domingo, 8 de dezembro de 2024

Espírito e Liberdade - Nikolai Berdiaev

 

Espírito e Liberdade

Nikolai Berdiaev

Nicolai Berdiaev, pensador religioso russo, nasceu em 1874 e morreu em 1948. Como alguns dos nobres de seu tempo, associou-se à causa revolucionária, no início do século, lutando contra a tirania czarista. Com a vitória da revolução soviética, Berdiaev foi nomeado professor de filo da Universidade de Moscou, mas foi exilado para Paris em 1922, diante da sua rebeldia em aceitar totalmente a doutrina marxista. Preocupou-se muito com a questão da liberdade individual. Escreveu "A Nova Idade Média", "Solidão e Sociedade" e "Escravidão e Liberdade", de onde foi adaptado este texto (capítulo II).

Capítulo I: Espírito e Natureza


ós perdemos toda a confiança na possibilidade e na fecundidade de uma metafísica abstrata. A metafísica abstrata estava fundamentada sobre a substantificação dos fenômenos da vida psíquica do homem, dos fenômenos do mundo material, ou ainda das categorias do pensamento,
vale dizer, do mundo das ideias. Assim se obtém o espiritualismo, o materialismo, o idealismo.

Mas o ser concreto, o ser enquanto vida, sempre escapou a esses ensinamentos metafísicos. As partes abstratas da realidade ou as ideias abstratas sobre o sujeito conhecedor eram tomadas como sendo a essência da realidade, sua plenitude. A abstração e a substantificação criaram uma metafísica tanto espiritualista como materialista. A vida foi objetificada como se fosse a natureza material ou espiritual. E a categoria essencial do conhecimento dessa natureza metafísica era a categoria da substância. O ser é uma substância objetiva, espiritual ou material. Deus é concebido como sendo a substância, o objeto, a natureza. A ideia é também uma substância. A metafísica, em todas as suas tendências dominantes, era naturalista e substancialista. Ela compreendia a realidade por analogia com a realidade dos objetos materiais. Deus e o espírito passam a ser uma realidade da mesma ordem que o mundo material. À metafísica naturalista opôs-se o fenomenismo, que reconhecia a existência do fenômeno, mas não a do noúmeno, uma metafísica que negava a possibilidade de conhecer a vida original.

O idealismo alemão do século XIX desempenhou um papel preponderante na liberação de toda a metafísica naturalista e marcou um progresso no conhecimento do espírito. Mas o idealismo de Hegel erigiu em realidades substanciais as categorias do pensamento e, malgrado suas pretensões, não atingiu a concretude no espírito. A metafísica panlogista[1] está também tão longe da concretude do espírito quanto a metafísica naturalista. A substantificação do sujeito pensante não atinge seu objetivo, tanto quanto a substantificação do objeto pensado. Falta a essência da vida, tanto quando se erige em absoluto o conceito de sujeito, como quando se erige em absoluto a natureza do objeto. Mas a metafísica do idealismo alemão é mais dinâmica do que a metafísica naturalista da filosofia pré-Kantiana. Ela deve a isso seu sucesso incontestável. Esse dinamismo tem suas raízes na liberação de toda concepção estática e substancialista da natureza material, espiritual ou divina. O idealismo alemão, malgrado todas as falhas de seu monofisismo e de sua abstração, colocou o problema da filosofia do espírito e da vida espiritual; por assim dizer, ele aplainou-lhe o caminho. Ele compreendeu essa verdade: que a existência é ação e não substância, movimento e não imobilidade, vida e não coisa. A metafísica naturalista, que tomou as formas mais diversas, ensinava a opressão do “espírito” pela “natureza”, e ela certamente influenciou poderosamente a consciência religiosa e os sistemas de teologia.

Os sistemas teológicos trazem em si a marca fatal da metafísica objetiva e materialista: eles dão testemunho de um realismo ingênuo inerente à concepção naturalista do mundo, segundo a qual Deus é um objeto, uma realidade objetiva, no mesmo nível das demais realidades da natureza. Dessa forma, Deus é conhecido nas categorias da natureza, e não naquelas do espírito; a realidade de Deus aparece como algo semelhante àquela das substâncias materiais. Mas Deus é espírito, e espírito significa atividade. O espírito é liberdade. A natureza do espírito é oposta à passividade e à necessidade; é por essa razão que o espírito não pode ser uma substância. A concepção aristotélica de Deus, como ato puro, priva justamente a Deus de uma vida interior ativa, e o transforma num objeto fixo. Já não existe potência em Deus, vale dizer, não há mais a fonte de movimento e de vida. O tomismo houve por bem afirmar a diferença entre o “natural” e o “sobrenatural”, encontrando-se assim sob o império da metafísica naturalista da divindade. O “sobrenatural” é também um “natural”, apenas situado mais acima e que possui uma extensão maior. A palavra “sobrenatural” se compõe de dois termos que em si mesmos não implicam nada positivo.

Em vão os filósofos se esforçaram em sugerir que uma filosofia absolutamente autônoma,
independente de toda vida religiosa e de toda ligação com a “vida”, é possível. Existe nisso um orgulho que sofre necessariamente um castigo imanente. Ao se liberar da submissão à religião, a
filosofia passa ao jugo escravo da ciência. Jamais houve, nem haverá jamais uma filosofia absolutamente autônoma, que se erga acima da “vida”. A filosofia é uma função da vida que toma consciência de si mesma, ela é sua iluminação; ela cumpre sua tarefa na vida e para a vida, ele depende sempre daquilo que acontece nas profundezas dessa vida. A filosofia tentou dissimular sua natureza, que é sempre, positiva ou negativamente, religiosa. A filosofia grega, considerada como o modelo mais puro da filosofia autônoma, foi religiosa nas suas fontes e nos seu pathos, e refletiu a concepção religiosa dos gregos. A filosofia dos jônicos não pode ser compreendida a menos que se a relacione com os sentimentos religiosos que a antiga Grécia possuía pela natureza. A filosofia de Platão não pode ser decifrada senão à luz do Orfismo e de seus mistérios, nos quais se buscava a libertação em relação ao mal e à morte. A filosofia de Plotino e dos neoplatônicos se afirma conscientemente religiosa. O idealismo alemão está ligado ao Protestantismo e a uma certa época do desenvolvimento interior do Cristianismo. Kant e Hegel não puderam se colocar à margem do Cristianismo, malgrado o afastamento considerável entre sua consciência e a consciência da Igreja. A filosofia racionalista do século XVIII, bem como a filosofia positivista e materialista do século XIX, negativamente religiosas em seu pathos, refletem a luta contra Deus, contra a fé cristã, e nelas não existe nenhuma autonomia, nenhuma pureza, nem existe abnegação nesses movimentos filosóficos. O racionalismo, o criticismo, o empirismo, conduzem a uma luta religiosa, mas eles não se livram de suas ligações que os prendem à vida. O ateísmo consiste num estado da vida e da luta religiosa, tanto quanto a fé. Quase toda a ciência objetiva consagrada à crítica bíblica e às pesquisas históricas sobre as origens do Cristianismo levaram a uma luta religiosa; ela era movida por um pathos negativamente religioso. Essa ciência jamais se elevou ao conhecimento puro e inteiramente desimpedido. A incredulidade é uma premissa da vida, na mesma medida que a fé. O positivismo sempre teve sua fé, que o guiava pelos caminhos do conhecimento. A filosofia é o espírito que toma consciência de si mesmo, e ela não pode ser independente de tal ou qual aspiração espiritual. Ela é determinada pela estrutura do espírito, por sua qualidade, por sua aspiração ao mundo superior ou inferior, conforme esse espírito seja fechado em si ou desabrochado. Podemos concluir daí que a filosofia é determinada pela vida, porque o espírito é vida, porque o conhecimento que o espírito tem de si mesmo é o conhecimento que a vida tem de si mesma.

A orientação do espírito determina a estrutura da consciência, a qual, por sua vez, determina a consciência. O conhecimento é a vida espiritual, a atividade do espírito. O fato de que a filosofia depende da vida, de modo algum justifica o relativismo. No próprio espírito, na própria vida, se revelam as qualidades, de onde emana a luz do conhecimento. As qualidades do espírito possuem uma natureza que não é relativa. O conhecimento é dinâmico, ele tem seu próprio destino, sua história espiritual, suas épocas, suas etapas de desenvolvimento. Aquilo a que chamamos metafísica ou teologia naturalista é a expressão da orientação do espírito, o reflexo da concepção religiosa do mundo, que constitui uma das épocas anteriores no destino da consciência. Não podemos considerar a metafísica e a teologia naturalista simplesmente como um erro. Elas constituem um estágio indispensável no destino da consciência, no da vida religiosa. É por essa via que o homem se encaminha para a luz. Não se descobriu imediatamente que o espírito consiste num devir criador. Imaginava-se o espírito como algo acabado, ou seja, substancial. A metafísica naturalista, com suas substâncias e seus objetos fixos, reflete mais ou menos bem certos aspectos do ser, vistos a partir de uma orientação específica do espírito e de uma dada estrutura da consciência. Ela indica o caminho, e não pretende exprimir a verdade absoluta e definitiva do ser. O procedimento de substantificação dos metafísicos e dos teólogos, o fato de que eles objetificam e erigem em absolutos certos momentos do desenvolvimento espiritual e certos aspectos da vida espiritual, não é capaz de dar um significado perfeito, como aquele pretendido pelos dogmas da fé. Esses não constituem nem uma metafísica, nem uma teologia, mas fatos da experiência espiritual e da vida espiritual.

Um outro estado, uma nova orientação espiritual se torna possível, um novo momento começa, quando a metafísica e a teologia naturalistas, com suas substâncias fixas, já não exprimem a verdade da vida, porque o espírito toma consciência de si mesmo de outra maneira e se abre a outra coisa, quando ele tende a se libertar da operação da natureza substancial, do jugo da objetividade que havia ele conferido a si próprio. A fé, os dogmas da religião, não podem por causa disso perder seu significado absoluto, mas passamos a vê-los sob outra luz, e eles se revelam em uma nova profundidade. A religião não pode depender da filosofia, e a filosofia não pode limitar e modificar a religião à sua maneira. O erro do “modernismo” consiste em querer subordinar a religião à razão e ao conhecimento contemporâneo. Na realidade, trata-se de outra coisa. A religião sempre teve sua filosofia, sua metafísica religiosa; esta não expressava senão uma época do desenvolvimento espiritual do homem, não uma verdade religiosa absoluta e definitiva. Sobre essa via espiritual, e na própria vida original, podem surgir modificações que exigirão um novo simbolismo no conhecimento, uma outra estrutura de consciência. Não é a filosofia que trará modificações à religião, mas na vida original alguns acontecimentos podem exigir que as fases naturalistas e objetivas dos mistérios da vida religiosa sejam ultrapassados.

No decurso da história do Cristianismo existiram homens que dominaram a metafísica naturalista e a teologia, e para os quais os mistérios do Cristianismo se revelaram de maneira diferente. Elevar-se acima da metafísica naturalista e da teologia, vencer essa concepção estática da vida religiosa, que não vê nela senão substâncias e objetos, implica compreender o que são o espírito, a vida espiritual, e no que o espírito se distingue da natureza. Uma metafísica abstrata não pode existir, mas uma filosofia e uma fenomenologia da vida espiritual são possíveis.

https://ecclesia.org.br/biblioteca/filosofia/berdiaev-nikolai-espirito-e-liberdade.html.

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quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

Pensamentos acerca do Reino de Deus, ou a Igreja

 Bispo Alexander (Mileant).

Tradução: Rev. Pedro Oliveira Junior

 

Conteúdo:

Onde Deveremos Procurar o Reino de Deus? A Necessidade da Igreja. A Igreja é o Reino de Deus na Terra. Atributos da Verdadeira Igreja. A Igreja Ortodoxa. Porque Precisamos da Igreja? Pastores e Doutores. As Duas Esferas. A Igreja Militante. Um Cristão: Guerreiro de Cristo. O Tesouro da Verdade. O Tesouro da Santidade. O Monte do Senhor. Não nômades, mas cidadãos. Conclusão.

 

Onde Deveremos Procurar

o Reino de Deus?

"Teu reino vem!"

Lendo o Evangelho não podemos deixar de notar que ele fala com freqüência no Reino de Deus. Muitos diálogos e parábolas de Cristo são destinados a revelar a natureza, atributos e propósito do Reino de Deus. Isso era tão óbvio para os contemporâneos que eles chamavam o ensinamento do conjunto desses ensinamentos de "pregação das boas novas do Reino de Deus" (Mt. 4:23).

Mas no que implica este título? Significa ele a futura vida depois da morte, que vem depois da ressurreição dos mortos? Ou, talvez, ele signifique a condição espiritual presente do homem, sua prontidão para se comunicar com Deus? Implica ele numa sociedade construída segundo os princípios evangélicos? Ou o reino universal dos santos, de mil anos de duração descrito no livro do Apocalipse (Apocal. 20:4)?

A palavra "Reino" presume em si uma estrutura social extensiva e bastante complexa: um estado, um império. Agora, se tudo que existe é uma decorrência de Deus (pois nada existe que não tenha sido criado por Ele), então o Reino de Deus é, em principio e por projeto, o mundo inteiro de Deus, o imenso universo, que inclui todas as coisas visíveis e invisíveis. Esta parece ser uma afirmação correta.

Mas se nós sabemos que Deus é infinitamente bom e justo, de onde vem toda esta discórdia? Todas estas calamidades e desastres, miríades de malignidades: crimes, atos de violência e injustiça, doenças e mortes, que são vistas por toda parte? Porque aquilo que deve acontecer não se ajusta ao que acontece de fato?

"É por causa do pecado e desobediência a Deus, por causa da resistência consciente a Ele," explica a Sagrada Escritura.

É o dom da liberdade concedido aos homens (e aos anjos) pelo Criador, que pressupõe a habilidade para infringir a Sua vontade e leis, que traz desarmonia para a beleza e ordem que deveria ter existido em todo o universo. A liberdade da vontade é como fogo, que um selvagem pode usar para cozinhar sua comida ou esquentar a sua morada no tempo frio, ou então queimar toda a floresta e talvez até mesmo perecer neste fogo.

A principio Deus poderia nos ter "programado" para só fazermos o bem, não causarmos danos aos outros e a nós mesmos, e agirmos somente como predestinados: comer, dormir, multiplicar. Mas neste caso nós seriamos robôs ou animais, dirigidos pelos instintos naturais, e não como seres de espírito-livre. Nós seriamos espiritualmente deficientes e, além disso, estaríamos privados da real possibilidade do prazer do trabalho criativo, inspiração e de atos de livre-vontade de caridade e amor. Deus criou muitos seres sem liberdade moral, que, no entanto, vivem somente pelas leis físicas. Mas eles foram simplesmente um estágio preparatório antes da concretização do homem, para quem nosso Deus criou o mundo físico.

Em Seu incompreensível amor Deus não fez os homens como "mecanismos" cegamente submissos, mas nos criou como "filhos" livres, capazes de amor consciente, e desejosos por Ele como Protótipo e Ideal. Deus deu ao homem grandes dons espirituais, colocou-o no doce paraíso, fez dele dirigente de todas as criaturas e deu a ele a árvore da vida, para que ele fosse sempre saudável, pudesse se aperfeiçoar e amar a vida. Que honra e graça! E qual não deveria ser a gratidão das pessoas que habitavam no Éden!

Mas nós temos consciência da tragédia que ocorreu: o selvagem apreendeu a fazer fogo e tocou fogo na floresta. Felizmente, ele não a queimou inteiramente e para sempre!

Nós não vamos aqui recontar os detalhes da catástrofe espiritual do homem, descrita no capítulo 3 do Livro da Gênesis. É importante lembrar que devido a esta tragédia todas as pessoas nascem moralmente defeituosas e predispostas a pecar. O pecado original é como um defeito biológico da célula, que passa dos pais para as crianças.

A tragédia da humanidade é que as pessoas, com todas as suas boas intenções e esforços, não conseguem curar a podridão espiritual, que tem suas raízes muito fundas no nosso ser físico e espiritual.

Por misericórdia de Deus, nem a terra nem o inferno — a tenebrosa morada do mal, que os demônios fizeram para si próprios, — se espalharam através do Reino de Deus. Elas são mais como "ilhas" isoladas, "áreas de quarentena," ou manchas escuras no imensamente grande Reino da Luz e do Bem. Paz e harmonia reinam por toda parte, especialmente no mundo angélico. Todos rejubilam com a luz vivificante dada pelo Criador, agradecendo a Ele por Sua eterna bondade.

Mas murmúrios, gemidos e maldições são ouvidos na nossa sociedade, que se afastou do Criador. As pessoas enganam e ofendem umas às outras, "o homem tornou-se um lobo para com seu companheiro." Às vezes parece que as trevas espirituais absorverão o nosso mundo, fazendo dele um inferno real.

Mas isto nunca acontecerá! Nós sabemos, como nos foi prometido pelo Salvador, que o mal será permitido somente por um certo tempo. Vindo para o nosso mundo por uma segunda vez, o Filho de Deus ressuscitará todas as pessoas. Então todos os malignos, malfeitores, estupradores e malfeitores, todos os que odeiam a luz e estão felizes com o mal, serão jogados na ígnea Gehena, junto com os demônios. O mundo será completamente renovado. Todos aqueles que viveram pelo Evangelho, amaram o bem, procuraram a verdade, sofreram sem culpa, evitaram mentiras e violência, serão "salvos," o que significa que eles serão reunidos com o resto do Reino de Deus. E isto será a alegria inexplicável.

"E vi um novo céu, e uma nova terra," escreve o Apóstolo João no Apocalipse, "Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram... E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas... E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro. E a cidade (Nova Jerusalém) não necessita de sol nem de lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cordeiro (Filho de Deus) é a sua lâmpada. E as nações andarão à sua luz; e os reis da terra trarão para ela a sua glória e honra. E as suas portas não se fecharão de dia, porque ali não haverá noite. E a ela trarão a glória e a honra das nações... E mostrou-me o rio puro da água da vida, claro como cristal, que procedia do trono de Deus e do Cordeiro. No meio de sua praça, e de uma e da outra banda do rio, estava a árvore da vida, que produz doze frutos, dando seu fruto de mês em mês; e as folhas da árvore são para saúde das nações... E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome. E ali não haverá mais noite, e não necessitarão de lâmpada nem da luz do sol, porque o Senhor Deus os alumia" (Apocalipse 21 e 22).

A natureza deste mundo é tão diferente do nosso universo físico que faltam palavras ao autor para descrevê-lo. É claro, no entanto, que este é o mais belíssimo mundo, e o simples entendimento do pecador condenado de que ele nunca chegará lá, parece ser a mais dolorosa tortura.

Ai está porque o Evangelho fica insistentemente chamando todo mundo para fazerem todos os esforços, sacrificando qualquer coisa inclusive esta própria vida temporal, para vivê-la no Reino de Deus. O Reino de Deus é nossa verdadeira pátria, enquanto este mundo, no estado presente, é estranho para Deus, e assim deve ser estranho para nós também.

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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

A Vida dos Santos III - São Basílio Grande

 Seleção da

Vida dos Santos

Janeiro — Fevereiro

Bispo Alexandre Mileant

Traduzido por Tatiana Zyromsky

 

Índice:

A Veneração ortodoxa dos Santos.

Janeiro.

São Basílio Grande. Santa Mártir Tatiana. Santa Nina, Igual-aos-Apóstolos, Missionária da Georgia. Santa Mártir Leonilla. Santo Antônio Grande. Mártires Inna, Pinna e Rimma. São Máximo Confessor. São Guennadi. Santa Xenia Romana. Bem-aventurada Xenia de São Petersburgo. São Gregório Teólogo. São João Crisóstomo. São Nikita, Arcebispo de Novgorod.

Fevereiro.

São Simeão Justo e Santa Profetisa AnaGrão Mártir Teodoro Stratilatos. As Mártires Valentina, Paula e Ennafa. São Vsevolod. Santo Alexis, Metropolita de Moscou. Santos Martiniano, Zoia e Svetlana (Fotinia). Grão Mártir Teodoro Tiron. São Leo, Papa de Roma. Santas Mulheres Marina e Cira.

Dia Onomásticos dos Santos por ordem alfabética.

 



14 de janeiro (1 de janeiro do calendário ortodoxo)

São Basílio Grande (329-379), arcebispo da Cesaréia de Capadócia recebeu a base da sua educação no seu lar. A sua família era muito pia. A sua avó, a sua irmão, a sua mãe e o seu irmão foram canonizados. O seu pai era professor de eloquência e advogado. Terminando os seus estudos em Cesaréia, Basílio estudou nas famosas escolas de Atenas. Voltando para a Cesaréia, ele foi batizado e assumiu o posto de leitor na igreja. Depois disto, ele passou muito tempo junto com os eremitas de Síria, Mesopotamia, Palestina e Egito, onde aprendeu tudo sobre a vida monástica. Basílio gostou da vida no deserto e escolhendo um lugar afastado, ele construiu lá uma morada, onde habitava junto com ele também o amigo da sua juventude — são Gregório (Teólogo). O arcebispo da Cesaréia, Eusébio, chamou são Basílio do seu retiro e ordenou-o (364). Após a sua ordenação, o padre Basílio foi designado assistente mais próximo de Eusébio e o tempo todo trabalhou exaustivamente, pregando diariamente, as vezes até duas vezes por dia, fundando em Cesaréia e nas suas proximidades hospitais, orfanatos e asilos.

Após a morte de Eusébio (370), são Basilio foi elevado para a cátedra de Cesaréia e quase todos os anos de seu arcebispado passou na luta acirrada contra os arianos, os quais eram muito fortes durante o reinado de imperador Constantino e receberam mais força ainda durante o reinado do imperador Valente (os arianos rejeitam a essência Divina do Nosso Senhor Jesus Cristo). Nesta luta com os arianos, são Basílio continuava a obra de Atanásio Grande, e igual a ele, era considerado um pilar indestrutível da Ortodoxia. Os conselheiros do imperador Valente lhe diziam, que se são Basílio ceder, os arianos vencerão uma vez por todas. Valente mandava para Cesaréia o prefeito Modesto, que era conhecido por sua crueldade na perseguição dos ortodoxos. Modesto era muito arrogante e chamou a si são Basílio, no começo tentando convence-lo de entrar em entendimento com os bispos arianos, prometendo-lhe muitos benefícios que viriam a ele do imperador; depois, percebendo a sua firmeza, começou a ameaçar-lhe com o seqüestro de seus bens, o exílio e até com a morte. São Basílio lhe respondeu: "Não tenho medo do exílio, pois toda a terra pertence a Deus: é impossível seqüestrar os bens daquele, que nada possui; a morte seria um grande favor para mim: ela me unirá ao Cristo, por Quem eu vivo e trabalho aqui na terra." Esta grandeza surpreendeu o prefeito. "Até agora ninguém falou assim comigo," disse ele. — "Provavelmente, ainda não tiveste a oportunidade de falar com um bispo," retrucou modestamente são Basílio.

Depois disto, o próprio imperador chegou até a Cesaréia e no dia da Teofania foi para a igreja, onde o santo celebrava a missa. Valente ficou surpreso com a piedosa celebração do santo e pela enorme multidão rezando. Mas, mesmo assim, ele usou todos os meios para persuadir Basílio a fazer pelo menos algumas concessões aos arianos. Não conseguindo convence-lo, Valente decretou o seu exílio, mas o filho dele ficou de repente muito doente, e não achando nenhum outro recurso, Valente era forçado a revogar o seu decreto e pedir ajuda ao santo. Mesmo assim, depois disto os arianos conseguiram pelo menos diminuir a região do arcebispo. A sua região foi dividida em duas partes e um dos seus antigos assistentes, que antigamente era subordinado a ele (Anoim — bispo da nova região da cidade de Tiana) se transformou no seu maior rival e inimigo.

Para guardar a sua região dos arianos, são Basílio fundou um episcopado especial na cidade de Sasima, que se encontrava na fronteira com a região dos arianos, e designou para esta cátedra, tão importante o seu amigo Gregório, que ele havia ordenado um pouco antes. Porém, são Gregório se recusou a assumir o cargo numa província tão conturbada, pois isto não correspondia a sua vocação espiritual.

Além de defesa abnegada da Ortodoxia contra os arianos, o arcebispo Basílio prestou outros valiosos serviços à Igreja: toda a vida dele e principalmente os últimos nove anos eram repletos de trabalhos incessantes. As muitas cartas dele mostram como ele sofria com as confusões que conturbavam a vida da Igreja e como ele se empenhava na restauração da paz no meio episcopal. Ele fundava asilos para doentes e para pobres, parcialmente com os seus próprios recursos que herdou dos seus pais, parcialmente com a ajuda de outras pessoas, e estes asilos eram tão numerosos, que na sua totalidade representavam como que uma cidade. Durante a fome, os habitantes da Cesaréia encontraram nele um generoso benfeitor. Ele era o fundador de famosos mosteiros e redigiu as regras da vida e da conduta dos monges, e estas regras dele são observadas até hoje.

O piedoso serviço de são Basílio surpreendeu Valente, mas temos também um outro testemunho de uma outra pessoa, mais competente apreciador da beleza espiritual, são Efrem Sírio. São Efrem Sírio, guiado pela revelação celestial, veio à igreja, onde são Basílio celebrava a missa e pregava. Ele ficou tão admirado por tudo, que ele presenciou lá, que mencionou a sua admiração à voz alta na sua língua síria e desta maneira chamou a atenção à si de todo mundo. Este foi o começo da sua amizade com são Basílio, como atestam inúmeras cartas deles. Preocupando-se com a uniformidade da missa litúrgica, são Basílio redigiu a liturgia apostólica na sua ordem, que até hoje é conhecida como a liturgia de são Basílio. Esta liturgia é celebrada aos domingos da Grande Quaresma e mais em alguns outros dias. Ele redigiu também várias orações, rezadas na Igreja, das quais as mais conhecidas são as orações de Pentecostes, que são rezadas, genuflectas, após a liturgia.

As obras de são Basílio são muito respeitadas na Igreja, particularmente as suas "Palestras sobre os seis dias da criação," onde ele se mostra não só como um grande teólogo, mas também um grande cientista no campo de ciências naturais. Temos também 13 palestras sobre os salmos, 25 palestras sobre diversos assuntos, 5 livros contra arianos e um livro sobre a divindade do Espírito Santo.

Porém, os muitos afazeres e muitas mágoas minaram a saúde de são Basílio e ele veio a falecer aos 50 anos de idade (1 de janeiro de 379).

Tropário:

Os teus ensinamentos são divulgados em todo mundo, pois foram aceitas as tuas palavras, pelas quais ensinavas as verdades divinas: explicaste a essência da via, adornaste os costumes, dignidade real, padre reverendo: ora a Cristo Deus que salve as nossas almas.

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Texto completo em:

https://www.fatheralexander.org/booklets/portuguese/saints_1_p.htm#_Toc45694672


domingo, 24 de novembro de 2024

A Vida dos Santos II



Nos seis livros queremos apresentar aos nossos leitores a vida daqueles santos, cujos nomes são mais comuns no batismo de nossos filhos . As vidas dos santos serão apresentadas por ordem cronológica durante o ano todo. Cada livro se refere a dois meses.

1

É costume ligar o nome do santo à categoria a que ele pertence. Assim, por exemplo, os patriarcas e antepassados ("praotsy") são santos do velho testamento, antepassados por parte da Virgem Maria do Nosso Senhor Jesus Cristo. Entre eles, podemos mencionar Noé, Abraão, Isaac, Jacó e outros.

2

Os profetas são pessoas escolhidas por Deus, principalmente no Velho Testamento, cuja missão consistia em anunciar aos povos a vontade de Deus. Eles predisseram a vinda do Cristo-Messias e muitos acontecimentos importantes na vida do povo eleito. Entre estes profetas, podemos mencionar principalmente Elias, Eliseu, Isaías, Daniel. São João Batista foi o último profeta do Antigo Testamento.

3

Os apóstolos são os discípulos mais próximos de Cristo, que foram enviados por Ele a diversos países para a divulgação da fé cristã. São doze os principais apóstolos e entre eles os mais conhecidos são o apóstolo Pedro, o apóstolo André o Primeiro Chamado, o apóstolo João Teólogo. Também outros pregadores do Evangelho, dos 70 outros discípulos são chamados de apóstolos: entre eles temos os apóstolos Marcos e Lucas. Também são Paulo é denominado de apóstolo, apesar de que foi chamado mais tarde pelo próprio Senhor — já depois da descida do Espírito Santo nos apóstolos. Os quatro apóstolos, que escreveram os Evangelhos, são denominados ainda de Evangelistas: Mateus, Marcos, Lucas e João.

4

Os discípulos mais próximos dos apóstolos, que nos legaram muitas escrituras, se chamam de homens apostólicos; entre eles, temos: Inácio Teóforo, Policarpo de Esmirna, Irineu de Lion. Suas cartas são muito valiosas pois nos atestam como era a vida dos cristãos no primeiro e segundo séculos.

5

Desde os primeiros séculos de cristianismo temos uma fileira ininterrupta de santos, chamados de padres e doutores da Igreja. Os padres da Igreja são aqueles escritores religiosos, que se destacaram pela santidade de sua vida e cujos ensinamentos são especialmente valiosos. 

6

Os escritores religiosos, não canonizados, são chamados de doutores da Igreja. Em seus trabalhos os padres e os doutores nos preservaram os ensinamentos apostólicos e explicaram os ensinamentos sobre a fé e sobre uma vida piedosa; nos tempos difíceis de lutas com os hereges e pseudo-doutores eles eram defensores da pureza da fé cristã.

O século IV era o mais famoso, pois então apareceram os grandes doutores, defensores da fé na época, quando o mundo cristão foi sacudido por muito tempo pela heresia de Ario. No século IV viveram os seguintes santos: Afanasio Grande, Basílio Grande, Gregório Teólogo e João Crisóstomo. Mais tarde viveram os seguintes santos: Gregório Palama, Marcos de Efessos e outros.

7

Os santos, que prestaram grandes serviços à Igreja na divulgação e fortalecimento da fé cristã se chamam de iguais-aos-apóstolos; entre eles devemos mencionar a mirrófora Maria Madalena, santa Nina, que divulgou a fé na Geórgia, o imperador Constantino Grande e a sua mãe Helena, santos irmãos Cirilo e Metódio, pregadores nos países eslavos, o príncipe Vladimir e a sua avó a princesa Olga.

8

Santos bispos ("sviatiteli") são santos bispos, que serviram a Deus e que ainda durante a vida faziam milagres. O mais querido entre estes santos é o São Nicolau Taumaturgo, são Tikhon Zadonski, santos Pedro, Alexis e Hermogenes — "sviatiteli" de Moscou.

9

Mártires são os cristãos, que deram a sua vida pela fé cristã. Entre eles temos: grão-mártires, que demonstraram uma coragem fora de comum durante as torturas e que se glorificaram através de milagres; presbíteros mártires — que eram padres ou bispos; monges mártires. Entre os mártires devemos mencionar: grão-mártir e Vencedor George, grão-mártir e Médico Panteleimon, santas grã-mártires Barbara e Catarina. Durante os 70 anos do jugo comunista, a Rússia se enriqueceu com um número infinito de neomártires.

10

Confessores e sofredores ("strastoterptsy") são aqueles cristãos, que confessavam sem medo a sua fé cristã e que por isso sofreram perseguições. Entre eles devemos mencionar Máximo Confessor.

11

Santos ascetas ("prepodóbnye" — reverendos) são aqueles ascetas cristãos, que serviram a Deus como monges, isto é, renunciaram ao casamento e a todos os bens materiais para se dedicar totalmente à orações e aprofundar-se nos ensinamentos cristãos. Muitos deles alcançaram uma grande perfeição espiritual. Entre eles devemos mencionar: santo Antônio Grande, são Sérgio Radonejski, são Serafim Sarovski, os anciões de Optina — Ambrosio, e outros.

12

Justos — santos homens e mulheres das mais diversas classes, que se glorificaram por uma vida justa no mundo secular. Entre eles devemos mencionar o justo João de Kronstadt, taumaturgo, e São Filaret caridoso.

13

Bem-aventurados e desvairados-por-amor-à-Cristo (ïurodivye") são homens e mulheres das mais diversas classes, que voluntariamente aceitaram a ascese de extrema pobreza. Os "iurodivye" suportaram a dificílima ascese de uma aparente loucura, mas na verdade tinham o grande dom do Senhor de uma sabedoria espiritual e clarividência. Entre eles devemos mencionar o Santo André desvairado por amor à Cristo, Santo Basilio bem-aventurado, Santa Ksenia bem-aventurada de Petersburgo.

Assim, com a ajuda de Deus, começaremos relatar numa forma concisa a vida de alguns dos santos, começando pelo mês de janeiro. Debaixo do título de cada santa colocamos a data do dia dele, primeiramente conforme o calendário atual, e depois conforme o calendário antigo religioso.

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quarta-feira, 20 de novembro de 2024

A Vida dos Santos I

 Seleção da

Vida dos Santos

I

Janeiro — Fevereiro

Bispo Alexandre Mileant

Traduzido por Tatiana Zyromsky

 

Índice:

A Veneração ortodoxa dos Santos.

Janeiro.

São Basílio Grande. Santa Mártir Tatiana. Santa Nina, Igual-aos-Apóstolos, Missionária da Georgia. Santa Mártir Leonilla. Santo Antônio Grande. Mártires Inna, Pinna e Rimma. São Máximo Confessor. São Guennadi. Santa Xenia Romana. Bem-aventurada Xenia de São Petersburgo. São Gregório Teólogo. São João Crisóstomo. São Nikita, Arcebispo de Novgorod.

Fevereiro.

São Simeão Justo e Santa Profetisa AnaGrão Mártir Teodoro Stratilatos. As Mártires Valentina, Paula e Ennafa. São Vsevolod. Santo Alexis, Metropolita de Moscou. Santos Martiniano, Zoia e Svetlana (Fotinia). Grão Mártir Teodoro Tiron. São Leo, Papa de Roma. Santas Mulheres Marina e Cira.

Dia Onomásticos dos Santos por ordem alfabética.

 


A Veneração ortodoxa dos Santos.

Por ocasião do batismo recebemos o nome em homenagem a um santo, o qual desde aquele momento se torna o nosso protetor, patrono celestial. Cada cristão ortodoxo deve conhecer a vida do seu protetor celestial e em suas orações pedir o seu auxílio e orientação. Nossos antepassados, na sua devoção, honravam o dia do seu santo — "o dia do seu anjo" — com a Santa Comunhão e este dia foi mais festejado do que o dia do seu nascimento.

Qual o sentido da veneração ortodoxa dos santos ? Será que os santos no Céu conhecem as nossas necessidades e nossas dificuldades, e será que eles se interessam por isto ? Será que eles ouvem as nossas preces e procuram nos ajudar ? Será que é bom pedir a ajuda dos santos, ou será que é suficiente somente orar a Deus ? As seitas, que perderam a tradição apostólica, não compreendem a essência e o objetivo da Igreja de Cristo e por isso negam a necessidade de orações aos santos no Céu. Resumiremos aqui o ensinamento Ortodoxo sobre este assunto.

A veneração ortodoxa dos santos é baseada na convicção de que todos nos, que estamos tentando nos salvar e os que já se salvaram, vivos e mortos, constituem uma única família de Divina. A igreja é uma grande sociedade, que abrange todo o mundo visível e invisível. Ela é uma organização enorme, mundial, constituída sobre os princípios de amor, onde cada um deve cuidar não só de si, mas também do bem-estar e da salvação de outras pessoas. Os santos são aquelas pessoas, que durante a vida demonstraram mais amor para com os próximos.

Nos, ortodoxos, cremos, que quando uma pessoa justa morre, ela não rompe a sua ligação com a Igreja, mas passa para a sua esfera mais alta, celestial — para a Igreja triunfante. No mundo espiritual a alma da pessoa não deixa de pensar, querer, sentir. Pelo contrário, estas qualidades se abrem ainda mais amplamente e com uma maior perfeição.

Os cristãos modernos, não ortodoxos, que perderam a sua ligação viva com a Igreja Celestial-terrestre, têm as mais vagas e confusas idéias sobre a vida após a morte. Alguns deles acham, que depois da morte a alma do homem adormece e se desliga de tudo; outros — que a alma do homem, mesmo continuando a sua atividade depois da morte, não se interessa mais pelo mundo, do qual saiu. Outros ainda acham, que em princípio não se deve orar aos santos, pois o cristão tem uma relação direta com Deus.

Mas qual é o ensinamento das Escrituras Sagradas a respeito dos justos, que deixaram o mundo terrestre, e qual a força de suas preces? Nos tempos dos apóstolos a Igreja era compreendida como uma só família, Celestial-terrestreO apóstolo Paulo escrevia aos neófitas: "Aproximastes-vos do Monte Sião e de Jerusalém celeste, cidade de Deus vivo e de milhares e milhares de anjos, reunião festiva, e assembléia dos primogênitos, cujos nomes estão inscritos nos Céus, onde Deus é Juiz de todos e as almas dos justos estão já na posse da perfeição" (Hebreus 12:22-23). Por outras palavras, vós, que se converteram para o cristianismo, entraram para uma grande família, recebendo uma ligação íntima com o mundo celestial e com aqueles, que lá se encontram. As palavras finais do apóstolo Pedro aos cristão da Ásia Menor — "Envidarei, portanto, todos os meus esforços para que, depois da minha partida, vós recordeis disto" (2 Pedro, 1:15) — testemunham claramente que ele promete se preocupar com eles também depois, do mundo espiritual.

O antigo hábito de pedir ajuda aos santos mártires e santos justos é baseado na consciência de um contato estreito e vivo com a Igreja Celestial-terrestre e na fé em força das preces dos santos.


Sabemos, que nem todos os homens, mas somente aqueles mais diligentes e justos eram chamados por Deus de Seus amigos e somente estes receberam os dons do Espírito Santo e dons de fazer milagres. Assim, Cristo, durante a Ultima Ceia, disse aos apóstolos: "Vós sois Meus amigos! ... Pois, quem fizer a vontade de Deus, esse é Meu irmão, e irmã, e mãe" (João 15:14-15; Mateus 12:50). A historia sagrada nos dá muitos exemplos da proximidade espiritual, de "ousadia" dos santos nos seus pedidos a Deus. Assim, por exemplo, Abraão pediu que Deus tenha piedade dos moradores de Sodoma e Gomorrha, e Deus se prontificou a cumprir o pedido dele, se entre os moradores tivesse pelo menos 10 homens justos. Outra vez, Deus desviou o castigo de Abimelec, rei de Gerar, atendendo ao pedido de Abraão (Gênese, cap. 18, Gênese, cap. 20). A Bíblia nos conta, que Deus conversou com Moisés pessoalmente, "como uma pessoa que conversa com o seu amigo." Quando Mariam, a irmã de Moisés, pecou e foi castigada pela lepra, Moisés suplicou a Deus e obteve lhe o perdão (Êxodo 33:11; Números cap. 12). Podemos relatar também outros exemplos sobre a força extraordinária das preces dos santos.

Os santos não ofuscam Deus e não diminuem a necessidade de nossas preces à Ele, como o nosso Pai Celestial. Assim, os adultos numa família não diminuem a autoridade dos pais, quando se preocupam com as crianças junto com eles. Podemos dizer até mais: nada alegra tanto os pais como a preocupação dos irmãos mais velhos com as crianças. Assim também o nosso Pai Celestial se alegra ouvindo as preces dos santos e vendo o empenho deles em nos ajudar. Os santos têm uma fé maior que nos e ficam perto de Deus porque são justos. Portanto vamos rezar a eles como se eles fossem nossos irmãos mais velhos que estão diante do trono de Deus.

É bom saber, que os justos, ainda aqui na terra, viam e sabiam muita coisa daquilo, que é desconhecido por um homem simples. Assim, muito mais, eles devem ter estes dons agora, quando passaram da vida terrestre para o mundo celestial. Por exemplo, o apóstolo Pedro viu, o que acontecia com a alma de Ananias; Eliseu ficou sabendo sobre o pecado do servo Giezi, e o que é ainda mais admirável, soube de todas as intenções da corte síria, as quais ele depois revelou ao rei de Israel. Muitos santos, ainda aqui na terra, penetraram em espírito no mundo Celestial, uns viram muitos anjos, outros eram dignos até ver Deus (Isaías, Ezequiel), outros eram elevados até o terceiro Céu, onde ouviram misteriosas vozes, como por exemplo, o apóstolo Paulo. Assim, tanto mais, por estarem no Céu eles têm a faculdade de saber tudo aquilo que se passa na terra e podem ouvir as súplicas daqueles que os pedem, pois os santos no Céu "são iguais aos anjos" (Atos 5:3; 4 Reis cap. 4; 4 Reis 6:12; Lucas 20:36). Da parábola de Cristo sobre o rico e o Lázaro sabemos, que Abraão, estando no Céu, podia ouvir as lamentações do rico, sofrendo no inferno, não obstante o "grande precipício" que os dividia. As palavras de Abraão: os teus irmãos têm Moisés e profetas, então que os obedeçam, — demonstram claramente que Abraão conhece o que acontece na vida dos israelitas mesmo após a sua morte, que conhece Moisés e seus mandamentos, os profetas e suas escrituras. A visão espiritual dos justos lá no Céu é, sem dúvida, muito maior do que era na terra. O apóstolo diz: "Agora vemos por espelho, de maneira confusa, mas então será face a face. Agora conheço de modo imperfeito, mas então conhecerei como sou conhecido" (1 Coríntios 13:12)

A proximidade dos santos do Trono de Deus e a força de suas preces pelos fieis, que estão na terra, é mostrada no livro do Apocalipse, onde o apóstolo João diz: "Na minha visão ouvi também, ao redor do trono, ao redor dos seres vivos e dos anciãos, a voz de muitos anjos — miríades de miríades e milhares de milhares." Depois ele descreve a visão dos justos, no Céu rezando por homens, que estão na penúria na terra: "E adiantou-se um outro anjo, e pôs-se diante do altar, segurando um turíbulo de ouro. Foram-lhe dados muitos perfumes, para que os oferecesse com as orações de todos os santos no altar de ouro, que está diante do trono. E a fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo, com as orações dos santos, diante de Deus" (Apocalipse 5:11; 8:3-4).

Grande é a força de oração: "Confessai-vos, pois, mutuamente os vossos pecados para alcançar a saúde. É de grande poder a oração eficaz do justo" ensinava o apóstolo Tiago (Tiago 5:16). A oração pelo outro é a expressão do amor; e os santos no Céu, orando por nos, demonstram o seu amor fraternal e sua preocupação conosco.

Tanto no Evangelho, como em outros livros do Novo Testamento achamos muitos exemplos que testemunham a força da oração por outras pessoas. Assim, por exemplo, a pedido de um cortesão, o Senhor curou o seu filho; a pedido de uma mulher, a filha dela foi libertada do demônio; a pedido de um pai, Senhor expulsou o demônio do filho dele; e a pedido dos amigos, perdoou e curou um paralítico, a quem os amigos dele desceram do telhado; a pedido de um centurião romano um servo deste foi curado (João 4:46-53; Mateus 15:21-23; Marcos 9:17-25; Marcos 2:2-25; Mateus 8:5-13). E a maior parte das curas milagrosas foi efetuada pelo Senhor à distancia.

Assim, se as orações de pessoas simples tiveram tanta força, quanto mais poderosas são as orações dos justos que estão diante do trono de Deus. "Esta é a confiança que temos Nele: se pedirmos alguma coisa conforme a Sua vontade, Ele nos ouve(1 João 5:14).

Eis porque a Igreja, desde os tempos mais remotos, sempre mantinha o ensinamento sobre o proveito das orações aos santos. Por exemplo, isto está presente nas liturgias antigas e outros legados. Em liturgia do apóstolo Tiago lemos: "Principalmente lembremo-nos da Santíssima e Gloriosa Sempre Virgem, Mãe de Deus. Senhor, lembre-Te Dela e pelas santas orações Dela tenha piedade de nós." São Cirilo de Jerusalém, explicando a liturgia da Igreja de Jerusalém, diz: na Liturgia, nos invocamos também os que já morreram, em primeiro lugar — os patriarcas, os profetas, os apóstolos, os mártires, para que, pelas suas orações, Deus aceite os nossos pedidos também.

Muitos padres e doutores da Igreja, principalmente a partir do século IV, atestam a necessidade de venerar os santos. Mas já no começo do século II temos indicação direta, nas escrituras daquela época, da fé em orações dos santos no Céu por seus irmãos na terra. Os testemunhas do sofrimento e da morte do santo Inácio Teóforo (começo do século II) dizem: "Quando voltamos em lágrimas para casa, fizemos vesperal ... Depois, dormimos um pouco e alguns de nós viram o bem-aventurado Inácio, que se levantou, nos abraçou e também alguns de nos viram como ele rezou por nós." Existem muitas anotações parecidas sobre as orações e pedidos por nós aos santos mártires, principalmente da época das perseguições dos cristãos.

A convicção na santidade de uma pessoa falecida é atestada por vários fatores, por exemplo: sofrimento pelo Cristo, a confissão intrépida da fé, o trabalho abnegado para a Igreja, o dom de cura. Principalmente, Nosso Senhor nos demonstra a santidade de uma pessoa por milagres após a morte dela, quando em nossas orações invocamos tal pessoa.

Além de uma ajuda pela oração, os santos nos ajudam a alcançar a salvação também com o exemplo de suas vidas. O cristão fica muito enriquecido quando lê as vidas dos santos e vê, como eles conseguiram incorporar o Evangelho em suas vidas. Aqui temos tantos exemplos de uma fé viva, de coragem, de paciência. Os santos eram pessoas iguais à nos, mas eles venceram as mais difíceis tentações e nos encorajam a seguir o nosso caminho com paciência e sem resmungar.

O apóstolo Tiago conclamava os cristãos a imitar a paciência dos profetas antigos e do Jó, que sofreu muito, para alcançar uma fé tão firme como a do profeta Elias. O apóstolo Pedro ensinava as mulheres serem tão modestas como a justa Sara, esposa do Abraão. Santo Apóstolo Paulo nos dá exemplos de ascese dos antigos justos, a começar pelo Abel e terminando com os mártires Macabeus e conclama os cristãos a seguirem estes exemplos. Terminando os seus ensinamentos, ele diz: "Portanto nós, rodeados que estamos de tal nuvem de exemplos, livres de todo obstáculo e do pecado que nos seduz tão facilmente, enfrentemos, com a arma da paciência, o combate que se nos apresenta" (Tiago cap. 5: 1 Pedro 3:6; Hebreus 12:1).

O Senhor disse: "Nem se acende uma candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas encima do candelabro, onde brilha para os que estão em casa. Assim brilhe vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus" (Mateus 5:15-16). Os santos são estrelas brilhantes, que nos mostram o caminho para o Reino de Deus.

Vamos valorizar a proximidade a Deus dos nossos santos e vamos invoca-los, pedindo a sua ajuda e lembrando-nos, que eles nos amam e se preocupam com a nossa salvação. Nos dias de hoje é importantíssimo conhecer a vida dos santos, pois em geral, entre os "cristãos" de hoje, a compreensão dos ideais cristãos ficou muito deturpada.


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quinta-feira, 14 de novembro de 2024

Consciência A Voz de Deus no homem


Bispo Alexander (Mileant) 

Traduzido por Olga Dandolo 

 

 

   

Natureza 

da Consciência 

Uma mulher pobre pegou algo numa loja e levou escondido. Ninguém a viu. Mas a partir desse momento um sentimento desagradável não a deixava em paz. Foi preciso ela retornar à loja e recolocar no lugar aquilo que pegou. Após, ela voltou para casa com um alívio. Exemplos iguais, quando as pessoas são obrigadas pelas necessidades ou por prazer a agir assim, são incontáveis. 

Cada pessoa conhece a sua voz interna, a qual ora a acusa e a oprime, ora lhe traz alegria. Esse sentimento sutil e inato é chamado de consciência. Consciência - por sua natureza é um instinto espiritual, o qual diferencia mais rápido e claro o bem do mal, do que a mente. Quem ouve a voz da sua consciência, não irá se lamentar por seus atos. 

Na Sagrada Escritura a consciência ainda é chamada de coração. No Sermão da Montanha O Senhor Jesus Cristo nosso Deus comparou a consciência aos "olhos," pelos quais a pessoa enxerga a sua condição moral (Mat. 6:22). O Senhor ainda comparou a consciência como "competidor" com o qual a pessoa se concilia até que se apresentará perante o "Julgamento Final" (Mat. 5:25). A palavra "rival" dá enfase ao principal atributo da consciência: combater nossas más ações e intenções. 

Nossa experiência pessoal nos convence de que essa voz interna, chamada "consciência" está além do nosso contrôle e se mostra espontâneamente a despeito de nossa vontade. 

Como não podemos nos persuadir de que estamos saciados quando estamos com fome, ou que estamos descansados quando estamos cansados, assim nós não podemos nos convencer de que agimos bem, enquanto a consciência nos diz que agimos mal. Algumas pessoas vêem nas palavras de Cristo a respeito dos "vermes que não morrem" os quais na outra vida irão maltratar os pecadores, que a consciência será roída (Mar. 9:44). 

A respeito do sofrimento da consciência, o poeta russo A. S. Pushkin descreveu esses tormentos muito vivamente em seu livro "O Cavaleiro Avarento." 

"Consciência - 

Uma Fera com garras, arranhando o coração; consciência - 

Um visitante não convidado, - um interlocutor aborrecido, 

Um credor grosseiro; é uma bruxa da qual se ofuscam a lua e sepulturas." 

E mais adiante o velho cavaleiro lembra aterrorizado das súplicas e lágrimas de todos aqueles que ele destruísse sem piedade. Com relação ao sofrimento da consciência o poeta Pushkin representou no drama "Boris Godunov" colocando nos olhos do pobre Rei, as seguintes palavras: "Sim, coitado daquele que tem a consciência suja." 

 

Consciência 

- Lei Moral De Todos 

Conforme está escrito na Bíblia, durante a criação do homem, Deus já imprimiu no fundo de sua alma a Sua Imagem e Semelhança (Gen. 1:26). É por isso que a consciência é chamada de "a voz de Deus" no homem. Por ser parte integral da natureza humana, a consciência é ativa em todas as pessoas, independente da idade, raça, educação ou desenvolvimento. 

Os estudiosos (antropólogos) estudando a cultura e costumes de povos antigos testemunham que até hoje não foi encontrado nenhum povo, mesmo o mais selvagem, o qual teria alguma divergência em entender o bem e o mal. Além disso, muitos povos não só super-consideram o bem e ignoram o mal, como na maioria se unem na concordância da veracidade de seus pontos de vista. Até mesmo os povos selvagens se mantém firmes em sua convicção sobre o bem e o mal se igualando aos povos mais cultos e evoluídos. 

Um princípio conhecido mundialmente é aquele que diz "não faça aos outros aquilo que não deseja para si mesmo." 

O imperfeito se esforça em qualquer lugar para esconder-se dele mesmo, ou então, para derrubar a máscara da virtude. 

O Apóstolo Paulo e suas epístolas aos Romanos explica como a lei moral atua sobre as pessoas. O Apóstolo Paulo censura os judeus de que, mesmo conhecendo as escrituras da Lei de Deus, quase sempre violavam-nas naquele tempo, mesmo os pagãos "mostram que o objetivo da Lei está gravado nos seus corações, dando-lhes testemunho a sua consciência, bem como seus raciocínios, com os quais se acusam ou se escusam mutuamente" (Rom. 2:15). Aqui, então, o Apóstolo Paulo explica de como essa lei da consciência, ora castiga, ora agrada a pessoa. Assim, cada pessoa, seja lá quem ela for, sente o mundo, a alegria e felicidade quando pratica o bem, e caso contrário, sente preocupação, tensão e opressão quando pratica o mal. Até mesmo os pagãos quando praticam o mal, sabem no íntimo que por estes atos terão o castigo de Deus (Rom. 1:32). No dia do Julgamento Final, Deus irá julgar as pessoas não só pela sua fé, mas pelo testemunho de suas consciências. Por isso, conforme os ensinamentos do Apóstolo Paulo, mesmo os pagãos poderão ser salvos, caso sua consciência testemunhe perante Deus sobre sua vida correta. 

A consciência é um avaliador moral muito sensível, especialmente em crianças e jovens, que são puros e inocentes. Se o homem não fosse prejudicado pelo pecado, não haveria necessidade de existir lei escrita. A consciência poderia realmente guiá-lo em todos os seus atos. A necessidade de escrever leis surgiu do pecado original quando o homem, ofuscado pelo furor, parou de prestar atenção na voz da consciência. Mas pela existência, assim como as leis escritas e a lei da consciência, ambas dizem uma só coisa: "tudo o quereis que os homens vos façam, fazei-o vós à eles" (Mat. 7:12). 

Em contatos diários com pessoas nós subconscientemente confiamos mais nas consciências delas do que nas leis escritas e regulamentos. Não se consegue controlar cada crime e também a lei as vezes está nas mãos de juízes injustos, A consciência mantém nela a eterna e imutável Lei de Deus. Porisso, os relacionamentos mútuos entre as pessoas são possíveis apenas enquanto elas não gastaram a consciência dentro de . 

Exemplos da Ação da Consciência 

Relatados na Bíblia 

Nenhum livro secular não esclarece com tanta perfeição a respeito da consciência no homem, como a Bíblia. Traremos aqui alguns dos exemplos mais claros sobre a consciência. 

Voltando nossa atenção à alguns exemplos negativos, percebemos como más ações invocam no homem, vergonha, medo, sofrimento, sentimento de culpa e até desespero. Assim, por exemplo, Adão e Eva, que ao comerem o fruto proibido, sentiram vergonha e se esconderam, com intenção de se ocultarem de Deus (Gen. 3:7-10). Caím tendo matado seu irmão mais novo Abel, por inveja, passou a ter medo de que alguém o pudesse matar (Gen. 4:14). O Rei Saul, que perseguiu o inocente Rei Daví, chorou de vergonha quando ficou sabendo de que Daví, ao invés de se vingar pelo mal causado, respeitou sua vida (1 Sam. Cap. 26). 

Os escribas e fariseus trouxeram até Jesus uma mulher adúltera, mas envergonhados foram se retirando quando perceberam seus próprios pecados, escritos por Jesus na Terra (João cap. 8). Os negociantes e trocadores de moedas se retiraram do templo sem protestar, quando Jesus os expulsou, afirmando que não fizessem da casa do Pai uma casa de negociantes (João cap. 2). 

Às vezes os tormentos da consciência tornam-se tão fortes, que o homem prefere dar cabo à sua vida. O exemplo mais claro de tormento da consciência vemos em Judas, que se enforcou depois de ter traído Jesus (Mat. 27:5). Em geral, todos pecadores, crentes ou não, sentem a responsabilidade por seus atos. Assim, nas palavras proféticas de Cristo, os pecadores ao fim do mundo, vendo a aproximação do Julgamento de Deus, pedirão aos montes que caiam sobre eles e os cubra (Luc. 23:30; Apo. 6:16). 

Às vezes, acontece que o homem atormentado por fortes sentimentos ou dominado pelo medo fica como que se não ouvisse a voz da sua consciência. Mas depois, voltando a , sente a angústia da sua consciência com força dobrada. 

Quando os irmãos de José, tendo caído em desgraça, se lembraram do seu pecado em terem vendido como escravo seu irmão mais novo , entenderam que estavam sendo castigados com razão por esse pecado (Gen. 42:21). O Rei Daví, encantado pela beleza de Betsabé, reconheceu seu pecado de adultério somente depois que o profeta Natã lhe revelou (2 Samuel 12:13). O impulsivo Apóstolo Pedro, sob pressão do medo negou Cristo mas, ao ouvir o canto do galo, lembrou-se das profecias de Cristo e chorou amargamente (Mat. 26:75). O malfeitor sensato, crucificado ao lado de Cristo, apenas antes da morte entendeu que o sofrimento enviado à ele e seu companheiro era por seus crimes anteriores (Luc. 23:40-41). Zaqueu, o publicano sensibilizado pelo amor de Cristo, lembrou-se das ofensas que ele cometeu às pessoas com a sua avidez e decidiu retificar o mal que cometeu (Luc. 19:8). Por outro lado, quando o homem reconhece sua inocência, com o limpo testemunho de sua consciência, encontra uma grande força para a confiança em Deus. Assim, por exemplo, o íntegro Jó, sofrendo profundamente, reconhecia que o motivo do sofrimento não se encontrava dentro dele, mas no plano superior de Deus e tinha confiança na misericórdia de Deus (Jó. 27:6). 

Do mesmo modo, o íntegro Rei Ezequias, sarou de uma enfermidade incurável, quando quase morrendo pediu à Deus, que o curasse, por suas boas ações praticadas (4-Reis. 20:3). O Apóstolo Paulo, cuja vida foi dedicada à DEUS e salvação de pessoas,não só não temia a morte,mas ao contrário, desejava desprender-se do corpo terrestre, para estar com Cristo (Filp. 1:23). 

Para um pecador, não existe maior alívio e felicidade, que receber o perdão pelos pecados e tranquilizar a consciência. O Evangelho é rico em exemplos de arrependimento. Assim, uma mulher pecadora, na casa de Mateus, em agradecimento, banhava com suas lágrimas os pés de Cristo e as enxugava com seus cabelos (Luc. 7:38). 

Por outro lado, a negligência para com a voz da consciência e a repetição dos pecados, ofuscam a alma a tal ponto que a pessoa possa suportar como previne o Apóstolo Paulo "naufrágio na fé" assim ele pode naufragar no mal (1 Tim. 1:19). 


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O Lado Psicológico 

da Consciência 

A psicologia estuda o atributo da consciência e a co-relação com outras aptidões da alma do homem. A psicologia se esforça para esclarecer dois momentos: a) Será que a consciência do homem é um atributo do homem com o qual ele nasce e é fruto da educação e condições da vida nos quais ele se desenvolve? b) Será que a consciência é a manifestação da mente, sentimentos ou vontades do homem ou ela aparece por sua própria força? 

Observações minunciosas sobre a consciência do homem nos convence de que ela não é fruto da educação ou instintos físicos do homem, mas provém de algo superior e inexplicável. 

Por exemplo, crianças desenvolvem a consciência antes de serem ensinadas por adultos. Se por um acaso os instintos físicos ditassem as consciências, então a consciência induziria o homem a fazer aquilo que lhe fosse mais vantajoso e prazeiroso. Contudo, com frequência a consciência induz o homem a fazer justamente aquilo que não lhe traz vantagens e nem prazer. 

Apesar das aparências de que os malfeitores desfrutam a boa vida e os virtuosos sofrem, a consciência diz à todos que existe uma justiça superior. Cedo ou tarde, cada um receberá a recompensa por seus atos. A presença universal da consciência, para muitas pessoas é o argumento mais convincente da existência de Deus e da imortalidade da alma. 

Com referência à relação mútua da consciência com outros atributos espirituais do homem com sua mente, sentimentos e vontade, observamos que a consciência não só diz ao homem o que é bom ou mau, mas ela também a obriga a praticar o bem e evitar fazer o mal, acompanhando os bons atos com sentimentos de alegria e prazer, enquanto que as más ações provocam vergonha, medo e inquietude da alma. Em todas estas manifestações a consciência desperta em nós a inteiração da liberdade e responsabilidade. 

É claro que apenas a razão não pode decidir o que é moralmente bom ou mau. É uma propriedade da razão selecionar oportunidades úteis entre os atos de bondade, inteligentes ou não, selecionados ou não, vantajosos ou não, e somente isso. 

Entretanto, algo atrapalha o raciocínio a interferir nas possibilidades de ações mais vantajosas dos virtuosos, criticar os primeiros e louvar os últimos. A razão observa, em algumas ações humanas, não apenas vantagens de acordo com contas matemáticas, mas dá um grande valor às ações. 

Isso significaria que se a consciência influência a razão com ajuda de exigências morais, ela é independente da razão, e até está acima dela? 

Voltando-nos para o lado da manifestação da consciência podemos observar que por só a vontade é a abilidade do homem em querer algo, mas esta abilidade não influencia naquilo que o homem deve fazer. A vontade do homem, o quanto nós conhecemos em nós mesmos e nas outras pessoas, freqüentemente luta com as exigências das leis morais e se esforça para escapar das suas obrigações. Se a manifestação da consciência fosse produto da vontade, então neste caso não existiria tal luta, tais conflitos. Porém, as exigências da consciência sem dúvida controlam a nossa vontade. Essa vontade pode até não cumprir com essas exigências, sendo que é livre, mas não pode ignorá-las. Contudo, mesmo o não cumprimento da vontade, exigido pela consciência, não escapa da punição interior do homem. 

Finalmente, o lado sensível da consciência não pode observar senão a habilidade sensível do coração do homem. O coração deseja ardentemente sensações agradáveis e evita as desagradáveis. Porém, o não cumprimento das exigências morais, freqüentemente traz fortes conflitos da alma, os quais despedaçam o coração do homem e dos quais não conseguimos nos livrar, mesmo nos esforçando e desejando. A habilidade sensível da consciência não pode ser vista como manifestação da sensibilidade comum. 

Por isso, a despeito de estar rodeada e residindo no interior do homem, não seria então necessário admitirmos que a consciência surge com uma força superior e independente, e que dirige sua mente, vontade e coração? 

 

Preservação 

da Pureza da Consciência 

"Guarda teu coração acima de todas as outras coisas porque deles brotam todas as fontes da vida" (Pro. 4:23). Com estas palavras a Sagrada Escritura nos chama a preservarmos nossa pureza moral. Mas, como fica um pecador manchando sua consciência; ele será condenado para sempre? Felizmente não será! Em contraste com outras religiões, o grande previlégio do Cristianismo é o fato de que ele abre um caminho e fornece meios para a purificação plena da alma. Este caminho existe para que possamos nos arrepender dos pecados diante da Misericórdia de Deus com a intenção sincera de dirigir nossa vida para o melhor. Deus nos perdoa por causa do Seu Filho Unigênito o Qual padeceu na Cruz e trouxe a purificação dos nossos pecados. No sacramento do Batismo, e depois - nos sacramentos da Confissão e Comunhão, Deus purifica totalmente a consciência do homem "das obras mortas" (Heb. 9:14). 

Eis porque a Igreja dá um valor tão grande à estes Sacramentos. Além disso, a Igreja de Cristo, através dos Seus ensinamentos e a Graça do Espírito Santo que habita nela, dá a possibilidade da consciência ser mais perceptiva e sensitiva. 

"Bem aventurados os corações puros, porque verão a Deus" (Mat. 5:8). Através da consciência limpa, começa a predominar a luz de Deus, a qual guia os pensamentos, as palavras e ações do homem. Através dessa iluminação abençoada, o homem torna-se instrumento da providência de Deus. 

Ele não só se salva e se realiza espiritualmente, mas também torna-se instrumento de salvação dos outros com quem ele se relaciona (lembremo-nos dos Santos de Sarov, João de Kronstadt, o Ancião Ambrósio de Optina, e outros justos que salvaram tantas almas). 

Finalmente, uma consciência limpa é a fonte da felicidade interna. As pessoas de consciência limpa são tranquilas, agradáveis e benevolentes. "Pessoas de coração puro, já nesta vida sentem a paz do Reino dos Céus." 

Conforme diz São João Crisóstomo, nem fama e fortuna, nem força física, nem uma mesa farta e roupas elegantes, nenhuma vantagem humana podem proporcionar a verdadeira felicidade. Isto provém somente da saúde espiritual e uma consciência limpa. 


Citações Populares 

A Respeito Da Consciência 

Liberdade de escolha: 

A vida é dada para boas ações. 

Para o libertado a liberdade, para o salvo o paraíso. 

Seja lá como vives, não irrites à Deus. 

O anjo ajuda, e o demônio destrói. 

Apenas o peixe morto nada na correnteza. 

Quem não se proteje do fogo, logo se queimará. 

Más ações não levarão até o bem. Passarás pela luz errada e então não voltarás atrás. 

A consciência não é o que se conta para todos - não será arquivada. 

Melhor viver pobre do que enriquecer com o pecado. 

Tormentos da consciência: 

Cada fruto tem suas próprias sementes. 

Tal construtor, tal habitação. 

Sem motivo, não há ladeira íngreme. 

A realidade é real, mas assim mesmo não está bom. 

O tempo está maravilhoso, mas o pensamento inconstante. 

A consciência malvada vale por um carrasco. 

O espelho não gosta do torto. 

A verdade é como a vespa que se mete nos olhos. 

O envergonhado enrubece e o desanvergonhado se empalidece. 

Sobre o arrependimento: 

Se existem lágrimas, existe consciência. 

O caído, não considere como perdido. 

É melhor uma verdade amarga, do que uma bela mentira. 

Até o cavalo tropeça, mas se apruma. 

Reconhecimento - metade da melhora. 

Se arrependa, mas não comece tudo de novo. 

É difícil para aquele que se lembra da maldade. 

Soube pecar - saiba se arrepender. 

Conseguiu amarrar, então consiga desamarrar. 

Errou, o que te machucou; primeiramente o estudo. 

As melhores riquezas são: a simplicidade, a pureza e a verdade. 

Deus descansa nos corações simples. 

Sobre os hipócritas: 

O que vem da mentira, é podre. 

Nos olhos um monge; longe dos olhos não está livre do pecado. 

Olhos reluzentes, mas pensamentos impuros. 

Quieto nas palavras, mas mau no coração. 

Quem não teme à Deus, não tem vergonha das pessoas. 

Julgamento Final: 

Não elogie a mesmo, existem muitos melhores do que você. 

O pecado não é risada, quando chegar a morte. 

Viveu em pecado e morreu engraçado. 

Após a morte é tarde para se arrepender. 

Você não conseguirá deixar escondida uma agulha dentro de uma saco. 

Os pecados amáveis levam ao abismo. 

Sem pecados? Assim, a morte não assusta. 

Final bondoso - uma grinalda a toda ação. 

Consciência: 

O quanto seja inevitável o seu poder, 

Tempestade dos malfeitores, consolo dos inocentes 

Ó, consciência ! Acusadora e lei dos nossos atos, 

Testemunha e juíza. 

(V. Jukowski 1.814). 

Folheto Missionário número P09 

Edição da Igreja da Proteção de Nossa Senhora 

Copyright © 1998 and Published by 

Holy Protection Russian Orthodox Church 

2049 Argyle Ave. Los Angeles, California 90068 

Editor: Bishop Alexander (Mileant) 

 

(conciencia_p.doc, 10-22-99)