quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

AS SEIS LIÇÕES

DO LIVRO

AS SEIS LIÇÕES 

De Ludwig von Mises

Traduzido por Maria Luiza Borges 

7ª Edição 

Pr e f á c i o 

O presente livro reflete plenamente a posição fundamental do autor, que lhe valeu – e ainda lhe vale – a admiração dos discípulos e os insultos dos adversários. Ao mesmo tempo que cada uma das seis lições pode figurar separadamente como um ensaio independente, a harmonia da série proporciona um prazer estético similar ao que se origina da contemplação da arquitetura de um edifício bem concebido. (Fritz Machlup, Princeton, 1979) Em fins de 1958, meu marido foi convidado pelo Dr. Alberto Benegas Lynch para pronunciar uma série de conferências na Argentina, e eu o acompanhei.

Este livro contém a transcrição das pa lavras dirigidas por ele nessas conferências a centenas de estudantes argentinos. Chegamos a Argentina alguns meses depois. Perón fora força do a deixar o país. Ele governara desastrosamente e destruíra por completo as bases econômicas da Argentina. Seu sucessor, Eduardo Leonardi, não foi muito melhor. A nação estava pronta para no vas ideias, e meu marido, igualmente, pronto a fornecê-las. Suas conferências foram proferidas em inglês, no enorme auditório da Universidade de Buenos Aires.


Em duas salas contíguas, estudan tes ouviam com fones de ouvido suas palavras que eram traduzidas simultaneamente para o espanhol. Ludwig von Mises falou sem nenhuma restrição sobre capitalismo, socialismo, intervencionismo, comunismo, fascismo, política econômica e sobre os perigos da ditadura. Aquela gente jovem que o ouvia não sabia muito acerca de liberdade de mercado ou de liberdade individual. Em meu livro My Years with Ludwig von Mises, escrevi, a propósito dessa ocasião: “Se alguém naquela época tivesse ousado atacar o co munismo e o fascismo como fez meu marido, a polícia teria interferi do, prendendo-o imediatamente e a reunião teria sido suspensa.” 

O auditório reagiu como se uma janela tivesse sido aberta e o ar fresco tivesse podido circular pelas salas. Ele falou sem se valer de quaisquer apontamentos. Como sempre, seus pensamentos foram guiados por umas poucas palavras escritas num pedaço de papel. Sabia exatamente o que queria dizer e, empregando termos relati vamente simples, conseguiu comunicar suas ideias a uma audiência pouco familiarizada com sua obra de um modo tal que todos pudes sem compreender precisamente o que estava dizendo. As conferências haviam sido gravadas, as fitas, posteriormente, foram transcritas. Encontrei este manuscrito datilografado entre os escritos póstumos de meu marido. 

Ao ler a transcrição, recordei vividamente o singular entusiasmo com que aqueles argentinos ti nham reagido às palavras de meu marido. E, embora não seja econo mista, achei que essas conferências, pronunciadas para um público leigo na América do Sul, eram de muito mais fácil compreensão que muitos dos escritos mais teóricos de Ludwig von Mises. Pareceu-me que continham tanto material valioso, tantos pensamentos relevan tes para a atualidade e para o futuro, que deviam ser publicados. Meu marido não havia feito uma revisão destas transcrições no intuito de publicá-las em livro. Coube a mim esta tarefa. 

Tive mui to cuidado em manter intacto o significado de cada frase, em nada alterar do conteúdo e em preservar todas as expressões que meu ma rido costumava usar, tão familiares a seus leitores. Minha única contribuição foi reordenar as frases e retirar algumas das expressões próprias da linguagem oral informal. Se minha tentativa de con verter essas conferências num livro foi bem-sucedida, isto se deve apenas ao fato de que, a cada frase, eu ouvia a voz de meu marido, eu o ouvia falar. Ele estava vivo para mim, vivo na clareza com que demonstrava o mal e o perigo do excesso de governo; no modo compreensivo e lúcido como descrevia as diferenças entre ditadura e intervencionismo; na extrema perspicácia com que falava sobre personalidades históricas; na capacidade de fazer reviver tempos passados com umas poucas observações. 



Quero aproveitar esta oportunidade para agradecer ao meu ami go George Koether pelo auxílio que me prestou nesta tarefa. Sua ex Prefácio 11 periência editorial e compreensão das teorias de meu marido foram de grande valia para este livro. Espero que estas conferências sejam lidas não só por especialistas na área, mas também pelos muitos admiradores de meu marido que não são economistas. E espero sinceramente que este livro venha a tornar-se acessível a um público mais jovem, especialmente aos alunos dos cursos secundários e universitários de todo o mundo. 

Margit von Mises,  Nova Iorque Junho, 1979

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sábado, 6 de dezembro de 2025

Introdução: Libertarianismo - propriedade intelectual e direitos autorais

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A diferença entre direitos autorais e propriedade intelectual e copyright

Propriedade Intelectual (PI) é o termo mais amplo (gênero), que abrange o Direito Autoral (espécie), e o termo Copyright é a expressão em inglês que se refere, essencialmente, aos aspectos patrimoniais do direito autoral
. 

Propriedade Intelectual (PI)

É o conceito que protege todas as criações da mente humana, garantindo exclusividade de exploração por um período determinado. Divide-se em:
  • Propriedade Industrial: Protege invenções (patentes), marcas, desenhos industriais, e indicações geográficas. No Brasil, o registro é feito no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI).
  • Direito Autoral: Protege obras literárias, artísticas e científicas (livros, músicas, filmes, softwares).
Direito Autoral
O Direito Autoral (ou Droit d'auteur no sistema romano-germânico, adotado no Brasil) tem uma ênfase dual:
  • Direitos Morais: Protegem o vínculo pessoal do criador com a obra (ex: direito de reivindicar a autoria, de manter a integridade da obra). São inalienáveis e irrenunciáveis.
  • Direitos Patrimoniais: Referem-se à exploração econômica da obra (reprodução, distribuição, venda). Podem ser cedidos a terceiros.
No Brasil, a proteção é automática a partir da criação da obra, regida pela Lei nº 9.610/1998. 
Copyright
  • Origem e Foco: "Copyright" é um termo do sistema jurídico anglo-americano, que significa literalmente "direito de cópia". Historicamente, seu foco principal é a prerrogativa econômica e patrimonial de impedir a reprodução não autorizada da obra (a ênfase recai sobre a obra em si e o direito de copiá-la).
  • No Brasil: No sistema brasileiro, o termo "copyright" é frequentemente usado como sinônimo de "direitos autorais" em um contexto geral, ou para se referir especificamente aos direitos patrimoniais. A marcação universal "© Todos os direitos reservados" é um aviso de proteção sob a legislação de direitos autorais.
Resumo das Diferenças

Termo                                          EscopoFoco PrincipalSistema Jurídico
Propriedade IntelectualGênero amploInovações, marcas e criações culturais.Global
Direito AutoralEspécie da PIProteção do autor (moral e patrimonial) de obras artísticas/literárias.Romano-Germânico (Brasil, França, etc.).
CopyrightEquivalente ao Direito AutoralProteção da obra e direito de cópia (ênfase econômica).


Anglo-Americano (EUA, Reino Unido, etc.).


O libertarismo tem uma visão dividida sobre propriedade intelectual e direitos autorais. Alguns libertários, como Herbert Spencer, Lysander Spooner e Ayn Rand, defendem os direitos autorais como uma proteção legítima ao fruto do trabalho de um criador. Outros, como Benjamin Tucker e Tom Palmer, rejeitam completamente os direitos autorais, considerando-os como monopólios governamentais injustos que limitam a liberdade de expressão e a propriedade de outros recursos, como explica o Instituto Rothbard Brasil. 

Argumentos a favor da propriedade intelectual

  • Proteção do trabalho: Defendem que a propriedade intelectual é a proteção de um direito natural à propriedade sobre as próprias criações, como a propriedade sobre bens físicos.
  • Incentivo à criação: Argumentam que a proteção de direitos autorais e patentes é essencial para incentivar a criação e a inovação, permitindo que os criadores recebam uma recompensa justa por seu trabalho e para evitar a exploração por outros.
  • Direitos morais: Na legislação brasileira, por exemplo, os direitos morais do autor são robustos, permitindo que ele retire uma obra de circulação caso seu conteúdo não reflita mais seu pensamento ou impeça a modificação da obra por terceiros, de acordo com o FecomercioSP e o MPRJ.
Argumentos contra a propriedade intelectual
  • Monopólio governamental: Consideram que direitos autorais e patentes são monopólios concedidos pelo governo que impedem a concorrência e exploram as pessoas, como descreve Benjamin Tucker.
  • Violação da liberdade de expressão: Veem a propriedade intelectual como uma violação da liberdade de expressão, pois proíbe as pessoas de usar e reproduzir material protegido por direitos autorais.
  • Impossibilidade de "possuir" informação: A informação, uma vez divulgada, não é um bem físico que possa ser possuído de forma exclusiva, pois existe na mente de outras pessoas. Tentar possuir a informação sem possuir as pessoas seria uma forma de controle sobre a liberdade alheia, como argumenta o Instituto Rothbard Brasil.
  • Suficiência da proteção voluntária: Acreditam que autores e editoras continuarão a produzir obras, mesmo sem direitos autorais, e que outros meios voluntários podem ser utilizados para assegurar os objetivos procurados com os direitos de propriedade intelectual.

CONTINUA...

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quarta-feira, 3 de dezembro de 2025

A IGREJA ORTODOXA - Conversão dos Eslavos

11. Conversão dos Eslavos

«A religião da graça espalhou-se pela terra
e finalmente atingiu o povo russo.
O Deus gracioso que cuidou de todos os outros povos não mais nos negligenciou.
É Seu desejo nos salvar e nos conduzir à razão.»

(Hilarião, Metropolita da Rússia, 1051-1054).

Cirilo e Metódio

Para Constantinopla a metade do nono século foi um período de intensa atividade missionária. A Igreja Bizantina, livre afinal da longa luta contra os iconoclastas, virou sua energia para a conversão dos Eslavos pagãos que estavam além das fronteiras do Império, ao norte e noroeste - morávios, búlgaros, sérvios e russos. Photius foi o primeiro Patriarca de Constantinopla a iniciar um trabalho missionário de larga escala entre os eslavos. Ele selecionou para a tarefa dois irmãos, gregos de Tessalônica, Constantino (826-869) e Metódio (815-885). Na Igreja Ortodoxa Constantino é usualmente chamado de Cirilo, nome que ele recebeu ao tornar-se monge. Conhecido na vida prévia como "Constantino o Filósofo," ele era o mais capaz entre os pupilos de Photius, e tinha familiaridade com uma grande linha de línguas, incluindo hebreu, árabe e até mesmo com o dialeto samaritano. Mas a qualificação especial que ele e seu irmão tinham era seu conhecimento de eslavônico: na infância eles aprenderam o dialeto dos eslavos nos entornos de Tessalônica, e eles podiam falar esse dialeto fluentemente.

A primeira jornada missionária de Cirilo e Metódio foi uma curta visita em torno de 860 aos Khazars, que viviam no norte da região do Cáucaso. Essa expedição não teve resultados permanentes, e alguns anos depois os khazars adotaram o judaísmo. O trabalho real dos irmãos começou em 863 quando eles foram para a Morávia (grosseiramente equivalente as atuais Tcheco e Eslováquia). Eles foram para lá atendendo ao apelo do Príncipe dessas terras, Rostislav, que pediu que missionários Cristãos fossem enviados, capazes de pregar para o povo em sua própria língua e de celebrar ofícios em eslavônico.

Serviços em eslavônico requeriam as Sagradas Escrituras em eslavônico e livros de ofício em eslavônico. Antes que eles partissem para a Morávia os irmãos envolveram-se num enorme trabalho de tradução. Eles precisaram primeiro inventar um alfabeto eslavônico adequado. Em suas traduções os irmãos usavam a forma de eslavônico que lhes era familiar desde a infância, que era o dialeto macedônio falado pelos eslavos que viviam em torno da Tessalônica. Desse modo o dialeto dos eslavos macedônios tornou-se o Eslavônico da Igreja, que permanece até os dias de hoje a linguagem litúrgica da Igreja Russa e de algumas outras Igrejas Ortodoxas eslavônicas.

Não se consegue super-avaliar a importância, para o futuro da Ortodoxia, das traduções para o eslavônico que Cirilo e Metódio levaram consigo quando deixaram Bizâncio para o norte desconhecido. Poucos eventos foram tão importantes na história missionária da Igreja. Desde o início os Cristãos eslavos gozaram de um precioso privilégio, que nenhum dos povos da Europa ocidental teve nessa época: eles ouviram o evangelho e os serviços numa língua que eles podiam entender. Diferentemente da Igreja de Roma no oeste com sua insistência no latim, a Igreja Ortodoxa nuca foi rígida em matéria de língua; sua política normal é celebrar os ofícios na língua do povo.

Na Morávia, assim como na Bulgária, a missão grega logo chocou-se com missionários alemães trabalhando na mesma área. As duas missões não só dependiam de Patriarcados diferentes, mas também trabalhavam com diferentes princípios. Cirilo e Metódio usavam eslavônico em seus ofícios, os alemães, latim, Cirilo e Metódio recitavam o Credo em sua forma original, os alemães introduziram o filioqüe. Para livrar sua missão da interferência alemã, Cirilo decidiu colocá-la sob a proteção imediata do Papa. A ação de Cirilo apelando a Roma mostra que ele não levava muito a sério a disputa entre Photius e Nicolau; para ele leste e oeste ainda estavam unidos como uma única Igreja, e não era uma questão de primária importância se ele dependia de Constantinopla ou de Roma, desde que ele pudesse continuar a usar o eslavônico nos ofícios da Igreja. Os irmãos viajaram para Roma em 868 e tiveram pleno sucesso em seu apelo. Adriano II, sucessor de Nicolau I, recebeu-os favoravelmente e deu total suporte para a missão grega, confirmando o eslavônico como a língua litúrgica da Morávia. Ele aprovou as traduções dos irmãos, e colocou cópias dos livros de ofícios em eslavônico nos altares das principais Igrejas da cidade.

Cirilo morreu em Roma (869), mas Metódio retornou à Morávia. É triste dizer isto, os alemães ignoraram a decisão do Papa e obstruíram Metódio de toda a forma possível, até colocando-o na prisão por mais de um ano. Quando Metódio morreu em 885, os alemães expeliram seus seguidores da Morávia, vendendo numerosos como escravos. Traços da missão eslavônica permaneceram na Morávia por mais dois séculos, mas foram finalmente erradicados; e o Cristianismo na sua forma ocidental, com cultura latina e língua latina (e lógico o filioqüe), implantou-se. A tentativa de fundar uma Igreja eslavônica nacional na Morávia resultou em nada. O trabalho de Cirilo e Metódio, então pareceu ter terminado em fracasso.

No entanto, de fato, não foi assim. Outros povos, para os quais os irmãos não pregaram pessoalmente, beneficiaram-se do trabalho deles, mais notavelmente búlgaros, sérvios e russos. Bóris, Khan da Bulgária, como já vimos, oscilou algum tempo entre o leste e o oeste, mas finalmente aceitou a jurisdição de Constantinopla. Os missionários bizantinos na Bulgária, no entanto, não tendo a visão de Cirilo e Metódio, de início usaram grego nos ofícios da Igreja, uma língua tão ininteligível como latim para o búlgaro comum.

Mas depois de sua expulsão da Morávia, os discípulos de Metódio foram naturalmente para a Bulgária, e ali introduziram os princípios empregados na missão morávia. Grego foi substituído pelo eslavônico, e a cultura Cristã de Bizâncio foi apresentada aos búlgaros em forma eslavônica que eles podiam assimilar. A Igreja búlgara cresceu rapidamente. Em torno de 926, durante o reinado do Tsar Simeão o Grande (reinou 823-927), um Patriarcado Búlgaro independente foi criado, e foi reconhecido pelo Patriarcado de Constantinopla em 927. O sonho de Bóris — uma Igreja autocéfala própria — tornou-se realidade antes de meio século depois de sua morte.

Missionários bizantinos foram também para a Sérvia, que aceitou o Cristianismo na segunda metade do século nono, entre 867-874. A Sérvia também oscilou entre o Cristianismo do leste e o do oeste, mas depois de um período de incerteza segui o exemplo da Bulgária e não da Morávia, e aceitou a jurisdição. Também na Sérvia os livros de ofícios em eslavônico foram introduzidos e desenvolveu-se uma cultura eslavônica-bizantina. A Igreja Sérvia ganhou uma independência parcial sob São Savas (1176-1235), o maior dos santos nacionais sérvios, que em 1219 foi consagrado em Nicéia como Arcebispo da Sérvia. Em 1346 foi criado um Patriarcado Sérvio, que foi reconhecido pela Igreja de Constantinopla em 1375.

A conversão da Rússia também é devida ainda que indiretamente ao trabalho de Cirilo e Metódio, mas isso falaremos na próxima seção do livro. Com búlgaros, sérvios e russos como suas "crianças espirituais," os dois gregos inquestionavelmente merecem seu título, "Apóstolos dos Eslavos."

Outra nação Ortodoxa nos Balcãs, Romênia, tem uma história mais complexa. Os romenos, ainda que influenciados pelos seus vizinhos eslavos, são primariamente latinos em língua e caráter étnico. A Dácia, correspondendo a parte da moderna Romênia, foi uma província romana entre 106-271; mas as comunidades Cristãs ali fundadas nesse período parecem ter desaparecido depois da retirada romana. Parte do povo romeno aparentemente foi convertido ao Cristianismo pelos búlgaros no final do século nono ou começo do décimo século, mas a conversão completa dos dois principados romenos de Walaquia e Moldávia, só ocorreu no século catorze. Aqueles que pensam que a ortodoxia como sendo exclusivamente "do leste," com caráter grego e eslavo, deveriam prestar atenção no fato de que a Igreja Romena, a segunda maior Igreja Ortodoxa hoje em dia, é predominantemente latina.

Bizâncio conferiu dois presentes aos eslavos: um sistema completamente articulado de doutrina Cristã e uma civilização Cristã completamente desenvolvida. Quando a conversão dos eslavos começou no século nono, o grande período de controvérsias doutrinais, a era dos Sete Concílios, chegarem ao fim; as principais linha da fé — as doutrinas da Trindade e da Encarnação -já haviam sido trabalhadas, e foram entregues aos eslavos na sua forma definitiva. Talvez seja por isso que as Igrejas eslavônicas produziram poucos teólogos originais, sendo que as disputas religiosas que surgiram nas terras eslavônicas usualmente não foram de caráter dogmático. Mas essa fé na Trindade e na Encarnação não existiu num vácuo; com ela ia toda uma cultura e civilização, e isso também os missionários gregos trouxeram com eles de Bizâncio. Os eslavos foram Cristianizados e civilizados ao mesmo tempo.

Os gregos comunicaram essa fé e essa civilização não com uma roupagem estrangeira, mas sim com uma roupagem eslava (aqui as traduções de Cirilo e Metódio foram de capital importância); o que os eslavos tomavam emprestado de Bizâncio, a seguir eles eram capazes de fazer por si próprios. A cultura bizantina e a fé Ortodoxa se de início ficaram limitadas às classes dirigentes, com o tempo tornaram-se parte integral da vida diária do povos eslavônicos como um todo. A ligação entre a Igreja e o povo foi tornada ainda mais firme pelo sistema de se criar Igrejas nacionais independentes.

Certamente essa forte identificação da Ortodoxia com a vida do povo, e em particular o sistema de Igrejas nacionais, tiveram conseqüências desafortunadas. Porque Igreja e nação estiveram tão fortemente associados, os Ortodoxos eslavos freqüentemente confundiram as duas coisas e fizeram a Igreja servir aos fins de políticas nacionais; eles algumas vezes tenderam a pensar em sua fé como primariamente sérvia, russa, ou búlgara, e esqueceram que ela era primariamente Ortodoxa e Católica. Nacionalismo tem sido o veneno da Ortodoxia pelos últimos dez séculos. Apesar disso, a integração da Igreja e do povo provou no fim ser imensamente benéfica. O Cristianismo entre os eslavos tornou-se na verdade a religião de todo povo, uma religião popular no verdadeiro sentido. Em 1949 os comunistas da Bulgária editaram uma lei que definiu: "A Igreja Ortodoxa búlgara é na forma, na substância e no espírito uma Igreja Democrática Popular." Tire-se as palavras de suas associações políticas, e por trás delas está uma importante verdade.



terça-feira, 2 de dezembro de 2025

2. TRECHOS DE UMA ENTREVISTA LIBERTÁRIA


> Mesmo que se concorde com muitos lebertários, que dizem que estado é um poder coercitivo que detem o monopólio da força, isto não seria a definição correta de estado...

Você quer que eu responda a partir da definição de estado que o próprio estado assaltante nos dá para que você não reaja ao assalto? Posso usá-la...

> Precisamos de uma definição em comum.

Concordo. Quando isso é possível, e se é possível, se diz que estado, e ainda se o quase diviniza, colocando "e" maíusculo para diferenciar de estado se referindo a um local ou situação, é uma entidade com poder soberano para governar um povo dentro de uma área territorial delimitada. Dizem que é constituído de cinco elementos: povo, território, governo, leis e poder de alguns sobre tudo isso. O estado é um poder artificial criado para que uma minoria, dita representantes do povo, domine a enorme maioria, só isso. Mas vejamos.
Para  Weber, o que define o estado é o monopólio do uso legítimo da força. Veja, não sou eu que inventei isso. Ele reconhece que só o estado tem o poder de obrigar, taxar, cobrar, multar e punir, traduzindo, tirar seus direitos, prender, torturar, matar.

Para além do seu papel de prestador de serviços, o Estado é uma entidade apolítica "indiscutível", inatacável, indestrutível, que exerce poder soberano dentro de um determinado território, e esse poder soberano é geralmente aceito como legítimo (no caso de uma dita democracia, os cidadãos). Na sua forma moderna, o estado é constituído por um conjunto de instituições permanentes que organizam e controlam o funcionamento da sociedade. Os chamados três poderes (executivo, legislativo e judiciário) dividem entre si essas funções. Há o poder moderador, que nas monarquias são os reis, etc.; no Brasil republicano este poder supostamente seria das forças aramdas, resposáveis pelo golpe milutar da república. Força, violência, roubo, golpes, regalias, mentiras, manipulação, domínio, são seu rastro. Poder de polícia, exército, procuradoria, cobrança...

> Também é dito que você é combatente contra o socialismo e diz que todo estado é socialista em alguma medida. Seria por isso...

Não. Eu aceito o socialismo. Se existir um grupo grande suficiente de socialistas, compre sua terra e crie seu país, mas longe de nós que não somos socialistas. Náo sou contra a existência do socialismo, o que eu combato são os socialistas. Porque eles querem implantar um regime para todos que todos nao querem, nem sequer a maioria, e a minoria que quer nao se muda para um pais socialista. Sao hipócritas que querem ser ricos e muitos quando conseguem se mudam para países capatalistas. Não preciso do respeito deles e não os respeito como pessoas sequer, pelo simples motivos que a essência do socialismo é fazer com que todos vivam conforme suas idéias, no sistema que eles imaginam que é o paraíso na Terra embora tenha se mostrado ser o inferno em todo lugar onde foi implantado. Um sistema que é tão ruim, que restringe tanto a liberdade que a pessoa é impedida de sair dele, você precisa fugir do país quando quer sair de uma sistema socialista. Eu defendo que se oraganizem e comprem um território ou que se conceda uma terra para eles irem e deixem viver ali seu socialismo, para sabermos, de longe, de mais um experiemento socialista fracassado e recebermos seus fugitivos. Eu defendo a liberdade, se eles querem ser socialistas se juntem num local, se separem das pessoas decentes e ajuisadas e vivam seu socialismo. Que sejam livres para isso e até que se providenciem as condiçoes se necessário, assim ficariamos livres.

> Mas não se pode dizer o mesmo do capitalismo?

O que é capitalismo? Me prove que esse sistema existe primeiro, quem o planejou? Me dê autores propositores do sistema ou da ideologia capitalista, que os sistematizaram, como no socialismo, me mostre como se o dirige e implanta, e aí eu lhe digo se se pode dizer o mesmo ou não. Eu não acredito em capitalismo, o que vejo é a maneira natural das pessoas comercializarem, fazerem seus negócios como querem, precificarem seus produtos, e o comprador é quem decide se aceita ou não, se compra ou não. Isso se tem chamado capitalismo? Se for isso, eu não vejo como isso pode ser planejado e imposto sobre um país que não aceita isso, por exemplo. Isso não existe. Mas o socicialismo eu sei que existe pelo menos no papel, se é que me entende. Sei que tem que ser imposto e mantido pela força e muitos impostos. Imposto é roubo, se não fosse imposto, se fosse voluntário, tudo bem, mas é imposto, é assalto, por isso todo estado é socialista em alguma medida. Capitalismo é só um rótulo preconceituoso, invejoso e mal intencionado que se dá à relação comercial natural entre as pessoas. Tem sido aceito, tudo bem, mas pensando bem não é nem uma coisa muito bem definida. Pode parecer uma opinião apenas, ou bem radical, que seja. Mas eu não defendo uma coisa que não é bem definida, defendo o livre comércio, a liberdade de escolha, de pensamento, de expressão... até a liberdade de pregar o socialismo e ser socialista, desde que seja por livre adesão. Qualquer sistema imposto é autoritário, totalitário, ditatorial... Peça ao socialista que defina o comunismo, que ele tanto defende, pergunte a ele se a ditadura da maioria sobre a minoria que uns chamam de democracia consegue manter o socialismo funcionando e entregando o que promete, peça exemplos disso na história. Não peça a mim para defender algo que eu não defendendo. Pergunte a um anarcocapitalista. Estou defendendo a liberdade de escolher seu modelo economico preferido ou dois ou mais e mudar quando quiser e que isso seja oferecido no livre mercado também.

CONTINUA...

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sexta-feira, 28 de novembro de 2025

A IGREJA ORTODOXA - Constantinopolitana

 

9. Constantinopolitana «Civitas Diu Profana»

«Cidade de Constantinopla, de há muito profana.»

Assim cantavam os cruzados franceses de Angers, voltando para casa, levando as relíquias que haviam roubado. Podemos nos surpreender que os gregos depois de 1204 também olhassem os latinos como profanos? Os cristãos ocidentais ainda não compreendem quão profunda é a repulsa e quão duradouro o horror com que os ortodoxos consideram atos como o saque de Constantinopla pelos cruzados.

«Os cruzados não trouxeram a paz, mas a espada; e esta era para ferir a Cristandade» (S.Runciman, The Eastern Schism, p.101). As desavenças doutrinais de há muito eram agora reforçadas do lado grego por um ódio nacional intenso, por um ressentimento e uma indignação contra a agressão e o sacrilégio ocidentais. Depois de 1204 não pode haver dúvidas de que o Oriente e o Ocidente cristãos estavam separados.

Ao recontar a história do cisma, historiadores recentes enfatizam com razão a importância dos fatores "não-teológicos”. Mas temas dogmáticos vitais também estavam envolvidos. Mesmo quando é feita total concessão a todas as dificuldades culturais e políticas, ainda permanecem verdadeiras as diferenças de doutrina - filioqüe e a supremacia papal - que fizeram a separação entre Roma e a Igreja Ortodoxa, assim como são as diferenças doutrinais o que ainda impede sua reconciliação. O Cisma foi para ambas as partes "um comprometimento espiritual, uma tomada de posição consciente em matéria de fé" (V.Lossky, in Mystical Theology of the Eastern Church. p. 13).

Tanto a Ortodoxia quanto Roma acreditam estarem certas e seu opositor errado sobre esses pontos de doutrina; de modo que Roma e a Ortodoxia têm desde o Cisma reivindicado o ser a verdadeira Igreja. Não obstante, cada qual, deve olhar o passado, enquanto acreditando nas suas próprias causas, com tristeza e arrependimento. Ambos os lados devem reconhecer honestamente que poderiam e deveriam ter feito mais para evitar o cisma. Ambos os lados foram culpados de erros a nível humano. Os ortodoxos, por exemplo, devem acusar-se de orgulho e desdém com o qual, durante o período bizantino, encararam o ocidente; devem acusar-se de incidentes como a revolta de 1182, quando muitos residentes latinos em Constantinopla foram massacrados pelo populacho bizantino. (Muito embora não haja qualquer ação por parte de Bizâncio comparável ao saque de 1204). E cada lado, ao proclamar-se a única verdadeira Igreja, deve admitir que ela foi empobrecida enormemente com a separação. O Oriente grego e o Ocidente latino precisavam e ainda precisam um do outro. Para ambos os lados o Grande Cisma provou ser uma grande tragédia.