Resumo
O movimento dos Irmãos Unidos carece de aprofundamento histórico-teológico. O parco conhecimento, no mais das vezes limitado a uma visão em três “des” – Darby, darbismo e dispensacionalismo – apenas coopera para a ocultação das reais motivações que conduziram a tal despertamento no início do século 19. O propósito deste artigo é o de cooperar no desvelamento da história desse movimento e no conhecimento de personagens cruciais para a causa dos Irmãos, como o missionário Anthony Groves e o pai dos órfãos, George Müller. Trazendo ainda apontamentos para a chegada e os primeiros anos do movimento no Brasil.
Palavras-chave: Irmãos Unidos; história; Darby; unidade cristã; Santa Ceia.
Abstract
The United Brethren movement lacks historical and theological depth. The scant knowledge, most often limited of a view on three “d’s” – Darby, darbyism and dispensationalism – only cooperates for concealment of the real motivations that lead such awakening in early nineteenth century. The purpose of this article is to cooperate in unveiling the history of this movement and in knowledge of key characters to the cause of the Brethren, as the missionary Anthony Groves and the father of orphans, George Müller. Bringing even indications for the arrival and first years of the movement in Brazil.
Keywords: United Brethren; history; Darby; christian unity; holy supper.
(...)
* Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e coordenador do Seminário Teológico Robert Chapman (Santo André, SP).
Introdução
Esta pesquisa nasceu do interesse pela história e contribuições de um movimento de avivamento espiritual e de busca por unidade que surgiu no Reino Unido, na segunda década do século 19. Comumente associa-se o movimento dos Irmãos Unidos à figura de John Nelson Darby, reduzindo, equivocadamente, o movimento como um todo ao darbismo: que tem como características principais o anticlericalismo, ampla rejeição a credos e denominações e o dispensacionalismo premilenista, com o respectivo ensino acerca do rapto secreto da igreja (KURIAN, 2001).
Entretanto, nem Darby foi o fundador do movimento, nem o bloco darbista pode representá-lo integralmente, tendo em vista a pluralidade havida. O foco em John Darby redunda em eclipsar personagens importantes do movimento tais como Anthony Norris Groves, George Müller e Robert Cleaver Chapman, acerca de quem Charles Spurgeon afirmou ter sido o homem mais santo que ele já havia conhecido (PETERSON, 1995). Assim, o objetivo é desvelar algo sobre a história dos Irmãos Unidos, seus anseios de unidade e inclusão, seu fracasso em manter essa unidade e sua diversidade teológica, que podem cooperar para uma compreensão do cristianismo atual com seus avanços e retrocessos quanto ao tema da unidade.
Para tanto o texto segue organizado em quatro seções. A primeira delas, a Origem, concentra-se nos primeiros momentos do movimento, locais, nomes, datas e motivações. A segunda seção, Doutrina e prática, toca a questão da teologia, ensino e prática dos Irmãos Unidos. A ruptura aborda a causa essencial das divisões no jovem movimento, com implicações que alcançam nossos dias.
E finalmente a quarta seção, Chegada ao Brasil, foca no surgimento do movimento dos Irmãos Unidos em terras brasileiras, ainda no século 19.
Origem
No início do século 19 o mundo, incluindo-se a igreja e a fé cristã, vivia questões levantadas pelo pensamento de homens como Kant (1724-1804), Schleiermacher (1768-1834) e Hegel (1770-1831). A Europa seguia alvoroçada pelas guerras napoleônicas (1799-1825) e pela Revolução Industrial.
O campo religioso no Reino Unido agregava igrejas dissidentes e dentro da Igreja Anglicana movimentos de despertamento e reforma. A ala dos anglicanos evangélicos pretendia “dar à Igreja Anglicana um tom mais protestante, às vezes com características semelhantes às do pietismo” (GONZALEZ, 2007, p. 71). Por sua vez o movimento anglocatólico, que ficou conhecido como movimento de Oxford, foi aquele que teria causado maior impacto à Igreja Anglicana no período (HERMELINK, 1981).
Diante de inúmeras incertezas o povo voltava-se para as profecias bíblicas em busca de respostas para as novas perguntas do mundo moderno. Estimou-se que nas primeiras quatro décadas do século 19 mais de cem livros sobre profecias foram publicados e dez revistas sobre o tema circulavam (CONARD, 2004).
Nesse tumultuado início do século 19, no qual predominavam inseguranças sociais, políticas e religiosas, tem início o movimento dos Irmãos Unidos.
Dublim
Entre os historiadores consultados não há unanimidade em estabelecer lugares e datas para os inícios do movimento. Não que isso seja surpreendente, quando se trata de tentar relatar com minúcias a história dos Irmãos Unidos. Por nunca ter havido entre eles uma preocupação institucional – aliás, parece que ainda prevalece um caráter não institucional, ou até anti- -institucional, rejeitando nomes ou nomenclaturas – e tampouco um fundador, algumas nuances foram perdidas na neblina do tempo. Entretanto, a maioria aponta a cidade de Dublin, na Irlanda, como o lugar dos princípios. E o evento gerador de todos os desdobramentos posteriores não foi a inauguração de um prédio, fundação de uma sociedade ou publicação de um livro, catecismo ou manifesto, mas sim o partir do pão (a Santa Ceia, a Ceia ou Mesa do Senhor) sem a condução de um ministro ordenado. A celebração da Santa Ceia pela comunidade autônoma pode bem configurar-se como marco inicial do movimento dos Irmãos Unidos. Dr. Edward Cronin, ainda um estudante de medicina, migrou para Dublin em busca de melhoras para sua saúde e ali se congregou em várias igrejas dissidentes1 , e nessa experiência viu-se assediado para a sua inclusão nas respectivas membresias (CONARD, 2004).
Dr. Cronin não entendia como bíblica a necessidade de filiação a alguma denominação eclesiástica para ser incluído no corpo de Cristo, com direito à participação na Santa Ceia. Cria ele que todo cristão já pertencia ao corpo de Cristo com acesso à mesa do Senhor. Tais ideias não agradaram aos ministros locais que o denunciaram a partir do púlpito (CONARD, 2004; FILGUEIRAS, 1991). Nesse interim ele havia angariado a simpatia de algumas pessoas, dentre as quais Francis Hutchinson e Edward Wilson, secretário da Sociedade da Bíblia, e foi na casa deste que “começaram a orar e partir o pão, em 1826” (CONARD, 2004, p. 15). Antony Norris Groves, um dentista abastado, viajava com certa frequência à Dublin para exames no Trinity College com o intuito de obter graduação teológica e ser enviado para Bagdá, pela Sociedade Missionária. (1 Qualquer igreja que não fosse a igreja oficial do Reino Unido, desdobrada em Igreja Anglicana, Igreja Escocesa e Igreja Irlandesa.)
Durante os estudos Groves iniciou amizade com John Gifford Bellet e conheceu o jovem sacerdote da Igreja da Irlanda, John Nelson Darby. Reuniam-se frequentemente para estudos bíblicos. Em Dublin, na páscoa de 1827, Groves teria considerado com Bellet que pela sua compreensão e entendimento das Escrituras os “crentes, reunindo-se como discípulos de Cristo, estão livres para partir o pão juntos; e, em qualquer dia, como os apóstolos fizeram” (FILGUEIRAS, 1991, p. 18).
Talvez a simplicidade do ato eucarístico proposto por Groves possa soar com naturalidade para nós hoje, mas é importante ressaltar que a observação do “sacramento da comunhão, sem um ministro ordenado para consagrar os elementos era, como Cronin havia descoberto, totalmente revolucionário!” (CONARD, 2004, p. 17). Antony Norris Groves possui destaque como uma figura central no início e no desenvolvimento do movimento dos Irmãos Unidos para todos os autores consultados, exceto Miller (2005, p. 28-31), que apresenta Groves como uma figura tardia e com efêmera passagem por entre os Irmãos. No ano de 1829, o grupo iniciado pelo Dr. Cronin e Wilson e aquele começado por Groves, Bellet e Darby tomaram conhecimento um do outro e, já reunidos, passaram a realizar encontros regulares na Praça Fitzwilliam2 . As reuniões eram arranjadas de maneira tal que aqueles que mantinham vínculos com suas denominações – como ainda era o caso de Darby – pudessem participar dos estudos, orações e partir do pão (CONARD, 2004).
Ainda em 1829, um terceiro grupo, ligado a John Vesey Parnell (mais tarde Lorde Congleton), que se reunia isoladamente em outra parte de Dublin, se uniu ao grupo da Praça Fitzwilliam. Parnell, com o crescimento do grupo, alugou um salão na Rua Aungier, no ano de 1830 ou ainda em 1829. Este teria sido o primeiro salão público dos Irmãos (MILLER, 2005). Em 12 de junho de 1829, Antony Norris Groves parte para Bagdá como o primeiro missionário dos Irmãos Unidos. A influência de Groves contribuiu para a criação de muitos grupos missionários, tais como: Christian Missions in Many Lands, Missionary Service Commmittee, Internacional Teams, dentre outros3 . James Hudson Taylor, o famoso missionário, teria participado da congregação dos Irmãos em Tottenham (FILGUEIRAS, 1991) sendo motivado pelo testemunho de Antony Norris Groves (CONARD, 2004). 2
As congregações dos Irmãos eram identificadas pelo nome da cidade em que estavam estabelecidas, pelo nome do logradouro, ou ainda da capela, na qual se reuniam. Ex.: Irmãos de Bristol, Irmãos de Plymouth, Irmãos de Bethesda, assembleia da Rua Rawstorne etc. 3 Ver DANN, Robert Bernard. Fhater of Fatith Missions: the life and times of Anthony Norris Groves. Great Britain: Paternoster, 2004. Revista Caminhando v. 21, n. 1, p. 165-181, jan./jun. 2016 169 Taylor teve seu trabalho missionário sustentado durante cerca de dois anos por outro importante personagem ligado à história dos Irmãos Unidos, George Muller, o pai dos órfãos, que, “durante um período de dois anos... quase sustentou sozinho Hudson Taylor e 30 de seus colegas missionários na China” (CONARD, 2004, p. 57). George Müller integrava o grupo de Irmãos em Bristol, do qual, juntamente com Henry Craik, foi o precursor. Müller, por intermédio de Craik, conheceu os ensinos de Groves, que o impactaram tremendamente.
Na congregação batista que pastoreava em Teignmouth, Müller já aplicava princípios dos Irmãos Unidos nos cultos, tais como partir o pão semanalmente, e não mensalmente, em reuniões abertas nas quais qualquer irmão que demonstrasse ser dotado para tal, podia tomar parte e ensinar (CONARD, 2004, p. 40). Em abril ou maio de 1832 Craik foi pregar em Bristol, na capela Gideão – uma igreja não denominacional (CONARD, 2004, p. 40). Com a grande receptividade e salão sempre lotado, Craik escreve a Müller suplicando para que ele também fosse a Bristol auxiliar na tarefa pastoral.
George Müller aceitou e transferiu-se para Bristol. Em pouco tempo passaram a utilizar duas capelas, Gideão e Bethesda. Esta última era a maior, e a congregação dos Irmãos Unidos em Bristol passou a ser conhecida como os Irmãos de Bethesda. Outra assembleia de fundamental importância naqueles primeiros anos do movimento foi a de Plymouth. O grande número de membros e os professores de destaque, como Benjamin Wills Newton e John Nelson Darby, com suas muitas produções literárias fizeram com que o movimento dos Irmãos Unidos fosse identificado como os “Irmãos de Plymouth” (BROADBENT, 1989, p. 372).
Doutrina e prática
O movimento teve expansão rápida pelo Reino Unido, atravessou o mar e alcançou o continente Europeu. A Bíblia de Elberfeld, por exemplo, foi uma tradução própria para o alemão executada pelos Irmãos naquele país (HERMELINK, 1981, p. 100).
A acelerada expansão, a experiência insipiente desse novo modo de ser igreja e a heterogeneidade das assembleias não permitiu que sempre houvesse concordância acerca de pontos específicos de doutrinas, o que, no princípio, não era um problema. Quando era indagado acerca de princípios que pudessem reunir os cristãos, apesar de divergentes opiniões sobre alguns assuntos, Groves dizia que: [...] sim, existem. Fomos chamados a não saber nada entre nossos companheiros cristãos, a não ser dois fatos: eles pertencem a Cristo? Cristo os recebeu? Então nós podemos recebê-los, para a glória de Deus”. [...] “só existe um caminho de união: este de irmãos e irmãs com o seu Senhor e Pai, permanecendo juntos em comunhão pelo Espírito. Quando esses grandes princípios são aceitos, todas outras coisas [sic] – tal como o sistema de regras de igreja – estão, acredito, totalmente subordinados (CONARD, 2004, p. 26).
O princípio da unidade era crucial para aqueles pioneiros dentre os Irmãos. O uso de qualquer nome, denominação ou classificação que pudesse afastar ou segregar era para eles impensável, como impensável era a adoção de quaisquer normas ou condições que pudessem causar embaraço ou dificuldade para a comunhão dos filhos de Deus.
A base para a comunhão era o ser cristão, e as regras de fé e prática precisavam ser orientadas pela Escritura. O exclusivismo, no princípio, era rechaçado, e insistências recaiam sobre o dever de se manter um padrão elevado de conduta, de se reconhecer a autoridade das Escrituras e da liberdade no uso dos dons por todos os membros da congregação, negando-se assim quaisquer prerrogativas ministeriais pautadas em eclesiarquias ou distinções entre o clero e os leigos. Ensinavam a autonomia e independência das igrejas locais, incentivando a fraternidade entre as assembleias. Ainda que rejeitassem qualquer nomenclatura, dispunham-se à comunhão com igrejas de variadas denominações nas quais houvesse “evidência da presença de Cristo” (FILGUEIRAS, 1991, p. 156).
Posteriormente as assembleias ligadas a John Nelson Darby assumiram posturas distintas, ensinando antes a separação em relação às demais igrejas. Diferente do que se apregoou no princípio, que o sangue de Cristo (seu sacrifício) era a suficiente base da unidade entre os cristãos, passaram a estabelecer e requerer padrões de santidade, que faltariam aos demais crentes, incapacitando-os a participar da Mesa do Senhor. “Em 1 Coríntios 5 aprendemos que a assembleia tem de ser ‘exclusiva’ se quiser manter uma disciplina sã e guardar a casa de Deus suficientemente limpa para Sua presença” (MILLER, 2005, p. 84). Tal posicionamento acabou por redundar em inúmeras acusações de heresias e de excomunhões, assim como as antagônicas disposições terminaram por atribuir aos dois grupos de Irmãos os nomes de Irmãos Abertos e Irmãos Fechados, especialmente a partir do conflito havido entre Darby e Newton, abordado adiante.
O entendimento dos Irmãos de que a igreja consiste na reunião daqueles que creem, e não em ritos e cerimônias, de modo algum produziu desordem na vida prática da igreja. E a rejeição radical de prerrogativas ministeriais não redundou em negação de governo na igreja, ao menos para boa parte deles. Anthony Groves, mencionando a ajuda que a Igreja Anglicana ofereceu em campo missionário, afirmou que: “Seu sistema pode ser sectário, mas eles Revista Caminhando v. 21, n. 1, p. 165-181, jan./jun. 2016 171 não são. E é dez vezes melhor ter com católicos em um sistema sectário do que com sectários que não pertencem a nenhum sistema” (BROADENT, 1989, p. 407). Assim, as congregações dos Irmãos reconheciam homens mais capazes como presbíteros ou anciãos, respeitando a pluralidade do ministério, ou seja, sempre havia um colegiado de presbíteros. Entendiam, a partir de textos como Atos 20.28 e 1 Pedro 5.1-3, que a responsabilidade por apascentar a igreja de Deus recai sobre os presbíteros. Daí não encontrarmos pastores oficializados nas assembleias dos Irmãos (FILGUEIRAS, 1991, p. 174).
Tempos depois John Nelson Darby, que antes elegia anciãos para as congregações, passou a se opor totalmente a essa prática. Ele “ensinava que havendo a igreja falhado perdeu as condições e autoridade para estabelecer presbíteros nas igrejas locais” (FILGUEIRAS, 1991, p. 178). Acrescentava Darby que a eleição de presbíteros ficara restrita aos tempos apostólicos, afirmando que as congregações apenas poderiam ser dirigidas diretamente pelo Espírito Santo. As formas de batismo pareciam não incomodar os Irmãos. Entendiam que o Novo Testamento não estabelece forma rígida para o batismo, e recusar ou censurar outro irmão com base em formas de batismo seria repreensível atitude sectária.
O alvo dos irmãos sempre foi o de não exigir de um irmão “senão que ele creia no livre perdão e salvação pela fé em Cristo, e mostre as evidências de uma vida moldada conforme ao que professa, sendo fiel a Cristo”. Nos desentendimentos havidos entre os irmãos que resultou na divisão havida no século passado a questão da forma de batismo nunca esteve incluída nos pontos de controvérsia (FILGUEIRAS, 1991, p. 161).
Nos começos do movimento a Ceia do Senhor, como já mencionado, teve caráter revolucionário na prática dos Irmãos Unidos. Não apenas por romper com as prerrogativas que diferenciavam exponencialmente clérigos e leigos, mas também por ser um chamado à unidade. A celebração da ceia ocorria em todo primeiro dia da semana na maior parte das congregações dos Irmãos. “É o simples princípio de união e de amor a Jesus, e não o princípio da unidade de pensamento acerca de coisas menores, a base da reunião para o partir do pão” (FILGUEIRAS, 1991, p. 160). A atribuição de igualdade a toda congregação, o chamado ao sacerdócio universal dos fiéis foi além da celebração da Ceia. A liberdade de ministério era incentivada pelos Irmãos, para que cada crente administrasse os dons que haviam recebido pelo Espírito Santo. O papel das mulheres nessa liberdade ministerial não está bem documentado.
Constam os nomes de Theodosia Powerscourt, presente desde os primórdios do movimento e patrocinadora das conferências sobre profecia, tendo cedido o Palácio Powerscourt para a realização das conferências. Surgem também os nomes de Bessie Paget, que fundou e dirigiu serviços espirituais e sociais em Barnstaple e Mary Fedden, de Bristol, que foi corresponsável por duas escolas dominicais (CONARD, 2004, p. 81). Os ofícios do governo da igreja, presbíteros e diáconos, eram os únicos com atribuições definidas às pessoas escolhidas para tal. As demais atividades típicas da comunidade cristã poderiam ser exercidas por qualquer um com demonstrações de haver sido capacitado para tal.
Os Irmãos pregavam o Evangelho em tendas, praças, nos lares, onde houvesse oportunidade, eles a aproveitavam. Muitos folhetos evangelísticos eram distribuídos pelas ilhas britânicas. Havia forte serviço social mesclado às ações evangelísticas, dos quais o destaque recai sobre os orfanatos mantidos por George Müller. Haviam ações destinadas aos pobres em cidades como Londres, Bristol e Barnstaple. Foram muito despojados com o uso do dinheiro. Anthony Groves e Robert C. Chapman, por exemplo, doaram suas fortunas e escolheram viver de maneira simples.
Registra-se que muitos irmãos abastados alugavam casas mais simples para que os pobres não se sentissem constrangidos por qualquer ostentação. Lorde Congleton, membro da Câmara dos Lordes, escolheu uma cama militar e uma casa pouco mobiliada, onde ele conseguia que os pobres se sentissem à vontade (CONARD, 2004, p. 80). As questões escatológicas colocadas e desenvolvidas pelos Irmãos talvez sejam as que tiveram influência mais duradoura. Dentro dos sistemas de profecia e escatologia há que se destacar o dispensacionalismo. O sistema de compreensão das profecias desenvolvido por John Nelson Darby depende do conceito de dispensações. As dispensações principais foram chamadas de “as três esferas da glória de Cristo”. E são elas: os judeus, os gentios e a Igreja de Deus (MILLER, 2005, p. 152-158).
O arrebatamento dos santos na segunda vinda de Cristo igualmente constituiu-se em um desenvolvimento teológico diferenciador, posto que à época daqueles primeiros Irmãos predominasse o entendimento de que “a morte de cada pessoa é virtualmente a vinda do Senhor a tal indivíduo” (MILLER, 2005, p. 159). Essa ideia foi rechaçada e os Irmãos pregavam a ressurreição de cada crente na vinda do Senhor. Essa interessante e intensa produção teológica tem desdobros na cristandade atual, mas a liberdade almejada, a tolerância para com questões secundárias e o alto apreço pela unidade cristã demonstrada naqueles primeiros anos, lamentavelmente não resistiram ao choque entre dois dos principais líderes e destacados eruditos do movimento dos Irmãos Unidos: John Nelson Darby e Benjamin Wills Newton.
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