Por Everson Barbosa - 20 de fevereiro de 201159
Misturando verdades com mentiras, boatos com fatos, eles [os vídeos] acabaram se popularizando entre crentes. Nos últimos meses, tem se popularizado no meio evangélico uma série de vídeos acerca do projeto de governança mundial profetizado pela Bíblia para o final dos tempos e que já estaria em andamento no mundo. Esses vídeos, disponibilizados gratuitamente na grande rede de computadores, têm sido ultimamente reproduzidos de forma caseira por muitos crentes, se tornando ainda mais populares. Porém, sua escatologia, extremamente especulativa, mistura verdades com mentiras, boatos com fatos, evidências com informações absolutamente equivocadas. Estamos falando dos vídeos acerca dos supostos Illuminati, e que já são uma verdadeira febre entre muitos crentes Brasil afora.
Segundo esses vídeos, há décadas que um grupo de homens muito ricos domina o mundo, manipulando governos, a economia mundial, a produção dos alimentos e todas as notícias que lemos nos jornais ou vemos na tevê e nos grandes sites de notícias da internet. Esse grupo, dizem, chama-se Illuminati, uma entidade secreta que reúne homens poderosos desejosos de implantar na Terra um governo mundial. De acordo com os vídeos, são eles que teriam elegido de fato os últimos presidentes dos Estados Unidos, teriam “produzido a farsa” de que o homem foi à lua bem como a “farsa” dos atentados ao World Trade Center; (sic) e, ainda segundo eles, todas as igrejas evangélicas estariam praticamente envolvidas, consciente ou inconscientemente, pela Nova Ordem Mundial, ou seja, o governo mundial. Como dá para perceber, são enormes falácias, mas que acabam enganando muitos justamente porque essas mentiras são apresentadas nos vídeos ao lado de outros fatos, misturando verdade com ficção.
Sobre o 11 de setembro, por exemplo, a maluca teoria da conspiração sobre os atentados foi popularizada pelo livro L’Effroyable Imposture (2002), do jornalista e ativista político de esquerda Thierry Meyssan. Com o lançamento do livro, a teoria de Meyssan se espalhou na internet, mas trata-se de uma tremenda fraude, cujos argumentos (muitos distorcidos já em seu nascedouro) já foram todos respondidos um a um pelo FBI e pelo Departamento de Estado norte-americano, e em artigos tanto da imprensa dos EUA como da imprensa europeia, inclusive a francesa, mal o livro fora lançado. Envergonhados pela tese louca de Meyssan, jornalistas franceses também chegaram a escrever um livro rebatendo ponto a ponto sua teoria, repleta de informações equivocadas. Desacreditado, Meyssan saiu da Europa e passou a morar na Síria, de onde trabalha fazendo matérias para uma revista semanal russa, a “Odnako”.
Os Illuminati existem?
Para início de conversa, os Illuminati de fato sequer existem. Grupos como Illuminati, Golden Dawn (Aurora Dourada), Priorado de Sião e Templários já existiram, mas há muito tempo não existem mais. O Priorado de Sião, que se dizia uma sociedade secreta fundada no século 11, foi, na verdade, criado em 1956 e se dissolveu no mesmo ano. Os Templários existiram de 1096 até 1312, quando o papa Clemente V resolveu dissolver a ordem. A sociedade ocultista e teosófica Aurora Dourada nasceu em 1880 e desfez-se em 1905. Atualmente, pequenos grupos, nascidos recentemente, alegam ser a continuação da ordem, mas nenhum tem realmente ligação direta com o original Aurora Dourada nem conseguiu ter a pequena influência que esse grupo tinha no final do século 19 na Inglaterra. O Iluminati, por sua vez, foi uma sociedade secreta criada na Alemanha em 1776 e extinguida em 1788, e caracterizada por seguir um iluminismo radical. Todas as teorias que colocam os Illiminati como tendo início antes dessa época ou como existindo até hoje tratam-se de lendas. O nome Illuminati só sobrevive hoje em minúsculos grupos de aficcionados pela história do Illuminati original. Há até um deles no Brasil. Eles se dizem herdeiros dos antigos Illuminati, mas não têm obviamente nenhuma ligação direta com o Illuminati original do século 18, e também nenhum desses grupos têm ligação entre si e muito menos exercem alguma influência significativa sobre a sociedade.
Aliás, Illuminati, Golden Dawn e Priorado de Sião eram sociedades secretas antigas que não chegaram, nenhuma delas, a ter o poder de influência que a maçonaria, por exemplo, tinha pelo menos até o início do século 20. Hoje, Illuminati, Golden Dawn, Priorado de Sião e Templários só existem mesmo em romances policiais mirabolantes que rendem lucrativos roteiros de filmes de ficção, como O Códido Da Vinci, baseado em obra ficcional homônima do falacioso Dan Brown.
Sérgio Pereira Couto, jornalista, historiador e escritor, considerado o maior especialista em sociedades secretas no Brasil, ressalta sobre os Illuminati que “páginas e mais páginas de Internet apresentam os esquemas mais malucos e os atribui ao grupo, incluindo ramificações e controle total de outras ordens”, e acrescenta que, desde o século 18, “muito se falou sobre essa ordem e pouco se provou”.
Agora, o que é verdade, e já foi alvo de matéria do jornal Mensageiro da Paz, é que existem grupos que reúnem realmente homens poderosos na política, na cultura e na economia mundial, e que pregam uma Nova Ordem Mundial – isto é, uma governança mundial –, mas nada que seja do tipo sociedade secreta. São eles o Council on Foreign Relations (CFR, na sigla em inglês), dos Estados Unidos, e o Clube Bilderberg, que reúne fraternalmente líderes internacionais nas áreas de política, economia e cultura (MP, edição 1.490, julho/2009/pp. 14 e 15). Ambos foram fundados no século 20. Destes, apenas o Clube Bilderberg é mais reservado. O CFR, ao contrário, realiza palestras, eventos e tem publicação oficial. Já o Clube Bilderberg é, no máximo, o que se pode chamar em nossos dias de “sociedade discreta” (aliás, é praticamente impossível imaginar em nossos dias uma sociedade absolutamente secreta, já que estamos em uma época em que a comunicação e o jornalismo investigativo são cada vez mais fortes).
É fato que as reuniões do Clube Bilderberg não são abertas à imprensa ou ao grande público, mas seus membros são todos conhecidos e todos os anos sabe-se quando e onde serão realizadas as reuniões. Inclusive, a pauta desses encontros de vez em quando acaba vazando para a imprensa, sendo publicada em sites e até em jornais. Outro ponto importante a se frisar é que esses grupos (CFR e CB) não são “onipotentes”, no sentido de terem o poder pleno de implantar tudo o que idealizam ou “controlar toda a mídia e o governo de nações”, mas tentam, sim, dentro da esfera de influência de seus membros, influenciar o maior número de pessoas no planeta para aquilo que consideram ser o melhor para o mundo – e na maioria das vezes acabam conseguindo seu intento, por terem o apoio da maioria dos grandes formadores de opinião da mídia ocidental de hoje na defesa de suas propostas. O CFR e o CB defendem, por exemplo, um governo mundial, moeda única, legalização de drogas, “casamento” homossexual. Nem todos os seus membros concordam com todos os pontos dessa pauta, mas a maioria, sim.
Estejam os membros do CFR e do Clube Bilderberg conscientes disso ou não, o que defendem em sua maioria aponta para as profecias bíblicas relativas ao final dos tempos. E suas ações, sem dúvida, influenciam a sociedade. Só não se pode chamar isso de “controle total”, mas apenas de grande influência; nem afirmar que o Clube Bilderberg, e muito menos o CFR, é uma “sociedade secreta”; e nem chamar esses grupos ou seus membros de Illuminati, pois este não mais existe. Há propostas dos antigos Illuminati do século 18 que se assemelham às propostas do CFR e do CB? Sim, sem dúvida, mas estes não têm ligação com aqueles, apenas ideologias parecidas.
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https://estudos.gospelmais.com.br/o-que-e-verdade-e-mentira-nos-videos-sobre-os-illuminati.html
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