quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Terapêutica Antiga - A Psicoterapia Ortodoxa

 Do livro PSICOTERAPIA ORTODOXA

(manual de espiritualidade ortodoxa)

por Hieroteos Vlacos, Metropolita de Naupactos



PRÓLOGO DO AUTOR

O homem contemporâneo, cansado e desencorajado pelos vários problemas que o atormentam, busca por descanso e alívio. Basicamente, está à procura da cura da sua alma, pois é principalmente aí que ele sente o problema. Ele está a entrar numa “depressão mental”. Por essa razão, as explicações psiquiátricas têm circulado amplamente nos nossos tempos. Em particular, a psicoterapia é muito difundida. Enquanto essas coisas eram quase desconhecidas antigamente, elas prevalecem, horrivelmente, agora e muitas pessoas correm para as psicoterapias para encontrar a paz e o conforto. Por isso, eu repito, o homem contemporâneo sente que necessita da cura.

Além de observar essa necessidade fundamental, noto que, a cada dia, o Cristianismo, e especialmente a Ortodoxia, que preserva a essência do Cristianismo, tem feito uso duma certa “psicoterapia”, ou melhor, que a Ortodoxia é, principalmente, uma ciência terapêutica. 

Todos os meios que ela emprega, e mesmo o seu objetivo fundamental, visam curar o homem e guiá-lo para Deus. Pois, para alcançar a comunhão com Deus e adquirir o abençoado estado de divinização, devemos, antes, ser curados. Assim, para além de quaisquer outras interpretações, a Ortodoxia consiste, basicamente, numa ciência terapêutica e num tratamento. Ela difere claramente de outros métodos psiquiátricos por não ser antropocêntrica e porque não faz o seu trabalho com a utilização de meios humanos, mas sim com a ajuda e a energia da graça divina, essencialmente por intermédio da sinergia entre as vontades divina e humana.

Procurei enfatizar algumas verdades neste livro. Gostaria de apontar a essência do Cristianismo e, também, o método que ele emprega para obter a cura. O meu objetivo básico é o de ajudar o homem contemporâneo a encontrar a sua cura no seio da Igreja Ortodoxa, do mesmo modo como estamos a tentar obtê-la. Acredito estarmos todos doentes e a buscar por um médico. Todos buscamos a cura. A Igreja Ortodoxa é o hospital onde todos os enfermos e agoniados podem ser curados.

Se este livro vier a tornar-se uma ocasião para que algumas pessoas voltem-se para buscar a cura na Igreja e nos seus ensinamentos, agradecerei a Deus, que me deu a inspiração e a força para levar adiante este difícil empreendimento, pedindo-Lhe que tenha misericórdia de mim pelas minhas inúmeras fraquezas.

Edessa, 30 de setembro de 1987


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quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Cap. 7 - Ecce Homo - Louis Claude de Saint-Martin

 

Do livro Ecce Homo por Louis Claude de Saint Martin, publicado pela Sociedade das Ciências Antigas






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Capítulo VII


O Príncipe das trevas possui o poder funesto, mas verdadeiro, de apoiar suas falsas doutrinas e suas manifestações arbitrárias nos diversos testemunhos das Sagradas Escrituras. Com armas análogas, procurou seduzir o homem Reparador e todos que, à semelhança dos homens superficiais e crédulos, não se alimentam do espírito para se defenderem das ciladas da letra, mostrando-se submetidos mais à tradição do que à lei. Assim, o Príncipe das trevas desvia habilmente nosso pensamento do único ser que devemos adorar, do único ser que deve nos iniciar no seu culto, para que este culto desça sobre seres e nomes inferiores, de quem nos separamos com grande pesar, pois os frutos que nos oferecem são mais fáceis de obter e nos custam somente a adesão passiva, sem análise, orientada pelo impulso do desejo. Dessa forma, ele consegue esconder de nós o humilhante título de Ecce Homo, dizendo-nos que as obras de misericórdia do Senhor acrescentam algo ao nosso ser; anunciando-nos, com facilidade, que essas obras de misericórdia se difundem por nosso intermédio; e exaltando aos nossos olhos a grandeza de nossa santidade e o poder de nossas orações. Ele retarda, assim, qualquer ação direta e pessoal voltada verdadeiramente à nossa ressurreição. De fato, o Príncipe das trevas favorece nosso orgulho e ambiciosa sede de elevarmo-nos e resplandecermos somente através das nossas próprias forças. Ele se transforma na verdadeira e insidiosa figuração da serva capaz de exaltar o nosso amor próprio, como aquela que seguia São Paulo e não cessava de levar com sua adivinhação grandes vantagens aos seus patrões (Atos 16: 16-17 ). O Príncipe engana ainda as nações, como enganou os Judeus falando por meio de seus falsos profetas sobre a paz, quando não existia absolutamente nenhuma paz. Enfim, o Príncipe abusa da superficialidade das pessoas, servindo-se dos vários oráculos que surgem em toda parte para anunciar uma pretensa regeneração terrena considerada por muitos como certa e próxima.

Os profetas e apóstolos disseram que a hora e o Reino de Deus estavam próximos, mas o significado de tal fala se refere a uma proximidade no espaço e não no tempo, como se poderia imaginar. Por outro lado, eles não cessavam de repetir que essa hora e esse reino só seriam atingidos por quem os conquistasse com seu próprio sangue. No mais, os profetas abriam os tesouros da esperança para os homens só depois de induzi-los a enfrentar o combate com a mais firme resolução.

Dificilmente um homem conhecerá as doçuras prometidas para o reino futuro sem que tenha se precipitado no cadinho da regeneração e, assim, saído renovado. 

O Reparador, que é o próprio Reino, predicava a penitência e prometia paz às almas somente depois que tivessem obtido seu próprio jugo junto a ele. Ao contrário, os profetas modernos, que são simplesmente homens, anunciam a conquista do Reino como algo tão fácil e seguro, que parece ser possível conquistá-lo por isenção ou por uma simples solicitação. Também fazem parecer aceitável que nos apropriemos de iluminações independente do nosso completo sacrifício e do esforço de todo nosso ser.

De qualquer forma, não precisamos temer os oráculos modernos, que encontram semelhanças entre si, como uma ameaça do Príncipe das trevas. Esse, sabe que um dia chegará o reino da glória e, com perspicácia, tenta nos recordar essa verdade para adquirir credibilidade. Ao mesmo tempo, não fala sobre as lutas árduas que antes de tudo precisamos vislumbrar, o que nos impede de atingir aquele reino glorioso do qual ele mesmo nos fala.

Já não se comportava assim no tempo de Jeremias? Lamentações 2:14 : Teus profetas viram para ti vazio e aparência; não revelaram tua falta para mudar tua sorte, serviram-te oráculos vazios e de sedução. Assim, ele não governava os Judeus no tempo de Isaías? Como atestam as repreensões que Deus dirige à eles através desse profeta em 30:10 de serem como crianças que dizem aos videntes: “Não queirais ver” e aos seus profetas: “ Não procureis ter visões que nos revelem o que é reto. Dizei-nos antes coisas agradáveis , procurai ter visões ilusórias....” Não me surpreenderia se todas essas profecias fossem somente instrumentos de astúcia, adotados pelo nosso inimigo, para retardar o processo de ascensão do homem.


Embora Deus esteja perto de nós, quase todos nós estamos longe de Deus; e operar para nos reaproximarmos dele é tão fatigante, que quase ninguém consegue tomar esse caminho. Como poderia nossa fé não ser facilmente seduzida por nossa preguiça, quando algumas profecias nos mostram a regeneração sob aspectos menos terrificantes? O inimigo, que tem o objetivo único de retardar nosso caminho, certamente não deixaria de oferecer essa atraente idéia para os que já percorrem caminhos extraordinários. Ao suscitar neles uma doce esperança, ele sabe que a falsa alegria recebida antecipadamente parece dizer aos homens que obterão a verdadeira alegria sem esforço e sem o pesado rigor da privação universal, ou seja, sem o terrível mas salutar sentimento do nosso deplorável estado de Ecce Homo.

Naturalmente, é fácil o erro se enraizar na nossa frágil e necessitada humanidade. A sufragar o que sustento, noto ser necessário constatar o quanto para algumas pessoas essas promessas ilusórias animam a coragem e a atividade, para outras têm o efeito contrário. De fato, se a maior parte dos que se abandonam a essa opinião quisesse realmente fazer uma auto-análise, veria o quanto seu entusiasmo se apoia, de um lado, sobre sua preguiça interior, e de outro, sobre a secreta esperança que os tempos felizes chegarão rapidamente e suas culpas pessoais serão aliviadas pelos esforços de todos os escolhidos a se regenerar. Penso que estes seres terão a sensação de serem arrastados pela torrente geral de um grande mar, e creio que a esperança tão sedutora dessa viva felicidade irá adormecer neles a possibilidade de contemplar as duras provas e as terríveis lutas pelas quais cada indivíduo deve passar para conquistar a vitória. Quanto mais a esperança mostra a eles o fim consolador, a que todos nós temos direito de aspirar, mais os difíceis caminhos que os conduzem se ocultam e os induzem a pensar que já chegaram, ao invés de fazê-los percorrer os mais horríveis desertos e de destruir os covis mais perigosos.

Portanto, não é com o objetivo de se maravilharem que esses seres alegram-se contemplando tamanha perspectiva de prazeres, mas ao contrário, seu espírito atrai a alegria antecipadamente e sua alma sente-se como se já possuísse tal alegria.

Mas, se é verdade que podemos obter uma coroa semelhante somente pelo preço do nosso suor e do nosso sangue, é nítido que o espírito que faz tais promessas é um espírito que abusa de nós, buscando nos distrair dos verdadeiros sacrifícios que devemos cumprir. Desse modo, aliviando nossos sacrifícios e trabalhos rumo ao alto, também nos coloca em condição de ver diminuída nossa recompensa no momento de recebê-la. O espírito da sedução adotará todos os meios para criar esse efeito nos seres humanos. E quanto mais tenhamos sofrido e merecido obter nosso verdadeiro prêmio, mais ele estará encerrado e atormentado nos abismos da privação.

O reino dos mil anos citados no Apocalipse, capítulo 20, é a base na qual se apoiam todos que confiam em determinadas promessas. Essas poderiam até se revestir de uma aparência razoável, segundo o texto, se fossem interrompidas no momento certo, determinando-se limites no próprio texto.

Vi então um anjo descer do céu trazendo na mão a chave do abismo e uma grande corrente. Ele agarrou o dragão, a antiga serpente – que é o diabo Satanás – acorrentou-o por mil anos e o atirou dentro do abismo, fechando-o e lacrando-o com um selo para que não seduzisse mais as nações até que os mil anos estivessem terminados. Depois disso, ele deverá ser solto por pouco tempo. Vi então tronos, e aos que neles se sentaram foi dado poder de julgar. Vi também as vidas daqueles que foram decapitados por causa do testemunho de Jesus e da palavra de Deus, e dos que não tinham adorado a besta, nem a sua imagem, e nem recebido a marca sobre a fronte ou na mão: eles voltaram à vida e reinaram com Cristo durante mil anos (20:1-4).

Fica claro, com base nessas palavras, que existem duas regiões distintas para que se cumpram essas diversas promessas. Uma é a Terra visível, que poderá encontrar um pouco de alívio nas suas provações e tentações, durante o período no qual a serpente será acorrentada. A segunda é a região espiritual e invisível do homem terrestre, quando serão reunidos os justos sob o seu chefe divino para julgar os mortos, que ainda não retornaram à vida e não tomaram parte na primeira ressurreição.

Devido àquele estado de alívio passageiro, que a Terra visível irá experimentar, não é necessário que os céus sejam percorridos novamente como um manto comum por que a Terra nunca será devolvida à sua pureza original. E apesar do aprisionamento do seu inimigo, o homem ainda conservará em si mesmo aspectos suficientemente negativos para que o Reino de Deus não se estabeleça por seu intermédio.

O seu alívio será alimentado, no entanto, por aquela assembléia santa e invisível que existirá ainda por mil anos nas regiões superiores àquela em que vive o homem. Por um lado, isso manterá o inimigo no abismo, e por outro, transmitirá mais diretamente aos seres terrestres os raios divinos sob os quais cada coisa será visível. Mas, ao invés dos homens aproveitarem todas essas vantagens, no seu íntimo fermentarão aspirações perversas e, assim, incitarão a cólera divina e se tornarão culpados; tornando-se incapazes, desperdiçarão ainda os últimos auxílios enviados pela misericórdia suprema. Quando o inimigo for libertado das correntes por algum tempo, fará tantas obras de devastação quanto mais os homens houverem estabelecido relações com ele.

Reinará, então, tal estado de desordem, tamanhas injustiças serão derramadas sobre a Terra, que essa conhecerá o fogo do céu enviado por Deus para operar a destruição (20:9). Vi depois um grande trono branco e aquele que nele se assenta. O céu e a terra fugiram de sua presença, sem deixar vestígios. Vi então os mortos, grandes e pequenos, em pé diante do trono, e abriram-se livros. Também foi aberto outro livro, o da vida. Os mortos foram então julgados conforme sua conduta, a partir do que estava escrito nos livros (20: 11-12). A morte e o inferno foram jogados no tanque de fogo. Essa é a Segunda morte, o tanque de fogo. Todo aquele que não foi encontrado escrito no livro da vida, foi lançado no tanque de fogo (20: 13-15). Enfim, descerá a nova Jerusalém (21: 1-3).

Todas as tribulações que antecedem as horríveis desordens do fim dos tempos, representam somente o início dos sofrimentos (Mateus 24) e portanto não produzirão a destruição do mundo visível.

Representarão, pelo contrário, uma tentativa do amor divino em relação aos homens de, através dos flagelos enviados, persuadi-los à penitência. Em seguida, por um período de mil anos esses flagelos serão suspensos, não somente para que o homem possa trabalhar e voltar ao caminho da justiça, mas também para que perceba uma analogia entre o que já aconteceu na sua história universal e espiritual e o que acontece no plano físico da sua vida.

Antes do dilúvio, as Nações viviam em paz, os homens tomavam as mulheres e as mulheres tomavam os maridos. Embora as abominações da raça de Enoc devorassem a Terra tentassem estabelecer o reino do demônio, a cólera de Deus a destruiu. Ao final da guerra de Antioco e Pompeo, os judeus estiveram em paz durante algum tempo sob o governo de Augusto - época do nascimento do Salvador e da realização de sua missão; mas segundo os profetas, uma época em que os Sacerdotes e Doutores eram somente instrumentos de injustiça, ainda que o povo judeu estivesse a ponto de ser exterminado pelos romanos.

Segundo a ordem física, freqüentemente se nota que as dores e os sofrimentos desaparecerem alguns momentos antes da morte. Isso acontece seja por um enfraquecimento da ação do mal, seja para dar a alma a possibilidade de reconhecer e assegurar a própria sorte na penitência, através da aceitação de um sacrifício livre e voluntário. É provável também, que no momento em que as dores do doente se amenizem, instale-se sobre ele um pequeno reino dos mil anos. Ou seja, uma espécie de juízo ou de confronto entre o seu livro da vida e o seu livro da morte. Como a primeira morte particular, esse juízo tem a capacidade de trazer a imagem daquela primeira morte geral que será poderosamente pronunciada no momento do verdadeiro reino dos mil anos. Se o homem particular escapa dessa primeira morte preparatória, é provável que a segunda morte parcial – a primeira morte do Apocalipse – não tenha efeito sobre ele.

Os verdadeiros sofrimentos terão lugar quando o inimigo for libertado, devastando a Terra até a destruição, assim como no homem físico as angústias da morte o apanham e destróem depois do intervalo da suspensão momentânea. Ao invés de levarem os homens culpados ao renovamento de si próprios e ao reino da paz, esses sofrimentos os conduzem à espada do juízo final, que tem lugar somente quando as coisas visíveis e materiais são definitivamente abolidas. De resto, somente após decretado o fim do domínio da materialidade, os justos obterão a completa liberação das regiões das aparências, à semelhança do povo judeu, que saiu do Egito ao entardecer (Deuteronomio 16:6 ).



terça-feira, 7 de dezembro de 2021

TEOSOFIA SEM VÉU - parte 5


As ideias de uma raça ariana superior apareceram nos livros de Blavatsky antes de Hitler. É claro que os nazistas se utilizaram de forma própria e bem distorcida de idéias anteriores, de vários autores. Mas o arianismo era algo já bem consolidado antes dos nazistas aparecerem. E uma das defensoras era a referida autora que tinha uma visão própria do assunto. Mas o mais interessante não é tocado no artigo, pois este investiga influências gerais, sendo Blavatsky apenas uma delas, é que a visão de raças, como os arianosofistas entendiam essa palavra, já estava presente nos livros dela. Essa visão marca a história, e como sempre, a grande maioria dos historiadores, envolvidos apenas com personagens políticos e suas ações, desconhece a origem. Raça para Blavatsky não são apenas civilizações anteriores, são também relacionadas a eras e tipos humanos, quase que espécies diferentes (na verdade equivalente a outro conceito então em voga, de subespécie), sempre considerando umas superiores às outras. Ela e seus seguidores, autores inclusive respeitados hoje especialmente no meio esotérico e nova era, eram racistas em todos os sentidos da palavra. Além de afirmarem que existiam raças diferentes de seres humanos segundo suas origens e épocas, diziam (nos seus jornais internos e até em livros em alguns casos) quais eram as superiores e inferiores, e entre as inferiores estavam sempre judeus, negros, ciganos, indígenas, e outros povos, incluindo todos os que haviam-se "micigenado" com estes. Mas cabe destacar também as crenças esotéricas cientificistas (que como qualquer outro tipo de crenças não mostra comprovação, ao contrário do que dizem seus adeptos) têm um papel muito importante na ideologia e na propaganda nazista que se utiliza dos mesmos moldes dessas sociedades esotéricas para se espalhar, um ar de sabedoria superior e antiga reservada a poucos e a pessoas (ou nesse caso "raças") especiais, "evoluidas", como dizem, que sendo mais capazes devem conduzir a humanidade a algo superior. Essa mesma forma de pensar está incutida em muitas ideologias, partidos, ordens, sociedades e muitos são seus defensores, que maliciosa ou ingenuamente apenas mudam as variáveis, quando as fórmulas e objetivos são os mesmos: o controle de uns poucos sobre a maioria e a extinção de todo pensamento contrário.


A face mística do Terceiro Reich

Como os nazistas se apropriaram da suástica, um símbolo usado por hindus e budistas, e criaram a estapafúrdia "Teoria do Gelo Cósmico" - que explicaria tudo o que acontece no Universo

Por Eduardo Szklarz  
Indio San/Superinteressante

Uma das sementes do nazismo é uma corrente de pensamento que estava em voga na Áustria do século 19 – não por acaso, o lugar e o tempo em que o filho de dona Klara Pölzl e do seu Alois Hitler veio ao mundo. Estamos falando da “Ariosofia” – a “sabedoria sobre os arianos”. 

Seus líderes eram Guido von List e Jörg Lanz von Liebenfels, dois antissemitas raivosos e ultra-nacionalistas. Ambos pregavam a união de todas as populações de língua germânica da Europa, sob a liderança da Alemanha. Mas os ariosofistas tinham outras ideias também. A maior parte, completamente insanas. 

Eles evocavam uma era pré-histórica dourada, na qual sacerdotes ocultistas teriam governado sociedades compostas de super-homens. Esses líderes espirituais do passado praticariam o gnosticismo pagão, uma crença seguida por seitas heréticas que alegavam possuir a gnosis – um conhecimento esotérico especial. List gostava particularmente do conceito de dualismo dos gnósticos. Ou seja: da oposição entre luz e trevas, bem e mal, heróis e vilões, e assim por diante. Ele costumava dizer que o mundo material em que vivemos é intrinsecamente perverso e só o caminho espiritual poderia levar à salvação.

Para a Ariosofia, quem melhor sintetizava esse ideal pagão eram as tribos teutônicas, que haviam habitado o norte da Alemanha e a Escandinávia na Antiguidade. List, Lanz e outros teóricos racistas do século 19 às vezes se referiam aos teutônicos como “arianos”, “indo-europeus” e “nórdicos”. Pouco importava para eles a confusão que isso pudesse gerar na cabeça de quem os ouvia. O objetivo era um só: atribuir a um povo antigo, supostamente ligado aos alemães, a marca da superioridade racial. O ocultismo seria o único jeito de resgatar a força milenar dessa raça superior.

“Os ariosofistas diziam que uma conspiração de interesses antigermânicos, arquitetada principalmente por judeus, havia arruinado a sociedade gloriosa do passado em nome de um igualitarismo espúrio”, diz o historiador britânico Nicholas Goodrick-Clarke, uma autoridade no assunto, autor do livro The Occult Roots of Nazism (“As Raízes Ocultas do Nazismo”, inédito no Brasil). “O resultado teria sido uma decadência racial que jogou o mundo em guerras e crises econômicas. Seria preciso, portanto, recuperar os ensinamentos esotéricos e a virtude racial dos antepassados alemães a fim de criar um império pan-germânico.”

Para assumir o papel de guru do ocultismo, List se apropriou de vários símbolos ancestrais. Um deles foi a suástica, cruz que representava a boa sorte entre os antigos povos hindus e budistas. “List convenceu muita gente de que a suástica era um símbolo sagrado ariano, pois derivava do Feuerqidrl, a vassoura de fogo usada pelo deus germânico Mundelföri para criar o cosmos a partir do caos”, explica o historiador. O ocultista relacionou essa lorota ao Edda – compilação de mitos dos antigos nórdicos – e às runas – escrita nórdica usada em amuletos e rituais xamânicos. Para completar, ainda dizia ser um devoto de Wotan, o deus teutônico da guerra.

Como se vê, a Ariosofia era uma tremenda salada, que ficou ainda mais temperada ao incorporar as ideias da russa Helena Blavatsky, fundadora da Teosofia. Essa corrente filosófica misturava hinduísmo, gnosticismo, esoterismo e espiritismo com uma visão meio torta da teoria evolucionista de Charles Darwin. No fundo, o que a russa queria também era exaltar a “pureza da raça ariana”. Blavatsky criou uma sociedade teosófica nos Estados Unidos em 1875. Quatro anos depois, embarcou para uma longa temporada na Índia, onde se “aperfeiçoou” em temas como imortalidade da alma, carma e reencarnação.

O ponto alto da carreira dela foi a publicação, em 1888, do livro The Secret Doctrine (“A Doutrina Secreta”), no qual ela rastreia as origens da humanidade seguindo as pegadas de raças que teriam vivido há milhares de anos em continentes mitológicos como Atlântida, Lemuria e Hyperborea. As ideias de Blavatsky se encaixavam perfeitamente no ideário ocultista de List e Lanz. Antissemitas até a raiz do cabelo, os três acabariam se transformando em profetas de uma “nova era” de domínio alemão. E influenciando o pensamento que, mais tarde, daria origem ao nazismo. 

Clima mitológico

Os ariosofistas permaneceram à margem da vida política alemã naquele final de século 19. Mas suas ideias, segundo Goodrick-Clarke, foram absorvidas no início do século 20 por líderes nacionalistas e antissemitas. Entre eles, o barão Rudolf von Sebottendorff, fundador do movimento Reichshammerbund (“Liga do Martelo”) – o nome vinha do jornal O Martelo, que o barão começou a editar em 1902. O tabloide, naturalmente, era o seu veículo para propagandear a tese de que os judeus eram o grande problema da Europa. E que a “inferioridade” deles tinha raízes biológicas. A Liga do Martelo, na prática, era um projeto de partido político. Mas o barão também fundou uma espécie de seita, a sociedade secreta Germanenorden (Ordem Germânica), que replicava os graus de iniciação da maçonaria. Várias sedes dessa sociedade, nos mesmos moldes das lojas maçônicas, surgiram em toda a Alemanha, ajudando a disseminar os ideais tresloucados de seu criador.

Em dezembro de 1912, a Ordem Germânica já reunia 316 “irmãos” espalhados pelo país, todos monitorando atividades judaicas. O símbolo da ordem era uma suástica curva superposta com uma cruz. “Foi principalmente por influência dessa sociedade secreta e de sua sucessora, a Thule, que o emblema acabou sendo adotado pelos nazistas anos depois”, diz Goodrick-Clarke. Nos rituais, havia símbolos como o Santo Graal e trilha sonora de Richard Wagner, o compositor antissemita que exaltava os antigos teutônicos.

As reuniões da Ordem Germânica e da Thule atrairam gente que, depois, faria parte da cúpula do nazismo. Caso de Max Amann (general da SS), Dietrich Eckart (mentor de Hitler nos primeiros anos de sua carreira política), Alfred Rosenberg (teórico do Partido Nazista), Rudolf Hess (vice de Hitler em 1933) e Anton Drexler (fundador do Partido Nazista). E o mais engajado nas teses estapafúrdias era justamente o mais graúdo desses peixes: Heinrich Himmler, o número dois de Hitler.  

(...) Em 1923, pouco depois de se formar em agronomia, Himmler entrou para o Partido Nazista. Àquela altura, já tinha abandonado o catolicismo e se interessava por astrologia e mitos pagãos. Dois anos mais tarde, ingressou na SS e logo virou o chefe da seção da Bavária. Metódico, disciplinado e com um discurso convincente, teve uma carreira 
meteórica dentro da organização. 

Quanto mais alto chegava, mais se envolvia com o ocultismo. Perto de completar 27 anos, entrou para a Liga Artaman, um grupo místico que exaltava o sangue e o solo alemães. Ali, tomou contato com o Richard Walther Darré, futuro ministro da Agricultura de Hitler – outro esotérico que adorava teorizar sobre a superioridade ariana.

Em 1929, já promovido a Heichführer (a mais alta patente da SS), Himmler decidiu transformar sua tropa na elite do futuro Reich. Adotou como modelo a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos, uma milícia alemã que havia lutado contra muçulmanos em Jerusalém e estabeleceu um reino monástico na Prússia no século 12. Só que com uma diferença: a SS não seria cristã. “Himmler considerava que o cristianismo era uma força destruidora de nações e que os cavaleiros teutônicos tinha cometido um erro fatal ao adotá-lo”, diz o historiador alemão Peter Longerich, biógrafo de Himmler.

Mas afinal: o que o chefão da SS realmente pretendia ao evocar a Ordem Teutônica? “É difícil saber”, afirma o biógrafo. “Seus pronunciamentos sobre os teutônicos e a Idade das Trevas eram muito vagos.” Tudo indica que a intenção de Himmler era usar a ordem mais como propaganda do que qualquer outra coisa. (...)

Quem mais exerceu influência sobre Himmler, pelo menos no que se refere a ocultismo, foi Karl Maria Wiligut, um ex-militar austríaco travestido de bruxo que alegava ser descendente do deus nórdico Thor. A doutrina dele era uma espécie de Ariosofia recauchutada, que situava o passado alemão num enredo de ficção científica barata. “A cronologia de Wiligut começava em 228 mil a.C., quando haveria 3 sóis no céu e a Terra seria povoada por gigantes, anões e outros seres mitológicos”, diz Goodrick-Clarke. 

Wiligut ingressou na SS em 1933, usando o codinome Karl Maria Weisthor, e, graças a todo esse “conhecimento” antropológico e astronômico sobre  assumiu um posto no governo nazi: o de chefe do Departamento de Pré-História. O cargo era meramente decorativo, criado sob medida para o mago. Wiligut também incutiu em Himmler a ideia de que o Tibet havia sido refúgio de uma civilização avançada – provavelmente a mesma que antes havia morado no continente perdido de Atlântida. Tinha também a “Teoria do Gelo Cósmico”, segundo a qual tudo que acontece no Universo é determinado pelo antagonismo entre sóis e planetas de gelo. Isso explicaria todas as catástrofes globais do mundo moderno. 

Os cientistas alemães, naturalmente, riam de tudo isso. Uma nação que havia produzido Johannes Kepler, talvez o maior astrônomo da história, agora tinha de engolir um charlatão que falava em “três sóis” e no “poder do gelo espacial”. Mas quem tinha as metralhadoras da SS a um pio de distância era Himmler. (...)

Nos devaneios do líder da SS, ainda havia lugar para os cátaros, uma seita herege perseguida pela Inquisição medieval. “Os cátaros eram dualistas, pregavam a oposição entre um deus mau e um deus bom”, diz Baker. “O mau era Jeová, deus dos judeus no Velho Testamento, e isso agradava a Himmler”. Otto Rahn, o maior “especialista” em cátaros da SS, jurava que a seita havia guardado o Santo Graal nos Pirineus franceses. Himmler, é claro, acreditava na história.

Hoje, nenhum historiador questiona o fato de que Heinrich Himmler era mesmo um sujeito profundamente interessado em ocultismo. O que ainda se discute é até que ponto ele teria se envolvido com isso. O historiador Peter Longerich arrisca uma teoria interessante. Para ele, a mitologia germânica, reforçada por todo tipo de “ideias ocultas”, tornou-se uma espécie de religião substituta para Himmler. 

Pois é: apesar de muita gente considerá-lo a própria encarnação do demônio, Hitler não dava a menor bola para misticismos. Nas conversas informais, ele frequentemente ridicularizava o fascínio de Himmler pelo oculto. 

Mas o fato é que ele levou o mito da superioridade ariana e a paranoia antssemítica muito a sério. E as consequências foram bem mais reais do que as teorias estapafúrdias que vimos aqui.

Hitler e o cristianismo

Se, por um lado, o nazismo tinha uma face mística, por outro era radicalmente anticlerical. Mas o que isso significava na prática? “Heinrich Himmler almejava a destruição do cristianismo e a criação de uma nova religião germânica, baseada nas crenças dos antigos teutônicos”, diz o historiador Martin Ruehl. “Mas seu chefe, Adolf Hitler, se relacionava com o cristianismo de uma maneira muito mais pragmática. Para ele, as crenças religiosas eram irrelevantes, desde que não atrapalhassem a concretização de seus objetivos políticos”.

(...)


Matéria completa em: https://super.abril.com.br/historia/a-face-mistica-do-terceiro-reich/

sábado, 4 de dezembro de 2021

Vamos usar bicicleta contra o sistema?

 A BICICLETA É A MORTE LENTA DO PLANETA

5 Awesome Family Bikes

5 Awesome Family Bikes

O CEO do Euro Exim Bank Ltd, fez os  economistas refletirem quando disse:

"O ciclista é um desastre para a economia do país; ele não compra carros e não pede dinheiro emprestado para comprá-los.  Não paga apólices de seguro.  Não compra combustível, não paga para submeter o carro à manutenção e reparação.  Não utiliza estacionamento pago.  Não causa acidentes graves.  Não requer rodovias com várias pistas.  Não se torna obeso.

Pessoas saudáveis ​​não são necessárias nem úteis para a economia.  Eles não compram remédios.  Eles não vão a hospitais ou médicos.  Eles não acrescentam nada ao PIB do país."

Vale a pena pensar nisso.

5 Awesome Family Bikes

Caminhar é ainda pior.  Os pedestres nem compram uma bicicleta... 

FONTE: mensagem postada Maria Valéria Rezende.

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