com economia livre, sem serviços públicos básicos, sem imposição de limites morais e de uma estrutura social. O libertarianismo também é criticado por buscar uma liberdade abstrata que nunca existiu em nenhuma sociedade, nem mesmo nas mais primitivas.
Os críticos argumentam que a busca por uma liberdade fora de qualquer tipo de ordem coloca em risco a própria liberdade e tende a acabar em despotismo. O argumento é que, enquanto os libertários acreditam que as pessoas essencialmente têm uma natureza boa e benevolente (assim como os socialistas acreditam), a história mostra que o ser humano tem muitos defeitos e vícios. Como as pessoas são naturalmente diferentes, sempre haverá os mais fortes e mais inteligentes, que tentarão dominar os outros ou criar vantagens para si; por isso, nem sempre a associação voluntária de indivíduos funcionaria.
Do ponto de vista econômico, o capitalismo laissez-faire defendido pelo libertarianismo e baseado na associação voluntária de indivíduos seria inviável em economias grandes e complexas como as atuais, que exigem algum nível de coordenação de uma entidade centralizada para funcionar eficientemente. Nesse sentido, a economia sem nenhuma supervisão do Estado se provaria menos eficiente.
Outra crítica ao libertarianismo é que neste sistema não há uma solução proposta para problemas ambientais. Neste modelo, a pequena abrangência do poder do Estado tornaria inviável a administração das externalidades negativas – efeitos negativos sobre toda a sociedade por uma atividade privada, como a poluição gerada pelos carros ou por uma fábrica –, principalmente relacionadas ao meio ambiente e que dificilmente seriam resolvidas pelo setor privado. Além disso, a falta de uma regulação sobre o uso dos recursos naturais poderia levar ao seu abuso.
Nas esferas social e moral, o libertarianismo tem divergências inconciliáveis tanto com a social democracia quanto com o conservadorismo. Enquanto os conservadores entendem que o Estado deve preservar uma base moral e uma estrutura social que levariam as pessoas a terem um senso de comunidade, os libertários entendem que a imposição de um código moral e social a toda a sociedade é algo inaceitável, mesmo ao custo de uma identificação mais fraca dos indivíduos com a comunidade. Neste contexto, o libertarianismo aceita bem as ideias progressistas – a exemplo da social democracia – embora não aceite a ação do Estado como promotor desses ideais. Já os socialistas criticam a ideia de que a ajuda às pessoas em necessidade fique dependente da caridade e da boa vontade dos indivíduos.
https://www.politize.com.br/libertarianismo-conceito/
Nenhum comentário:
Postar um comentário