terça-feira, 22 de dezembro de 2020

"Teosofia" sem Véu - segunda parte

Continuando a série, uma resenha da mais conhecida, mas não o suficiente, obra que que denuncia a farsa de Blavatsky, de seus comparsas e de alguns outros mais. Infelizmente o livro é praticamente desconhecido em nosso país tão atrasado em traduções e informações sobre as farsas já desmascaradas em seus países de origem ou em outros. 

O Brasil também sustenta uma simpatia muito forte a falsa teosofia blavatskyana, porque se por um lado as idéias e linguagem "esotérica" já fazem parte do imaginário coletivo do país mesmo sem saber da onde vêm, por outro lado a enorme e esmagadora maioria das pessoas não faz a mínima idéia do que seja teosofia e aceita de bom grado a definição dada pela falsa teosofia. Essa que não apenas maculou o termo "teosofia", mas também muitos outros usados pela mesma e por outras tradições, criando um vocabulário totalmente distorcido sobre estas, que hoje é entendido como sendo o original. 

Ou seja, essa mulher arruinou qualquer possibilidade de simpatia e conhecimento real sobre o que tratava a verdadeira teosofia em sua origem e suas vertentes originais, escondendo, colocando um véu, que praticamente encobriu a teosofia de tal forma que hoje praticamente caiu no esquecimento e ignorância...



 

Galileu

Maurício Tuffani

A caixa-preta da Teosofia


Obra desvenda o tortuoso caminho seguido pelos gurus ocidentais


Blavatsky Sedentária e glutona, pregava uma disciplina que não tinha Logo nas primeiras páginas de seu livro, Peter Washington mostra o impiedoso propósito de desmascarar os bastidores do desenvolvimento das correntes místicas originadas nos Estados Unidos e na Europa em meados do século 19. Ele cumpre brilhantemente essa promessa, denunciando tramas relacionadas a sexo, dinheiro e fraude entre gurus que pregavam castidade, desapego e integridade. Mas também consegue penetrar com profundidade no universo conceitual de diversas correntes do pensamento místico do Ocidente, com um surpreendente talento para lidar com as ambigüidades humanas. Se esse mergulho traz uma desconfortável transparência para muitas dessas instituições, comprova também, sem apelos irracionais ou místicos, que os homens têm profundas necessidades interiores a serem supridas.

A Sociedade Teosófica foi fundada em 1875 em Nova York, numa época em que parecia que se havia chegado ao auge do enfraquecimento das instituições religiosas. Os abusos de poder eclesiástico e as maquinações entre Igreja e Estado trouxeram para essas instituições uma grande vulnerabilidade, com revoltas internas e dissidências explícitas, expondo-as às críticas de ateus, liberais e radicais. Como diz Washington, "ia se tornando claro que existia no Ocidente um enorme e duradouro apetite público por formas novas e exóticas de crença religiosa, para suplementar e até mesmo substituir formas ortodoxas de cristianismo".

O místico Emmanuel Swedenborg (1688-1772) já havia tentado, na Suécia, um caminho que fundia ciência e religião, com direito a visões de Jesus Cristo e a sonhos reveladores. Outro antecessor da Teosofia, o suíço Franz Anton Mesmer (1735-1815), havia proposto que todos os corpos são envolvidos por uma espécie de fluido magnético, cujo fluxo poderia ser detectado e dirigido por indivíduos sensitivos com fins terapêuticos.

Mas o que a insatisfação espiritual dessa época pedia, segundo Washington, não era exatamente novas doutrinas, mas sacerdotes carismáticos, que poderiam muitas vezes ser substituídos por escritores e até por líderes políticos. A busca de uma "chave para tudo", mesmo que na forma de uma doutrina, teria de passar, necessariamente, por carismáticos mestres espirituais. Sobre isso, o autor de O Babuíno de Madame Blavatsky faz uma citação imperdível: "Talvez esta seja a definição de carisma: que cada pessoa pode tão facilmente revestir seu objeto com seus próprios sonhos" (pág. 216). Estava aberto, assim, o caminho para o surgimento do guru ocidental.

Os criadores da Teosofia ou "ciência sagrada" foram o norte-americano Henry Olcott (1832-1907) e a russa Helena Petrovna Blavatsky. Eles conheceram-se nos EUA um ano antes de fundar a sociedade inspirada nas culturas hinduísta, xivaísta, egípcia e outras da Antiguidade. Seu objetivo era pesquisar e divulgar "as leis que governam o Universo". Havia, para eles, o pressuposto da existência de uma doutrina universal secreta e o de que todas as religiões são essencialmente uma mesma religião. A descoberta dessas leis universais se dava, segundo eles, por revelações feitas por espíritos que se manifestavam por cartas dirigidas a Blavatsky e a Olcott. Apesar dos fracassos iniciais, a Sociedade Teosófica logo conseguiu atrair nobres e outros endinheirados, que custearam a expansão da entidade e de suas filiais, além de viagens e hospedagens da sua dupla de fundadores para vários países.

O grande sucesso da tarefa a que Washington se propõe está na sua estratégia. Se ele tivesse apelado para o conhecimento científico para desqualificar os propósitos ou os fundamentos da Teosofia e de outras correntes místicas, o resultado seria inevitavelmente um diálogo de surdos, pois é nos fundamentos que estão as grandes diferenças entre o misticismo e a cientificidade. A eficiência de sua crítica está justamente em mostrar que os principais mentores dessas seitas - que enfatizavam a busca da autodisciplina física e mental, a fraternidade e o desapego dos valores materialistas - eram apenas seres humanos idênticos aos das mentiras e das trapaças da política e dos negócios.

O Babuíno de Madame Blavatsky Peter Washington. Editora Record. Rio de Janeiro. % (21) 585-2000. 458 págs. R$ 52 

Um casal de ex-seguidores de Blavatsky, e depois desafeto, revelou posteriormente papéis em branco idênticos aos das cartas em que eram "precipitadas" as mensagens dos supostos espíritos guardiães do planeta. As alegadas viagens de Blavatsky - cuja data de nascimento ainda é um mistério - ao Tibete e a outros lugares do Oriente são praticamente consideradas fatos improváveis por Washington. Além disso, a fundadora da Teosofia é apresentada como um ótimo contra-exemplo da ferrenha autodisciplina individual proposta por ela mesma, pois devorava diariamente ovos fritos boiando na manteiga e vários alimentos gordurosos. Extremamente sedentária e balofa, precisava às vezes ser içada por ganchos por não conseguir usar escadas.

Washington não restringe seu livro às peripécias da fundadora da Teosofia. Ele percorre também todo o caminho dos sucessores da dupla fundadora, como os britânicos Annie Besant (1847-1933), que fazia vista grossa aos problemas éticos e materiais da instituição, e Charles Leadbeater (1847-1934), sempre em encrencas por assédio sexual a rapazes da Europa à Austrália. O livro segue também a trajetória do indiano Jiddu Krishnamurti, que foi preparado por Besant e Leadbeater para ser um novo Cristo, mas pulou fora, dos russos George Gurdjieff e Peter Ouspensky, do austríaco Rudolf Steiner, fundador da Antroposofia, e vários outros.

Blavatsky, que morreu em 1891, era contrária à seleção natural de Darwin. Para ela, a evolução humana se dera a partir de "seres elevados espiritualmente". Em seu apartamento em Nova York, que dividia com Olcott - em quartos separados - ela tinha na sala um babuíno empalhado, com óculos, colete, fraque e gravata, portando sob um dos braços um volume de A Origem das Espécies, de Darwin. Ele simbolizava, diz Washington, "a Insensatez da Ciência diante da Sabedoria da Religião". Mas apesar do destaque no título, o babuíno pouco aparece nesse brilhante livro, que é uma verdadeira caixa-preta da trajetória dos gurus ocidentais. 

Fotos: Cleiby Trevisan
Fonte: http://galileu.globo.com/edic/115/livros.htm

A Via Cardíaca e a Vontade


A Via Cardíaca e a Vontade

 

MARTINISMO, UMA VIA CARDÍACA

Por: Adílio Jorge Marques.

 
“De fato, o emprego habitual dos nossos dias é semelhante
a um sacrificar-se recíproco, enquanto que percorrendo
o caminho traçado pela consciência da nossa fragilidade
poderíamos reciprocamente encaminhar-nos no bem”.

 
ECCE HOMO
(Louis Claude de Saint Martin - O Filósofo Desconhecido)

 


 
A Tradição Primordial sempre esteve presente em nossa civilização de alguma forma. Algumas vezes através de personalidades que nos legaram profundos conhecimentos, e que muitas vezes transformaram a nossa história. Organizações mais ou menos hierarquizadas procuram, em todos os tempos, trazer a Luz Maior para este mundo. Provavelmente muitos já ouviram falar de várias linhagens Iniciáticas com tal propósito, sendo o Martinismo é uma dessas Tradições.

 
O termo deve-se a Louis Claude de Saint Martin, conhecido também por “Filósofo Desconhecido”. Viveu na França em uma época turbulenta política e intelectualmente (segunda metade do século XVIII), procurando amenizar com Saint Germain e Cagliosto os efeitos que o Terror pós-Revolução Francesa trouxe aos homens da Europa. Foi considerado por seus pares como “o mais sábio, o mais instruído e o mais elegante teósofo moderno” (Joseph de Maistre). Assim, nos salões e pequenos círculos de estudos na França e fora dela, suas instruções ficaram conhecidas como “Martinismo”. Saint Martin negava ser o verdadeiro autor do que ensinava. Rendia homenagem aos seus Iniciadores, legando um conhecimento místico a todos que se comprometiam com uma transformação interior verdadeira e não dogmática, e que leva a uma nova visão do mundo. A base era uma Iniciação por ele transmitida e que deveria perpetuar simbolicamente o conhecimento que deveria elevar o nível interior da humanidade. Logo, seu objetivo não era apenas consigo mesmo ou com um grupo/Organização em especial, mas com a própria humanidade.

 
Importante descrever brevemente os relacionamentos de Saint Martin, assim como sua biografia, o que deveria ser buscado e aprofundado por todos os que quisessem conhecer uma diferente forma de pensar dos setecentos. Nasce a 18 de janeiro de 1743 em Amboise, França, tendo sido educado e orientado sabiamente por sua madrasta, que aguçou desde jovem sua visão mística e cristã. Estuda as Leis e se forma, mas seu interesse filosófico o afastou da profissão. Entrou para a carreira militar aos 22 anos em Bordeaux, o que lhe deu mais tempo para os estudos místicos. Um de seus amigos oficiais era membro da “Ordem Maçônica dos Elus-Cohen do Universo”, cuja orientação pertencia a um místico chamado Martinès de Pasqually. Ambos logo se tornaram amigos.

 
A vida do Mestre dos Elus-Cohen nunca foi bem esclarecida pela história. Sabe-se que fundou sua Ordem em 1754 em Paris e que rapidamente difundiu seus conhecimentos em várias Lojas pela França, local e época das buscas e descobertas filosóficas. Em 1771 Saint Martin largou o exército para se dedicar melhor ao estudo filosófico, tornando-se secretário pessoal de Pasqually. Em 1772 problemas pessoais não conhecidos obrigaram Martinès a se mudar para o Haiti, aonde veio a falecer logo depois (1774). Sem a presença física de seu fundador a Ordem dos Elus-Cohen caiu progressivamente até entrar em dormência. Martinès havia passado pouco de muito do seu “saber teúrgico”, assim como conhecimentos gerais herdados da Tradição, o que acelerou o processo de dissolução, apesar de algumas poucas Organizações contemporâneas ainda outorgarem para si o nome desta Ordem.

 
Jean Baptiste Willermoz, comerciante de Lyon e também discípulo de Martinès, torna-se amigo de Saint Martin. Estrutura o “Regime Maçônico Escocês Retificado”, do qual Saint Martin participou por algum tempo até também desistir, optando por um caminho próprio e interior. Este caminho pessoal, chamado depois de “via cardíaca” por seu criador Louis Claude de Saint Martin, era uma clara alusão de que existia alternativa, menos trabalhosa e perigosa do que os meios “mágicos”, de se chegar ao contato interno com o Criador. Como disse em suas cartas e obras, a “parafernália” utilizada pela teurgia, com “intermediários”, era um caminho mais próprio aos enganos do que o caminho das preces e dos que tiveram seu coração tocado pelo “Amor Crístico”.

 
Saint Martin Viajou por vários países da Europa e conheceu as obras filosóficas de Jacob Boehme aos 45 anos, o que o entusiasmou e transformou de tal maneira que buscou aprender alemão para poder traduzir do original as obras de Boehme. E assim o fez até o fim de seus dias em 13 de outubro de 1803. Disse certa vez Louis Claude de Saint Martin: “É a Martinès de Pasqually que devo minha Iniciação às verdades superiores, e é a Jacob Boehme que devo os passos mais importantes que dei nessas verdades”.

 
Saint Martin escreveu várias obras assinando-as como “Filósofo Desconhecido”. São livros basilares para aqueles que buscam o entendimento Martinista:

  • Ecce Homo
  • Dos Erros e da Verdade ou Os Homens Convocados ao Princípio Universal da Ciência
  • Quadro Natural das Relações entre Deus, o Homem e o Universo
  • O Homem de desejo
  • O Novo Homem
  • O Espírito das Coisas
  • O Ministério do Homem-Espírito
  • Cartas póstumas

 As obras Martinistas não somente explicam a natureza do e para “o homem”, mas associam todos os conhecimentos disponíveis até aquele século ao princípio de que o espírito humano pode se tornar o centro da busca sem dogmas ou magias estapafúrdias. Em resumo, o espírito e finalidade do Martinismo podem ser sintetizados deste modo:

 
Devemos abandonar o “velho homem”, tomar em nossas mãos o destino e deixar de sermos “Homens da Torrente”. Pelo exercício da própria vontade deve se tornar um “Homem de Desejo” e fazer nascer em si mesmo, com a ajuda Divina, um “Novo Homem”. Quando tiver alcançado tal estado, por uma regeneração completa de seu ser e por um segundo nascimento interior, voltará a ser o “Homem-Espírito” que era na Criação. Estará enfim cumprindo o “ministério” que o Invisível lhe havia confiado na origem do mundo. Pela força de seus direitos primitivos ele poderá trabalhar para a Regeneração e Reintegração de si e da Criação na Unidade, aliás, nosso principal objetivo nesta vida ou em alguma próxima.

 
Como reencontrar esse estado paradisíaco, para o qual o ser humano foi criado no início dos tempos e acabou por perder, como diz Pasqually em sua obra “Tratado da Reintegração dos Seres” e a própria Gênese bíblica? Aí está a busca Martinista. A busca pela REINTEGRAÇÃO dos homens. Se a humanidade perdeu sua potencialidade primordial, enquanto Pensamento, Palavra e Ação, dela conserva, no entanto, o germe. Basta que aplique sua vontade para cultivar essa raiz e fazê-la frutificar.

 
Este é um caminho da VONTADE. Entre o destino, por vezes aleatório, e a Divina Providência vivida pelos homens, é necessário então escolher. Àqueles ligados à cadeia Iniciática Martinista, tornar-se um Homem de Desejo é empreender a reconstrução de seu Templo Interior. Para edificar esse eterno Templo, apóia-se em dois pilares simbólicos: da Iniciação e dos ensinamentos, ou seja, o pilar do Conhecimento. A Iniciação marca efetivamente o começo de seu grande trabalho, pois é o momento em que ele recebe a “semente de luz” que constitui o alicerce de sua obra, segundo Louis Claude de Saint Martin. Cabe-lhe em seguida trabalhar para “manifestar e irradiar essa Luz Maior”. As Iniciações Martinistas constituem um momento privilegiado, reencontro de um Homem de Desejo com seu Iniciador. Elas só existem ou são reconhecidas quando realizadas de corpo presente entre ambos. Atitudes que representam terrenalmente uma transformação maior que deveria ocorrer no INTERIOR de cada um. Para Saint Martin, é aquela pela mudança qual “podemos entrar no coração de Deus e fazer entrar o coração de Deus em nós, para aí fazer um casamento indissolúvel...”. A eliminação dos vícios e a busca das virtudes.

 
Para estudar seus ensinamentos, e principalmente seus símbolos, Saint Martin selecionou e formou um Círculo de discípulos conhecidos pelo nome de “Sociedade dos Íntimos”, que trabalhava com a mais pura espiritualidade interior. A partir do século 19, e após a sua morte, seus ensinamentos continuaram ininterruptamente de discípulo a discípulo, como podemos ver no esquema abaixo. Em 1891, Papus e Augustin Chaboseau criou a “Ordem Martinista”, conhecida na França como a primeira organização deste caminho místico. Com a morte de Papus em 1916 e as turbulências da I Grande Guerra, o original Conselho Supremo desta Ordem foi-se desfazendo e muitos de seus membros criaram suas próprias Organizações Martinistas.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

"Teosofia" Sem Véu - primeira parte

Na série sobre o neo-gnosticismo pouco falamos sobre o movimento que constitui a principal base e origem de toda a farsa da nova era e similares, o movimento que antecedeu tudo isso e deu origem tanto ao movimento nova era quanto a alguns dos supostos herdeiros  das tradições esotéricas mais famosas da história, que além de denegrir e nome de instituições inocentes ainda deturpou todo seu vocabulário (pelo mal uso e ressignificação dos seus termos), criou várias falsas escolas, seitas, ordens, filosofias, seja se apossando dos nomes de escolas antigas, seja criando novas que se diziam diferentes de todas as outras, mas tão fraudulentas quanto as primeiras.

E esse movimento ja começou fazendo isso, roubando o nome de outro movimento que nada tem a ver com este outro, trata-se da falsa teosofia da medium, trapaceira, espiã, contadora de "causos" Helena Blavatsky.

Para quem não conhece a história da teosofia (da verdadeira) pode ser fácil deixar-se enganar pela falsa. Em alguns momentos dessa série falaremos sobre a verdadeira. Mas aqui hoje vamos começar a cercar o assunto pelos cantos, pra em seguida abordarmos o centro da questão.  Vamos conhecer os tentáculos de Blavatsky, sua influência e influenciados, para só depois mostrar quem realmente é Blavatsky e porque é tão perigosa e mentirosa. Então com paciência vamos seguindo, e aos seus defensores e aos curiosos só uma recomendação, leia atentamente, acompanhe o que será exposto, cheque as fontes, e faça sua própria pesquisa. Se depois disso você ainda defender ou ter interesse nessa falsa escola, não há o que fazer, pois nem todos querem a verdade, aliás uma boa parte prefere mentiras confortáveis e o engano que acaricia seu ego...


Blavatsky e a inspiração racista de Hitler

Extraído do trabalho de MARCOS EDUARDO MEINERZ “O REICH DE MIL ANOS” - O IMAGINÁRIO CONSPIRATÓRIO DA OBREVIVÊNCIA NAZISTA APÓS A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (tese de doutorado aprovada pela Universidade Federal do Paraná. 2018)

A Teosofia na Alemanha 

Ligada à tradição ocultista e às religiões orientais, Teosofia significa o conjunto 
de doutrinas religiosas e místicas, frequentemente incorporadas de reflexões filosóficas, que buscam o conhecimento da divindade para alcançar a elevação espiritual. A Sociedade Teosófica fundou fortes grupos nacionais na Alemanha, na Índia, nos Estados Unidos, na Inglaterra e em vários outros países da Europa, durante o final do século XIX e nas primeiras décadas do XX. O relativo sucesso do movimento deveu-se a redescoberta de antigos saberes fundamentados nas “tradições egípcias e hindus, atraentes para as pessoas do mundo anglo-americano que se sentiam perturbadas pelo 
crescimento do agnosticismo e pelos desafios da ciência moderna”.

De acordo com Ricardo José Barbosa da Silva, a fundadora Helena Blavatsky supostamente viajou para o Oriente, Ásia Central, Índia, África, América Central, Américo do Sul, Europa e Estados Unidos, lugares nos quais conheceu e estudou várias seitas e rituais: “iniciada” na seita muçulmana dos drusos no Oriente Médio; apreendeu os rituais dos dervixes e presenciou rituais secretos vodus; e estudou também a magia da seita japonesa conhecida como yamabushi. Porém, nada disso se compararia aos sete anos que havia “passado em um vale oculto na cordilheira do Himalaia, no Tibete, onde teria sido iniciada por uma comunidade de mestres espirituais que lhe ensinaram uma antiga sabedoria que revelava muitos dos mistérios do universo”.

Mas essa trajetória dificilmente é verdadeira, pois não existem provas ou testemunhas que confirmem essa história. Nenhuma pessoa sem experiência em montanhismo teria feito a árdua viagem 
até o Himalaia e encontrado esses mestres ocultos, sem ser vista pelas patrulhas chinesas, russas e britânicas que estavam na região na segunda metade do século XIX. 

Depois desses supostos contatos, Blavatsky publicou em 1877 o seu primeiro livro intitulado “Ísis Sem Véu”21, no qual expõe os princípios da Teosofia além de narrar a história do ocultismo (leis escondidas da natureza) egípcio que teria sido a ela ditado por espíritos. Defendendo que o ocultismo deveria ser aceito pela ciência ortodoxa, o livro foi um sucesso, teve sua primeira edição esgotada em dez dias, e, de acordo com Baker, isto se deu pelo efeito por ele produzido, ou seja, de acalmar as mentes daqueles cuja fé religiosa tinha sido prejudicada pelo racionalismo científico, em particular, as teorias da evolução e da seleção natural de Darwin. A crítica especializada (de acadêmicos na maioria) rapidamente atacou a obra, por incompetência intelectual e plágio.

Mas isso não abalou Blavatsky. Em 1888 escreveu a sua obra “chave’ sobre a teosofia, na qual tentou esclarecer alguns problemas teóricos da doutrina 
proporcionados por seu primeiro livro. A “Doutrina Secreta”, que pretende contar nada mais do que a história do universo e da vida inteligente, teria sido produzida com base em informações contidas num hipotético manuscrito secreto milenar, chamado 
“Estâncias de Dzyan”, encontrado pela autora em um monastério subterrâneo no Himalaia. Segundo Blavatsky, esse manuscrito conta como a Terra foi colonizada por seres espirituais da Lua, sendo a humanidade descendente desses ancestrais através das chamadas raças-raiz. 

De acordo com a Doutrina Secreta, a história humana teria se desenvolvido ao longo de sete raças-raiz. A primeira raça-raiz, conhecida como os “nascidos por si mesmos”, foram os habitantes do 
primeiro continente, chamado de “terra sagrada e imperecível”. A segunda raça-raiz foi aquela dos “nascidos do suor” ou os “sem ossos”. Essa raça habitou um continente que se estendia ao sul e ao 
leste do polo norte e que Blavatsky supõe ter mesmo existido tal como é descrito na mitologia grega, ou seja, a região para onde o deus 
Apolo ia viajar todos os anos. Desta segunda raça procedeu a terceira raça-raiz, a raça dos “duplos” (andrógenos) que, diferente das primeiras duas raças (que se reproduziam por meio espirituais), já se reproduziam de forma sexuada. Tal raça teria vivido em um continente que se estendia de Madagascar ao Ceilão e Sumatra e teria 
submergido sobre as águas. Tal continente foi batizado por P. L. Sclater como “Lemúria” e supunha-se que tivesse realmente existido. 
A quarta raça foi a lendária raça dos atlantes, habitantes do continente desaparecido a que se referia Platão.

Segundo Blavatsky, atualmente a Terra é habitada pela quinta raça-raiz, a raça ariana, sendo seu continente a Europa. Aqui podemos perceber os elementos racistas presentes nessa crença, com os arianos europeus sendo a “raça superior”, mais tarde adotados pelos nazistas.

Baker afirma que a Teosofia deu muita ênfase a reencarnação. Por meio dela, os seguidores do movimento podiam imaginar-se como participantes de uma pré-história humana fabulosa, repleta de lugares mágicos, exóticos e perdidos, enquanto tinham certeza de que suas almas estavam em uma trajetória ascendente, prontas à salvação 
espiritual e à união final com deus. (...)

Como um antídoto para esses medos e incertezas da vida moderna, a Teosofia foi rapidamente aceita por movimentos populares alemães e austríacos. Como a Lebensreform (reforma da vida): um movimento alemão de classe média que 
representou a tentativa de atenuar os males da vida moderna decorrente do crescimento 
das cidades e indústrias. Goodrick-Clarke assegura que uma variedade de estilos de vida 
alternativas - que incluía o uso de ervas e remédios naturais, vegetarianismo, nudismo e 
comunidades rurais autossuficientes -, foram abraçadas por pequenos grupos que 
esperavam retornar a uma existência puramente natural da vida. Dessa forma, a crença 
teosófica relacionava-se aos sentimentos da Lebensreform e providenciou uma 
justificativa filosófica a esses grupos.

Na Alemanha foram fundados outros grupos baseados na Teosofia de Blavatsky. 
O principal deles foi a Sociedade Teosófica Alemã, constituída em 22 de julho de 1884 
na cidade de Elberfeld. O grupo ajudou a fomentar o interesse pelo ocultismo no país 
através da criação, em 1886, do periódico chamado Die Sphnix, (...) com a intenção de confirmar 
os preceitos teosóficos. Tanto é que contava com contribuições de cientistas, historiadores e filósofos. Outro difusor do ocultismo na Alemanha foi Franz Hartmann (1838-1912), com seu periódico Lotusbluthen, publicado entre 1892 e 1900. Esse 
periódico foi o primeiro a publicar a imagem da suástica em sua capa. Em 1906, foi fundada em Leipzig a Editora Teosófica por Hugo Vollrath, um discípulo de Franz Hartmann, a qual publicou um grande número de revistas e livros dedicados ao 
ocultismo. Importante ressaltar que grupos teosóficos também proliferaram em Viena, 
na Áustria: Associação para o Ocultismo, Clube de Leitura Esfinge e a Primeira Sociedade Astrológica Vienense.

O nazismo era ocultista?

Como observamos, muitos dos elementos adotados pela “religião nazista” não foram inventados do nada. Eles foram altamente influenciados por discursos e crenças pré-existentes entre os povos germânicos antes mesmo de se constituírem como um partido político. Personagens como Blavatsky, List, Sebottendorff e Liebenfels foram alguns dos resposáveis por popularizar tais crenças: um sistema de hierarquia de raças, a importância de alfabetos antigos, o antissemitismo, a superioridade dos arianos e sua origem mítica, a astrologia, a astronomia, a crença em mitos pagãos e uma terra sagrada ariana. Todos esses elementos podem ser encontrados tanto no cerne do pensamento dos ariosofistas, teosofistas, da Ordem dos Germanos, da Sociedade Thule, da Sociedade Edda, nos movimentos pangermânico e völkisch, como também no Partido Nazista. Só para se ter uma noção dessas influências, um detalhe interessante: foi Blavatsky que salientou o significado oculto da suástica e um dos seus seguidores o responsável porintroduzir os “Protocolos dos Sábios do Sião” dentro da comunidade europeia ocidental, “ávida por um bode expiatório”.

(...)

Apesar dessa afinidade ideológica por essas crenças esotéricas, a evidência de que Hitler e outros líderes nazistas participavam de seitas ocultistas é muito fraca. Ou seja, historicamente não há relações profundas com o ocultismo, isso acontece na cultura de massa. A maioria dos historiadores sempre ignoraram, corretamente, as afirmações que os ligavam com algum desses extremados grupos racistas, anti-semitas e panfletistas. Mas por causa desses elementos em comum e uma suposta aproximação com tais grupos, desenvolveu-se na cultura de massa uma elaborada mitologia em torno da ideia na qual os nazistas praticavam magia negra com o objetivo de adquirir forças sobrenaturais para dominar o mundo. Isso foi representado em livros populares, principalmente nas décadas de 1960 e 1970.


Ariosofia

De acordo com Baker, a inquietação pública ocasionada pelas mudanças econômicas, sociais e culturais do final do século XIX, e a ameaça que isto apresentava à tradicional visão de mundo, foi fundamental à ideologia völkisch que lembrava o povo germânico da importância da sua identidade cultural. A combinação entre cultura e espiritualidade foi fortemente expressada por meio da doutrina da Ariosofia, originada em Viena (onde no final do século imperava o racismo völkisch, o anticatolicismo e o antimodernismo). Essa doutrina era constituída por uma mistura das teorias racistas völkisch e dos conceitos teosóficos de Blavatsky, ou seja, uma ideologia esotérica baseada na superioridade da raça ariana, amalgamando o racismo, o antissemitismo, a teosofia e o ocultismo, propondo o retorno a uma idade dourada e pagã, na qual seus líderes seriam dotados de poderes ocultos. Seus dois principais expoentes foram os austríacos Guido von List (1848-1919) e Jorg Lanz von Liebenfels (1874-1954). Nascido em Viena no dia 5 de outubro de 1874, filho de uma família de comerciantes de classe média, Guido von List foi um dos principais escritores e ideólogos völkisch e pangermanista antes da eclosão da Primeira Guerra Mundial. (...) Inspirado pela Teosofia de Blavatsky, List reconstituiu a pré-história germânica escrevendo nos mínimos detalhes eventos históricos que teriam acontecido muitos séculos antes. 

(...)

Outro que influenciou o nacionalismo pangermânico por intermédio de suas visões místicas de caráter racista, foi Jorg Lanz von Liebenfels. Nascido em Viena, no dia 19 de julho de 1874 e pertencente à classe-média, Liebenfels contribuiu à ideologia racista da época com a inclusão de preconceitos e ideias científicas em uma doutrina gnóstica (aquele que busca o conhecimento das verdades divinas), que distinguia as raças loiras e negras como entidades cósmicas que trabalhavam, respectivamente, à ordem e ao caos do universo. Liebenfels fundou, em 1905, a revista de teor racista e antissemita Ostara, que, segundo Barbosa da Silva, influenciou Hitler a construir sua concepção de mundo nacional-socialista.

(...)

Segundo Goodrick-Clarke, as ideias dos ariosofistas influenciaram o Reichsführer Heinrich Himmler na década de 1930, contribuindo em seus projetos acerca a pré-história germânica, especialmente seus planos visionários para o Grande Reich Germânico no terceiro milênio. Devido ao surgimento do neopaganismo e a constante antipatia em relação ao cristianismo pelos fascistas, a ariosofia ofereceu a essas pessoas um projeto “de crenças religiosas que ignora o cristianismo em favor de uma mistura de tradições míticas e novos conceitos científicos da elite acadêmica contemporânea na Antropologia, na Etimologia, na História Antiga e na religião comparada”.33 Inclusive, os ariosofistas utilizaram a teoria teosófica das raças-raiz para designar os judeus, ciganos, negros e eslavos, como sobreviventes da raça inferior Lemuriana, considerados pelo nazismo como seres que deveriam desaparecer para a evolução plena dos arianos, a casta superior. 

Como ressalva Baker, embora as ideias de List e Liebenfels fossem inerentemente odiosas e violentas, elas permaneceram justamente como são, ideais. Muitos de seus seguidores tornaram-se cada vez mais inquietos e insatisfeitos com a falta de ação contra a ameaça à raça ariana, ou seja, aqueles “seres inferiores” - com quem eles foram forçados a compartilhar sua nação, em particular os Judeus – que eram culpados pelos males da urbanização, da industrialização e da ameaça ao tradicional modo de vida rural do “camponês ariano”. E nesse ambiente, muitos passaram a acreditar que o tempo da teorização acadêmica tinha passado, sendo a hora da ação direta.


A terra natal ariana perdida

A ideia de que o povo ariano seria oriundo de uma terra natal mística e fabulosa, não foi inventada pelos nazistas. Para o movimento romântico alemão do século XIX, a palavra “ariano” denotava o grupo racial mais elevado, superior, puro, honroso e biologicamente superior aos semitas. Porém, os proponentes dessa teoria reapropriaram-se das ideias de Charles Darwin. A suposição de que a evolução humana mediante a seleção natural resultaria necessariamente em melhorias graduais para cada espécie, foi invertida pelo racismo ariano, pois sustentavam que a raça branca teria alcançado há muito tempo a perfeição, sendo corrompida devido a miscigenação com as raças consideradas inferiores.

Isso teria acontecido quando os arianos imigraram de sua terra natal mítica rumo a Europa. Podemos destacar ao menos três temas em torno da origem mítica da raça ariana: o Paraíso Polar, o Reino de Hyperborea/Atlantis e a Antártida. Sobre o mito do Paraíso Polar, Baker assegura que, no desejo de redescobrir as suas raízes míticas e culturais, os arianistas afastaram-se do “calor” do éden mesopotâmico (explicação bíblica) e olharam para o “frio do extremo norte”. A primeira aparição dos arianos na região polar teria acontecido por volta de 25628 a.C., durante a era interglacial, sendo forçados a deixar sua terra natal, rumo a Europa, devido ao ambiente que estava se tornando cada vez mais frio e hostil. O advento dessa idade do gelo foi a primeira de uma série de catástrofes naturais que provocaram a queda de outras três civilizações antigas: Atlantis, Lemuria e do povo (sem nome) que ocupava a região conhecida como deserto de Gobi. Além disso, a tradição ariana teria influenciado a civilização egípcia, acadiana e babilônica.

No que se refere ao mito do Reino de Hyperborea e Atlantis, retomamos as teorias de Blavatsky. De acordo Baker, baseada no suposto documento tibetano intitulado de Estâncias de Dzyan, a criadora da Teosofia afirmava que os ancestrais arianos ocuparam quatro continentes perdidos e um que ainda existe: 

● O primeiro, descrito como “The Imperishable Sacred land” (terra sagrada imperecível), foi o lugar dos primeiros humanos. 

● O segundo continente foi Hyperborea, terra que se estendia por todo o Polo Norte, compreendendo o que é hoje conhecido como a Ásia do Norte. 

● O terceiro continente foi Lemuria, teoricamente existido entre Madagascar e o Sri Lanka. 

● O quarto continente foi Atlantis, a primeira terra histórica. 

● O quinto continente se refere as Américas, a Europa e a Ásia Menor, que continuam a existir. 

Enquanto os quatro primeiros continentes já não existem mais, vivendo a humanidade no quinto, os dois últimos, ainda desconhecidos, aparecerão em futuro próximo. Os princípios centrais da Teosofia – as civilizações antigas e fantásticas, e a origem da raça ariana superior -, como afirmado anteriormente, foram atrativas aos ocultistas e nacionalistas alemães que odiavam o mundo moderno do final do século XIX e do começo do século XX. Modernismo era visto como um fenômeno urbano, sofisticado, intelectual, e isso incluía a ciência, a tecnologia, a Revolução Industrial e o capitalismo. Dessa forma, as doutrinas teosóficas fundiram ciência e misticismo, absorvendo as teorias de Darwin sobre a adaptação e seleção natural, aplicando-as ao conceito da luta espiritual entre as raças da Terra. O resultado dessa luta teria sido o aparecimento da raça ariana. Baker recorda que o trabalho de Blavatsky foi extremamente convincente quando foi escrito.

(...)


Referências usadas pelo autor nessa parte do trabalho:

GOODRICK-CLARKE, Nicholas. Raízes ocultistas do nazismo: cultos secretos arianos e sua influência na ideologia nazi. Lisboa, Terramar, 2002. 

GOODRICK-CLARKE, Nicholas. Sol negro: cultos arianos, nazismo esotérico e políticas de identidade. São Paulo: Madras, 2004.

BARBOSA DA SILVA, José. História invisível: uma análise psicossocial das raízes mágico-religiosas do Nacional-Socialismo. Tese (Doutorado em Psicologia), Universidade de São Paulo, 2009. p. 90.

BLAVATSKY, Helena. Ísis sem véu. São Paulo: Pensamento, 1991.


Metafísica - intro

 

Metafísica

Aristóteles

NOME ORIGINAL – Ta Meta Ta Physika (Grécia)
EDIÇÃO NO BRASIL – Edições Loyola; 2001

DO QUE TRATA

Partindo do conceito de ciência como o estudo das causas e princípios de coisas, seres e fenômenos, o filósofo define a metafísica como a ciência mais elevada, pois ela se ocupa de estudar causas e princípios últimos de toda a realidade, todos os seres, sem restrição. Ao contrário das demais ciências, que investigam coisas particulares (como a matemática estuda os números), a metafísica se dedica à substância de todas as coisas. A obra foi editada depois da morte do autor, pelo estudioso Andronico de Rodes.

QUEM ESCREVEU

Aristóteles (384 a.C.-321 a.C.) nasceu na cidade Estagira, na Macedônia, onde morou até os 18 anos, quando se mudou para Atenas. Na capital, freqüentou a Academia de Platão. Lá estudou até a morte do mestre. O filósofo se ocupou da educação do imperador da Macedônia, Alexandre.

POR QUE MUDOU A HUMANIDADE

A metafísica aristotélica inaugura a noção do conhecimento como algo global e não compartimentado, fragmentando, conforme as ciências “especializadas” da época costumavam fazer. Assim ele afirma que a realidade no seu todo é passível de ser estudada.

A metafísica é uma compilação de anotações dos discípulos de Aristóteles durante as aulas, e do próprio. A tradução literal do termo, em grego, significa “os escritos que estão catalogados após os da física”.


Fonte: https://super.abril.com.br/comportamento/metafisica/

Espiritismo, vampirismo, satanismo? - O que as ciências metafísicas, alquímicas e tradicionais dizem - parte 3

 EsPIRITISMo (III) 

Mais uma vez queremos chamar vossa atenção para a natureza do engano que infalivelmente deve se produzir em decorrência das práticas espiritistas. 

Quando um círculo espiritista é criado numa sala, ele será magnetizado em decorrência da unifomidade dos pensamentos, sentimentos e da vontade de seus membros. O pensamento. a vontade e o sentimento, em conjunto, são dirigidos para a evocação dos espíritos. 

Um círculo magnético como este, no qual as esferas aurais de seus membros estão completamente sintonizadas, cria uma luz e uma poderosa irradiação, atraente e pesquisadora, que emana do santuário do coração de todos os presentes, e que pode se tornar numa grande força. A luz também emite som, então, de um círculo como este, um certo tom vibra no espaço. É assim que os espíritos sào evocados. E por razões obvias, não se fazem esperar, pois têm o maior interesse no contato mais forte, porque às vezes é muito difícil penetrar no campo aural do círculo. Como, entretanto, os semelhantes se atraem, naturalmente descobre-se uma abertura. 

A atmosfera de um círculo magnético como este é uma boa condutora. Normalmente, o espírito controlador se coloca por detrás do médium. Fixa o olhar na nuca do médium e assim controla, pela medula, os centros da cabeça e do coração e, conseqüentemente, seu pensamento, sua vontade, seu sentimento. O espírito-guia sopra igualmente, nas narinas do médium, com o objetivo de sintonizar e influenciar seus pensamentos e sua vontade por meio do osso etmóide. para atingir os seus próprios fins. 

Finalmente, a atmosfera dos espíritos é ligada ao círculo magnético. o que se percebe por um frio intenso. 

Quando chega a esse ponto. o espírito-guia começa a falar ou a escrever através do médium, embora tudo o que é dito ou escrito seja somente uma encenação destinada a camuflar o único objelivo, que é o roubo de éteres para ele e para seus comparsas. 

Por exemplo, ele poderá dizer. pelo médium, algo como: "Aqui está a Sra. Peters", isto é, a falecida avó de um dos presentes. Então, ele revelará vários detalhes da vida da avó conhecidos exclusivamente pelos membros presentes da família. As vezes, o médium vê a avó e dá uma descrição precisa e minuciosa dessa senhora. 

O membro da família presente, inteiramente convencido, confirma tudo o que foi dito. Como conseqüência, uma corrente de interesse se dirige para a falecida. 

Sobrevém uma forte explosão de éteres, estabelece-se a ligação com o guia, e o saque é recolhido. Às vezes, chegam em grande número. acompanhados por hordas de de elementais. O importante é obter o contato adequado. Então o médium mais apto para isso é escolhido pela entidade. E assim que todo o círculo é extorquido. Um por um, os participantes sào tomados. Muitas vezes o guia aconselha que não mais se admita no círculo nenhum novomembro. para evitar interferências em seu domínio. De tempos em tempos é marcada uma outra reunião: e outra refeição de éteres é servida e consumida. 

Levando tudo isso em consideração, torna-se claro que estas sessões são nocivas para quem participa delas e que, desse modo, todos são desviados do verdadeiro desenvolvimento espiritual. Estas reuniões também são nocivas para os espíritos-guia que permanecem algema dos à sua sombria esfera de existência, não podendo romper suas amarras. Também são prejudiciais para o mundo e a humanidade, porque assim o satanismo é alimentado e conservado. 

Os guias empregam todos os meios possíveis para impedir que o interesse do círculo diminua. Os componentes são elogiados. o médium é promovido a adepto, pede-se auxílio para os mortos e faz-se toda espécie de profecias. 

Pode-se perguntar se a pessoa em questão era realmente ou não a falecida avó. Na maioria das vezes, não. 

Como, então, o médium se acha tão bem informado sobre todos os pormenores da avó? O guia experiente lê todas as particularidades da falecida no éter refletor do parente presente. O éter retletor de cada pessoa guarda, com efeito, um resumo fiel de toda sua vida, dos fatos e acontecimentos principais, de seus relacionamentos pessoais, etc. Assim que alguém concentra a atenção sobre um ponto do seu passado, o éter refletor é vivificado nesse ponto permitindo à própria pessoa reler e trazer de novo esse passado ao seu pensamento. Mas outra pessoa também pode fazer isto, desde que tenha tido o necessário treinamento. Quando choramos um morto e, nesse estado de ânimo, com a mente cheia de recordações do falecido, participamos de uma sessão espírita, somos assim enganados.

Entào é impossível que a avó se detenha na esfera intermediária' Essa eventualidade só será possível se a avó tiver sido, em vida, uma mulher totalmente má, porque só as criaturas verdadeiramente más se mantêm na esfera intermediária. Muitas entidades se dedicam temporariamente ;t prática do, roubo de éteres que foi descrita, mas logo se enojam desse tipo de existência e abandonam esse parasitismo. 

Realmente, o furto de éteres causa uma degenerescência, uma moléstia estrutural que faz com que estas entidades acabem por apresentar um aspecto horripilante. Se a falecida avó permanece em companhia de monstros como estes é porque ela nào vale muito como pessoa- e nunca valeu. Caso ela aparecesse em seu verdadeiro estado. seu parente teria vergonha dela e se retiraria, bastante confuso. 

O guia também é capaz de se materializar. Para isso. ele atrai ao seu redor um volume suficiente de éteres e de forças fosfóricas que retira dos cérebros e das glândulas tireóides dos participantes da sessão. Essas forças fosfóricas pertencem ao domínio químico de nossa esfera. e sào, portanto, perceptíveis aos nossos olhos. 

Assim, os guias experientes materializam, por exemplo, uma mào, ou uma sombra de alguém. Também podem fazer aparecer um determinado rosto que não é do guia, mas sim uma máscara imaginária. Tudo se torna possível pela maleabilidade dos éteres superiores. 

Todas as ciências ocultas do passado mencionam a habililade dos magos negros de produzir seres sombrios, elementais e formas humanas simuladas. Isso faz pensar no golem, do livro do mesmo nome, de Gustav Meyrink: ou no livro Burn, witch, burn (Queime, bruxa, queime) de A. Merrit. Assim. os espíritos ligados à terra também são temporariamente capazes destas criaçoes para enganar o público.

A existência do espiritismo é inegável. Ele se mantém pela curiosidade. pelo sensacionalismo e pela falta de verdadeira luz. Pelas práticas espiritistas é absolutamente impossível chegar a aprender qualquer coisa nova, científica, ou algo de bom que não se possa facilmente obter de outras fontes. Todas as lições morais, espirituais ou intelectuais transmitidas nestas sessões são sempre o produto de furto. São tomadas de empréstimo aos livros sagrados e à sabedoria antiga. 

As descrições do denominado país de verão, que é a imitação da esfera celeste no além. e das esferas infernais não podem nos ensinar nada de novo, nada que não pudéssemos aprender de outro modo. A ciência rrústica e oculta de todos os séculos sempre nos manteve bem informados. Para o pesquisador da verdade, o único meio de adquirir conhecimento é penetrar e conseguir o conhecimento de primeira mão trilhando o caminho da libertação. Então, a realidade de todas as coisas se abrirá para ele, facilitando sua pesquisa pessoal. 

Certas pessoas supõem que as práticas espiritistas podem ser muito úteis para convencer os homens da existência de uma vida após a morte. Elas pensam que isso é extremamente importante. Não compartilhamos dessa opinião. Na realidade, quase todos acreditam numa existência do outro lado do véu. Isso é tão verdadeiro para os povos primitivos como para os cristãos. E no entanto, o mundo nunca se encontrou num caos maior. 

Às vezes, dizem que o elemento profético nestas sessões espíritas é útil para dar proteção aos habitantes da esfera tenestre e também para auxiliar os que já morreram. No entanto, limitamo-nos a nos referir ao que já foi explicado sobre o parasitismo e a repetir o alerta: não vos deixeis explorar por mais tempo. No que diz respeito a um possível auxílio aos falecidos, lembrai as palavras de Cristo: "Deixai os mortos sepultar os seus próprios mortos". 

(...) 

Várias perguntas podem ser feitas agora: Como nos livrar de nossa mediunidade? Como combater o satanismo? Como curar a humanidade desse flagelo? A resposta é: por meio de uma consciente mudança e nobrecimento da vida, de baixo para cima; por uma auto franco-maçonaria, livre de toda autoridade externa; por não permitir que sejamos enganados e pela rejeição resoluta e sistemática de toda e qualquer influência espiritista; por um anseio constante por um conhecimento de primeira mão numa objctiva atitude de vida; por uma mudança fundamental e por nos deixar guiar, por um amor à humanidade sempre crescente e abarcante, sabendo que: "mesmo se possuíssemos todas as coisas, mas não tivéssemos esse amor universal, nada teríamos e nada seríamos".

Extraído do livro  FILOSOFIA ELEMENTAR 

DA Rosacruz Moderna de J. van Rijckenhorgh